sexta-feira, 28 de março de 2014

Quase 3.8

Diferenças entre estes e os 3.7:

- Aprendi finalmente que as pessoas são diferentes umas das outras, o que me levou a olhar mais para os meus pontos fortes. 
- Por olhar mais para os meus pontos fortes, estou mais confiante e sinto-me mais bonita. Até tirei uma selfie e tudo há uns dias. 
- Os meus demónios devoram-me bem menos do que antes, e cada vez menos, de ano para ano. Acho que isso acontece porque aprendi que eles são isso mesmo - demónios - e não partes integrantes de mim (podia ter sido mais cedo, mas tudo bem). 

Desafios para os 3.8:

- Perceber que não faz mal sermos OK em duas coisas em vez de brilhar numa delas. Está tudo bem. Seguir sendo uma profissional de confiança, além de mãe, mulher e senhora de mim, tudo em OK. Não faz mal ser-se OK. OK talvez seja o novo bom, quem sabe?  
- Fazer uma reciclagem profissional, já agora. Em tradução, continuo em 1996, é insustentável. 
- Usar menos o computador e o telemóvel e diminuir o FOMO em tudo na vida. Se calhar tenho de deixar de ler a TimeOut, há sempre coisas imperdíveis na TimeOut que acabo por perder e sentir-me na merda. Ou isso, ou começo a levar o Gabriel a todo o lado, mas acho que não, não faz o meu estilo de maternidade. 
- Não ler nenhum, NENHUM livro de dieta. Fodam-se todos os livros de dieta e todos que ganham dinheiro às custas das fragilidades femininas. Só 5% das pessoas que fazem dieta não ganham o peso de volta em dois anos, so why bother. É ir fazendo as modificações possíveis (está a correr bem, essa parte). 


Pronto. Pode vir, dia 31. Estou mais que pronta. 



quinta-feira, 20 de março de 2014

Paula e Bebeto



Vida vida que amor brincadeira, vera
Eles amaram de qualquer maneira, vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar
Pena que pena que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira me vale cantar
Eles se amam de qualquer maneira, vera
Eles se amam e pra vida inteira, vera
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá
Pena que pena que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá



A pensar em histórias de amor.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sorte no trabalho, azar na peruíce.

Faço duas coisas que adoro, mas escrever para televisão é a minha preferida. Imaginem que têm um sonho qualquer, ou contam um caso qualquer da vida a um amigo e têm a oportunidade de ver o que sai da vossa cabeça materializado. Nada mais fixe neste mundo, posso garantir-vos. A tradução tem o desafio, o pensamento calmo, a pesquisa. O guionismo é uma montanha-russa. Caneco, que tenho sorte nisso.

Adoro batons, sempre adorei. No entanto, tenho vergonha de usar, por algum motivo idiota. De qualquer forma, comprei um que se chama "barely there" e faz jus ao nome. Mas aí passo o diabo do batom e falta qualquer coisa, então passo o BB cream. Como não estou habituada ao BB cream, logo a seguir à aplicação esfrego as mãos nas calças de ganga e na camisola. Tudo bem, eu sou habituada a nódoas, não me incomodam por aí além, mas caramba, ESTOU DE BATOM. Mudo tudo. E então acho que o barely there está mesmo barely there, então toca a pôr lápis nos olhos, por cima, claro, porque acordei diva. O lápis é daqueles baratinhos da Sephora e, quando chego ao carro, reparo que tenho um risco por cima da pálpebra, porque o lápis passou todo. Tenho um lápis melhorzito na mala, não sei porquê, então retoco com o dito cujo. Claro que não acerto a linha desta vez, seria demasiada sorte, então faço umas três ou quatro até ficarem mais ou menos da mesma espessura. Claro que, entretanto, tendo bebido café, beijado o filho e essas coisas todas, o barely there estava mais para not there, mas aí já me tinha passado tudo. É terrível ter laivos de perua e ser desajeitada ao mesmo tempo.
Sou a penúltima.



terça-feira, 18 de março de 2014

Presença

Conversa com o Nando:

- O Gabriel opera quando?
- Dia 5.
- Fixe, vou estar aí contigo.

... E o alívio foi enorme.

Sou uma tipa de bons amigos antigos e bons amigos novos. Adoro amizades. E adoro a família do meu marido também, e a avó (maravilhosa) que o meu filho escolheu. Mas, na hora do "pega prá capá", só o meu pai, o Hugo e o meu irmão é que me tranquilizam. Papai passou o primeiro mês depois de o Gabriel nascer lá em casa e vou-lhe ser eternamente grata. O que ele fez? Não andou a acordar de madrugada nem a ferver água. Fez uns filminhos. No entanto, não sei o que seria daquele mês sem ele por perto. Gosto da força dele, da tranquilidade do meu irmão, da sensatez do meu marido e do amor do meu filho nas horas difíceis. É uma influência boa que dispensa palavras - e ainda bem. O que é que o meu irmão vai poder fazer no dia da cirurgia do meu filho? Nada. E tudo. Ainda bem que vai poder estar lá connosco.

Todos nós temos o nosso núcleo duro, julgo eu. O meu é de homens. Quando estão todos ao pé de mim, coisa raríssima hoje em dia,  o telemóvel bem pode tocar, mas não será nada de muito importante.

Sobre a cirurgia - nada por aí além, amígdalas e adenóides. Mas são os meus quinze quilos de menino que vão lá estar, por isso... vocês sabem. 


Brilhante


Ou seja: a fuga não é o problema, a fuga é a solução encontrada para sobreviver. Paremos de combater a fuga e procuremos o Papão que a espoleta. Observemo-lo com curiosidade e carinho, sem medo. Aproximemo-nos dele - ele só quer atenção.

É muito menos cliché do que se imagina, acreditem. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Caiu como uma luva

Ontem, no meio da festa de aniversário mais barulhenta de todos os tempos, a dos filhos dela - trigémeos de três turmas diferentes na escola -, a E. ainda arranjou tempo para me dizer uma ou duas coisas do curso de guionismo que está a fazer. Uma delas foi que a professora lhes tinha dito para escreverem sobre aquele assunto do qual andam a fugir. Disse: "Vocês devem escrever sobre aquilo que dói".

Pode não ser válido para todo mundo, mas, para mim, fez-me olhar para um buraco aberto antigo e inexplorado. Agora é criar coragem de saltar lá para dentro.

Vou sou fugir mais um bocadinho e já volto. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Lembretes para mim mesma e para outras que por cá param

Este é o melhor post de blog que já li na vida. Sobre seja o que for. Que bonito.



quarta-feira, 12 de março de 2014

A velhota

O meu irmão foi passar uma longa temporada na Estónia. Falo com ele pela primeira vez e pergunto duas coisas:

- Tens comido?
- Quando voltas?

É que ele não come, senhores. Esquece-se de comer.

sábado, 8 de março de 2014

Prazeres

Adoro cemitérios. Não há lugar no mundo mais bonito do que um cemitério, mesmo um cemitério feio. Adoro como se separa do resto da cidade no seu silêncio, adoro que seja uma cidade por si só. Não gosto só das esculturas, anjos e santos; gosto de espreitar para dentro de jazigos e gosto de ver lá o relicário montado por quem amou aquela gente. Gosto que os mortos continuem a existir, mesmo mais de cem anos depois, mesmo depois de todos os que lhes sobreviveram terem morrido. Já ninguém sabe que vidas levaram, mas sabem que ali repousam quando leem os seus nomes em pedra. Isso tem importância, para mim: a existência das pessoas para além da memória.













Este era uma explosão verde. Que lhe terá acontecido?


Não foi um passeio programado, esta visita aos Prazeres, por isso, o Gabriel veio connosco, sem drama. Disse que era o sítio das casinhas que a mãe gostava. Eu às tantas separo-me deles, e o Gabriel começa a somar dois e dois.
- Pai, quem vive nestas casinhas?
- As pessoas quando vão para o céu, filho. Deixam cá as coisas nessas casinhas.
- Hum... (pensa)... A avó Mel tem uma casinha?
- Aqui não, filho, a avó Mel está num desses sítios, mas no Brasil. 
- Ah, está bem.

Raios partam ter-me esquecido de tirar a data da câmara.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Invisible mothers

Não quero que ele diga de mim no futuro que fui a melhor mãe que o universo conheceu, que fiz tudo por ele, que não vivia sem mim, que sou a sua referência maior. Não quero o contrário, não quero enchê-lo do meu lixo pessoal para que ele leve este fardo pela vida afora sem se aperceber, julgando ter ele problemas meus. O que quero ser é a mãe dele, que o amou e o educou e que o deixou seguir o seu caminho.

Claro que estarei lá o tempo todo. Mas não quero que ele perceba. Quero ser, quando muito, aquela presença boa que se sente, que sempre se sentiu, mas não se explica nem muito menos se cita. Não quero ser uma figura histórica na vida dele, não quero ser a estátua central do templo a ser adorada. Nem quero ser colunas que o adornam. Fico-me muito bem pelo chão, sempre, ou pelo teto, quando necessário for.

Sobre a fotografia, caso alguém não as conheça. 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Alteradores

Volta e meia aparece um livro, um filme, uma obra de arte qualquer na minha vida que me faz dar um passo para a frente*. E queria pôr aqui a última coisa que me comoveu a sério, esta peça. Um texto enorme dito por dois atores durante o funeral de uma mulher que viveu várias vidas, ou várias vezes a mesma vida, que se revelam - as vezes, as vidas - em camadas cada vez mais profundas, há sempre uma bonequinha mais pequena dentro da anterior. Não vale a pena falar muito mais, porque foi uma experiência muito pessoal e sou péssima a escrever sobre estes alteradores (passo a vida a tentar).

Para quem gosta de teatro, caso haja repetições, fica a recomendação.

*Tinha posto "nas nossas vidas" em vez de na minha porque podia ser uma experiência coletiva, mas obviamente que respeito os caminhos das outras pessoas. Os alteradores não precisam de ser artísticos. Há quem não volte o mesmo de um pôr do sol, de uma gargalhada de alguém, de uma lição de vida. O importante é que existam alteradores. O importante é podermos sair da zona de conforto mental e emocional de vez em quando. Sermos desafiados a pensar de outra maneira e voltar mais felizes ao nosso estado "normal", com a nova experiência assimilada. 

sábado, 1 de março de 2014

Cinema

A célebre cena de Tudo Bons Rapazes em que a nova namorada do Ray Liotta (não me lembro de quem era!) entra no restaurante e vemos, pelos olhos dela, aquele novo mundo misterioso e fascinante, rico como nunca viu, e as pessoas abrem caminho até que ela chegue à sua mesa. Scorsese pretendeu, com isso, dar a noção de uma coroação - e consegue, caneco. Naquela cena de um take só, que nunca mais acaba, lentíssima, é essa a noção que fica connosco.

Tão bom revisitar esta cena hoje na Golpada Americana com o fabuloso Bradley Cooper a dançar no Studio 54 com a mulher mais linda que já viu, a ter a vida com que sempre sonhou, a ser recebido no mundo que julga merecer - especialmente o momento em que sai da casa de banho e é gozado por toda a fila de mulheres aflitas, a sua coroação. Tão bom. Tão bom.

O Hugo detesta ver filmes por trás de outros. Não gostou do Walter Mitty porque para ver Wes Anderson, vê Wes Anderson, e para ver Scorsese, vê Scorsese. Já eu adoro essas piscadelas monumentais de olho. É como se o realizador me dissesse: vês? Gostamos das mesmas coisas.