sexta-feira, 30 de abril de 2010

Coisas que mudaram a minha vida ultimamente

Isto já parece o meu diário, né? É. É bom, porque se tiver uma amnésia galopante, posso vir aqui lembrar-me de quem era.

Sou uma pessoa muito diferente do que era, vá, em 2006. E o que mudou? Bem, a primeira coisa foi ter lido A História de B., seguido dos outros dois livros do mesmo autor sobre o mesmo tema. Foi, como diz a capa, uma aventura da mente e do espírito. Abriu-me os olhos. Vi que havia alternativas, que não tínhamos de viver confinados a um só modelo. Foi maravilhoso, e agradeço profundamente à Sara ter-me apresentado ao livro. Graças a ele, vivo agora, eu e a minha família, de uma maneira muito mais satisfatória - e satisfeita, mesmo. Por causa desses livros resolvi perseguir um sonho, e tive bons resultados - espero que continue a ter, embora esteja a faltar-me a tal ousadia que a sorte gosta.

O segundo facto foi no final de 2007, ainda, quando um grande amigo, daqueles da vida toda, adoeceu. Bateu-me no meio da noite. Acordei o Hugo e disse-lhe algo que mudou tudo para mim: os maus momentos chegam sempre. Sempre. Os bons, temos de os criar. A festa, somos nós a criar.

Vamos ter um filho.

E o Hugo entendeu, porque o Hugo me conhece tão bem. Conversámos durante uns tempos e, quando decidimos de facto, em 15 dias eu tinha o meu positivo. Para mim, é um sinal de que estou no caminho certo. E devo estar, porque arranca-rabos, falta de trabalho e de dinheiro à parte, esta é uma casa que cheira a felicidade em cada cantinho desarrumado. Não foi só o filho que veio: veio também o hábito de fazer a festa a cada hora, seja a fazer uma viagem a Londres ou a olhar um limoeiro, ou a fazer cócegas ao Gabriel, a comer uma coisa que se goste sem culpa, a dançar com a família toda, o diabo a quatro. Tem é de ser uma festa.

Recomendo tudo: os livros e o filho.
E a festa.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Significado de kh

"kh", com o dedo em riste e muita atenção, é:

- Cão;
- Quero;
- Shiva (sempre que vê a capa do livro que estou a ler, diz um empolgado KH!!!)
- Várias outras coisas que lhe atraiam a atenção e sejam dignas dessa designação.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coisas que me dão prazer

Hoje fui almoçar com o meu irmão e demos por nós a falar de coisas que gostávamos imenso mas que reprimíamos, por serem parvinhas. Eu tenho várias coisas dessas, e decidi, há uns dias, que ia sim assumir esses pequenos prazeres, porque a vida é curta, é cara e eles não têm de ter uma explicação lógica, gosto porque gosto e pronto.

Portanto, aqui ficam duas taras: plantações de abóboras e limoeiros.

As plantações de abóboras foi algo adquirido no Verão passado, no Oeste. Adorava ficar a olhar para aquilo, um chão verde com grande bolas laranjas. É lindo. Parecia que a qualquer momento iam para ali explodir em carruagens.

Mas a minha cena mesmo é olhar para limoeiros carregados de limões. Acho o máximo, passo-me a olhar para aquela profusão, aquela abundância. Adoro os mais carregados, e adoro ver aqueles limões absolutamente mutantes, que parecem narizes de velhotes. Adoro ver muita fruta juntinha. Se não me reprimir, fico mesmo ali a dissecar aquilo. É lindo.

Pronto, e assim devo ter perdido os poucos amigos que me restavam. Bem que o meu irmão disse hoje, também: o que lixa o teu blog são as confissões.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Momento Malucos do Riso nos patos

No parque com o Gabriel, a ver patos. Gabriel chega-se para um miúdo de uns dois anos que lá estava com uma tiazorra emproada e faz-lhe uma festinha. O menino encolhe-se como se o tivessem barrado de merda. O Gabriel, alheio, abre-lhe um grande sorriso, daqueles sorrisos arrasa-quarteirão que só ele dá. O Tomás - CLARO que era Tomás - faz beicinho e vai ter com a tiazorra, que nos olha um bocado horrorizada, algo que não entendi, pois fora algum ranho fundamental no nariz do meu bebé, estávamos normalíssimos. A tiazorra lá sai a passo apertado, mas o Tomás, por algum motivo, já engraçou com o Gabriel. E quer brincar com o Gabriel. A tiazorra lá chama Tomás, Tomás, Tomás, Tomás, até eu dar uma ajudinha:

- Tomás, a avó está-te a chamar! Vai lá!

A tiazorra olha para a câmara, indignada e com boca de boneca insuflável.

Curtinha sobre uniformes escolares

No meu tempo, as únicas escolas - colégios - com uniforme eram os emperdernidíssimos colégios ingleses, com as suas meias pelo joelho e saiinhas pedófilas. Mas agora, pelo menos aqui na zona, qualquer escolinha pé-de-chinelo instituiu uniforme, e justamente aquele trajezinho que abomino e jurei nunca vestir ao Gabriel: calções de linho, camisa com golinha rija, pulover com brasão e sapatos de vela.
BIG NO NO!
É mais um critério para a escolha do novo infantário do nosso bebé: só aceitamos bibes, somente bibes, nada além de bibes.

sábado, 24 de abril de 2010

Dois sonhos maravilhosos, um tenebroso e um medinho

Primeiro sonho maravilhoso: sonhei que escrevia uma novela sozinha, tipo Manoel Carlos, e era loira e magra, famosíssima e genial. O que tirei de bom do sonho: uma cena maravilhosa que vou usar de certezinha no futuro, seja no que for.

Segundo sonho maravilhoso: sonhei que estávamos de férias em Fortaleza, eu, Hugo, o amigo do Hugo - Cabão - e o meu bebé, e íamos para a praia de táxi e a água estava divinal, e senti umas saudades enormes de casa. O que tirei de bom do sonho: nada, acordei meio depressiva.

Um sonho tenebroso: Totalmente cinematográfico: sonhei que tinha uma família ardilosa que queria fazer-me acreditar que a minha mãe estava viva e queria conhecer o Gabriel. Na verdade, era tudo um plano para revelar quem andava a roubar coisas no seio da família. O que tirei de bom do sonho: várias coisas, cenas espectaculares e boas opções de narrativa. Dois pormenores: o sonho foi rodado em Super 8 e a Oprah Winfrey fazia um cameo. Juro pela hóstia.

Um medinho: este eu estava acordada: Se/quando a madrinha e a Moura tiverem filhos, não quero que mergulhem na maternidade e se tornem mãezocas de babyblog. Não aconteceu com muitas amigas minhas, aliás, a bem dizer não aconteceu com quase nenhuma, mas tenho muitas saudades daquelas que foram engolidas irremediavelmente pelos seus filhos. É egoísta, não é? É. Mas gosto tanto delas. Quero que mudem o mínimo possível. Depois pus-me a pensar em mim mesma, sem saber se eu também me tinha roubado a pessoas que me queriam bem, mas espero que não. Pelo menos, ainda as faço rir feito parvas, o que me sabe pela vida. Pensando nisso, voltei a adormecer e tive outro sonho em Fortaleza, mas esse de menor importância.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Serviço de utilidade pública: patos

Melissa diz:
ontem demos comida aos patos na alagoa
vieram atrás de nós bués decididos
figura silvestre diz:
o vasco fica histerico com isso
Melissa diz:
qua
qua
qua
que MEDO
o gabriel adorou
figura silvestre diz:
eu so atiro para a agua
nunca ao pe deles
Melissa diz:
pois, pá
aprendi
qua qua qua
parecem uns zombies
lentos mas firmes
qua
figura silvestre diz:
aprendi isso
ainda andava o vasco de carrinho
eu e a mae da bia a correr por ali fora
a empurrar os carrinhus
os miudos a rirem-se
Melissa diz:
yaaa
figura silvestre diz:
nos todas nerbiosas
Melissa diz:
o gabriel achou q fosse brincadeira
cagou-se a rir
figura silvestre diz:
pois
mas agora imagina lá
os patos em pé sao do tamanho do vasco
aquilo até é perigoso
nos sentamo-nos ali num banquinhu perto do muro e atiramos lá para baixo
Melissa diz:
acho que o Gabriel pensava que eram carrinhos
vou publicar este diálogo
pode ser útil para outras mães

Rubrica: As noites cá por Casa

O Hugo tem estado em grande! Como coordenador cultural das noites desta semana, tem tomado decisões acertadíssimas. Desta vez, mais um grande filminho a que resisti durante umas boas semanas (Claro que se o Hugo me tivesse dito que era do Wes Anderson já me tinha despachado há mais tempo.)
George Clooney, Meryl Streep e mais uma data de gente gira e engraçada em fantástica forma. Não percam, é delicioso!


Na semana que vem, a coordenadora cultural sou eu, e a coisa não vai ser nivelada tão por cima.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Curtinha sobre a felicidade

Melhor do que dinheiro, é o reconhecimento. Melhor do que reconhecimento, é reconhecimento com dinheiro.
Não foi comigo, foi com o Hugo, mas sabe-me ainda melhor, porque ele é talentoso e esforçado, além de ser... o Hugo, o meu Euromilhões pessoal.
Estou mais feliz do que ele e queria partilhar!

(Não é nada por aí além, acreditem, mas quando estamos na mó de baixo há que comemorar tudo que vai aparecendo, porque a vida tem de ser uma festa de qualquer forma.)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Momento blog-de-menina

Toda menina ADORA uma boa citação.

Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha: a possibilidade de recomeço está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos. Não tem mistério, ela vem embrulhada com o papel bonito de cada instante novo, essa página em branco que olha pra gente sem ter a mínima ideia do que escolheremos escrever nas suas linhas.

O que é preciso mesmo é coragem para abrir o presente.

(Ana Jácomo)


Vou abrir o meu.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Curtinha sobre o cristianismo

Religiões à parte, adoro uma frase dum Evangelho qualquer que não é nada famosa, mas para mim é dos ensinamentos mais preciosos da Antiguidade. É mais ou menos na altura da cena do dar a outra face (que detesto, não dou), e diz mais ou menos "Se um amigo te pede para andar com ele uma milha, anda duas". Acho brilhante. Poderia passar horas aqui a falar sobre esta frase - já passei, num determinado momento de ebriedade - mas tenho trabalho a despachar e, caramba, isto é uma "curtinha", por isso, pensem os caros leitores na dita cuja.

Ao contrário do que se prega por aí sobre a autosuficiência e blablablás, proteger é bom. Eu sou altamente protectora dos meus e sinto-me muito protegida também. O meu pai, o meu irmão e o meu marido são protectores e andam comigo as milhas que forem precisas. Algumas amigas também, e faço o mesmo por elas. Tem de ser assim, porque a vida é dura, isto é uma batalha diária e sem esse amor de doação podemos ficar embrutecidos pelo cansaço e desânimo. Aliás, "amor de doação" soa-me redundante.

Por isso, amiga, se precisares de companhia para mais uma milha, já sabes.

Nova rubrica: As Noites cá por Casa

Não, seus porcos, não é nada disso. É como quem diz, coisas que andamos a ver ou a ler depois de recolher a cria ao ninho. Decidi criar a rubrica porque tenho o coração cheio de um filme lindo que vimos ontem.
Costumo embirrar com filmes franceses porque acho que os gajos falam e pensam e fumam demais, mas os dois últimos filmes que me ficaram guardadinhos na alma são franciú. O primeiro foi o ultracomovente O Segredo de Um Cuscus, que vimos quando ainda enfardávamos cinema, e o segundo foi este.
Simples, contido, elegante, sem batota, honesto, romântico, pé-no-estômago. ADOREI. E fiz fita durante aproximadamente um mês para o ver.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jogos de azar

Quando se é novo a vida é mesmo uma maravilha e tudo acaba por se resolver da forma mais simplista possível.
Quando éramos petizes as disputas eram normalmente resolvidas através dum método infalível e nunca questionável que, pelo menos a mim, deixou-me algumas saudades e marcas, especialmente porque perdia sempre. Falo do Par ou Ímpar que, embora parecesse um jogo inocente, era bem mais do que isso. O Par ou Ímpar era, por assim dizer, o grande juiz das contendas infantis. Sempre que havia uma disputa e a coisa ficava presa por algum motivo, o problema resolvia-se através deste joguinho. As regras eram simples; mãos atrás das costas, cada jogador apostava no par ou no ímpar, contava-se até três e depois colocavam-se as mãos à frente com o número de dedos levantados que se desejasse. Somavam-se os dedos válidos dos dois jogadores e mediante o resultado ganhava o que nele tivesse apostado.
Foi através deste sistema que muitas Playboys foram compradas devido à reticência dos putos em pedir a revista ao vendedor. Claro que havia razões para que ninguém lá querer entrar. Ou era o pai dum que conhecia o irmão do dono ou então a mãe de outro que era professora da filha. Portanto, devido ao congelamento de opções, só havia uma forma de acabar com a cagufa:
- Par ou ímpar?
Isto era usado para muitos fins, desde quem ia à baliza a quem levava a bola ou mesmo quem apresentava um trabalho escolar.
O mundo deveria permanecer inocente em muitos aspectos das nossas vidas. Especialmente quando o nosso filho começasse a berrar no berço e, em vez de ficarmos para ali a fingir estar a dormir ou mesmo ressonar, fossemos logo directos ao assunto :
- Vá, par ou ímpar?

Curtinha sobre escrever ou não escrever

Sempre que cá venho, só me apetece escrever coisas depressivas. E se começo a pensar em coisas depressivas, fico mais depressiva ainda. Por isso, enquanto não tiver nada não-depressivo a dizer, fico caladinha (se calhar o Hugo aparece por aí e escrever qualquer coisa mais alegre.)
Mas...
Se me apetecer MESMO escrever qualquer coisa depressiva, venho aqui e escrevo - sem edição.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Curtinha ao Papai do Céu

Eu disse que, este ano, só ia agradecer o que tinha, sem pedinchar ou suspirar pelo que não tinha. Mas descobri que afinal não tenho dessas almas que facilmente se sentem confortáveis. Preciso de forças para andar atrás das coisas, porque sempre tive fé na vida. E sinto-me um bocado perdida neste momento, ou melhor, sinto como se tivesse perdido algo de importante. E já dura alguns dias, e estou a perder a paciência.

Continuo a agradecer pelas pessoas que tenho e pelo trabalho que, sendo pouco e pouco estimulante, não tem faltado. Mas Papai do Céu, sinto saudades de mim.

Mas agradeço o resto!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cheiro de café (e porque odeio Nespresso)

Os padrinhos voltaram das suas férias no Paraíso e trouxeram-nos um saco de café local, que nada tem a ver com as embalagens actuais que se encontram nos supermercados, super a vácuo, super cheia de alumínio, tudo para preservar o aroma. Não... A embalagem do café que os padrinhos trouxeram é uma embalagem generosa, e divide connosco, cá fora, o seu cheirinho de café recém-passado no coador de pano, aquele cheiro morno das cinco da tarde que invade as cozinhas de Fortaleza, chamando todo mundo para dentro de casa, fugindo da hora das muriçocas.

Cheiro de café feitinho na hora, com borra no fundo do bule de alumínio barato, cheio de açúcar, para molhar o pão com dois dedos de manteiga enquanto Roberto Carlos canta no rádio.

O café da minha vida adulta é o contrário disso tudo: é curto, é estéril, é rápido, com cheiro rápido, ritual rápido. Tem uma função específica, que é me acordar para as chatices que vêm pela frente, ou ser uma pausa breve nas chatices em que já estou metida. Muito rápido, muito breve, muito longe do rádio da cozinha da vovó e da manteiga Patrícia.

É por isso, padrinhos, que não vou abrir o saco do café. Deixem-no repousar ali, durante muito tempo, ao pé das cápsulas, a contar-lhes umas coisas que eu cá sei a ver se elas aprendem.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Misty

Em 1986, quando eu tinha 10 anos, nasceu o meu irmão. E cresci muito, fiquei uma mocinha - escreverei sobre a minha relação com o meu irmão muito em breve, porque é uma história bonita que merece ser contada.
Enfim, por essa altura, saiu uma revista em quadrinhos chamada Misty, que era uma delícia: trazia bonecas de recortar e podíamos desenhar as roupas que as personagens usariam nos números seguintes. Foi o meu ano de estilista! Lembro-me de desenhar dezenas de modelitos, todos eles acompanhados de uma história, e mandar para a editora. Claro que nunca foram escolhidos, quem me conhece sabe o meu jeitinho para o desenho.

Enfim, a Misty foi sol de pouquíssima dura, pois, ora muito me engano, não chegou a ter 10 números. Pouca gente se lembra da tal revista, deve ter sido mesmo um fracasso.

O desaparecimento da Misty forçou esta candidata a pré-adolescente a voltar às Mônicas e Luluzinhas. Não foi mau negócio. Ainda hoje adoro Mônicas e Luluzinhas, mais Luluzinhas do que Mônicas.
(E por falar nisso, tenho de ir à Feira da Ladra a ver se encontro mais algumas.)

PS - Muito engraçada a roupa da Misty na capa! Se há 10 anos seria o cúmulo da piroseira, hoje dá para replicar este look na Bershka na perfeição. Quando é que os anos 80 vão para o céu das décadas?
Aprendi agora, quando procurei a imagem: A Misty é uma criação desta senhora.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Curtinha sobre blogues

Se a maioria dos blogues - pelo menos dos que sigo - quer ser um registo de memórias, um ponto de encontro, um "lugar que fique", como diz a Anacê, ou para divulgar de ideias, ficções, etc, há por aí uns quantos que servem apenas como receptáculo (penico) de bajulações. Escreve-se um disparate qualquer, choooooooooovem bajulações. Quem discordar é parolo, bimbo, ou a mais popular, invejoso. Discordar é invejar.

Não há cu para essas mulheres.

E isto era para ser uma curtinha e já vai em três parágrafos.

domingo, 11 de abril de 2010

Tradições predatórias

Acho inqualificável fazer uma festa de casamento ou baptizado ou seja do que for a contar com o suor dos convidados. Acho inqualificável a noção tácita de que se tem de dar um cheque chorudo que cubra, no mínimo, as despesas da festa, quando isso pode chegar às centenas de euros por família. Esse tipo de carga transforma um momento que seria bom numa verdadeira dor de cabeça para os convidados (e pior, muito pior, para padrinhos), que, não sendo de famílias abonadas, e quase ninguém é, tem de cancelar férias e tratamentos dentários e obras em casa para subsidiar sonhos principescos de outras pessoas, por mais chegadas que sejam.

Acho imoral, pecaminoso, inqualificável. Não me lembro de uma única pessoa a fazer uma cara feliz ao receber um convite assim. É um peso gigantesco. E não me interessa a recíproca. Para mim, é uma tradição predatória, como a caça recreativa e as touradas, e, como ambas, tem de CESSAR de EXISTIR.

A coisa está tão enraizada, que no meu casamento, mesmo tendo dito que não era preciso prendas em dinheiro, que já tínhamos tudo e tínhamos feito a festa à medida do nosso bolso e não do bolso de outrem, choveram cheques, a maioria de pessoas que sabíamos ter dificuldades ou sabíamos ter a mesma opinião do que nós em relação a festas predatórias.

Tinha dito há uns tempos que a morte tinha tomado o lugar do sexo como tabu derradeiro, mas não: o dinheiro é que sim. Não ter dinheiro é que é o derradeiro tabu, a derradeira vergonha, aquilo de quem ninguém fala abertamente.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Life booster duplo



Na frigideira com qualquer coisa, QUALQUER COISA, fica delicioso. Hoje piquei peito de frango, milho e natas a 0% (aquelas da Mimosa, outro life booster) e pus um pacotinho de Natura. Ficou uma coisinha de restaurante em 10 minutos.



Não, a imagem não é essa, mas queria pôr qualquer coisa, pronto. Estou a falar daqueles frasquinhos amarelos de sumo de limão a imitar o limão, a coisa mais fofa. O Gabriel adora roer aquilo. Uso para marinadas-de-saco, limonadas, temperar saladas, tirar o piché do frango. Fabuloso. E fofinho.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dois dias depois

Ele já dá arrisca uns passinhos e já diz "olá" (aiá!), ou seja, vou escrever um manifesto sobre como me estou a cagar por praticamente não ter trabalho ou dinheiro, a ver se... enfim.

(Hoje passei o dia depressiva, a sentir-me mal fisicamente por N motivos diferentes, cada um mais escabroso e dark do que o outro. Dei por mim a formular pensamentos de fundo de poço. Não sei bem o que me deu, mas foi uma noção de frustração e falhanço como nunca tinha experimentado na vida - não estou a exagerar. Lamentei-me de várias coisas, inclusive de ter decidido engravidar no meio de tanta instabilidade.
Estava mesmo na merda, portanto.
Arrastei-me para o ir buscar à creche, e lá estava ele na relva com um chapéu três vezes maior do que a própria cabeça a bater palmas e a rir-se, e então reparei que estavam 25 graus e que isso por si só solucionava tudo, ou pelo menos solucionava tudo por ora. Fomos para o parque e rebolámos na relva, e sujámo-nos, e comemos iogurtes, e fomos ver os comboios e apanhar o pai, e sim, continuo com um travo amargo cá dentro de sei lá o quê, mas... Estão 25 graus e o Gabriel adora isso.)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Manifesto

Ele comerá tudo triturado até estar pronto.
Ele dirá as primeiras palavras quando estiver pronto.
Ele andará sozinho quando estiver pronto.
Ele dormirá noites completas quando estiver pronto.

Ou seja, in a nutshell,

CAGÁMOS.

(sim, ia escrever um manifesto sobre o ritmo dos bebés, mas cagámos nisso também.)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

flor de estufa

Quando fantasiava sobre filhos, imaginava-os sempre a correr de pé descalço, à brasileira, todos cagados da cabeça aos pés, a comer areia, a rebolar na relva. Fantasiava levá-los à praia, a fazer piqueniques, uma vida para lá de saudável. Nunca, nas minhas fantasias, pensei que ao tomar um ventinho frio nas trombas o meu filho adoecesse. Nunca pensei que seria uma refém do seu sistema imunitário, ou de alergias, ou de sei lá o quê.
Sempre detestei florzinhas de estufa. Odeio até a palavra, para não dizer o conceito, de "corrente de ar". Sou nordestina, "corrente de ar" para mim é "brisa" e é um presente de Deus. Não gosto de ter a casa toda abafada. Gosto de ar - não necessariamente ar livre, mas gosto de lugares arejados.

Não estou a dizer que o Gabriel é mais frágil que qualquer outra criança, porque não sei se é. Mas não tem a saúde de ferro. E já me apanho, a mim e ao Hugo, vezes a mais a fechar janelas, a preocupar-me com ventinhos, a proteger o menino da próxima bronquiolite.

E, céus, como queria continuar sem qualquer respeito por correntes de ar.
Não quero tornar-me daquelas mães sempre a vestir o casaquinho e a pôr o chapelinho e a mandar sair da água.
(Alguém me diga, por favor, que isto é crise de fim de Inverno.)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os mortos e os rituais

Uma das imagens mais bonitas que não fotografei foi no dia de Finados passado. Afastei-me para ir buscar qualquer coisa e, quando olhei para trás, estava o Hugo a ajudar a mãe a arranjar a campa da avó, enquanto o Gabriel os olhava do seu carrinho, muito curioso e concentrado.

Acho muito bonito todo o ritual de dia de Finados. O lavar das lages, a substituição das flores de plástico, plantar mais relva, podar a que há. No Brasil é diferente, ou pelo menos é diferente para mim, de família de classe média, que tenho os meus mortos num cemitério particular em que não cuidamos da campa, fazem tudo por nós. Daí achar comovente e bonito as famílias a chegarem e pegarem nos baldes e pás disponíveis à entrada, partilhando mangueiras e regadores, falando baixinho.

Não há muitas lágrimas no dia de Finados. Há muito silêncio e muita paz nos cemitérios, muita saudade.

Ao contrário de quase todo mundo, gosto de rituais fúnebres. Gosto que haja uma despedida, que haja esse momento. Gosto que haja uma campa aonde eu possa ir depositar flores, sentar-me e rezar, e conversar. Não gosto de ignorar a morte. Queria encará-la como parte da vida, e quero que os que foram à minha frente continuem a fazer parte da minha vida. Há quem prefira fazê-lo na intimidade da sua casa ou visitando os locais preferidos do ente querido, mas eu sinto-me mais perto deles no cemitério.

Tenho pena de que minha mãe tenha resolvido (hoje sei que foi assim) morrer onde nasceu, e ser enterrada junto dos seus pais. No dia do funeral, uma prima querida sussurrou-me: ela vai ficar bem juntinho da mãe dela para sempre. E isso consolou-me enormemente, porque não imagino nada mais confortável.

Sei que quem passar por aqui e ler isto vai pensar "ai credo, que mórbida". Li há uns tempos que a morte substituiu o sexo como tabu derradeiro. E recuso-me que assim seja cá em casa. Falarei sempre abertamente da morte, dos meus mortos, dos rituais.