terça-feira, 29 de setembro de 2020

Alianças

 Um dia, em julho, tirei a aliança para fazer qualquer coisa e reparei na enorme marca do sol, ali. Como as marquinhas que se fazem nas lajes brasileiras - MEU SONHO -, fincada, definida, aperfeiçoada por anos de estabilidade ali na base do anelar, sem grandes escorreganços, a fazer um calo muito sólido porque mão gorducha.

E pensei para mim: não. Não, isto não está bem. Esta marca está errada, linhas rígidas e o (nosso) casamento é tudo menos isso. Se o bronze aliâncico refletisse a nossa vida,  a minha mão esquerda seria uma onça pintada, círculos vários de uma aliança viva, sempre a mudar de dedo, como as marcas dos muitos sutiãs de biquíni que usamos no verão, tudo ali a cruzar padrões na pele e a contar tudo o que se passou.

Então tirei-a. Poucos dias depois, tinha um dedo perfeitamente solteiro, todo da mesma cor (azamiga da juventude diziam: a primeira coisa a olhar num homem é a mão esquerda, procurem a marquinha e identifiquem cafajestes.) 

Hoje a minha mão esquerda só a mim pertence e nada diz. 

Falei disso a uma amiga e disse-lhe: sim, sinto-me nua sem a aliança, mas é nua que quero estar.

Ao lado da do casamento, duas meias-alianças juntas:  uma de platina e diamantes que o meu pai ofereceu à minha mãe na gravidez do Fernando e que esta me ofereceu quando fiz 18 anos e outra de ouro com esmeraldas que o pai me ofereceu aos 21. Estão todas guardadas, não fiquei com nenhuma.

O Hugo usa a aliança dele normalmente, não é um assunto, 18 anos depois e os papéis dramáticos continuam a ser meus.

7 comentários:

Julia disse...

Que marquinhas em laje são essas?

Unknown disse...

também cansei do instagram a sério, desinstalei aplicativo e tudo. fico muito feliz por poder te acompanhar em bloco de notas ou MS Word, em vez de PowerPoint :)

Melissa disse...

Aqueles bronzes com fita-cola à beira da piscina :)

Melissa disse...

Quem és tu, desconhecido?

Rita Quintela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Quintela disse...

Melissa, tu és a deusa da escrita nua!

Melissa disse...

Oh Rita :)