quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dois amores

Um é um casamento antigo: continua charmoso e razoavelmente divertido. Já cultiva uma barriguinha saliente, fruto da acomodação, do tomar tudo por certo. Traz o conforto dos amores velhos, a previsibilidade, o saber que nada mudará daqui até ao infinito.

O outro chegou de rompante, rasgando tudo, lindo, jovem, fresco, cheio de genica, com muito calor. Fez-me desistir de tudo: num primeiro e breve momento, aos poucos, e depois foi mesmo mandar tudo pelos ares. Uma paixão tardia, como já julgava não encontrar na minha vida. E com as paixões tardias, chega a ansiedade. Ainda por cima porque este outro amor é instável. Prometeu-me tudo no princípio: teria o melhor dos dois mundos. Mas como todo bom amante, mentia com quantos dentes tinha, e o seu sorriso era devastador e abalava o meu mundo.

Mesmo assim, preferi-o. Preferi-o com todas as forças que tinha, por acreditar que tanta paixão só pode valer a pena. Mas ele era cada vez mais errático, cada vez mais vago, mais rarefeito. A paixão começava a arrefecer, embora eu negasse com todas as minhas forças. Mas que paixão sobrevive com uma mão-cheia de nada, só fumo? Já não tenho 15 anos.

E a carência instalou-se.

E com a carência, veio a saudade do casamento antigo, que me assaltava ao dormir, em sonhos nostálgicos. Saudades da segurança, do saber com o que podia contar, do conhecimento, da solidez. De alguma previsibilidade.

Uma manhã, acordei e tentei voltar para os seus braços. Não aguentei, pus o rabo entre as pernas e tentei voltar para os seus braços. Ele prometeu-me pensar. E eu aguardo...

...

... E enquanto aguardo, o segundo amor, lindo, quente, perfumado, jovem, fresco, criativo, cheio de novidade, voltou a assaltar-me os sonhos, inquietando-me, acalorando-me, deixando-me cheia de pena de que tudo tenha terminado assim para nós. Mas terá mesmo terminado? Sim, acho que sim. O meu coração diz que sim. Agora ainda dói, e doerá durante algum tempo, mas sei que acabará por sucumbir. E um dia, também para mim, será fumo, uma mão-cheia de nada, uma memória distante, uma brincadeira que foi divertida enquanto durou.

E direi a mim mesma: cresci. Agora, sou mesmo uma mulher adulta.

4 comentários:

Precis Almana disse...

Não percebi nada. Ou suspeito (trabalho, emprego, etc.), mas torço por ti e importa-me que estejas bem.

Melissa disse...

Suspeitas bem :) beijinhos!

Carla R. disse...

Bolas, e eu a pensar em automoveis. Burra, burra.

Melissa disse...

Carros, capotada? Haaa. Detesto conduzir. Conduzo, mas detesto. Carro, para mim, basta ter quatro rodas e gastar pouco (vê lá o desapego, tinha escrito duas rodas).