sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Férias a sério

Seria sempre um problema da escola pública, já eu sabia: um mês e meio com ele em casa, que é coisa a que estou pouco habituada. Estava stressadíssima com isso, como é que ia entreter a coisinha durante 45 dias?

Nas primeiras duas semanas decidi que era filha de Deus e mandei-o para um atl privado num sítio que ele adora e correu muitíssimo bem. Na terceira semana, andou comigo de um lado para o outro durante os exames do Indesejável - sem dar por nada, obviamente. Para ele, eram passeios. Escrevo de manhã, fazemos coisas à tarde, vamos ter com amigos à praia ou ao parque. Também esteve com a avó em Moscavide, que ele adora: vai ao peixe, ao pão, às capelinhas todas. Um mimadão.

Na próxima semana está a Bel de férias, a minha Santa Bel, e vai-me aliviar um ou dois dias também. Depois ainda há a outra semana. Enfim, elas vão passando e a verdade é que entre as minhas tardes, a avó, o trabalho do pai (também tem lá ido) e a Bel, ele não tem apanhado seca nenhuma. É como eram as minhas férias, três meses em casa (e não mês e meio) sem que ninguém se preocupasse muito com o meu entretenimento. Porra, só não ir para a escola já era um bónus.

Enfim, sei que sou uma sortuda, trabalho em casa e, mesmo assim, não tenho o dia cheio e tenho algumas pessoas que podem ajudar-me - mas sinto que foi a primeira vez que a criança teve férias mesmo como deve ser, em casa, a ver TV, sem programação.

A ver se o luxo se mantém em 2015.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"Tapa os olhos, olha para mim"

Eu e tu sabemos que estiveste lá o tempo todo. Não doente, que é como eu te lembro melhor, mas saudável, cabelo encaracolado nos ombros, camisola branca com renda na gola, calças pretas, uma sandálias pretas antigas da Redley. Batom vermelho, brincos de pérola, óculos gucci, os preferidos. Conversámos muito enquanto eu estava dentro daquela maquineta. No fim, fizeste-me companhia na sala de espera. O mais estranho de tudo é que em nenhum momento falaste daquilo que nos separa, daquilo por que me condenas. Nem de ti, de onde estavas. Só do momento. E de merdas sem importância nenhuma, que é o que mais falávamos.

Dois dias depois lá estavas na sala de espera outra vez, com a mesma roupa, sem ter marcado nada. Estivemos lá eu, tu, o Hugo e o Gabriel. E lá ficaste quando entrei para a biópsia. E lá estavas quando saí.

Adoro pensar no que o padrinho de casamento diria das minhas alucinações, algo na linha de "o medo deve lançar umas hormonas maradas na corrente sanguínea", e sim, deve ser isso ou algo parecido, mas agradeço tanto tê-las tido. Isto para o caso de teres sido uma alucinação, mãe. Mas, na verdade, qual é a diferença?

PS - é benigno.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Voo

Ontem tive um dia muito, muito difícil. No futuro, falo sobre o dia de ontem. Mas o que importa é que no fim de um dia de merda, ouvi, num café, uma canção que me deixou BEM. Um vira-energia instantâneo, coisa muito para a frente. Agarro no Shazam mas o som está baixo demais, não apanha. Vou ter com a empregada que me diz que é impossível pôr aquilo a tocar outra vez, é uma playlist do computador do chefe.

Merda, merda, merda. Toda a gente precisa de uma canção SOS, e aquela era a minha, eu tinha a certeza.

Hoje estou na ressaca do dia de ontem, a energia muito, muito fraca. Estou lenta, pesada, negativa. E tenho cenas para escrever, que a novela não espera. Por isso, precisava de virar a energia, e já disse algures que quando preciso de virar a energia, cochilo. Pus uma playlist aleatória a tocar no youtube e fui deitar-me.

Fui acordada pela canção de ontem.
Ela veio ter comigo no meio de uma playlist do youtube.
A minha canção SOS.



(Tinha de ser Secos & Molhados. Como não?)

O bico da ave
Da ave que voa
É a proa da nave
Da nave que voa
As vigias da nave
Da nave que voa
São os olhos da ave
Da ave que voa
O coração da ave.
Da ave que voa
É o motor da nave
Da nave que voa
As asas da nave
Da nave que voa
São as asas da ave
Da ave que voa
A alma da ave
Da ave que voa
É a alma do homem
Do homem que voa

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Dia de exames de prevenção

Filhas e netas - neste caso, filha e neta - de cancro da mama sabem como é este dia, mesmo que esteja tudo em dia, mesmo que não haja nenhum altinho suspeito, nada.

Por aqui, á se foram as unhas de gel, as unhas normais, as peles.