sexta-feira, 17 de abril de 2009

Passeios interdimensionais

Há dois dias saí sozinha e fui parar a um dos sítios que mais gosto de Lisboa - o Martim Moniz. Fico doida com aquela panóplia de gente de todas as cores a berrar em todas as línguas uns com os outros, com bebés de todas as cores a dormir sobre pilhas de roupa embalada, adolescentes de todas as cores a ouvir música de todas as cores. É delicioso. Lembrei-me de quando lá fui a última vez com o Hugo, em busca de filmes indianos. O vendedor da loja estendeu uns 15 sobre o balcão e pôs-se a explicar:
- Este é para rir bué. Este, para chorar bué. Este, rir bué. Este, chorar bué.

Trouxemos um para rir bué e outro para chorar bué, mas não notámos diferença alguma.

Quando lá vou, lembro-me sempre da minha mãe, rainha da pechincha, que era o único ser lusófono a subir ao 5º andar do Centro Comercial da Mouraria para irritar chineses a regatear em português bem gesticulado. Sentia-se tão bem ali como no Colombo, talvez até melhor. O Martim Moniz tem o seu quê de Mercado Central de Fortaleza, com os seus cheiros mornos a renda de bilro e doce de caju.

Há dois dias fui, como sempre, ao minimercado indiano. E surpresa das surpresas, havia lá sapoti. Perguntei à senhora se aquilo era mesmo sapoti e ela lá disse como a fruta se chamava na terra dela. Mas era sapoti, igual ao sapoti dos quintais da minha infância, mesmo tendo vindo do outro lado do mundo. O cheiro daquele sapoti indiano mandou-me directamente para a bastante sul-americana varanda minha avó, fresca e segura, onde as grandes mulheres da minha vida, todas tão longe agora, se sentavam ao fim da tarde.
(lembram-se do crítico gastronómico do Ratatuille?)

É a magia do Martim Moniz sobre mim, a minha Oz em Lisboa.

6 comentários:

R disse...

Pois Melissinha eu sou o contrário de ti. Não gosto do Martim Moniz, acho uma zona feia. Há anos que não passo por lá.
Mas se tivesse que comprar produtos indianos se calhar seria o melhor local.
Beijinhos para ti e para o teu bébé.

Mel disse...

olá
há uns dias que sigo o teu blog e hoje decidi comentar por uma simples razão, segui o link do regateio e sorri, pelo relato e pelo nome da tua mãe...igual a meu
bjinhos

Ana C. disse...

Melissa acho espantoso que tenhas encontrado um bocadinho dos teus lugares de vida no Martim Moniz, a sério que acho. Só mesmo tu!!!!
Se tivesse que escolher uma zona de Lisboa, essa estaria bem no fim da lista. Sempre que passo por lá meto prego a fundo...
Mas adorei a tua descrição e só por ela talvez desacelere da próxima vez que passar por lá :)

Melissa disse...

O Martim Moniz só é feio por fora, tem uma alma de ouro.
Há que lhe dar uma hipótese! :)

Melissa disse...

Immortal, Melânia é um nome tão doce... não o pronuncio em voz alta há alguns anos, acho eu, mas até pensá-lo é uma melodia.

A minha avó deu-o à minha mãe por causa de E Tudo o Vento Levou, o seu filme preferido - um dos meus também, a propósito.

O padre não aceitou baptizar uma menina só Melânia, coisa pouco cristã, e a solução passou por lhe enfiarem um Maria também.

Mel disse...

há uns meses tive uma aluna que me disse que a irmã se chamava Maria Melânia, precisamente...
é daquelas coisas
a mim deixaram baptizar assim, achando que os meus pais eram malucos, mas o registo não aceitava Melanie, durante muitos anos senti-me sozinha, afinal não estava :)
bjinhos