Por unanimidade de dois:
O melhor livro de 2010 foi o melhor filme de 2009:
E sei lá se não é o melhor livro de 2009 também, e 2008, já agora.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
A vida editada
A nossa vida é melhor no facebook porque só publicamos o que é engraçado, o que achamos que nos torna melhor de alguma forma. Em pequenas frases espirituosas, todos mundo é especial. Toda a vida é especial, única e alegre. A ilustrar essa vida especial e alegre, fotos especiais e alegres, onde estamos sempre bem, ou, no mínimo, ternurentos.
Não, não vou dizer que é falso, ou errado. Mas é cansativo.
Ando meio cansada.
Não, não vou dizer que é falso, ou errado. Mas é cansativo.
Ando meio cansada.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Oh happy days (inspirado na Joaníssima e na época)
Os dias mais felizes da minha vida foram o dia em que ouvi o coração do meu filho pela primeira vez na ecografia e o dia do meu casamento, por esta ordem.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Lá se vai o Tony
Até aqui o meu papel de pai tem sido mais ou menos lavar a criança, alimentá-la com paciência e mudar-lhe a fralda. Não é para me gabar mas julgo que as coisas estão a correr bem, ajeito-me bem com as tarefas e de certa forma posso dizer que ando bastante contente com o meu trabalho.
Com o crescimento do petiz, os desafios têm aumentado de intensidade e, claro está, também de dificuldade. Até porque o Gabriel em si está mais inteligente e já não o consigo enganar com tanta facilidade. Ultimamente, até me tem tratado com maior consideração. Dum momento para o outro, deixou o gritinho “uh” que, apesar de ser fofinho ouvir, era um bocado escasso para a importância da minha figura e passou para um honroso e pomposo “pai” que tem a força de me abarrotar o coração e eriçar a penugem de felicidade.
Quis o destino que nos meus tempos de ociosidade juvenil seguisse séries de televisão tão esclarecedoras como o Super-Pai ou o Médico de Família. Deste modo pude assimilar os ensinamentos que me foram revelados pelo Luís Esparteiro e o Fernando Luís no seu rodopio paternal. Por isso, julgo que esta é uma das razões porque estou sempre tão bem preparado para dar uma resposta positiva aos eventos que me vão surgindo pelo caminho.
O meu maior desafio surgiu na semana passada. O Gabriel ia fazer parte duma peça de teatro. A ocasião merecia algum cuidado da minha parte. Já se sabe, é nestas alturas que uma cria precisa da presença e sabedoria do progenitor para lhe dar bons conselhos e estender a mão em ajuda.
Esta foi, mais ou menos, a minha primeira conversa de pai para filho, da qual diga-se muito me orgulho, embora a mãe do pequeno, um bocado ciumenta de eu me ter chegado à frente, pense o contrário:
“ Então é assim Gabriel…esta oportunidade pode ser um grande passo percebes? Pode parecer uma coisa amadora e até podes pensar que isto não é nada de especial, mas acredita que as coisas começam sempre assim. Quantas entrevistas é que já viste em que as estrelas de Hollywood se referem a estes espectáculos como o início? Ou tu pensas que o George Clooney e o Harrisson Ford estavam no café e no momento seguinte passeavam na passadeira vermelha? Pronto, tens razão, o Harrisson Ford não é o melhor exemplo para definir um bom actor mas enriqueceu com o cinema e isso também tem o seu valor ou não? Independente do seu talento o que interessa é a dedicação. Sabes? Dedicação!
O teu pai quando era pequeno nunca teve nada disto. Não havia espectáculos de Natal na escola, não havia câmeras de filmar e os miúdos ficavam sempre com as avós sem nada para fazer além de ver televisão ou, no meu caso, jogar Subbutteo. Portanto nunca pisei um palco. Se tivesse a oportunidade que tu tens agora agarrava-a com as duas mãos e esforçava-me imenso por interiorizar as ideias da educadora. Podes nem gostar daquilo que ela está a compor mas apenas tens de fazer o teu papel o melhor que conseguires e esperar os aplausos do público. No fim tudo se resume a isso, aos aplausos e reconhecimento do público.
Não deves é ficar ansioso ou nervoso. Se te apresentares calmo vais ver que tudo corre normalmente. Também não deve ser nada de especial o teu papel. Com toda a certeza que não tem a exigência dum Shakespeare, um Sam Shepard ou um Tenesse Williams. Repara, tens uma actuação física, não tens falas para decorar e nem sequer te vais preocupar com as marcações de cena. Ocupa a tua mente em bater palmas, rodopiar e bater com os pés. Só isso. Pá, estás sempre a fazer isso em casa e na rua só tens de transpor o sentimento para aqui. Mas digo-te que quando as cortinas se abrirem vais sentir um murro no estômago. É sempre assim, estejas aqui, na faculdade a apresentar um trabalho ou a pedir ao teu chefe um aumento. Chama-se pressão. E mais cedo ou mais tarde vais te de lidar com ela. E hoje é o teu dia. Vais ser o centro das atenções, os olhos e os flashes vão seguir-te por todo o lado. Todos os passos que vais dar vão ser registados e postos no youtube ou facebook.
Mas tu és bom sabes?! És talentoso e, nesta maravilha que é a criação, ficaste com a candura e inteligência do teu pai, só tens de usar o que te está nos genes. E deixa as coisas seguir com naturalidade. Olha, pensa que as pessoas estão todas de fralda. Costuma resultar.
Gabriel olha lá agora para o pai! Olha, olha para mim vá! Percebeste o que eu te quis dizer? Hum? Mas por favor, aconteça o que acontecer e tenho a certeza que a determinada altura vais ficar baralhado com as luzes, as pessoas e o movimento, não me chores em palco. O choro é para mariquinhas e no palco era bom que fique o teu suor e não as lágrimas. Percebeste, fofinho?
Ainda bem, sendo assim vai lá ter com os outros e muita merda para ti!”
Com o crescimento do petiz, os desafios têm aumentado de intensidade e, claro está, também de dificuldade. Até porque o Gabriel em si está mais inteligente e já não o consigo enganar com tanta facilidade. Ultimamente, até me tem tratado com maior consideração. Dum momento para o outro, deixou o gritinho “uh” que, apesar de ser fofinho ouvir, era um bocado escasso para a importância da minha figura e passou para um honroso e pomposo “pai” que tem a força de me abarrotar o coração e eriçar a penugem de felicidade.
Quis o destino que nos meus tempos de ociosidade juvenil seguisse séries de televisão tão esclarecedoras como o Super-Pai ou o Médico de Família. Deste modo pude assimilar os ensinamentos que me foram revelados pelo Luís Esparteiro e o Fernando Luís no seu rodopio paternal. Por isso, julgo que esta é uma das razões porque estou sempre tão bem preparado para dar uma resposta positiva aos eventos que me vão surgindo pelo caminho.
O meu maior desafio surgiu na semana passada. O Gabriel ia fazer parte duma peça de teatro. A ocasião merecia algum cuidado da minha parte. Já se sabe, é nestas alturas que uma cria precisa da presença e sabedoria do progenitor para lhe dar bons conselhos e estender a mão em ajuda.
Esta foi, mais ou menos, a minha primeira conversa de pai para filho, da qual diga-se muito me orgulho, embora a mãe do pequeno, um bocado ciumenta de eu me ter chegado à frente, pense o contrário:
“ Então é assim Gabriel…esta oportunidade pode ser um grande passo percebes? Pode parecer uma coisa amadora e até podes pensar que isto não é nada de especial, mas acredita que as coisas começam sempre assim. Quantas entrevistas é que já viste em que as estrelas de Hollywood se referem a estes espectáculos como o início? Ou tu pensas que o George Clooney e o Harrisson Ford estavam no café e no momento seguinte passeavam na passadeira vermelha? Pronto, tens razão, o Harrisson Ford não é o melhor exemplo para definir um bom actor mas enriqueceu com o cinema e isso também tem o seu valor ou não? Independente do seu talento o que interessa é a dedicação. Sabes? Dedicação!
O teu pai quando era pequeno nunca teve nada disto. Não havia espectáculos de Natal na escola, não havia câmeras de filmar e os miúdos ficavam sempre com as avós sem nada para fazer além de ver televisão ou, no meu caso, jogar Subbutteo. Portanto nunca pisei um palco. Se tivesse a oportunidade que tu tens agora agarrava-a com as duas mãos e esforçava-me imenso por interiorizar as ideias da educadora. Podes nem gostar daquilo que ela está a compor mas apenas tens de fazer o teu papel o melhor que conseguires e esperar os aplausos do público. No fim tudo se resume a isso, aos aplausos e reconhecimento do público.
Não deves é ficar ansioso ou nervoso. Se te apresentares calmo vais ver que tudo corre normalmente. Também não deve ser nada de especial o teu papel. Com toda a certeza que não tem a exigência dum Shakespeare, um Sam Shepard ou um Tenesse Williams. Repara, tens uma actuação física, não tens falas para decorar e nem sequer te vais preocupar com as marcações de cena. Ocupa a tua mente em bater palmas, rodopiar e bater com os pés. Só isso. Pá, estás sempre a fazer isso em casa e na rua só tens de transpor o sentimento para aqui. Mas digo-te que quando as cortinas se abrirem vais sentir um murro no estômago. É sempre assim, estejas aqui, na faculdade a apresentar um trabalho ou a pedir ao teu chefe um aumento. Chama-se pressão. E mais cedo ou mais tarde vais te de lidar com ela. E hoje é o teu dia. Vais ser o centro das atenções, os olhos e os flashes vão seguir-te por todo o lado. Todos os passos que vais dar vão ser registados e postos no youtube ou facebook.
Mas tu és bom sabes?! És talentoso e, nesta maravilha que é a criação, ficaste com a candura e inteligência do teu pai, só tens de usar o que te está nos genes. E deixa as coisas seguir com naturalidade. Olha, pensa que as pessoas estão todas de fralda. Costuma resultar.
Gabriel olha lá agora para o pai! Olha, olha para mim vá! Percebeste o que eu te quis dizer? Hum? Mas por favor, aconteça o que acontecer e tenho a certeza que a determinada altura vais ficar baralhado com as luzes, as pessoas e o movimento, não me chores em palco. O choro é para mariquinhas e no palco era bom que fique o teu suor e não as lágrimas. Percebeste, fofinho?
Ainda bem, sendo assim vai lá ter com os outros e muita merda para ti!”
Levei anos até conseguir não ter pena de mim por não ter mãe. E agora começa tudo de novo, ao pensar que o Gabriel teria mais uma avó, se a vida não tivesse tomado outro rumo. Consegui ignorar bem até recentemente, abafando a sensação cada vez que ela surgia, porque, caramba, já sofri muito neste luto todo. Mas, de uns dias para cá, foda-se, queria tanto, mas tanto, mas tanto que o meu filho a tivesse cá.
E com tudo que aprendi, já devia saber que o melhor é chorar tudo e mandar tudo à merda, porque é uma merda, mesmo. Não há maneira esotérica, religiosa, o diabo ao avesso, que traga nem um momento dela de volta. Ela acabou. Ela morreu. Ela não existe mais.
E com tudo que aprendi, já devia saber que o melhor é chorar tudo e mandar tudo à merda, porque é uma merda, mesmo. Não há maneira esotérica, religiosa, o diabo ao avesso, que traga nem um momento dela de volta. Ela acabou. Ela morreu. Ela não existe mais.
domingo, 19 de dezembro de 2010
As três gargalhadas mais duradouras
- Vendo o Viva La Bam, um programa imbecil da MTV, fizeram uma partida a um gajo que era, enquanto ele dormia, à noite, puseram-lhe o bocal de um aspirador em pó na boca e ligaram. Usavam uma câmara de luz nocturna. O homem parecia que estava a ser sugado para o inferno. Ri-me naquele momento - era tarde da noite - e acordei-me algumas vezes a rir-me durante a noite, acordei-me a rir e a tentar contar ao Hugo, mas perdendo o fôlêgo a cada vez, tal o histerismo.
- A passear por Miróbriga num dia de chuva, tudo cheio de lama, só os dois no sítio, e o Hugo ansioso para ver o fórum. Depois de algum tempo à procura, lá avistou o dito cujo, empolgou-se e lá aperta ele o passo. Mas está de chuva, e o Hugo enfia o calcanhar uma poça de lama e é projectado na horizontal para o ar, como se levitasse, aterrando bem no meio do charquinho, salpicando porcaria por todos os lados. Depois de me certificar que viveria, comecei a rir-me. A rir-me. E a rir-me um pouco mais. De boca aberta. Ri-me no fórum, ri-me no centro de interpretação, ri-me no restaurante a mandar a cabeça para trás e a bater os pés. "Já basta, não", dizia o Hugo, meu namorado há coisa de três meses.
- A mais duradoura: no cinema, a ver o Belleville Rendez-vous, filme engraçadíssimo para além de muito ternurento, lá está uma das gémeas a pescar sapos no lago, chega a outra, saca dum murteiro e manda aquilo para água. PFFFFFFFFFFFF, explosão surda, sapos para todo o lado. E eu não acreditava que pudesse haver algo tão engraçado no mundo. Não acreditava mesmo. Aquela cena premiu o meu ponto G da comédia. E abri a boca. E ri-me. E abri mais a boca. E comecei a ouvir os shhhh, shhhh. E tentava controlar a risota, mas era impossível, aquilo era muito engraçado, e eu ria-me, ria-me, aproveitava os outros momentos engraçados do filme para me rir, e me rir, e me rir. Depois, na saída, foi levar com os olhares acutilantes da malta metida a besta que vai ao King, mas tudo bem, porque mal via, só conseguia dizer ao Hugo: "mas... tu viste o... aaaai... PFFFFF.... e sapos a vo.... HAHAHAHA HAHAHAHAHA HAHAHAHAHAHAAAAAAAAAAAAAAAA". Ele levou-me delicadamente dali para fora. "Mas, Hugo, tu não podes ter visto o.... ai, meu Deus, o... HAHAHAHAHHAAH"
E vocês, hein?
- A passear por Miróbriga num dia de chuva, tudo cheio de lama, só os dois no sítio, e o Hugo ansioso para ver o fórum. Depois de algum tempo à procura, lá avistou o dito cujo, empolgou-se e lá aperta ele o passo. Mas está de chuva, e o Hugo enfia o calcanhar uma poça de lama e é projectado na horizontal para o ar, como se levitasse, aterrando bem no meio do charquinho, salpicando porcaria por todos os lados. Depois de me certificar que viveria, comecei a rir-me. A rir-me. E a rir-me um pouco mais. De boca aberta. Ri-me no fórum, ri-me no centro de interpretação, ri-me no restaurante a mandar a cabeça para trás e a bater os pés. "Já basta, não", dizia o Hugo, meu namorado há coisa de três meses.
- A mais duradoura: no cinema, a ver o Belleville Rendez-vous, filme engraçadíssimo para além de muito ternurento, lá está uma das gémeas a pescar sapos no lago, chega a outra, saca dum murteiro e manda aquilo para água. PFFFFFFFFFFFF, explosão surda, sapos para todo o lado. E eu não acreditava que pudesse haver algo tão engraçado no mundo. Não acreditava mesmo. Aquela cena premiu o meu ponto G da comédia. E abri a boca. E ri-me. E abri mais a boca. E comecei a ouvir os shhhh, shhhh. E tentava controlar a risota, mas era impossível, aquilo era muito engraçado, e eu ria-me, ria-me, aproveitava os outros momentos engraçados do filme para me rir, e me rir, e me rir. Depois, na saída, foi levar com os olhares acutilantes da malta metida a besta que vai ao King, mas tudo bem, porque mal via, só conseguia dizer ao Hugo: "mas... tu viste o... aaaai... PFFFFF.... e sapos a vo.... HAHAHAHA HAHAHAHAHA HAHAHAHAHAHAAAAAAAAAAAAAAAA". Ele levou-me delicadamente dali para fora. "Mas, Hugo, tu não podes ter visto o.... ai, meu Deus, o... HAHAHAHAHHAAH"
E vocês, hein?
sábado, 18 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Curtinha sobre um objectivo concreto para os próximos Natais da nossa vida
Radical e simples, assim.
Tanta coisa boa que se pode oferecer, de coração, se ser engolido pelo vórtice papainoélico. Tanta cena mais fixe para se fazer com o tempo (e com o subsídio, já agora) do que comprar tralha que se vai confirmar tralha no ano seguinte, ao fazer a viagem sem volta para a cave ou para a garagem. Imagino, assim, de catadupa, umas oito coisas.
Há muitas outras formas de fazer as pessoas felizes e sem deixar de dar e de se dar.
(Oferecemos vários vouchers aos padrinhos quando eles casaram e, aparentemente, gostaram: andam a poupá-los, a poupá-los!)
Aliás, comprar menos, sempre menos, cada vez menos e ter cada vez menos coisas é um objectivo concreto também, mas não para o futuro, mas para já, para ir fazendo já. Sobra mais espaço para todos.
Tanta coisa boa que se pode oferecer, de coração, se ser engolido pelo vórtice papainoélico. Tanta cena mais fixe para se fazer com o tempo (e com o subsídio, já agora) do que comprar tralha que se vai confirmar tralha no ano seguinte, ao fazer a viagem sem volta para a cave ou para a garagem. Imagino, assim, de catadupa, umas oito coisas.
Há muitas outras formas de fazer as pessoas felizes e sem deixar de dar e de se dar.
(Oferecemos vários vouchers aos padrinhos quando eles casaram e, aparentemente, gostaram: andam a poupá-los, a poupá-los!)
Aliás, comprar menos, sempre menos, cada vez menos e ter cada vez menos coisas é um objectivo concreto também, mas não para o futuro, mas para já, para ir fazendo já. Sobra mais espaço para todos.
sábado, 11 de dezembro de 2010
É a Literatura, Camarada! Parte ?? - depois de Hemingway, as mulheres (mais uma vez)
Feministas (homens e mulheres) que gostem de contos, leiam In Love and Trouble. Ia escrever aqui sobre um conto específico desta pequena maravilha de livrinho, a propósito de uma conversa curta e boa que tive com uma amiga há bocado, mas não o encontrei em lado nenhum - chama-se Her Sweet Jerome, e é sobre uma mulher que descobre que a rival que tanto teme não é outra mulher, mas sim uma causa, algo muito mais difícil de fazer frente, e, de facto, não há frente a fazer.
Da mesma maneira que amo os homens fortes a cheirar a cavalo de Hemingway, adoro as mulheres completas de Alice Walker e Toni Morrison. Sei que a intenção de ambas é falar das negras americanas, mas, caramba, falam de todas. Não há mocinhas nem vilãs, são todas tão imperfeitas quanto qualquer uma de nós. E é tão clássico, tão intemporal... de tal forma que quando li Sula - um livro do qual já falei aqui e que não consigo MESMO entender porque não está traduzido (a autora é um Nobel) - não tinha mais de 20 anos e nem sonhava com casamentos nem filhos, mas uma passagem me fez fechar o livro, emocionada, e parar um pouco de ler, respeitando a dor daquela mulher que perdera o marido para as circunstâncias da vida. Graças a Deus que não foi só a mim que provocou isso, porque, ao procurar uma frase-chave na net, encontrei várias ocorrências.
E é assim:
Could he be gone if his tie is still here? He will remember it and come back and then she would... uh. Then she could... tell him. Sit down quietly and tell him. "But Jude," she would say, you knew me. All those days and years, Jude, you knew me. My ways and my hands and how my stomach folded and how we tried to get Mickey to nurse and how about that time when the landlord said... but you said... and I cried, Jude. You knew me and had listened to the things I said in the night, and heard me in the bathroom and laughed at my raggedy girdle and I laughed because I knew you too, Jude. So how could you leave me when you knew me?"
E é maravilhoso. :)
Da mesma maneira que amo os homens fortes a cheirar a cavalo de Hemingway, adoro as mulheres completas de Alice Walker e Toni Morrison. Sei que a intenção de ambas é falar das negras americanas, mas, caramba, falam de todas. Não há mocinhas nem vilãs, são todas tão imperfeitas quanto qualquer uma de nós. E é tão clássico, tão intemporal... de tal forma que quando li Sula - um livro do qual já falei aqui e que não consigo MESMO entender porque não está traduzido (a autora é um Nobel) - não tinha mais de 20 anos e nem sonhava com casamentos nem filhos, mas uma passagem me fez fechar o livro, emocionada, e parar um pouco de ler, respeitando a dor daquela mulher que perdera o marido para as circunstâncias da vida. Graças a Deus que não foi só a mim que provocou isso, porque, ao procurar uma frase-chave na net, encontrei várias ocorrências.
E é assim:
Could he be gone if his tie is still here? He will remember it and come back and then she would... uh. Then she could... tell him. Sit down quietly and tell him. "But Jude," she would say, you knew me. All those days and years, Jude, you knew me. My ways and my hands and how my stomach folded and how we tried to get Mickey to nurse and how about that time when the landlord said... but you said... and I cried, Jude. You knew me and had listened to the things I said in the night, and heard me in the bathroom and laughed at my raggedy girdle and I laughed because I knew you too, Jude. So how could you leave me when you knew me?"
E é maravilhoso. :)
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Uma portinha para o resto dela
Dois momentos luminosos da Lurdes, avó do Gabriel, minha sogra:
- Aqui em casa, há uns valentes meses, estava ela com o Gabriel na sala a ver um programa da tarde, eu entro lá e está ela com os olhos cheios de lágrimas. "É que o Marco Paulo está a cantar a música da Nossa Senhora, e me emociono sempre".
- Na segunda-feira, lá em casa, começa a dar um cantor também num programa da tarde e o rosto dela ilumina-se, aumenta a TV, alheia a tudo. "Adoro este cantor".
Em oito anos que estou com o Hugo, foram as duas únicas vezes que vi a Lurdes fora do papel de mãe/avó. Estava a desfrutar de emoções que nada tinham que ver com filhos e netos, que lhe falavam a ela enquanto mulher. Achei fenomenal e revelador, por mais pequenino que fosse o momento.
Há uns dias, deu na Oprah uma entrevista com a Laura Bush, em que uma das filhas diz que chorou durante toda a leitura da biografia da mãe. A Oprah diz-lhe: "Pois, é que, para nós, a nossa mãe é apenas isso, a nossa mãe. Foi sempre a nossa mãe. Não há nada que saia desse âmbito". Foi isso que emocionou a filha, ver as outras dimensões daquela mulher.
Como a minha própria mãe nunca foi muito maternal no sentido tradicional da palavra, conheci-a bem noutras facetas, sei do que ela gostava (jardinagem, boa música, pechinchas, dançar) e do que não gostava (quase tudo o resto). Mas foi excelente ter esse vislumbre da Lurdes, que acaba por desempenhar muito do papel de mãe comigo também. Abriu-me um bocado os olhos. É improvável que a Lurdes escreva uma biografia. Sendo assim, vou procurar conhecê-la melhor de outras formas.
- Aqui em casa, há uns valentes meses, estava ela com o Gabriel na sala a ver um programa da tarde, eu entro lá e está ela com os olhos cheios de lágrimas. "É que o Marco Paulo está a cantar a música da Nossa Senhora, e me emociono sempre".
- Na segunda-feira, lá em casa, começa a dar um cantor também num programa da tarde e o rosto dela ilumina-se, aumenta a TV, alheia a tudo. "Adoro este cantor".
Em oito anos que estou com o Hugo, foram as duas únicas vezes que vi a Lurdes fora do papel de mãe/avó. Estava a desfrutar de emoções que nada tinham que ver com filhos e netos, que lhe falavam a ela enquanto mulher. Achei fenomenal e revelador, por mais pequenino que fosse o momento.
Há uns dias, deu na Oprah uma entrevista com a Laura Bush, em que uma das filhas diz que chorou durante toda a leitura da biografia da mãe. A Oprah diz-lhe: "Pois, é que, para nós, a nossa mãe é apenas isso, a nossa mãe. Foi sempre a nossa mãe. Não há nada que saia desse âmbito". Foi isso que emocionou a filha, ver as outras dimensões daquela mulher.
Como a minha própria mãe nunca foi muito maternal no sentido tradicional da palavra, conheci-a bem noutras facetas, sei do que ela gostava (jardinagem, boa música, pechinchas, dançar) e do que não gostava (quase tudo o resto). Mas foi excelente ter esse vislumbre da Lurdes, que acaba por desempenhar muito do papel de mãe comigo também. Abriu-me um bocado os olhos. É improvável que a Lurdes escreva uma biografia. Sendo assim, vou procurar conhecê-la melhor de outras formas.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Post em construção: livros lidos este ano
Uma chatice não haver uma lista algures para escolhermos, como há a dos filmes estreados. Nunca me vou lembrar do que li, vá, em Abril.
- Selma
- A Estirpe
- A Catedral do Mar
- Pássaros Feridos
- Sum
- A vida na porta do frigorífico
- Women, Food and God
- O Buda dos Subúrbios
- Alta Fidelidade
- O Físico
- Milionários Acidentais
- Vou pondo à medida que me lembro (na esperança que apareça algum assim mesmo muito inteligente).
Hugo
- O Exorcista
- Neverland
- Blueberry (cowboyada)
- Money
- A I Guerra Mundial
- O Grande Salto
- Slam
- Alta Fidelidade
- 31 Canções
- (Também não se lembra de mais nada).
- Selma
- A Estirpe
- A Catedral do Mar
- Pássaros Feridos
- Sum
- A vida na porta do frigorífico
- Women, Food and God
- O Buda dos Subúrbios
- Alta Fidelidade
- O Físico
- Milionários Acidentais
- Vou pondo à medida que me lembro (na esperança que apareça algum assim mesmo muito inteligente).
Hugo
- O Exorcista
- Neverland
- Blueberry (cowboyada)
- Money
- A I Guerra Mundial
- O Grande Salto
- Slam
- Alta Fidelidade
- 31 Canções
- (Também não se lembra de mais nada).
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Dois amores
Um é um casamento antigo: continua charmoso e razoavelmente divertido. Já cultiva uma barriguinha saliente, fruto da acomodação, do tomar tudo por certo. Traz o conforto dos amores velhos, a previsibilidade, o saber que nada mudará daqui até ao infinito.
O outro chegou de rompante, rasgando tudo, lindo, jovem, fresco, cheio de genica, com muito calor. Fez-me desistir de tudo: num primeiro e breve momento, aos poucos, e depois foi mesmo mandar tudo pelos ares. Uma paixão tardia, como já julgava não encontrar na minha vida. E com as paixões tardias, chega a ansiedade. Ainda por cima porque este outro amor é instável. Prometeu-me tudo no princípio: teria o melhor dos dois mundos. Mas como todo bom amante, mentia com quantos dentes tinha, e o seu sorriso era devastador e abalava o meu mundo.
Mesmo assim, preferi-o. Preferi-o com todas as forças que tinha, por acreditar que tanta paixão só pode valer a pena. Mas ele era cada vez mais errático, cada vez mais vago, mais rarefeito. A paixão começava a arrefecer, embora eu negasse com todas as minhas forças. Mas que paixão sobrevive com uma mão-cheia de nada, só fumo? Já não tenho 15 anos.
E a carência instalou-se.
E com a carência, veio a saudade do casamento antigo, que me assaltava ao dormir, em sonhos nostálgicos. Saudades da segurança, do saber com o que podia contar, do conhecimento, da solidez. De alguma previsibilidade.
Uma manhã, acordei e tentei voltar para os seus braços. Não aguentei, pus o rabo entre as pernas e tentei voltar para os seus braços. Ele prometeu-me pensar. E eu aguardo...
...
... E enquanto aguardo, o segundo amor, lindo, quente, perfumado, jovem, fresco, criativo, cheio de novidade, voltou a assaltar-me os sonhos, inquietando-me, acalorando-me, deixando-me cheia de pena de que tudo tenha terminado assim para nós. Mas terá mesmo terminado? Sim, acho que sim. O meu coração diz que sim. Agora ainda dói, e doerá durante algum tempo, mas sei que acabará por sucumbir. E um dia, também para mim, será fumo, uma mão-cheia de nada, uma memória distante, uma brincadeira que foi divertida enquanto durou.
E direi a mim mesma: cresci. Agora, sou mesmo uma mulher adulta.
O outro chegou de rompante, rasgando tudo, lindo, jovem, fresco, cheio de genica, com muito calor. Fez-me desistir de tudo: num primeiro e breve momento, aos poucos, e depois foi mesmo mandar tudo pelos ares. Uma paixão tardia, como já julgava não encontrar na minha vida. E com as paixões tardias, chega a ansiedade. Ainda por cima porque este outro amor é instável. Prometeu-me tudo no princípio: teria o melhor dos dois mundos. Mas como todo bom amante, mentia com quantos dentes tinha, e o seu sorriso era devastador e abalava o meu mundo.
Mesmo assim, preferi-o. Preferi-o com todas as forças que tinha, por acreditar que tanta paixão só pode valer a pena. Mas ele era cada vez mais errático, cada vez mais vago, mais rarefeito. A paixão começava a arrefecer, embora eu negasse com todas as minhas forças. Mas que paixão sobrevive com uma mão-cheia de nada, só fumo? Já não tenho 15 anos.
E a carência instalou-se.
E com a carência, veio a saudade do casamento antigo, que me assaltava ao dormir, em sonhos nostálgicos. Saudades da segurança, do saber com o que podia contar, do conhecimento, da solidez. De alguma previsibilidade.
Uma manhã, acordei e tentei voltar para os seus braços. Não aguentei, pus o rabo entre as pernas e tentei voltar para os seus braços. Ele prometeu-me pensar. E eu aguardo...
...
... E enquanto aguardo, o segundo amor, lindo, quente, perfumado, jovem, fresco, criativo, cheio de novidade, voltou a assaltar-me os sonhos, inquietando-me, acalorando-me, deixando-me cheia de pena de que tudo tenha terminado assim para nós. Mas terá mesmo terminado? Sim, acho que sim. O meu coração diz que sim. Agora ainda dói, e doerá durante algum tempo, mas sei que acabará por sucumbir. E um dia, também para mim, será fumo, uma mão-cheia de nada, uma memória distante, uma brincadeira que foi divertida enquanto durou.
E direi a mim mesma: cresci. Agora, sou mesmo uma mulher adulta.
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