sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Tantas mulheres, tantas salas

Hoje o presente veio da minha muito amada Sunny, prima linda, sensível, gentil, talentosa, batalhadora, grande amiga, sim, mas principalmente uma GRANDE sobrinha - e ela sabe porquê (qualquer dia, conto tudo.)

Melissa,há uns dez dias, comentei com o Daniel que lamemtava nao ter fotos da casa da vó Lourdinha e como você passei a tentar descrevê-la para ele.Não parece mas há mais de quinze anos não temos a nossa mansão.Mas é impressionante como ela se mantem totalmente viva na nossa lembrança.Nao sei se você sabe mas depois que a vovó morreu,como forma de manter um pedacinho daquela ilustre e lustrosa sala, ficamos com aquele console de madeira e marmore, conjunto do espelho que até hoje distorce a imagem de quem o mira, transformando todos em fantasmas.
Fantasmas... não sei se você lembra, mas a saleta do telefone da qual a Tainá falou, era habitada por vários,pelo menos no meu imaginário. Era lá que "descansavam em paz" as fotos do meu pai (tio Nandinho),do bisavô Luís e da bisavó com cara de melancolia. Jamais fiquei sozinha na saleta por mais que um segundo, se fitei algum dos retratos foi por total descuido e quando me pediam para ir atender o telefone, à noite, eu ia com o maior de todos os frios na barriga, ouvir "pour elise" da caixinha de música de espera do telefone, como se estivesse prestes a assistir um baile dos mortos.
Momentos "difíceis" também passávamos, ao transitar,após o meio dia, em frente a porta do quarto da vovó. Pois a esta hora, a mais "Gadelha" da dorminhoca família gadelha, tirava a sua longa siesta. E ai de quem batesse na porta ou pisasse forte no chão.
Lembrar de qualquer coisa daquela casa traz a todas nós o choro e alegria dos que sabem amar. Me lembra um pouco Gabriel Garcia Marquez, suas casas, suas famílias seus sentimentos. Você sabe que o meu pai morreu muito cedo, mas eu realmente me senti orfã quando passamos ao não ter mais os natais da nossa singular família, nas salas da casa da Vó Lourdinha.
Te amo, Sunny

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Espera até começar a andar

Não foi por falta de aviso.
Enquanto me queixava, durante a licença paternal, da falta de companhia que o Gabriel me fazia, alguns pais mais experientes avisavam-me convictos que o melhor era aproveitar agora porque, depois, não teria sossego nenhum e a companhia que reclamava, podia ficar ciente, quando viesse, chegaria a dobrar.
Dito e feito. Agora com 11 meses, a cria arrasta-se airosa pelo chão como uma lesma supersónica sem olhar para os perigos que a rodeiam. Mas a natureza é perfeita, como se costuma dizer, e o juízo que ainda não deu ao filho concedeu-o ao pai, apetrechando-o assim duma extremosa atenção que o faz ter sempre um olho na lesma e outro no cigano.
Já se sabe que os riscos são muitos. Desde tomadas a fios, passando pelos clássicos cantos de mesa até chegar aos aquecedores. Tudo é perigoso e susceptível de ferir o rastejante. Portanto, se me queixava que não tinha tempo para tudo na vida, agora, acreditem, menos tenho. Se estou a ler um livro sossegado com ele ao lado e a concentrar-me na prosa do escritor, a determinada altura o rasteirinho de três palmos estica-me o pescoço e começa determinado uma marcha até sabe Deus onde. Alço-lhe a mão e o pobre coitado lá fica a espernear no vazio:
- Tá lá quietinho, vá!
Quando estou a ver televisão calmamente sentado no sofá com ele a descansar sobre o peito, numa imagem idílica fabricada pela Anna Guedes, o catraio lembra-se sempre dum afazer urgente, daqueles que não podem esperar, rebola como um leão marinho de Jardim zoológico e lá vai ele:
- Tá lá quietinho, vá!
Apesar de não ser nenhum supra-sumo do desenvolvimento infantil, principalmente no que toca a coordenação motora, a atenção que ele desenvolveu a sons e movimentos é agora tanta que basta a mãe tossir para que ponha o turbo percorrendo, destemido e de sorriso largo, qualquer distância até ao seu objectivo:
- Tá lá quietinho, vá!
Com esta rambóia só consigo descansar mesmo ao fim do dia, depois da sopa comida e do banho tomado. Lá me deito e repousado no leito ao lado da minha mulher, beijo-lhe o pescoço e aninho-me para lhe sentir o calor:
- Tá lá quietinho, vá!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As outras salas da vovó Lourdinha

Porque cada mulher tem as suas salas da vovó Lourdinha no coração, elas merecem outro post - e outro, e outro, quantas forem as salas da vovó Lourdinha que aparecerem, pelo meu filho, pelos filhos que os meus primos e tios tiveram depois do fim da casa da Carlos Vasconcelos.

Aqui ficam as salas da vovó Lourdinha da tia Ane, a arquitecta recém-formada do texto, irmã da minha mãe (e, de certa forma, uma substituta desta no meu coração e na minha vida.)

Ao ler o seu texto fiquei com tanta saudade. Lembrei da sala que representava todos os sonhos da mãezinha em termos de casa, daquela casa arrumada que um monte de crianças pequenas não permitia-lhe tê-la. O tamanho da sala foi fruto da imaginação de uma arquiteta récem-formada que o pai disse vá lá faça um projeto de reforma para a nossa casa e saiu a tal sala para a decoração dos sonhos da dona da casa. Naquela sala tinha algumas peças sensacionais, como por exemplo dois banquinhos com o tampo de louça que quando as visitas chegavam ela praticamente gritava: "cuidado não pode sentar que quebra". Era a verdadeira sala de visitas das nossas antigas casas coloniais. Sobre os objetos dessa sala poderia escrever várias páginas pois cada um tinha a sua estória já que não foram comprados de uma só vez.

Acabou a sessão choradeira, chega.


-----

As salas da vovó Lourdinha da minha prima Tainá, mais nova alguns cinco anos do que eu, estilista e cheia de estilo:

Tinham dois tapetes, um abaixo das cadeiras de visita e outro abaixo da mesa de jantar... Dividindo estes ambientes um corrimão de madeira sempre lustrado com "óleo de peroba". Lembra do pote de balas Soft? Não se podia chupa-las e conversar ao mesmo tempo. Isso podia matar (rsrsrsrs). Lembra o motivo pelo qual não podíamos passar pela sala? As marcas de pés no piso encerado!!!
A porta que dividia a sala mórbida (matrix) da sala real era linda! Toda de treliça... Ah, você não citou a saleta do telefone... Com suas poltronas confortáveis, um quadro do Tio Nandinho e outro meio surrealista que até hoje penso ser uma nave espacial... Um tacho de cobre com revistas (meu pai tem trauma deste). Esta saleta dava acesso para a garagem... Ai, ai... Tão vivo em nossas memórias.


Adorei a forma como a memória da tia completa a minha memória e a da Tainá. Então as salas mortas, afinal, eram o sonho de vida perfeita da vovó. Nunca as tinha visto assim. Nunca tinha entendido bem aquelas salas, mas agora, dona da minha própria casa caótica e com minifamília caótica, meu Deus, como eu entendo essa necessidade de ter um lugar, que seja, sem ser invadido pelo caos da realidade. Um lugar de sonho.
(E, obviamente, esperarei o tempo que for necessário para a tia Ane escrever sobre os objectos da sala-modelo.)

sábado, 23 de janeiro de 2010

As salas da vovó Lourdinha

A casa da Carlos Vasconcelos era claramente dividida em duas partes. Quando entrávamos vindos da varanda, à esquerda, tínhamos uma sala de visitas impecável, com sofá e cadeiras de palhinha, almofadas aveludadas, bibelôs nos sítios certos. Logo adiante, uma mesa de jantar comprida, preta, com as respectivas cadeiras, um bom centro de mesa, cristaleira, talvez tapete - o tapete pode ser produto da minha imaginação, pois sou de uma zona quente onde os tapetes estão sempre um bocado a mais.
Estas duas salas ocupavam um espaço gigantesco. Toda a minha casa caberia nesse espaço, sobrando ainda, provavelmente, um bom terraço.
Mas ninguém as habitava, eram salas mortas. Como um plateau, um cenário. Estavam sempre limpíssimas e em ordem, inanimadas.
(Algum primo vai surgir e dizer que estou a ser injusta, porque os amigos secretos eram lá. Tá bem, pronto, a sala de jantar era usada uma vez por ano, mas não era para comer.)
Mas... havia uma portinha. Não era um portão, era mesmo uma porta estreita, padrão, para passar uma pessoa de cada vez.
E, ao passar dessa portinha, a vida da nossa família explodia diante dos nossos olhos, com todas as suas gentes e hábitos. Uma outra sala de estar, com cadeiras desconjuntadas e espreguiçadeiras de lona enfileiradas de frente para uma velha TV. A minha avó na sua cadeira de baloiço, a crochetar uma colcha, alheia, vendo a novela, berrando com este ou com aquele. Sempre uma ou outra pessoa sentada nas cadeiras, visita ou família, que era repreendido cada vez que a interrompia. Da cozinha, à direita, cantava um rádio, a empregada, um ou outro tio ou primo que fosse penicar alguma coisa.
À esquerda, também havia a sala de jantar verdadeira, talvez de fórmica, talvez de outro material qualquer, com uma toalha bem lavada, com cadeiras velhas, onde todo mundo que chegasse tinha lugar.

Quem não passasse da portinha - portal? - acharia, pelas salas-múmia, que éramos emperdenidos, emperdigados, enfadonhos.
No entanto, éramos todos tão vivos e barulhentos e estridentes e comilões do lado de lá, só para nós mesmos, só para quem merecesse.

E agora com licença, que vou ali chorar um pouquinho de saudades.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Interlúdio depressivo

Mais um segredo:
Às vezes sou invadida por uma angústia tremenda, que vem varrendo tudo e matando tudo, e é algo físico, algo que me tira o fôlego e que me afoga, e que me abre um buraco cá dentro, isto tudo sem qualquer motivo explicável ou qualquer motivo à superfície.
Dura algumas horas e é tenebroso.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Abre a boca. Ahhhhh!

Estou farto que me mandes comida para cima, ouviste? Farto!
Estava a contar passar o raio do inverno com as mesmas vestes que usei no inverno passado, mais os dois camisolões que comprei na HM com os 50 euros que a tua avó me deu no Natal.
Mas graças a ti, as minhas roupas duram-me no corpo apenas uma refeição, inclusivamente as Pepe Jeans’s que comprei nos saldos e que gosto particularmente por me aumentarem a auto-estima. Estão todas cheias de nódoas de farinha Milupa boa noite banana e de sopa de vegetais com frango receita da mamã.
Raios, Gabriel! Não és capaz de comer a sopa toda batida sem me sujares?
Que cara achas que eu faço quando o teu pediatra, o Dr Sandro, me olha e diz enquanto eu raspo com saliva um pedaço seco de comida de bebé da gola:
- Tem de comer mais o Gabriel. Cuchi Cuchi Cuchi!

Quebra de expectativas

Aqui no prédio, no andar de cima, vive um casal um pouco mais velho do que nós. Ela, bêbeda, ele, drogado. Nota-se bem que já vivem assim há muito, muito tempo, porque parecem velhíssimos e já não conseguem articular os pensamentos.

Estão todos f...., em bom vernáculo.

Este casal tem uma filha de coisa de 12 anos e um cão. Reparamos na menina logo que chegámos ao prédio, pois, muito à anos 60, ia comprar cerveja e tabaco aos pais. Claro que ficámos escandalizados, e ai meu Deus, alguém que ligue à protecção de menores, coitada da menina, agora a crescer numa casa de gente tão estragada e sem esperança nenhuma.
Vocês esperariam, tal como eu, que a menina andasse sempre numa lástima, esfomeada, suja e mal vestida. É o que se esperaria, naturalmente. Mas não. A menina está sempre impecável, limpinha e bem nutrida, tem imensos amigos na rua e sei que é uma aluna excelente. Começámos a reparar, aos poucos, nos pais quando estavam com ela. O pai tenta, e nota-se mesmo o esforço, "parecer normal" quando estão juntos. Dá-lhe a mão, fazem gracinhas, passeiam o cão juntos à noite. A mãe, a mesma coisa. Quando está com a filha, não anda cambaleante, não faz escândalos.

Aquele casal todo f.... cuida muito bem da sua filha. Fazem exactamente o que cada um de nós tenta fazer, que é ser uma pessoa melhor pelo filho. É como se aquela menina contivesse em si tudo o que eles não conseguiram ser, como se fosse o caminho que não escolheram. E preservam-na com esforço e amor.

Tantos casais inteirinhos e sem vícios estão longe de conseguir o mesmo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Onze meses

Mais dente, mais baba, mais birra, mais entendimento, adora o carrinho do avô,que lhe reconheçam os talentos vários e mostrem com palmas, já tenta levantar-se, ganhou a alcunha de Minhoca na creche porque vai para todo o lado a arrastar-se, tem o melhor feitio do mundo - não conheço bebé igual - detesta cerelac, hoje a mãe já esteve a ver salgadinhos para o grande dia, meu amor grande, o dia mais importante do nosso calendário que vai chegando a passos largos.
Te amo imensamente.
E estás cada vez mais parecido com o teu pai.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Fim-de-semana perfeito

Sexta, 20h - Bebé foi com a avó de fim-de-semana.
Sexta, 21h20 - Pais vêem O Sítio das Coisas Selvagens e adoram.
Sábado, 13h00 - Pais e tio vão comer ao restaurante de sushi mais manhoso de Lisboa por recomendação do tio, o tipo de lugar que o pai jamais entraria - a mãe sempre foi mais aventureira. Para a surpresa de ambos, o restaurante era muito limpo, o sushi muito bom para o preço (tão ridículo que temos vergonha de escrever), os donos, uma simpatia.
Sábado 15h30 - Pais vão ver Rosemary's Baby à Cinemateca a reviver os seus dias gloriosos de namoro, uma cópia completamente riscada e remendada, com legendas em espanhol. Maravilhoso.
Sábado 18h - Pais dormem uma sesta a sorrir, abraçadinhos, sem choro de bebé.
Domingo, 11h - Pais vão para Lisboa cedinho, tomar o famoso brunch do Magnólia, que agora tem umas novidades. Lêem os jornais do dia, com a mãe a ler as notícias do seu tablóide preferido ao pai e o pai a irritar-se com a mãe.
Domingo, 13h - Pais rebolam para fora do Magnólia e vão dar uma voltinha à Gulbenkian, sem saber o que fazer das horas que faltam para as 14h. Miraculosamente, eis que lhes aparece o Paulo e dão umas alegres voltas ao jardim a divagar sobre as diferenças filosóficas entre o Black e o Death Metal, entre outros assuntos. O jardim estava particularmente bonito na tarde de hoje, "por causa da luz difusa", repetiam o pai e o Paulo à mãe.
Domingo 15h - Pais encontram um sítio MARAVILHOSO para estacionar em plena Praça da Figueira, dão 2eur ao mitra. Vão passear à fnac.
Domingo, 16h15 - Pais vêem uma peça de teatro absolutamente extraordinária, maravilhosa, mesmo - a única coisa que manchou foi a sala estar cheia de atrasados mentais que se riem só de olhar para a cara do Miguel Guilherme, sem entender que estão a ouvir o maior murro no estômago em forma de texto que já se lhes apareceu à frente. Mas siga.
Domingo, 18h - o fim de tarde estava excelente, nada de chuva, nada de frio, pais bebem uma imperial no Café Nicola a olhar para o Castelo iluminado. Começa a nascer um bichinho dentro dos dois, um bichinho a roer, a roer............
Domingo, 19h - Pais foram buscar o bebé e o bichinho calou-se.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Agora chega pronto!

Esta coisa da paternidade transforma-nos nuns piegas mete nojo.
Apesar dos 10 meses do Gabriel e das pessoas me dizerem coisas do tipo “10 meses, já? O tempo agora passa num instante” a verdade é que sinto no corpo cada hora. Ando sempre com sono, durmo 5 horas por dia, emagreci não sei quantos quilos, às vezes ando com mau aspecto e com a roupa com nódoas de sopa e, nos dias menos inspirados, fico a olhar para a cria sem saber o que fazer com ela.
A minha vida deu uma volta fenomenal e muitos daqueles prazeres que tinha, como por exemplo, enfardar uma garrafa de vinho sozinho ou ficar a ver filmes até às 4 da manha acabaram. Isso é triste. Sinto saudades desses tempos. Sempre fui um gajo de deleites simples, mas prazeres são prazeres e ninguém tem nada a ver com isso. Eu gostava do meu litro de pinga e de me deitar o mais tarde possível.
Claro que agora, com as novas contingências da vida, nem me atrevo a ficar acordado depois da meia-noite porque sei que, aconteça o que acontecer, aquele ser minúsculo, vai despertar para a pândega o mais tardar às oito da manha (se tiver alguma sorte). A partir desse momento começa a espiral de afazeres. Vai querer beijos, colo, comida, fralda sem merda e conversas monossilábicas.
Talvez se nunca o tivesse visto na vida e soubesse o trabalho que me ia dar, nem sequer equacionava a paternidade. Não me metia nisto e pronto. Um dos grandes conselhos que dou a jovens pais é que vai ser muito pior do que estão á espera. De tal forma que, aliás, já disse à Melissa que não estou mesmo nada interessado em repetir a experiência. Pá, quero-me de volta, ter a possibilidade de fazer o que quiser e espero que com o andar dos anos o Gabriel fique mais autónomo e senhor do seu nariz (que é redondo e fofo).
Seja como for isto cansa e rebenta com a paciência dum tipo. Mas apesar de tudo, quando chego à creche e ele se ri para mim, feliz por me ver, é como se um raio de energia me trespassasse a alma e me fizesse ver a verdadeira importância das coisas. Ser pai é uma estopada, uma carga de trabalhos mas é uma maravilha quando nos apercebemos que conseguimos fazer alguém muito feliz por se sentir amado. E o Gabriel é um puto feliz. E o grande culpado sou eu.
Mas, por favor, não me venham com a história do irmão.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Para uma amiga que precisa




MUITO MIMO.
Já percebeste, por esta altura, que Deus tem um sentido de humor estranho no que toca às mulheres. Vais ver que isto tudo vai passar num piscar de olhos.

As manhãs por cá

São, ao contrário da maioria das manhãs suburbanas, muito boas e tranquilas. Para que assim seja, contamos com o alto astral dos homens da casa, assumidos morning people, que acordam a sorrir massacrando qualquer existencialismo matinal meu, o facto de o Hugo ir de transportes, levando só meia hora para chegar ao trabalho, o facto de eu trabalhar em casa e o facto de sermos muito bons, de um modo geral mas também específico.
Então é assim, mais minuto, menos minuto:
07h20 toca o despertador, mas ficamos na ronha.
07h45 o Hugo entra no banho, eu vou vestir o bebé.
08h00 o Hugo vem vestido com a sua taça de chocapic ver a Bola online, Gabriel vai para o parque, eu vou vestir-me (trabalho em casa, tomo banho depois.)
08h10 Volto para o quarto da bagunça já vestida e já com a papa do Gabriel, pomos alguma coisa gira no Youtube e eu dou-lhe a papa com ele ao colo do Hugo. Eu saio para ir buscar o carro já com as mochilas (nós três usamos mochila) enquanto o Hugo veste casaco do Gabriel.
08h35 Saímos os três e vamos pôr o bebé ao infantário. Vou deixar o Hugo à estação e ficamos no carro a ouvir a Caderneta de Cromos até vir o comboio, às gargalhadas.
08h55 Vou tomar o meu pequeno almoço de um euro ao Pingo Doce e comprar a sopa do almoço.
09h15 Casa, supostamente começo a trabalhar.

Pronto, é assim. O fim do dia também é bom, mas não tão harmonioso.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre o co-sleeping

Eis a minha polémica preferida sobre a educação de bebés, e espero que vos apeteça falar do assunto, especialmente as defensoras do costume (Cátia?).
Vi, no outro post, que algumas mães usam como recurso para dormirem mais um bocadinho, pois os seus bebés dormem melhor com elas. Ora bem, se funcionasse comigo, lá estaria o Gabriel no meio dos pais a cada noite, pois o que tenho descoberto é que não há nada tão primordial como o sono. Mas, em teoria – já vamos à prática – não consigo deixar de pensar que a cama do casal é o santuário da sua intimidade e que, uma vez que a criança entra lá definitivamente, este santuário perde-se. Já ouvi uma mamã dizer que “lugares na casa para a intimidade há muitos”, mas a cama é a nossa catedral, é onde a nossa vivência a dois acontece, e não falo só de sexo. Se não houver vivência a dois, o casamento desmorona aos poucos – não estou a pôr toda a responsabilidade sobre a coitada da cama, mas ajuda ter um porto seguro livre de bebés. Sei que na Natureza não é assim e que os mamíferos dormem todos juntos, mas, para o melhor e para o pior, na Civilização é diferente e não dá para ignorar o peso da cultura sobre a biologia.

Este é um motivo. Agora o principal, pelo menos para mim.

Eu fui uma co-sleeper até muito tarde, porque o meu pai não morava na nossa cidade e só vinha de tempos em tempos. Nesses “tempos em tempos”, eu lá ia recambiada para o meu quarto e passava a noite toda aterrorizada por estar sozinha – se a minha mãe me mantinha no quarto dela noite após noite, era porque havia algo errado em dormir sozinha, algo errado com aquele quarto. Era tenebroso. Há quem me tenha dito também, na gravidez, que as crianças, quando se considerarem prontas, voltam para os seus quartos sozinhas. Não duvido que isto aconteça com algumas, mas comigo não foi mesmo nada pacífico. Não conseguia sentir-me segura sem a minha mãe ao lado – e sei lá se isso não teve a sua repercussão até muitos anos depois, nos muitos problemas de dependência dela que enfrentei até ao fim.

Mas digo e repito: se essa fosse a única forma de o meu filho adormecer em paz, acho que a acolheria de maneira temporária, ,mas sempre a tentar fazer com que ele desenvolva a segurança e autoestima suficientes para ficar bem sem o pai e a mãe à noite.
(E adoramos estar os três, juntos, a fazer macacadas de manhã entre os lençóis, é claro.)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Clister doméstico

Sabe-me sempre tão fabulosamente bem. E agora que descobri o freecycle, sabe bem e ainda me divirto.
Espaço para respirar e menos coisas para o Gabriel tentar engolir, é o que se quer!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Rapidinha em tom de indirecta, que não sendo, acaba sendo, sem querer

O meu irmão tinha um pacote de uma loja com nome de mulher, hoje, e por uns segundos pensei que era uma prenda para mim.
Tenho saudades de receber prendas femininas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A tribo

Como leitora ávida e fã de Daniel Quinn que sou, adoro saber de experiências tribais. Nunca pus nada disso em prática, com muita pena minha, mas sempre vou lendo o que se anda a fazer por este mundo em termos de viver fora do que chamo "esquemão".
Li, assim, há algum tempo, este post da Cátia que vou copiar aqui, e gostei mesmo muito do que ela escreveu.
Vale a pena dar uma vista de olhos - de preferência olhos bem abertos.


Construir uma pequena tribo

Estava eu em casa de uma amiga, que teve bebé recentemente, e ao ver que se estava " a passar" com tudo o que tinha para fazer, propus cuidar dos nossos dois bebés enquanto ela dava conta das fraldas, comidas, limpezas etc... vendo que ficou apreensiva em relação a deixar o seu bebé comigo, sugeri que ela podia ficar com os dois bebés e eu dava uma ajuda, por exemplo, lavando a loiça.... ao ouvir essa sugestão ficou ainda mais aflita porque não queria outras pessoas a tratar das sua coisas, porque ela é que é a responsável pela sua casa e só a ela cabe limpa-la e arruma-la.

O resultado desta minha tentativa de constituição de uma "pequena tribo" foi que vou muito menos vezes a sua casa pois ela diz sempre que tem muito que fazer, que está tudo desarrumado etc... de facto, é complicado receber pessoas em casa e andar a servir sumos, chás e bolos quando tudo está de pernas para o ar mas podia ser muito reconfortante receber amigas que, entre conversas e quem sabe bolinhos, nos ajudam a pôr a casa em ordem. Digam lá se assim não seria muito mais simples receber visitas mesmo estando com recém-nascidos?

Penso que, à semelhança desta minha amiga, muitas mulheres sentem a obrigação de ter tudo perfeito e a ajuda externa aparece como um apontar o dedo à sua suposta incapacidade de gerir as suas casas e as suas vidas.

Qualquer mãe sabe que passar meses a fio em casa com um bebé como única companhia e resmas de roupa e loiça para lavar, mamadas mais ou menos prolongadas e fraldas para mudar como únicas actividades, está longe do nosso ideal de férias prolongadas. No entanto, quase todas as mães nos "vendem" esse imagem misto de alegria e abnegação e casa uma de nós lá se resigna às agruras e isolamento dos primeiros meses de maternidade pois queremos, no mínimo, ser tão boas mulheres e mães como as nossas irmãs, primas, amigas, colegas de trabalho etc...

Era bom ver mais mulheres a pedir ajuda, ver mais mulheres a bater com o pé e a dizer que não querem a solidão de estar dia após dia fechadas em casa com um bebé, que não gostam da sobrecarga de trabalho quando o corpo e a mente só pedem paz. Talvez assim as futuras mães se sentissem menos "obrigadas" à perfeição.

Como vivemos isolados em caixinhas de fósforos, sem o apoio da família alargada e muito menos sem uma "tribo" que onde nos sentimos integradas, podíamos começar por construir pequenas tribos de mulheres que tem a coragem de pedir ajuda e de ajudar, que partilham as tarefas domésticas e se apoiam nos cuidados aos seus filhos sem medo de admitir que a maternidade a sós pode ser um fardo muito pesado.

A todas as "mães da minha vida", desculpem pois quando tiveram filhos eu não sabia o quanto uma mãozinha podia ter sido bemvinda.

A todas as pessoas que ofereceram ajuda e eu recusei, "shame on me" por querer fazer tudo sozinha.

A todas as amigas que vão ser mães, espero estar por perto para vos apoiar.

(Parabéns tardiamente por este post, Cátia.)

E, já agora, fica aqui a dica de uma aventura para a mente e para o coração.

Precisamos de ajuda

Depois de quase um ano à espera de um milagre, reconhecemos que não basta esperar, temos de fazer alguma coisa sobre as noites do Gabriel. Ele nunca deu noites boas, do tipo 00h-07h00, mas agora alguma coisa mudou e está um pouco pior. Acorda aos berros a meio da madrugada e só acalma com um grande biberão de papa. Antes que perguntem, sim, ele come bem durante o dia e não, ele não acalma só com festinhas no berço.
Por isso, estamos abertos a ideias, métodos e até a algum pediatra/especialista que entenda disso e possa ajudar-nos, porque estamos a chegar a um nível de cansaço crónico que nos rouba o bem-estar durante o dia.
Brainstorming, meninas e meninos, please. Estes zombies agradecem.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Porque ainda somos nós mesmos

Mesmo no Pós-Gabriélico, fizemos cumprir, sim, a tradição de eleger o nosso top 10 de filmes do ano mais uma vez. Ganhou o óbvio!
O pior foi o 2012, embora Lua Nova tenha andado a pedi-las.