sábado, 25 de abril de 2015

25 de abril

Normalmente temos a noção do peso que as coisas têm na nossa vida mais tarde, quando tudo assenta, obviamente porque na altura precisamos de força e objetividade para agir.

No verão passado, os meus exames de rotina deixaram uma pequena dúvida. Havia uma pequena possibilidade de ter cancro da mama e sabemos que não há pequenas possibilidades, se houver uma pequena possíbilidade ela vai torturar-nos como as grandes, pelo menos para os neuróticos. Foi muito duro. Não sei pôr em palavras tudo que se passou na minha cabeça naquele mês de agosto, durante a ecografia e o resultado da biópsia.

Mas houve uma canção que me ajudou a passar por tudo, esta:

que ouvia em repeat várias vezes por dia a armar-me, a criar coragem para o que podia estar pela frente. Conversava com a minha mãe como se a visse enquanto ouvia Voo, num tipo de transe.

Hoje voltei a ouvi-la e chorei como não chorava há anos.




quinta-feira, 9 de abril de 2015

Casa mortuária de Tires

Não é numa igreja, ou por outra, ao que parece, é numa capela pequenina, de portas abertas para o largo mais movimentado do bairro. Às cinco da tarde, crianças são levadas pela mão por pais de fato apressados, ai a natação, ai o ATL, taxistas bebem uma mini ao balcão do café, senhoras vêm do mercado com sacos e carrinhos carregados de folhagem, a camioneta para e vomita as gentes dos comboios cá para fora, e ali o caixão virado para a rua, uma velha de luto à porta a ser amparada por outras velhas, não posso com isto, vou com ele, deixem-me ir com ele, cadeiras de que vela na rua, alguém tropeça nelas, um carrinho de bebé. A morte e a vida de mãos dadas, sem tempo uma para a outra.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Para uso pessoal



"... I thought it was an exaggeration, this thing about parents being overly involved with their kids. I mean, my mum and dad loved me, they were, like, interested in me when I was growing up in the nineties, but they weren't, like, obsessed with me."

Liane Moriarty, Big Little Lies.

domingo, 5 de abril de 2015

Curtíssima sobre três temas que, tendo sido contracultura há três anos, hoje já enjoam.

- Como a maternidade tem o seu lado negativo e
- Como as redes sociais são perniciosas e
- Quem partilha é porque tem baixa autoestima e precisa mostrar que a vida é um mar de rosas.

A sério, já não há nada de novo a dizer sobre isso. Não há, simplesmente. Falemos, por exemplo, de como é delicioso amar e ser amado incondicionalmente e como a vida antes dos rebentos afinal nem era assim essas coca-colas todas e da maravilha que é existir um algoritmo qualquer que permite ao Facebook fazer uma verdadeira curadoria do que nos interessa. E que através das partilhas de outras pessoas temos boas ideias para as nossas próprias vidas. Se a partilha das outras pessoas faz com que nos sintamos amargos, bom, não é preciso ser-se nenhum Einstein para ver que o problema não está, enfim, nas outras pessoas.

Novos ângulos precisam-se, malta. Esforcem-se.