Um dia, em julho, tirei a aliança para fazer qualquer coisa e reparei na enorme marca do sol, ali. Como as marquinhas que se fazem nas lajes brasileiras - MEU SONHO -, fincada, definida, aperfeiçoada por anos de estabilidade ali na base do anelar, sem grandes escorreganços, a fazer um calo muito sólido porque mão gorducha.
E pensei para mim: não. Não, isto não está bem. Esta marca está errada, linhas rígidas e o (nosso) casamento é tudo menos isso. Se o bronze aliâncico refletisse a nossa vida, a minha mão esquerda seria uma onça pintada, círculos vários de uma aliança viva, sempre a mudar de dedo, como as marcas dos muitos sutiãs de biquíni que usamos no verão, tudo ali a cruzar padrões na pele e a contar tudo o que se passou.
Então tirei-a. Poucos dias depois, tinha um dedo perfeitamente solteiro, todo da mesma cor (azamiga da juventude diziam: a primeira coisa a olhar num homem é a mão esquerda, procurem a marquinha e identifiquem cafajestes.)
Hoje a minha mão esquerda só a mim pertence e nada diz.
Falei disso a uma amiga e disse-lhe: sim, sinto-me nua sem a aliança, mas é nua que quero estar.
Ao lado da do casamento, duas meias-alianças juntas: uma de platina e diamantes que o meu pai ofereceu à minha mãe na gravidez do Fernando e que esta me ofereceu quando fiz 18 anos e outra de ouro com esmeraldas que o pai me ofereceu aos 21. Estão todas guardadas, não fiquei com nenhuma.
O Hugo usa a aliança dele normalmente, não é um assunto, 18 anos depois e os papéis dramáticos continuam a ser meus.
7 comentários:
Que marquinhas em laje são essas?
também cansei do instagram a sério, desinstalei aplicativo e tudo. fico muito feliz por poder te acompanhar em bloco de notas ou MS Word, em vez de PowerPoint :)
Aqueles bronzes com fita-cola à beira da piscina :)
Quem és tu, desconhecido?
Melissa, tu és a deusa da escrita nua!
Oh Rita :)
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