quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crime e castigo

Aí há uns meses, e a propósito de um conhecido escândalo da blogosfera sobre uma blogger que defendeu uma grande amiga até às últimas até se provar que a tal amiga matara o ex-namorado. Até aí tudo bem, faria o mesmo por uma amiga minha - quem é que acredita que andou nos copos ou a chorar no ombro de uma assassina, certo? O que me lixou a cabeça foi, depois de a tal blogger se ter exposto daquela forma enquanto a outra lhe mentia descaradamente, a blogger continuou a considerá-la a sua melhor amiga, e foi dar-lhe beijinhos e abracinhos à prisa e tudo.

Como é habitual, conversei com a amiga Carla, que, como quase toda a gente, é mais moderada e menos apoquentada do que eu. E ela perguntou-me: "mas então deixarias lá o teu amigo?" E eu: "obviamente que sim". Premeditar a morte de alguém separa o homem da besta, e não sou os Direitos Universais do Homem, sou só a Melissa. Um assassinato premeditado não é coisa de gente, é demoníaco e sim, o meu amigo deixaria de existir - não garanto que instantaneamente, era coisa para levar o seu tempo e o seu luto, mas, para mim, era a atitude moral a tomar.

(Agora vocês estão à espera que eu diga que descobri que a Carla é uma assassina e que afinal lhe levo tabaco à cadeia todas as quartas-feiras. Não, moços, infelizmente a minha vida não é tão rocambolesca e a Carla ficou ali no parágrafo anterior mesmo, sendo a boa amiga moderada e equilibrada que sempre foi, e eu continuo com a minha moral intacta).

Mas supondo que a Carla fizesse mesmo isso. Supondo que a Carla fizesse mesmo o que separa os homens dos demónios. Eu iria mesmo esquecer-me do que ela tinha sido antes? Iria enterrá-la em vida, como é, e é mesmo, o que acho correcto moralmente? Pensei nisso durante muito tempo depois da tal conversa.

Quando já tinha deixado de pensar, vi a tal manifestação de apoio ao puto do saca-rolhas à porta da igreja lá da terra dele, e os amigos a darem todo o tipo de explicações para o inexplicável. E não consegui condená-los tão instantaneamente como gostaria.

É que perder um amigo é mesmo lixado, caramba.

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