A minha infância foi pautada por altos e baixos financeiros. Nunca chegámos a extremos de abundância ou penúria, mas dentro do meio oscilávamos bastante, especialmente para a mó de baixo.
E, quando na mó de cima (mó de cima dentro do meio, reparem), a minha mãe dava-me coisas. Não as que eu pedia, porque nunca fui de pedir, mas as que ela sabia que eu queria. Não havia um não educativo para me habituar a não ter sempre tudo. Não havia a criação para a escassez.
- Vamos no Iguatemi.
- *sorriso*
- Te dou cinco mil.
- *respiração suspensa de alegria*.
Era por ela, hoje sei disso. O dar-me coisas era o que ela oferecia a si própria nos períodos de alívio dos aperreios de dinheiro.
Isto para dizer que o meu marido diz que dou muitas coisas ao meu filho, e está coberto de razão. Não passámos, até agora, pelas oscilações que os meus pais passaram, as coisas são estáveis desde que o miúdo nasceu. Não há nenhum motivo para eu lhe comprar coisas, não devia dar-me nenhum prazer especial e para ela nunca é nada do outro mundo. São alegrias que passam depressa, mas guardo-as junto às minhas da infância. Essas duravam mais.
Brinquedos da Estrela.
Maiô de amarrar no pescoço.
Melissa que vinha na bolsinha.
Borracha perfumada.
Brilho com sabores.
Cute stationary do Paraguai.
Cheirava tudo, guardava tudo, levava para a escola, fazia inveja a quem não tinha. Os meus tesouros, tudo que mamãe comprava para mim.
Hoje foi o dia de os pais irem brincar com os meninos na escola do Gabriel. Foi o torneio de spinner (para referência futura: coisinhas de girar sobre o dedo) e o meu delicado e pouquíssimo competitivo filho passou em duas etapas, só perdeu na terceira. Estava muito orgulhoso e eu? Eu tinha um nó de alegria na garganta.
- Vamos ao chinês grande.
- *sorriso*
- Te dou um spinner com luzes.
- *respiração suspensa de alegria*.
Já vou ouvir do Hugo.