domingo, 31 de julho de 2011

Três anos

Este espaço já tem três anos. Começou como babyblog, seguiu pela minha gravidez doida afora, entrando pela vida com o Gabriel adentro e, aos poucos, passou a ser o meu diário sem chave, a minha vida partilhada com o mundo, e um pouquinho da do Hugo também. Este blog são os meus olhos.

Nunca serviu para me alimentar o ego. Nunca me trouxe gente mesquinha. Este blog só me trouxe gente do bem, malta que acompanha as minhas reflexões, crises, angústias, crises e crises sem fazer julgamento (pelo menos não na minha caixa de comentários, o que já é suficiente), sem fazer de conta que não vê quando eu falo demais, ou quando falo de menos (quase nunca). Malta que foi aprendendo a conhecer-me e que mora no meu coração, no coração do meu diário sem chave.

Adoro isto. Depois das cartas dos meus avós, é o meu maior tesouro, com a sorte de não ser algo que tenha de carregar para cima e para baixo. Vejo em muitos blogs posts como "um dia, este blog desaparecerá..." e blablablas. Duvido mesmo que este blog desapareça. Não me imagino sem escrever aqui. É a minha casa. Deixar este blog para trás é deixar a minha casa para trás.

Queria ser tão diligente com os meus 34 outros blogs, mas não se pode ter tudo.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Adaptações

Se leio o livro primeiro, não gosto do filme.
Se vejo o filme primeiro, não leio o livro.





Vamos ver se a adaptação desta pequena maravilha de livrinho que acabei de ler hoje quebra a minha ceninha.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tenho uma amiga especialmente inteligente, sensível e analítica

Eu cá acho que as pessoas nascem fortes, ou frágeis, frias, ou mais sensíveis.
Quando uma pessoa sensível leva porrada, raramente se transforma em pessoa forte, porque a porrada dói sempre mais a estas pessoas.


Ó Cê, acho que isso é uma verdade tremenda. E acho mais: acho que, no nosso ponto fraco, NÃO APRENDEMOS. Nascemos com o dito-cujo e o dito-cujo assim permanecerá, não há exercício que lhe fortaleça o músculo. Não há evolução, não há aprendizagem. Nasce ponto fraco, morre ponto fraco. E acho que é por isso que vemos mulheres fortíssimas a saltar de traste de marido em traste de marido com uma fé inabalável que o próximo é que é, que alguém olha para o sorriso de uma pessoa e sabe que ela nunca lhe vai mentir como as dez anteriores, que dá a leitura menos provável à situação mesmo que os sinais sejam bastante claros só porque o que guarda lá dentro é frágil e há-que ser guardado, há-que ser guardado pelo menos mais esta vez.

Se no resto da nossa vida podemos ter uma fé saudável e realista, o nosso ponto fraco vê tudo distorcido, com as formas necessárias que nos dêem aquilo por que ansiamos tanto. Que diabo, né? Eu acho um diabo, mesmo.

Em tempo: todas as minhas amigas são inteligentes, a maioria é inteligente e sensível, poucochinhas, mesmo muito poucas, são analíticas (e ser analítico não tem de ser só positivo. Para mim, por exemplo, são mais as vezes em que é uma verdadeira caca).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Uma pergunta

O que faz uma pessoa para se tornar mais resistente emocionalmente?

terça-feira, 26 de julho de 2011

O dia dos avós que o bebé pediu a Deus

[Tu]
HEY
faltam cinco cenas p escrever
dp posso ir buscá-lo ou podes vir deixá-lo, como preferires!
[Isabel]
16:05
olazinho! o dragão dorme agora, tanquilissimo. quando ele acordar, dou-lhe um iogurte e levo-o aí de caminho para "chez maman" para comer um grande arroz de marisco :)
[Tu]
e levas livros
trouxe-te policiais
[Isabel]
não foi à praia, mas esteve na varanda da avó, na rede, após banho morno de mangueira - ADOROU!!!! quem precisa de praia,, quando tem uma rede e uma mangueira ao sol???
[Tu]
mangueira é a melhor cena
[Isabel]
depois fomos passear, jogar futebol com bola imaginária, beber sumos e comer gelados.
[Tu]
hahahaha
quero uma xéu béu
[Isabel]
chega-me um... LOL - bichinho espaçoso, ocupou a televisão toda, e o computador, e ainda ouvi o sapo uma porrada de vezes - detesto sapos
[Tu]
hahahah
ele é fanático
[Isabel]
é o video 4/19 - gravei a posição daquela historia :(
e não vi sapo nenhum, embora fossemos procurar no jardim
[Tu]
foram procurar sapos no jardim?
[Isabel]
yup - e ao sol - LOL, para convencê-lo a sair de casa
queria mais banho de mangueira
e mais rede
e mais gelado
e mais brincadeira
até que por fim desmaiou
[Tu]
Parece-me um dia perfeito
[Isabel]
disse-lhe que tu gostavas MUITO de sapos LOLOLOLOL (gargalhada venenosa) e que lhe vou dar um par deles para el levar para casa
[Tu]
Mato-vos
[Isabel]
hehehehehehehe
já pensaste? uma rãzinha no banho de espuma???

domingo, 24 de julho de 2011

Um post cheio de julgamento

Se se provar que um familiar directo - digamos um filho - tenha um comportamento que ponha em risco a sua própria vida, não podemos requerer uma espécie de custódia legal dessa pessoa? Para, por exemplo, interná-la ou trancá-la a sete chaves?

Isso não existe? Ou, não existindo, não se justifica?

Nunca entendi, ao longo dos anos, a mãe da Amy dizer repetidas vezes que não sabia se a filha ia aguentar. Mas que raio?

Os filhos trilham o seu próprio caminho e chegam onde têm de chegar pelo seu próprio pé e não estou a dizer que a culpa foi da pobre mãe, mas caneco, às vezes temos de descer da bancada. "Não saber se o filho aguenta" não me entra na cabeça. Espero não ofender quem tenha familiares com problemas de drogas e álcool, mas é que não me entra na cabeça mesmo. Não sou ingénua a ponto de pensar que bons pais tiram filhos da droga e maus pais, não, mas bons pais dão mesmo muita luta. Perdem os filhos, mas perdem os filhos depois de terem feito o possível e o impossível, das tripas, coração.

Só desistem depois de muita guerra. Muita guerra. De morrer lutando, mesmo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Amor

Leve, como leve pluma
Muito leve, leve pousa.
Muito leve, leve pousa.

Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma.

Sombra, silêncio ou espuma
Nuvem azul
Que arrefece.

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Que em mim amadurece.

João Ricardo - João Apolinário

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Não sou eu, és tu, Melissa

Adoro - no sentido de achar incrivelmente cómico - a minha mais antiga mania, que é a de pensar que as pessoas pensam de mim ou me querem dizer o que eu penso delas ou lhes quero dizer a elas, ou ainda a mais nova forma de projecção: acho que pensam de mim o que eu penso de mim.

Freud deve explicar.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coisinha pouca

Se antes os factores mais pesados no orçamento de uma viagem/passeio eram as refeições fora e as dormidas, agora é o combustível. A nossa recente excursão ao Badoca provou-nos isso.


Muito pó.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Às vezes

Perco a fé e o medo do futuro petrifica-me.

Para referência futura - personagens

Piqui mós = Mickey Mouse
Pinnie - Minnie
Coatas - irmãos Coala
Coxa - Coisa, do quarteto fantástico, o primeiro super-herói do coração.
Totty - Noddy
Uca - Ruca
P-anha - homem aranha
Bicho MAU - gajo peludo do anúncio da Sumol
Iata - Perna-de-pau.
teta - Pateta
Pato - Pato Donald
Insh - Winx
Buça - Bruxa Babiruxa
hahaha - a Barata do "a barata diz que tem".

sábado, 16 de julho de 2011

As mil caras da alegria (#1 de...)

Ter "O Melhor da Jovem Guarda" a troar no PC, o miúdo a dançar loucamente, eu a lembrar das canções na voz desafinadíssima da minha mãe sem um pingo de tristeza, o Hugo maravilhado por ter descoberto estas canções a abanar a cabeça e feijão preto a chiar na panela de pressão.

São 22h e a vida brilha em vários tons de amarelo e azul no nosso festival de Verão.



Você não é doce de coco, mas eu enjoei de você.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sofrimento

Há quem pene para os pôr a dormir, a comer, a tirar fraldas, a partilhar, a portar-se bem genericamente, a ficar na creche, a isto, a aquilo, a aqueloutro.

Cá penamos, todos os dias, TODO O SANTO DIA, para fazer com que o Gabriel arrume os brinquedos. Todos os dias é o mesmo drama: balde de legos esparramados no chão, seguidos de, horas mais tarde - eu adio o drama o máximo possível - muito, muito tempo de gritos, berros, palmadas e todo o tipo de reprimenda. Ele manda-se para o chão, dança, corre, ri-se, chora, berra, mas só a muito custo apanha uma ou outra peça.

E horrível e podem gozar-me à vontade, mas é algo que me leva às lágrimas: porque até aqui temos conseguido tudo que queremos dele nas calmas, até aparecer este cavalo de batalha que nos leva a todos à loucura e à violência - sim, usei a palavra "violência", porque tau-tau para mim só serve para descarregar a frustração dos pais e não tem qualquer efeito pedagógico: ele arruma as coisas tanto com tau-tau quanto sem tau-tau, a diferença é com tau-tau ele berra e eu sinto-me na merda. Em tempo: é das raras opiniões fixas que tenho, tau-tau é inútil e serve para ensinar cachorros, não pessoas. Nem discuto isso.

E nisto, ele acaba de despejar mais um balde de brinquedos.
Mais um balde.

Tirar os baldes do alcance dele também está fora de questão, porque não quero contornar o problema, quero resolvê-lo.

Estou francamente a desesperar com isto.

A escola da Melissolândia

não é um centro de excelência bilingue com 16 actividades extracurriculares, mas sim, uma grande casa de formação para a vida - a vida a sério. Os alunos sabem porque estão a aprender uma coisa ou outra: têm a resposta para "de que isto me servirá para o resto da minha vida?". Na escola da Melissolândia há, como nas outras escolas, uma horta pedagógica, mas os alunos também vão para a cozinha e para a copa. Os alunos experimentam o funcionamento de diversas áreas da escola consoante as suas idades, ajudados pelos funcionários. Se há um muro a pintar, um pequeno arranjo a fazer, os alunos lá estão para ajudar ou aprender a fazer, e orgulham-se do resultado final.

A escola tem também um orçamento participativo, onde os alunos decidem onde são aplicadas verbas e verificam essa aplicação.

A escola não tem tantas salas de aulas. Os adultos não são autoridades inquestionáveis. O sucesso não é medido de forma linear. As visitas de estudo não são apenas a mosteiros e palácios, mas também aos escritórios dos pais dos alunos e a instituições várias ligadas à própria escola - ou não. Os alunos fazem trabalho voluntário através da escola, é uma disciplina como outra qualquer - vários tipos de trabalho, que os ajuda a escolher as suas próprias carreiras no futuro de uma maneira prática.

A escola da Melissolândia é um lugar que combate a alienação e a formatação dos alunos; todos participam, cada qual tem o seu valor, e todos contribuem com a sua diferença para algo maior. A escola da Melissolândia não é um ambiente artificial cheio de teorias desmotivantes e gente desmotivada que dizem preparar para a vida, a escola da Melissolândia é a própria vida em andamento.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De manhã cedinho

Vem a correr para a nossa cama, toc toc toc toc toc toc toc, trepa aquilo com a facilidade de um tipo da SWAT, mete-se ao meu lado. Eu durmo com as mãos cruzadas à frente do rosto, e ele agarra-as com força e descruza-as, e belisca-me as bochechas até eu acordar. Eu abro o olho e ele perde-se de riso.

Sempre quis ter um filho, desde que me entendo por gente. Nunca tive dúvidas, sempre foi uma questão de "quando", e não de "se". Não sabia era o porquê, e agora sei: é por isto. A Natureza brincou com a linearidade do tempo e plantou-me a noção de um momento assim antes de eu saber o que era: a ternura de ter uma criatura do bem, cheia de amor e boa onda, a beliscar-me as bochechas de manhã, e tudo que vem atrás e à frente de algo assim.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sorte ao jogo

Havia uma paranóia colectiva bem parva, diga-se, que consistia na estúpida tendência de ir ao Bingo jogar meia dúzia de cartões sempre que algum de nós fazia os 18 anos. Era tido como um ritual de passagem ao qual ninguém estava interessado em faltar. Ficávamos mesmo emocionados em mostrar o nosso Bilhete de Identidade à entrada enquanto esperávamos a autorização do porteiro que ficava a contar pelos dedos o deve e o haver do ano do nascimento.
Os Bingos eram espaços decadentes cheios de malta que não tinha nada para fazer e cuja vida entrara numa espiral de solidão e desespero tão profunda que acabara infelizmente ali, numa mesa redonda, a ouvir uma voz a debitar números enquanto se autodestruía com tabaco e álcool.
Claro que enquanto miúdos de 18 anos não nos apercebíamos do negrume daquele espaço, para nós tudo aquilo era novo e adulto. Podia-se beber e fumar até altas horas da noite sem que alguém recriminasse os nossos vícios e se as trevas do dia corressem de feição e fossemos abençoados pelo rodopio dos números e do destino, quem sabe até éramos capazes de sair de lá com algum dinheiro no bolso. Era o local ideal para o desabrochar da maturidade. Agora que tenho uma visão mais adulta da coisa e que os comportamentos do passado já não são mais do que recordações passíveis de serem gozadas e até de poderem ser interpretadas como génese da minha personalidade, confesso que o que mais nos atraía nem era tanto o Bingo em si, mas a possibilidade de poder um dia entrar naquele antro sem que o segurança nos pedisse o Bilhete de Identidade. E acredite-se que fazíamos sempre os possíveis para não passarmos pelo embaraço de sacar a carteira Dunas e enfiar com desdém o cartão do arquivo de identificação de Lisboa pelas ventas do porteiro. Libertávamos o crescimento da barba, vestíamos uma ropita mais formal e deixávamos as borbulhas de molho em Clearasil durante a semana para o efeito do creme poder esconder convenientemente as mazelas da puberdade.

O Bingo era, claro está, completamente devoluto em matéria de mulheres da nossa idade. Havia algumas senhoras bastante mais velhas que, à falta de homem e esperança de poderem encontrar novamente o amor, matavam a escassez do afecto nos riscos e nos gemidos de Bingo e Linha que, por vezes, pronunciavam com o vigor animal que as deixava, parecia-me a mim, francamente excitadas. Sorriam, pagavam cartões e deliciavam a mente com as piadinhas de quem tivera o sopro dos deuses.
Havia uma senhora, Perpétua, que sentia alguma pena de nós e dizia quando estávamos na sua mesa que éramos jovens de mais para ali estarmos e o que devíamos fazer era gastar o nosso tempo a convidar as raparigas para os bailes. Depois ficava calada, concentrada nos seus números e deixava a conversa para trás. Abanava a cabeça quando as suas bolas numeradas não saíam e, quando desesperada pelo abandono da sorte, lançava a caneta para a mesa desistindo de conferir o resto da extracção.
Eu até gostava de gastar o meu tempo a dançar com raparigas, achava eu, mas nunca tivera convidado nenhuma para esse efeito. O medo do julgamento que ela pudesse fazer sobre a minha pessoa, de ar franzino e dentuça sobressaída, era razão suficientes para não me aventurar em marés tão desconhecidas. Seja como for a falta de calor feminino levava-me, durante a solidão da noite, a ter as minhas conversas com Deus e a pedir-lhe uma ajudinha nessa matéria. Os meus planos, para caso da ajuda divina viesse um dia, era levar a cachopa até ao cinema, víamos o Querida, ampliei o miúdo e tomávamos um café depois da sessão. E para a que noite fosse perfeita, convidava-a para irmos ao Bingo jogar um cartão ou dois. Coisa pouca, só para ela sentir aquilo. Se Deus me ajudasse mesmo, quem sabe, até podia fazer com que nos saísse seis ou sete contos de prémio e que a adrenalina da vitória a impulsionasse a beijar-me. Durante muitos meses era esse o máximo de romantismo que o meu barómetro do amor atingia.
Deus ouviu-me e deu-me um sinal que qualquer dia tratava disso, que depois dizia qualquer coisa. Sei que era um sinal porque olhei para o relógio às 22:22.
…até hoje.

domingo, 10 de julho de 2011

Sobre nós

O skype é uma maravilha, mas o skype não é a porta da casa a abrir-se e alguém desejado por ela entrar.

Sobre mim

Yaps, sou queixolas, mas vou à luta como poucos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vou a meio da Almirante Reis e já

- Entrei num centro comercial que faz o da Mouraria parecer o Beloura;

- Vi uma velha a mendigar com fotos de mortos em caixões espalhados por toda a parte;

- Entrei num restaurante 100% jalal premiado por vários guias de restaurante (não comi, não havia fallafel);

- Vim a um cyber café nos fundos de uma mercearia asiática e estou cercada (soterrada?) por caixotes de fruta estranha.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Faço artesanato,

ou seja, vou ali ao chinês e compro uma data de molduras pré-fabricadas, bem como caixas e letras soltas e bonecas, colo tudo e pimbas, sou artista urbana, com loja na Etsy e às vezes até vou a feiras de artesanato e tudo.

Se estiver mais numas de bijutaria, não me acanho: à direita, no mesmo chinês, tenho contas de várias cores, correntes, enfio tudo por ali além e ponho num saquinho de tule - ENA! Também há no chinês - e pronto, sou joalheira. Mas esperem, porque ainda não saí do chinês e também tenho imenso talento para fazer ganchos e pregadeiras: compro flores de feltro de vários tamanhos, colo umas às outras e tungas, faço história da moda.

Chiça, que sou talentosa, pá.

domingo, 3 de julho de 2011

Dois dias, duas epifanias necessárias

Uma através de uma pessoa que, de repente, me conhece como poucas outras.

Outra totalmente inesperada e linda, triste e certeira. Excelente.

Pois, eu sei, é pouco.

sábado, 2 de julho de 2011

ET phone home

A ideia de voltar à minha cidade natal, a qual não vou há sete anos e que, antes disso, não ia há cinco, não me causa excitação, por incrível que pareça. Não que não tenha saudades: morro de saudades daquelas mulheres sobre quem escrevo aqui. Mas a ideia de voltar à minha cidade natal causa-me sobretudo ansiedade, muita ansiedade.

Mais do que ansiedade, acho que a palavra que procuro é medo. Eu sou outra pessoa completamente diferente, agora, depois de luto engolido, casamento, maternidade, vida. Estou bastante mais velha. BASTANTE mais gorda. Eu não sou a mesma pessoa que saiu de lá. E é ridículo, mas tenho um medo infantil de... de esta pessoa que sou hoje não ser aceite.

Sei de onde este disparate pegado vem, graças a Deus. Está bastante identificado. Identificar, para mim, nunca foi um problema. Ultrapassar, sim.

Mas, quer dizer, se voltar às origens não fosse fonte de conflitos, não haveria tantos filmes sobre o tema, certo?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Amo o meu bairro Parte I

O parquinho infantil cheio de minis-tudo: tugas, zucas, ciganitos, ucranianos, indianos, espanhóis, cheio de "ela não fala português", "ele não entende", "mas tu és da onde", e palavrões que não entendemos e rapazes bonitos e bronzeados a jogar basquete com miúdas a fingir que se riem e a sussurrar muito do lado de fora, às vezes uma churrasqueira improvisada, todos suburbanos como nós três, todos a trinta minutos da capital, com os pais a darem 50 eur mensais pelo passe, todos clientes do Pingo Doce, todos remediados, mas que diabo, no fim de semana temos a praia a dez minutos, que é a única coisa que realmente importa.