domingo, 30 de outubro de 2011

Vídeo de casamento

- Paaaaai! Mãããe! Hugoooo!

Remexendo na gaveta dos DVDs, o Gabriel encontrou o vídeo do nosso casamento, e lá tivemos de o pôr. Ele delirou ao ver o pai e a mãe na TV, conheceu algumas pessoas, andou à procura de si próprio e das primas.
Tão bom voltar a 2007 e aquela gente toda ali reunida, felizes e contentes, a bebericar e a rever os amigos. Toda a gente mais gordinha, mais descansada e muito unida. Estavam todos divertidíssimos enquanto eu não chegava - e eu, em casa, a ter uma síncope e a achar tudo uma grandessíssima merda, a perguntar-me repetidamente quem tinha tido aquela ideia de jerico.

O vídeo foi feito por um amigo do Hugo e foca mais sobre aquele grupo de compinchas dos tempos da primária, mas, ao fundo, vejo-os a todos: a minha malta do ex-trabalho, tudo tão novinho e sem filhos. A empresa ultrapassava graves dificuldades na altura, mas, naquele dia, era tudo vodka e charutos e piadas.

O meu irmão com um corte de cabelo absurdo. O meu pai sempre a limpar as lágrimas.

Contei sete bebés que ainda não tinham nascido. Duas pessoas que já cá não estão - a avó do Hugo, que fez 95 anos nesse dia, e se foi pouco tempo depois, e um menino que partiu cedo, demasiado cedo.

O Gabriel, ao ver a bisa Gnoma que não chegou a conhecer, não teve ponta de dúvida: OLHA A AVÓ!

Eu sem facebook

- Ontem fomos a uma aula de dança na quinta pedagógica. Muito fixe para miúdos um pouco mais velhos que o meu (que curtiu mesmo assim, mas preferiu as cabras e porcos). Quem os tiver (miúdos mais velhos do que o meu, não cabras e porcos), que dê uma vista de olhos à programação para famílias da quinta. É repleta de atividades e todas elas são gratuitas.

- Estou apaixonada por todo o caso do Duarte Lima; mais uma vez, a realidade suplanta, e muito, a ficção: quem é que se lembrou de fazer um vilão que, depois de se ver a braços com a sua própria mortalidade, em vez de tentar fazer as pazes com o Criador e redimir-se diante da homens para garantir a imortalidade da sua alma se torna um assassino frio e calculista? Acho brilhante. Deve ter deixado os escritores do país todos a pensar: "Olha que esta...". Minha conclusão: só a realidade pensa fora da caixa.

- A Casa dos Segredos consolidou-se como o mais culpado de todos os meus prazeres culpados, e tenho muitos prazeres daqueles mauzinhos (entre os quais boybands latinas da década de 80). Ontem, pela primeira em vários anos, fui dormir às 3h da matina: não porque estava a dançar loucamente numa discoteca ou a ter uma noite incrivelmente romântica, mas porque estava a ver o resumo semanal. Considerações:

- O Carlos é a maior galdéria do mundo.

- Amo a Fanny e a Susana, por mostrarem que não temos de ter medidas perfeitas nem o melhor dos cabelos para fazer virar a cabeça de gorilões da noite. Uma boa dose de auto-confiança e altivez parecem ser suficientes.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Coisas que o meu filho sabe

- Como é que faz a vaca?

- MUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!

- Como é que faz o boi?

- piu piu piu piu...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Publicidade de Natal gera controvérsia

No Canal Panda, onde os bonecos trabalham, não se tem falado de outra coisa que não seja a entrada no período natalício. À priori, seria uma época de grande felicidade para todos uma vez que, naturalmente, a avalanche de anúncios serviria para encher os cofres da empresa detentora do canal e dar algum sossego aos trabalhadores e colaboradores.


Contudo, tem existido alguma crispação, principalmente por todos aqueles que estão na posição mais baixa da pirâmide. A quase totalidade dos bonecos queixa-se da forma abusiva como a publicidade é gerida, remetendo para segundo plano os seus programas e, em alguns casos, retirando os mesmos da grelha. O descontentamento surge na sequência da posição da administração em suspender os pagamentos a todos os bonecos cujos programas, já filmados, não sejam emitidos.

Alguns dos visados, que preferiram manter o anonimato por receio de receberem represálias, lamentam-se da sua situação. De facto, segundo se conseguiu apurar, todas as grandes estrelas do canal estão numa situação de recibos verdes e recebem os seus honorários 90 dias depois do episódio ir para o ar, um período demasiado longo e que, no entender dos mesmos, é um abuso de poder. O descontentamento piorou desde o início deste mês onde muitos programas foram suspensos para que o tempo de publicidade aumentasse.

Mesmo no seio dos artistas alguma rivalidade tem vindo ao de cima, alimentada pelas desigualdades existentes. Os mais novos, que chegaram agora, sentem-se descriminados pelos cortes. Dizem que depois de tanto esforço para conseguirem que o seu projecto fosse aprovado, deparam-se nesta situação o que os leva a desaprovarem a atitude dos mais velhos que dominam o horário nobre e cujos shows não são mexidos, sendo mesmo emitidos vários episódios diariamente. O que lhes custa, é “o discurso miserabilista de quem tem a barriga cheia.”

Afim de mostrar ao mundo a sua preocupação quanto ao futuro, está marcada uma concentração junto da sede do Canal onde o movimento “desenhos desanimados” dará a conhecer o seu desagrado. “…as pessoas e as crianças que assistem aos nossos programas olham para as nossas personagens a viver vidas utópicas e não se apercebem que fora da televisão sentimos tantas dificuldades ou mais do que as famílias normais.”

De vícios que I can't afford

É impressionante as vezes que, depois de suspender a conta, fui lá e dei com a cara na porta. Impressionante, mesmo. Nem digo um número aproximado para não me envergonhar. Não tinha essa noção porque, como a página entrava automaticamente, era um seguimento natural das coisas.

Já não era uma droga recreativa para mim. Não, senhor.

(Podia falar mais sobre o incómodo que me causam objetos/lugares/comportamentos-de culto-que-se-tornam-indispensáveis logo a seguir, mas esse seria outro post).

Na decisão de tirar as bu-férias (que espero que sejam) prolongadas, a frase de Robert McKee:

Você deve amar escrever (...) e suportar a solidão.



foto via

Um post scriptum: não sei se alguém aqui já desativou a sua conta, mas eles fazem toda a coisa parecer um suicídio mesmo. "XXX is going to miss you. Send her a message" com a foto do amigo em questão ao lado de muitas outras com o mesmo texto. Everybody is going to miss you. Vais mesmo premir o gatilho?
CENA.MARADA.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O que importa realmente

Hoje é 26 de Outubro e recebi a notícia da gravidez de uma das minhas pessoas preferidas no mundo - minha e da dona Melânia.
E o 26 de Outubro se cumpre como dia especial mais uma vez.

Bem-vinda à existência, pessoínha muito pequenina na barriga da minha prima!

E para quem me tem no FB e estranhou a minha ausência, estou de bu-férias por algum tempo - o suficiente para pôr alguns projetos em dia. Mas estou por aqui!

Uma pesquisa engraçada na Net

É pelo termo "cara de parva" no banco de imagens do Google.

Tá bem, estão lá algumas, mas se fosse para ser a Kirsten Dunst num dos meus filmes preferidos de sempre, não me importava mesmo nada até de ser mesmo parva, em vez de ter só a cara.

26/10/11

Hoje voltam os álbuns de fotografias que andam a criar pó na cave às minhas prateleiras, e a gaveta com a tua roupa que conservei estes anos todos vai ser esvaziada. Os perfumes que guardei também vão para o lixo. Depois de sete anos, até tenho medo de abrir os frascos.

Prendi-te cá por demasiado tempo. Demasiado tempo, mesmo. E peço desculpas por isso, a ti e a mim.

Hoje é o dia em que te liberto para seguires o teu caminho, e me liberto para seguir o meu. Levo de ti muita coisa, mas deixo aqui, neste ponto em que nos encontramos, o excesso de bagagem.

Tchau, então.

E, se voltares um dia, espero que sejas um pé gigantesco de buganvílias de várias cores, não só das lilases.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O fim do luto

Não me canso de dizer aqui que tive um luto complicadíssimo, cheio de etapas queimadas, uma bola de neve de problemas rolando para baixo fosse Inverno ou Verão.

Hoje, ao deparar-me com um post de um enlutado da blogosfera, tive a noção muito, muito clara de que o meu luto acabou. Não é por ter um ou dois ou três recalcamentos que ainda não aceito a morte da minha mãe: houve coisas que ficaram por dizer e por fazer que agora passam, simplesmente, para o meu legado espiritual e emotivo. Fazem parte da dor e da delícia de eu ser quem eu sou. Mas...

- Já não penso que vou voltar a vê-la, nem neste plano nem noutro qualquer.
- Não sei o que faria se voltasse a vê-la. Neste momento, não sei que papel teria na minha vida.
- Ela não fez uma viagem. Ela deixou mesmo de existir. É ponto assente.
- Conheço bem o que ela deixou de bom e de mau.
- Sei que ninguém teve culpa do que aconteceu, nem Deus, havendo Deus.

Ainda não estou pronta para falar dela ao Gabriel, ainda dói muito. Mas ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, combato a paralisia que essa dor causa. Estou a tentar incorporar essa dor como incorporei tudo o resto. O objetivo aqui é transformar a dona Melânia na protagonista das memórias fixes que o meu irmão e o meu pai têm dela e passar isso ao meu filho, como eu guardo as melhores memórias de uma avó que eu nunca conheci - a mãe do meu pai - porque foi o que me foi passado.

Estou pronta. Estou pronta, agora.
Estou pronta porque descobri que estar pronta não é o mesmo que não sentir dor.

Bola para a frente, porque daqui a dois dias é 26 de Outubro.

sábado, 22 de outubro de 2011

A mãe da mala azul

A mãe da mala azul chega à natação com os dois filhos. O mais velho vai equipar-se e o mais novo, da idade do meu, fica com ela na sala de espera. A dona Idalina pede-lhe o cartão do menino e a mãe da mala azul abre a mala azul e começa a tirar de lá papéis.
E papéis.
E mais papéis.
E lenços usados, e talões de multibanco, e pequenos desenhos e bocadinhos de faturas, que o filho mais novo vai pondo ao lixo um a um, e nada do cartão. A mãe da mala azul começa a suar e, às tantas, despeja a mala, e nada do cartão da natação no meio das 200 coisas que caíram ali pelo banco de madeira.

Ninguém que não tenha filhos leva tanta coisa na mala. É que até abro o desafio, o mala-challenge.

Na semana anterior, estivemos a conversar um bocadinho, eu, a mãe da mala azul e a mãe de outro menino que está em fim de tempo. A mãe em fim de tempo lá ia falando das expetativas de ter dois filhos, eu ia falando que se calhar íamos ficar por um filho só e a mãe da mala azul também começou a falar da sua experiência. E, quando começou, já não parou mais. Que nunca lhe tinham dito que ia ser tão difícil, que se ia sentir tão sozinha nos meses da licença, que a gestão das necessidades dos dois filhos fosse tão custosa, que fosse andar sempre tão, mas tão cansada, mesmo tendo a ajuda da sogra, que é um doce de pessoa. "Ninguém me avisou" foi algo repetido umas cinco vezes. A grávida perguntou-lhe, meio boquiaberta, se entretanto as coisas tinham melhorado, agora que o mais novo tinha quase três anos.

Não, disse a mãe da mala azul. Tá igual. Continuo cansada, continuo sem tempo, continuo um pouco suicida de vez em quando.
Nós três sorrimos, tristes.
A dona Idalina pôs a cruz de presença no nome do menino mesmo sem o cartão.

A maternidade não é um exercício simples e natural para a mãe da mala azul, como não foi para mim durante até muito recentemente. Foi muito difícil encaixar o Gabriel no meu dia, e tenho a plena noção de que não foi por ser uma pessoa muito ocupada - que não sou - mas por ser desorganizada por natureza, com pouco método, com uma mala já bem cheia de papelinhos bem antes de o Gabriel nascer e já dramática por natureza. E sempre cansada, também, porque os desorganizados e os dramáticos se cansam mais, muito mais. Durante a gravidez, tive a ilusão de que o Gabriel poria ordem na minha vida por um passe de mágica, porque seria impossível sobreviver no meio do caos com um bebé - seria uma espécie de milagre forçado - e a verdade é que é bem possível, sim. Mas é estupidamente cansativo e meio suicida de vez em quando.

Tive vontade de partilhar isso com a mãe da mala azul e dizer que comigo é igual, mas se calhar a história dela é outra bem diferente. Há sempre mil e uma maneiras de as coisas não correrem bem como estávamos à espera, e a desorganização e o pé no drama são as razões que eu encontrei para a quebra de expetativa que eu sofri. Tantas outras coisas podem ter acontecido na vida da mãe da mala azul. Se um dia voltarmos a conversar, se calhar pergunto-lhe.

Ela traz sempre um saco da Zara com livros lá dentro, e troca-os com a dona Idalina e outras mães. Há um autêntico book club ali na sala de espera dos Bombeiros. Era uma leitora voraz, a mãe da mala azul. Agora lê bem menos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reflexão pequenina sobre a amiga fome

Se há um conselho que não entendo muito bem em dietética e nutrição para a perda de peso é o de não se permitir ter fome. Incentiva-se as pessoas a andarem o dia inteiro a gelatina diet e a chá, ou a rodelas de cenoura ou o diabo para ir controlando a tal "fome", que a maioria das vezes nem fome é.

Acho que é um conselho meio tiro-no-pé, ou melhor, dois tiros, um em cada pé: primeiro, aumenta-se o medo de um impulso perfeitamente natural e ÚTIL. Acho que o que nos engordou como sociedade foi justamente o se esquecer do que é fome e ir comendo por força do hábito (horário das refeições) ou das vontades. Acho que, sem reconhecer a fome, também não reconhecemos a saciedade. Deixamos de reconhecer dois sinais reguladores importantíssimos. E mais falaria, mas não. E este é o primeiro tiro no pé.

O tiro no outro pé é não permitir que o que quer que não seja fome verdadeira seja reconhecido - ansiedade, depressão, tristeza, vazio - porque, aí está, pomos um muro de rodelas de cenoura e gelatina diante de nós. Se não nos permitimos saber o que é fome, além de não sabermos o que é saciedade não vamos saber o que NÃO é fome. E seguimos assim, tapando fomes de coisas que não são comida com comida. Bum, lá se foi o outro pé.

Fome não é enxaqueca, fome suporta-se bem. E fome acaba quando se come. Se a fome não acabar quando se come, é porque não era fome e isso tem de ser resolvido (ou saciado :)) de outra forma. Mas, para se saber destas coisas e conhecer-se a esse nível, é preciso estar-se aberto a encarar o ratito de frente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Casa

E inspirada pela Gralha (não consigo linkar), queria só lembrar que casa é um lugar, sim, e é um clique, um calor, um aconchego bom, o antigo, o reconhecível, o sublimado, o regresso.

Casa é para onde se volta.

Sem querer parecer mórbida, porque de mórbido, para mim, isto não tem nada, a última frase da minha mãe foi "aqui está bom".

Luzes de Terça à Noite

Às terças à noite, não tenho marido, não tenho filho, não tenho nada além de mim mesma. Às terças à noite agarro na minha mochilita e parto para Lisboa, onde passo três horas à volta duma mesa a aprender e a falar daquilo que mais gosto de fazer nesta vida. Toda a confusão mental e problemas de distração que me acompanham no resto do dia desaparecem ali, e ali estou de corpo e alma, a absorver tudo que é dito, a revirar os olhos com os disparates, a tomar notas com a minha letra muito feia.

Às 22h30 saio para o Largo Camões, que está apinhado de putos e estrangeiros e desço a rua do Alecrim em direção ao Cais do Sodré sozinha, escorregando na calçada, feliz da vida e a digerir todas as conversas daquela sessão da oficina, a sentir-me viva e revigorada - e cheia de fome também. O Pingo Doce do Cais do Sodré está aberto, uhuuu! (Também é bom fingir que estou num 7/11 de beira de estrada num filme qualquer, que a felicidade dá para isso, dá para a embriaguez).

E depois é o comboio das onze, cheio de malta trabalhadeira dos restaurantes a falar mal dos patrões ou de algum colega ausente, miúdas produzidíssimas que vão para algum lugar cheio de estilo, todo mundo com uma conversa tão gira, tão pouco suburbana, tão longe do que vivo que a viagem acaba por se tornar... Isso, uma viagem.

E é chegar a casa quase à meia noite, beijar o Hugo, perguntar se o jantar correu bem, espreitar o pequeno a dormir e voltar para o sofá, contar ao Hugo tudo que se passou na sessão do dia, conversar um pouquinho. Dividir um pouquinho.

Adoro estas terças e vou morrer de pena quando terminarem.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Curtíssima sem excepções

Não acho que o que leva uma pessoa a achar-se "muito inteligente" seja a sua auto-estima. Acho que é a sua burrice.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Café do Manel hoje de manhã

Malta dividida entre:

- Não sou funcionário público, portanto nada disto me atinge e
- Sempre vivi com menos de mil euros, essa malta que aprenda a trabalhar, mas é.

Fico muito triste ao ouvir este tipo de coisas. Esta é a minha casa, este é o povo que me acolheu há mais de 20 anos, é nesta cultura que eu me encontro e com que me identifico. Mas nunca com o espírito de querer nivelar tudo por baixo, tudo na falta absoluta de sonhos e planos, do medo de sonhar com uma vida melhor.

E se é assim que a maioria pensa, temo pelos anos que se seguem neste atoleiro espiritual, temo pelo futuro do meu filho. Mas esta é uma família portuguesa e é aqui que o futuro vai acontecer, de qualquer jeito.

E ser infeliz não é uma opção válida, com mil desculpas aos fãs dos baldes de merda. Há N meses em que ganho bem menos de mil euros, ou não ganho nada de todo. E continuo a achar mil euros uma miséria. Recuso-me a não achar. Não é por viver com quaisquer três tustos (porque vivo) que vou deixar de achar.

E a quem não é funcionário público e por isso está-se a cagar, é esperar ver a desolação dos seus professores, médicos, etc a ver se a sua vidinha não é afectada. Mais empatia, senhores.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Hoje alguém postou isto no Facebook, há séculos que não ouvia. Conheço umas dez versões diferentes, umas mais sensuais (como a original de Tim Buckley) das mais espirituais, como a da Sinead O'Connor, passando por tantas outras leituras.

É a matéria dos clássicos, digo eu: temas universais, reconhecíveis, a quem cada um empresta a sua visão e pinta com as suas cores próprias.



On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.

And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."

Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?

Now my foolish boat is leaning, broken love lost on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?

Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."

Para começar o dia with the chills

- Bicho mau, mamã!
- Não, filho, não há bicho mau aqui.
- Bicho mau, mamã, bicho mau! Ali, mamã!
- Não filhote...
- BICHO MAU! BICHO MAU!
- Onde, filho, onde tá o bicho mau?
(dedinho a apontar)
- Na casa.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando é preciso, elas saem lá do outro lado do mundo e caem como um milagre na minha frente. Sempre que é preciso. O destino me levou para longe delas, mas elas guardaram-me lá na mesma, junto das suas filhas. E são pura gentileza, bondade, graça e generosidade.
E colo de mãe.

As minhas tias e primas mostram-me, a cada vez que caem como um milagre na minha frente, que

Deus existe,
Deus são as pessoas,
Deus são as mulheres.

Magic Hour

No fantástico livrinho sobre escrita infanto-juvenil que estou a ler, a autora fala da magic hour, que, em cinema, é a hora que antecede o pôr-do-sol e dá uma luminosidade incrível ao rosto dos actores e tudo o mais. Na criação literária, a magic hour corresponde ao momento entre o sono e a vigília, em que os pensamentos correm soltos, sem julgamento - a autora diz ainda que é possível reproduzir a magic hour durante o dia, através de alguns exercícios.

Na altura em que li essa parte, desconfiei logo duma coisa que comprovei horas depois: eu não tenho magic hour. Eu tenho o seu justo oposto: eu tenho a super-reality hour. Entre o sono e a vigília é quando sou assolada pelos problemas mais negros e quando todas as coisas totalmente sem importância viram uma cena de tirar o fôlego, de tão cruciais. Não há felicidade nem paz na minha super-reality hour: há gente má, problemas insolúveis, falta de esperança. Na verdade é, de facto, um momento sem julgamento, mas para o dark side. Depois acordo e aí tudo volta ao sítio, já com os meus queridos e chatinhos julgamentos que me fazem procrastinar tudo na vida ad infinitum.

É uma pena. Adoraria ter uma magic hour.

Por sugestão do meu irmão, encomendei outro livro que traz exercícios para ter algo parecido com isso. Espero que resulte. As dicas do meu irmão costumam ser boas.

Antes que pensem que sou a magnata da Amazon, compro absolutamente tudo em 2a mão e é raro pagar mais de uma libra por um livro (com a entrega fica em cerca de 4, 5 eur).

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Todas as segundas-feiras

Aliás, todos os dias: chegamos à porta do infantário, eu vou tirá-lo da cadeira, ponho-o no chão.

- Toma a chucha, mamã.
- Toma o caderno, filho.

E lá vamos nós para dentro, tchau, filho, sem beijinhos.

Todos os dias é igual, mas passo as segundas-feiras cheia de saudades.

domingo, 9 de outubro de 2011

iWolf

Se eu tivesse um supertelemóvel com câmara fotográfica, net, ou como muito romanticamente chama a amiga Tatas "o mundo nas mãos" acho que deixava pura e simplesmente de olhar para a rua, que é uma cena que ainda curto deveras e que me dá sempre ideias, das mais práticas às menos (a maioria, confesso).

Eu ia mergulhar na Teia Mundial e não saía mais de lá. E ia ser bloqueada por Deus e o mundo no Facebook, fartos das minhas fotos de formigas e panfletos estranhos, porque, convenhamos, eu SINTO coisas o tempo todo.

Não é um lobo que eu precise alimentar, definitivamente.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dos prazeres simples (mais um)

Apaga-se a velinha (tea light) do duende da sala e quando arrefece, amassar as bordas da forma e soltar a cera, enfiar lá o dedo, fazer bolinhas.

Curtíssima sobre it's all too much

Chegar à novidade mais cedo do que todo mundo, ter quatro ou cinco livros mal lidos na mesa de cabeceira, saber sempre do que se está a falar, ter sempre um comentário bem informado e espirituoso sobre tudo, estar por dentro de todos os lançamentos de tudo e mais alguma coisa que possa ser interessante para mim ou para quem me rodeia.

Estar sempre a receber algum tipo de informação, o tempo todo, e pavoneá-la para o mundo em seguida.

É demasiado, caneco.
Let's just chill.

Às oito e meia da manhã o parque está repleto de pavões. Para onde vão eles depois, que só lá ficam dois ou três à tarde?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Para Viver Um Grande Amor

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

da rubrica "cenas baratas ou baratíssimas que curto"

Já que só tenho tempo para este blog, trago o meu de low cost para cá.

Ora bem, aqui fica a primeira cena barata ou baratíssima que curto:

cadeiras de massagem dos centros comerciais - um euro por oito minutos de castigo nas costas! Tão bom! Constrangedor porém muito bom. É a coisa mais íntima que me apanham a fazer em público (não esperem ver-me a livrar-me de pilosidades faciais no meio de um shopping), porque, caramba, um eurito por oito minutos de rom rom rom? SIM. SIM.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cada vez mais assumida

Sou gótica.
A sério.

Comprarei maquilhagem roxa e um manto comprido.
Só não vou ouvir música pirosa, isso é que não.
E preciso de arranjar uns amigos góticos to hang out.

domingo, 2 de outubro de 2011

Freud explica

Sonhei que eu e uma gaja que desprezo com paixão éramos melhores amigas, entendíamo-nos lindamente, um espectáculo. Eu sabia tudo dela, e ela tudo de mim. E não foi pesadelo, foi um sonho agradabilíssimo e fiquei decepcionada quando percebi que não era verdade.

A verdade é que me sinto desconfortável com desafectos mesmo de muuuuuito longe. O meu peito só tem lugar para dois ódios sem volta: a prostituta (com nome de prostituta) da Vodafone que andou a espalhar mentiras sobre mim em 1799 e o gajo que atropelou o meu irmão. Esses dois queria vê-los sofrer à minha frente. Devagarinho. O resto das peçonhas que sinto são só isso mesmo, peçonhas, coisas sem valor nenhum: nem eu faço falta da vida da pessoa, nem ela na minha.

No entanto, sonho com elas.

Ah, também sonho frequentemente com amigas do peito a traírem-me sem piedade.