Agasto-me facilmente quando as pessoas falam de livros. Não das obras em si, mas naquilo que os livros são para elas. Já frequentei uma aula dum curso de escrita criativa e os meus colegas, a falar dos livros e da importância dos mesmos nas suas vidas, deixavam-me a bocejar pela quantidade de lugares comuns que vomitavam. Que os livros são uma companhia, que falam com eles, que as personagens são como elementos de família, que adoram o cheiro das páginas velhas, de ouvir a chuva a bater enquanto escrevem ou lêem e mais isto e mais aquilo. Conhecem certamente este género de artista atormentado e sensível que por acaso, e apesar de haver excepções, escreve mal como o catano e que tem a tendência particularmente irritante, quando tenta fazer algo mais intimo, de começar todas as frases com verbos conjugados na primeira pessoa do passado. Amei, Senti, Percorri, Destaquei, Pensei, Perscrutei, Toquei e mais uma quantidade de “eis” que tornam qualquer prosa francamente insuportável. Bastava olhar para os livros de que tanto gostam para perceberem que ninguém escreve assim.
Mas isto tudo a propósito dum livro que ando a ler chamado A Sombra do vento escrito pelo espanhol Ruiz Zafón e que tem sido uma maravilha conhecer. Os livros têm um peso importante na história e a vida das personagens gira toda em redor dos mesmos. Portanto, nas minhas viagens de comboio, entre um capitulo e outro, comecei a pensar na relação das pessoas com os livros e lembrei-me duma história que me aconteceu e que, apesar de não ser nada de grande monta, foi bastante importante na minha aproximação à literatura.
Durante a minha juventude nunca fui um grande leitor. Li os livros duma aventura e os Maias em sequência do programa escolar do 11º ano. Este último foi uma chatice e acabei por saltar imensos capítulos para poder dizer à professora que o li. Eça de Queiroz foi o grande responsável por me afastar da leitura ao longo de 4 anos.
Nos meus 20 anos comecei a ler os suplementos de cultura dos jornais. Essas leituras encheram-me de curiosidade pelas artes, nomeadamente a 7ª, passando eu a frequentar o cinema King e o Nimas e assistindo a uma enxurrada de fitas alemãs, polacas, italianas e francesas de que muito me orgulhava de conhecer.
Foi por essa altura que decido dar uma oportunidade à literatura. Então meti-me na livraria Barata com o objectivo de comprar um livro. Sem qualquer noção do que era bom e do que era mau, ouvi uma conversa à porta entre duas pessoas que contavam a história dum jogador de poker e dum amigo que ficaram presos a construir um muro em consequência dum jogo que correu mal e onde perderam todo o dinheiro que tinham. A construção do muro serviria para pagarem a dívida. Pensei que seria uma boa história e fiquei a pensar nisso ao ponto de o desejar.
Lá entrei na Barata e pus-me a folhear livro atrás de livro à procura de algo que me agradasse ou, pelo menos, que não me aborrecesse como o Sr. Eça. A busca pelo volume perfeito foi longa e, analisadas todas as prosas, achei que a do Paul Auster era a mais interessante e acabei por comprar a Música do Acaso.
A escrita do autor era tão absorvente que me cativou desde o início e nada conseguia conter o meu interesse por aquelas páginas, lendo tudo quase de seguida.
O curioso é que, por obra do destino, vim a descobrir, que o livro que tinha comprado era exactamente aquele que aquelas duas pessoas estavam a falar à porta da livraria.
E pronto, esta é a minha história de livros.
9 comentários:
O primeiro livro que me lembro de ter lido chamava-se Os Patins de Prata, e passava-se na Holanda. Eu devia ter uns 8, 9 anos. Fiquei tão doida pelo livro que quando acabei de o ler, escrevi o meu, também passado na Holanda, nas mesmas cidades do livro, mas, ao contrário dos Patins de Prata, a minha história era uma actualização de Caim e Abel, extremamente gore e que no fim, não sobre nem o narrador, que morre também.
É essa a minha história de livros.
foi o primeiro livro que li do paul auster e onde aprendi a jogar poker, e era diferente desta mania agora o texas hold'em, ou lá como se chama, mas que não gosto mto
entretanto seria interessante voltares ao eça, talvez passados 15 anos te surpreendas ; )
eu li Eça antes que me obrigássem e adorei:)
quanto à minha história de livros resume-se a uma coisa,gostei tanto tanto tanto que acabei a trabalhar numa livraria....e já agora,esse Zafon é muito bom sim,inesperadamente bom:)
Zafon é creme de la creme. É tão bom que até enjoa :)
Quanto ao Eça penso que é como certos alimentos, só se devem provar quando o paladar já passou por algumas experiências. Nunca dês tomate a uma criança pequenina, pois é quase certo que irá odiar.
Muitas vezes os escritores são lidos na idade errada e Eça foi certamente um desses casos.
Ele é para mim, juntamente com o Fernando Pessoa, um dos grandes heróis nacionais em termos de escrita.
ó Ana,desculpa lá mas estás enganada,dei tomate ao puto desde tenra idade e o gajo adora:D
yaaa o gabriel adora tomate e eu, depois de velha, continuo a não gostar de Eça.
Eh pá que grandes chatas. Dizem isso só para deitar por terra a minha tese filosófico intelectualmente inteligente. Bahhhh
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