sábado, 31 de dezembro de 2011
Taking the Leap
Já que o ano vai ser de dureza, que tal dar uma de "morto por cem, morto por mil" e dar o salto, seja que salto for? É a minha sugestão de menu para a noite de hoje: pensar o sonho, pensar no primeiro passo em direção ao precipício.
Um 2012 de Louco para todos, é o que desejo.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Coisas que não escrevi em 2011
Adoraria ter a capacidade de desenvolver temas organizada e inteligentemente como alguns bloggers que por aqui andam, mas é difícil! Cada vez sou pior a encadear pensamentos, sai tudo sempre muito caótico e palavroso e emotivo demais. Autodiagnostiquei-me com um leve ADD (com a ajuda da Internet).
Enfim, queria ter escrito sobre uma série de coisas que não escrevi (por N razões), e deixo aqui algumas delas. Pensei e não escrevi
- Sobre coisas que eu dizia enquanto não era mãe e que caíram por terra.
- Sobre a delicadeza que, num segundo casamento, a pessoa que chega deve ter para não desequilibrar a dinâmica familiar (e não se tornar odiada).
- Sobre a dureza da reprogramação mental depois de uma perda, por mais pontos finais que coloquemos ao luto.
- Sobre inspiração, de onde ela vem.
- Sobre quem eu e o Hugo éramos quando nos conhecemos.
- Sobre algumas coisas feias que não consigo evitar sentir.
- Sobre o ginásio em que ando agora, que adoro e que é diferente de todos os outros em que já andei.
- Sobre o aceitar o lado negro das pessoas e aprender onde pôr o limite.
- Sobre o café do Manel.
Enfim, queria ter escrito sobre uma série de coisas que não escrevi (por N razões), e deixo aqui algumas delas. Pensei e não escrevi
- Sobre coisas que eu dizia enquanto não era mãe e que caíram por terra.
- Sobre a delicadeza que, num segundo casamento, a pessoa que chega deve ter para não desequilibrar a dinâmica familiar (e não se tornar odiada).
- Sobre a dureza da reprogramação mental depois de uma perda, por mais pontos finais que coloquemos ao luto.
- Sobre inspiração, de onde ela vem.
- Sobre quem eu e o Hugo éramos quando nos conhecemos.
- Sobre algumas coisas feias que não consigo evitar sentir.
- Sobre o ginásio em que ando agora, que adoro e que é diferente de todos os outros em que já andei.
- Sobre o aceitar o lado negro das pessoas e aprender onde pôr o limite.
- Sobre o café do Manel.
Os melhores do ano
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Bebegugrafia - 3
Bem, agora que se aproxima a tua grande apresentação ao mundo, a tua mãe padece de dores. A culpa aparentemente é tua que andas lá dentro dum lado para o outro a abalroar tudo o que consegues. Os ossos, o estômago, os rins, os intestinos e os dentes, embora desconfie que a dor que a tua mãe tem neles não seja responsabilidade tua, mas já que existes, é bom ter um bode expiatório para os males que surgem na família.
Estamos um bocado ansiosos com a chegada e o nosso coração bate mais depressa. Podes ficar descansado, no entanto, que já te comprámos tudo. Nem te passa pela cabeça a tralha que entrou em casa. Não temos espaço para mais nada e andamos desejosos que cresças para vendermos as tuas coisas de bebé cheio de peneiras a futuros pais. Só em roupa deves possuir, sem querer exagerar, mais peças que o teu pai e a tua mãe juntos. E olha que a tua mãe…
Aos poucos lá vamos percebendo que a nossa vida vai mudar mesmo imenso. A tua também, não penses que vais estar aí no fofinho e quentinho o resto dos dias e, aviso-te já que, se a temperatura cá fora continuar assim, vais passar por um mau bocado, isto apesar da carrada de aquecedores Becken que comprámos na Worten a 34,95 euros cada.
Uma informação importante para ti é que o teu pai e a tua mãe são doidos por cinema. Convém que saibas já isso porque a determinada altura da tua vida vais tomar consciência de seres depositado aleatoriamente em casa de amigos e familiares por 3 horas para que os teus queridos progenitores possam ver um filme ou outro. Era bom que não lhes desses muito trabalho nessas ocasiões.
Só para tu veres a vida dos teus pais a mudar, ontem, enquanto víamos as apresentações de filmes antes da nova fita do mestre Eastwood, os namorados enroscavam-se e diziam despreocupados uns aos outros, Oh amor temos de ver este, Oh querida este é que deve ser bom.
O teu pai e a tua mão pegaram na barriga que é a tua actual casota e comentaram:
- Achas que ainda conseguimos ver este?
- Hum…Parece-me que este tem de ser no Blockbuster...
19/01/09
Estamos um bocado ansiosos com a chegada e o nosso coração bate mais depressa. Podes ficar descansado, no entanto, que já te comprámos tudo. Nem te passa pela cabeça a tralha que entrou em casa. Não temos espaço para mais nada e andamos desejosos que cresças para vendermos as tuas coisas de bebé cheio de peneiras a futuros pais. Só em roupa deves possuir, sem querer exagerar, mais peças que o teu pai e a tua mãe juntos. E olha que a tua mãe…
Aos poucos lá vamos percebendo que a nossa vida vai mudar mesmo imenso. A tua também, não penses que vais estar aí no fofinho e quentinho o resto dos dias e, aviso-te já que, se a temperatura cá fora continuar assim, vais passar por um mau bocado, isto apesar da carrada de aquecedores Becken que comprámos na Worten a 34,95 euros cada.
Uma informação importante para ti é que o teu pai e a tua mãe são doidos por cinema. Convém que saibas já isso porque a determinada altura da tua vida vais tomar consciência de seres depositado aleatoriamente em casa de amigos e familiares por 3 horas para que os teus queridos progenitores possam ver um filme ou outro. Era bom que não lhes desses muito trabalho nessas ocasiões.
Só para tu veres a vida dos teus pais a mudar, ontem, enquanto víamos as apresentações de filmes antes da nova fita do mestre Eastwood, os namorados enroscavam-se e diziam despreocupados uns aos outros, Oh amor temos de ver este, Oh querida este é que deve ser bom.
O teu pai e a tua mão pegaram na barriga que é a tua actual casota e comentaram:
- Achas que ainda conseguimos ver este?
- Hum…Parece-me que este tem de ser no Blockbuster...
19/01/09
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Bebegugrafia - O maior
A tua prima Adriana nasceu no dia em que o Benfica venceu o Sporting por um zero, depois dum voo glorioso do Luisão que cabeceou a bola para dentro da baliza enquanto o Ricardo, Guarda-redes do Sporting na altura, se queixava duma falta. Gesticulou e gritou com vigor com todos os que lhe apareceram à frente até ficar sem voz com a gritaria e, por fim, percebendo que o árbitro não ia voltar atrás na decisão, lá foi para a baliza amuado e desgostoso com o futebol português. Se estivéssemos numa escola primária e a bola fosse dele, acabava com a jogatana logo ali.
Se foi falta ou não, não sei. Nos programas de televisão da semana seguinte discutiu-se muito e como sempre nestes casos, os adeptos do Sporting defenderam a falta e os do Benfica apregoavam a legalidade do lance. O Ricardo telefonou para todos os debates que pôde a dar a sua opinião, que não foi frango nenhum e que foi abalroado pelo gigante defesa benfiquista. Chegou a jurar por todos os santos, numa voz abatida e magoada dum menino de 5 anos a quem não lhe foi feita uma vontade, que a culpa não foi dele. Que a verdade desportiva foi vilipendiada mais uma vez e com claros prejuízos para o emblema de Alvalade.
O Benfica foi campeão nesse ano, era treinador o Trapattoni, e dentro da nossa família é evocada a efeméride sempre que se recorda a azáfama do dia do seu nascimento, normalmente nos jantares de Natal. Por isso, esse acontecimento vai estar sempre presente na vida da Adriana. Quando nasceu, o Benfica ganhou ao Sporting e foi campeão umas semanas depois. E olha que já não ganhávamos há 13 anos. Grande Adriana!
Isto para te dizer que no próximo Sábado, quando nasceres, também vai ser dia de Derby. Claro que isso implica que, contigo por perto, o teu pai não se vá pôr beber cerveja como um animal, nem chamar nomes maldosos ao árbitro. Não te quero dar um mau exemplo logo na primeira noite. Se estiveres acordado na altura, o que duvido, irás ver um progenitor calmo, consciente das suas funções e bastante civilizado quando confrontado com as vicissitudes normais duma transmissão futebolística. Poderás respirar de alívio face ao que te calhou em sorte.
Mas gostava que a tua vinda ao mundo seja marcada, tal como a Adriana, por uma boa notícia. Eu nem sequer me vou importar muito com o clube que escolheres. Para mim é-me igual ao litro. Prometi não me imiscuir nesse procedimento e, se queres que te diga, vou cumprir a promessa. O teu Avó, o meu pai, teve sempre uma atitude cool nesse assunto. Não se meteu e acabei por ser do clube rival. Mas o problema resolveu-se, levava-me aos jogos do Oriental. Se fores Sporting ou Porto levo-te aos jogos do Olivais e Moscavide que sempre são mais baratos. Pronto, está decidido. Mas duvido que tal venha a acontecer, o meu padrinho, o Pedro, já fez saber que não vai descansar enquanto não disseres a palavra mágica. Leve o tempo que demorar.
A tua prima Adriana, por exemplo, foi desde cedo ensinada a dizer Benfica sempre que ouvisse a pergunta “Quem é o maior?” E olha que nunca se enganava quando espicaçada para a habilidade.
Um dia, estava eu em amena cavaqueira com ela, tentando perceber a esperteza da miúda e no meio da averiguação pergunto-lhe quem era o maior, se a Girafa se o cão. A resposta veio na ponta da língua:
- O Benfica!
Se foi falta ou não, não sei. Nos programas de televisão da semana seguinte discutiu-se muito e como sempre nestes casos, os adeptos do Sporting defenderam a falta e os do Benfica apregoavam a legalidade do lance. O Ricardo telefonou para todos os debates que pôde a dar a sua opinião, que não foi frango nenhum e que foi abalroado pelo gigante defesa benfiquista. Chegou a jurar por todos os santos, numa voz abatida e magoada dum menino de 5 anos a quem não lhe foi feita uma vontade, que a culpa não foi dele. Que a verdade desportiva foi vilipendiada mais uma vez e com claros prejuízos para o emblema de Alvalade.
O Benfica foi campeão nesse ano, era treinador o Trapattoni, e dentro da nossa família é evocada a efeméride sempre que se recorda a azáfama do dia do seu nascimento, normalmente nos jantares de Natal. Por isso, esse acontecimento vai estar sempre presente na vida da Adriana. Quando nasceu, o Benfica ganhou ao Sporting e foi campeão umas semanas depois. E olha que já não ganhávamos há 13 anos. Grande Adriana!
Isto para te dizer que no próximo Sábado, quando nasceres, também vai ser dia de Derby. Claro que isso implica que, contigo por perto, o teu pai não se vá pôr beber cerveja como um animal, nem chamar nomes maldosos ao árbitro. Não te quero dar um mau exemplo logo na primeira noite. Se estiveres acordado na altura, o que duvido, irás ver um progenitor calmo, consciente das suas funções e bastante civilizado quando confrontado com as vicissitudes normais duma transmissão futebolística. Poderás respirar de alívio face ao que te calhou em sorte.
Mas gostava que a tua vinda ao mundo seja marcada, tal como a Adriana, por uma boa notícia. Eu nem sequer me vou importar muito com o clube que escolheres. Para mim é-me igual ao litro. Prometi não me imiscuir nesse procedimento e, se queres que te diga, vou cumprir a promessa. O teu Avó, o meu pai, teve sempre uma atitude cool nesse assunto. Não se meteu e acabei por ser do clube rival. Mas o problema resolveu-se, levava-me aos jogos do Oriental. Se fores Sporting ou Porto levo-te aos jogos do Olivais e Moscavide que sempre são mais baratos. Pronto, está decidido. Mas duvido que tal venha a acontecer, o meu padrinho, o Pedro, já fez saber que não vai descansar enquanto não disseres a palavra mágica. Leve o tempo que demorar.
A tua prima Adriana, por exemplo, foi desde cedo ensinada a dizer Benfica sempre que ouvisse a pergunta “Quem é o maior?” E olha que nunca se enganava quando espicaçada para a habilidade.
Um dia, estava eu em amena cavaqueira com ela, tentando perceber a esperteza da miúda e no meio da averiguação pergunto-lhe quem era o maior, se a Girafa se o cão. A resposta veio na ponta da língua:
- O Benfica!
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Bebegugrafia - os anos do Metal
Os anos do Metal foram talvez aqueles em que o teu pai se sentiu mais feliz em toda a sua vida. Não pretendo com isto desfazer do teu nascimento nem das emoções que senti com ele, mas a verdade é que a felicidade, pelo menos para mim, sempre esteve inversamente proporcional à responsabilidade que uma pessoa possa assumir para si própria. Estou convicto que nada é melhor nesta vida do que não ter que pagar hipotecas a bancos estropiados, não trabalhar uma única hora ou poder ter a liberdade de evitar fazer compras Sábado de manhã num hipermercado apinhado de gente infeliz.
Seja como for, o conceito de responsabilidade como deves talvez imaginar, era coisa que não fazia parte do meu juízo quando tinha os meus 14 anos. As únicas coisas que realmente os meus pais me exigiam eram que passasse de ano e não rompesse as calças nos joelhos a jogar à bola. Hoje, aos 36 anos, este grau de exigência até me faz sorrir enternecido, mas na altura, confesso, tanto uma condição como outra eram bastante difíceis de cumprir.
Foi então que, no meio deste idílio vivencial, nos finais dos anos 80, que o teu pai começou a ouvir a música que todos os rapazes dos subúrbios ouviam na altura. Era o chamado Heavy Metal que simbolizava, para todos nós que o sentíamos, a afirmação duma certa individualidade não só perante os nossos pais mas, também e essencialmente, perante uma sociedade que se preparava para nos começar a cobrar comportamentos e condutas que não estávamos muito interessados em seguir.
Imbuído neste espírito contestatário, comecei a detestar todos os artistas que não se vestissem de preto, não tivessem cabelo cumprido ou cujo aspecto não fosse assim a dar para o ameaçador. O Heavy Metal era uma música feita por chungas para chungas e convenhamos, agora que passaram 20 anos, o teu pai não era propriamente um beto da linha de Cascais.
O primeiro grupo que comecei a gostar foi, claro, dos Iron Maiden. Todos os dias alguém levava um álbum deles para a escola e emprestava-o ao seu semelhante. O dono do disco era sempre um homem tido em grande conta e possuir um exemplar dos Iron Maiden era um símbolo de status quo nada negligenciável. Claro que em contrapartida o vinil andava a rondar pela turma toda e quando chegava às mãos do dono, presumo que não viesse nas melhores condições, mas isso, como os jornalistas gostam de chamar, era assunto tabu. Apesar de 1988 terem lançado o Seventh Son of a Seventh Son, um disco baseado num livro de Orson Scott Card sobre uma criança com poderes de vidência, era o mítico Somewere in Time, lançado em 86, que tinha mais êxito entre os putos. A explicação é simples. Além de ser um disco melhor, embora seja apenas a minha opinião baseada no meu gosto que tanto na altura como hoje não é de fiar, a capa dele era absolutamente fantástica. Nela via-se o Eddie (a mascote ameaçadora do grupo) de pistola de lazer na mão a passear pelas ruas de Londres num futuro longínquo. Era impossível aos 14 anos não se ficar vidrado naquele desenho e a desejar, não só, ter o disco, como também formar logo a seguir uma banda de Heavy Metal. Este foi o primeiro álbum que ouvi dos Iron Maiden e também deste estilo musical. Fiquei fascinado, claro, e aqueles solos da guitarra do Adrian Smith ou do Dave Murray mexiam comigo e, quanto mais alto os ouvia, mais louco ficava. Abanava a cabeça com força e tocava na guitarra imaginária imitando, na medida do possível, as posições do solo. Era um orgasmo performativo purificador para mim mas um motivo de preocupação para a minha mãe que passava os dias a trabalhar para me proporcionar algum futuro. Mantenho o sonho de ver um espectáculo deles ao vivo um dia destes. Os Iron Maiden para os machos com mais de 32 anos e suburbanos foram os Rolling Stones dos anos 70 e todos eles conseguem cantar de fio a pavio músicas intemporais como o Wasted Years ou o Stranger in a Stranger Land ou mesmo a reconhecer de imediato o solo melancólico inicial do Alexander the Great.
Mas nem só de Iron Maiden vivia o som pesado.
Mais rudes e sujos eram os grandes Manowar. Em 1988 lançaram o seu melhor disco de sempre, Kings of Metal. A grande potencialidade dos Manowar residia no ambiente gótico que conseguiam criar em todas as músicas. As suas canções estavam pejadas de reis que perseguiam o seu destino percorrendo o tortuoso caminho que os levava ao trono lado a lado com a morte, com as mulheres e a fiel espada cujo aço era normalmente lambido a sangue dos inimigos. Por outro lado havia uma analogia interessante entre o cavalo, o ferro das espadas e as Harley Davidson o que os tornava bastante populares entre os motoqueiros. Não era de estranhar que algumas músicas começassem com sons de batalhas, motores a acelarar e gemidos femininos de prazer. Um dos pormenores interessantes do grupo era que todos os elementos rapavam os pêlos do peito o que lhes dava um ar asseadinho nas fotografias que normalmente víamos nas páginas dedicadas ao rock pesado da revista alemã Bravo. Como vês, razões de interesse eram o que não faltavam a estes senhores que se vestiam de cabedal. Em relação à indumentária que se usava entre os metaleiros o teu pai, por muita pena dele, nunca seguiu a tendência. É que os teus avós não me deixavam usar ganga apertada, pulseiras de caveiras, botas ténis e muito menos o cabelo cumprido. No entanto, e é muito importante frisar isto porque ainda hoje tenho orgulho nisso, o teu pai era o único puto a usar uma cruz de Cristo invertida feita com crachás de bandas de heavy metal. Claro que só formava a peça após sair de casa para não ser repreendido, mas recebia muitos olhares de aprovação dos meus semelhantes e isso fez crescer sobre a minha pessoa uma aura de mistério que muito me agradava. Repara que, tal como agora, o teu pai teve sempre um aspecto jovem e naquela idade tinha um físico dum garoto de 11 anos. Olhar para mim com aquela crucifixo invertido ao peito deveria ser um espectáculo algo macabro para os transeuntes. Mas enfim, a necessidade de afirmação tinha de ser preenchida de alguma forma.
De entre todos os artistas da pesada que apareceram, destacaram-se os Metallica. Talvez sejam aqueles que ainda preservam a fama embora, infelizmente para os fãs da velha guarda, pelas piores razões. Mas a honra de terem feito o melhor disco de Heavy Metal de todos os tempos ninguém a pode tirar. Chama-se …and justice for all e é um portento eléctrico. Foi graças a ele que o teu pai começou a ter a panca de escrever a palavra MetallicA em todos os cadernos e em todas as mesas em que se sentava na escola. Era lindo e reconfortante prolongar a perna do “M” e a do “A” como na capa dos discos. Devo-te dizer que graças a este disco comecei a ter uma sensibilidade musical mais apurada que me permitiu, aliás, descobrir novas sonoridades e novos projectos fora do circuito mainstream das rádios da moda. …and justice for all é uma orquestração esplendorosa onde todos os instrumentos se encaixam como uma sinfonia. O disco em questão é ouvido amiúde no meu MP3 e digo-te que é dos poucos que me faz bater o pé e abanar a cabeça nos transportes públicos e um dos melhores discos que ouvi em toda a minha vida.
Apesar de tudo havia uma certa incongruência na minha existência de então que tenho de confessar aqui publicamente. É que apesar de venerar os Iron Maiden, os Manowar ou os Metallica, ouvia às escondidas os Wham e todas as semanas via o Top Gun que foi o filme que, de longe, mais vi até hoje. Qualquer dia tenho de te escrever também sobre estes dois marcos da minha história.
Seja como for, o conceito de responsabilidade como deves talvez imaginar, era coisa que não fazia parte do meu juízo quando tinha os meus 14 anos. As únicas coisas que realmente os meus pais me exigiam eram que passasse de ano e não rompesse as calças nos joelhos a jogar à bola. Hoje, aos 36 anos, este grau de exigência até me faz sorrir enternecido, mas na altura, confesso, tanto uma condição como outra eram bastante difíceis de cumprir.
Foi então que, no meio deste idílio vivencial, nos finais dos anos 80, que o teu pai começou a ouvir a música que todos os rapazes dos subúrbios ouviam na altura. Era o chamado Heavy Metal que simbolizava, para todos nós que o sentíamos, a afirmação duma certa individualidade não só perante os nossos pais mas, também e essencialmente, perante uma sociedade que se preparava para nos começar a cobrar comportamentos e condutas que não estávamos muito interessados em seguir.
Imbuído neste espírito contestatário, comecei a detestar todos os artistas que não se vestissem de preto, não tivessem cabelo cumprido ou cujo aspecto não fosse assim a dar para o ameaçador. O Heavy Metal era uma música feita por chungas para chungas e convenhamos, agora que passaram 20 anos, o teu pai não era propriamente um beto da linha de Cascais.
O primeiro grupo que comecei a gostar foi, claro, dos Iron Maiden. Todos os dias alguém levava um álbum deles para a escola e emprestava-o ao seu semelhante. O dono do disco era sempre um homem tido em grande conta e possuir um exemplar dos Iron Maiden era um símbolo de status quo nada negligenciável. Claro que em contrapartida o vinil andava a rondar pela turma toda e quando chegava às mãos do dono, presumo que não viesse nas melhores condições, mas isso, como os jornalistas gostam de chamar, era assunto tabu. Apesar de 1988 terem lançado o Seventh Son of a Seventh Son, um disco baseado num livro de Orson Scott Card sobre uma criança com poderes de vidência, era o mítico Somewere in Time, lançado em 86, que tinha mais êxito entre os putos. A explicação é simples. Além de ser um disco melhor, embora seja apenas a minha opinião baseada no meu gosto que tanto na altura como hoje não é de fiar, a capa dele era absolutamente fantástica. Nela via-se o Eddie (a mascote ameaçadora do grupo) de pistola de lazer na mão a passear pelas ruas de Londres num futuro longínquo. Era impossível aos 14 anos não se ficar vidrado naquele desenho e a desejar, não só, ter o disco, como também formar logo a seguir uma banda de Heavy Metal. Este foi o primeiro álbum que ouvi dos Iron Maiden e também deste estilo musical. Fiquei fascinado, claro, e aqueles solos da guitarra do Adrian Smith ou do Dave Murray mexiam comigo e, quanto mais alto os ouvia, mais louco ficava. Abanava a cabeça com força e tocava na guitarra imaginária imitando, na medida do possível, as posições do solo. Era um orgasmo performativo purificador para mim mas um motivo de preocupação para a minha mãe que passava os dias a trabalhar para me proporcionar algum futuro. Mantenho o sonho de ver um espectáculo deles ao vivo um dia destes. Os Iron Maiden para os machos com mais de 32 anos e suburbanos foram os Rolling Stones dos anos 70 e todos eles conseguem cantar de fio a pavio músicas intemporais como o Wasted Years ou o Stranger in a Stranger Land ou mesmo a reconhecer de imediato o solo melancólico inicial do Alexander the Great.
Mas nem só de Iron Maiden vivia o som pesado.
Mais rudes e sujos eram os grandes Manowar. Em 1988 lançaram o seu melhor disco de sempre, Kings of Metal. A grande potencialidade dos Manowar residia no ambiente gótico que conseguiam criar em todas as músicas. As suas canções estavam pejadas de reis que perseguiam o seu destino percorrendo o tortuoso caminho que os levava ao trono lado a lado com a morte, com as mulheres e a fiel espada cujo aço era normalmente lambido a sangue dos inimigos. Por outro lado havia uma analogia interessante entre o cavalo, o ferro das espadas e as Harley Davidson o que os tornava bastante populares entre os motoqueiros. Não era de estranhar que algumas músicas começassem com sons de batalhas, motores a acelarar e gemidos femininos de prazer. Um dos pormenores interessantes do grupo era que todos os elementos rapavam os pêlos do peito o que lhes dava um ar asseadinho nas fotografias que normalmente víamos nas páginas dedicadas ao rock pesado da revista alemã Bravo. Como vês, razões de interesse eram o que não faltavam a estes senhores que se vestiam de cabedal. Em relação à indumentária que se usava entre os metaleiros o teu pai, por muita pena dele, nunca seguiu a tendência. É que os teus avós não me deixavam usar ganga apertada, pulseiras de caveiras, botas ténis e muito menos o cabelo cumprido. No entanto, e é muito importante frisar isto porque ainda hoje tenho orgulho nisso, o teu pai era o único puto a usar uma cruz de Cristo invertida feita com crachás de bandas de heavy metal. Claro que só formava a peça após sair de casa para não ser repreendido, mas recebia muitos olhares de aprovação dos meus semelhantes e isso fez crescer sobre a minha pessoa uma aura de mistério que muito me agradava. Repara que, tal como agora, o teu pai teve sempre um aspecto jovem e naquela idade tinha um físico dum garoto de 11 anos. Olhar para mim com aquela crucifixo invertido ao peito deveria ser um espectáculo algo macabro para os transeuntes. Mas enfim, a necessidade de afirmação tinha de ser preenchida de alguma forma.
De entre todos os artistas da pesada que apareceram, destacaram-se os Metallica. Talvez sejam aqueles que ainda preservam a fama embora, infelizmente para os fãs da velha guarda, pelas piores razões. Mas a honra de terem feito o melhor disco de Heavy Metal de todos os tempos ninguém a pode tirar. Chama-se …and justice for all e é um portento eléctrico. Foi graças a ele que o teu pai começou a ter a panca de escrever a palavra MetallicA em todos os cadernos e em todas as mesas em que se sentava na escola. Era lindo e reconfortante prolongar a perna do “M” e a do “A” como na capa dos discos. Devo-te dizer que graças a este disco comecei a ter uma sensibilidade musical mais apurada que me permitiu, aliás, descobrir novas sonoridades e novos projectos fora do circuito mainstream das rádios da moda. …and justice for all é uma orquestração esplendorosa onde todos os instrumentos se encaixam como uma sinfonia. O disco em questão é ouvido amiúde no meu MP3 e digo-te que é dos poucos que me faz bater o pé e abanar a cabeça nos transportes públicos e um dos melhores discos que ouvi em toda a minha vida.
Apesar de tudo havia uma certa incongruência na minha existência de então que tenho de confessar aqui publicamente. É que apesar de venerar os Iron Maiden, os Manowar ou os Metallica, ouvia às escondidas os Wham e todas as semanas via o Top Gun que foi o filme que, de longe, mais vi até hoje. Qualquer dia tenho de te escrever também sobre estes dois marcos da minha história.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Bebegugrafia - 4 - dia do Pai
Algumas coisas que precisas de saber sobre ti no meu primeiro dia do pai:
Comes sempre de 3 em 3 horas, independentemente da quantidade de Mc Leite Nestlé que te tentarem enfiar pela goela abaixo. 180 minutos é a unidade de tempo pela qual a tua existência de bebé se rege. Nem mais nem menos. Por isso é que andas a engordar em média 46 gramas por dia. Pelo menos é o que o médico diz depois de chegar a esse valor na sua calculadora amarela Aptamil fabricada na China:
- Uh lá lá!
Dica de pai: Companheiro, a tua vida não vai ser sempre um rodízio permanente, por isso, para o teu bem, é bom que te vás habituando a refeições ligeiras, embora concorde que os rodízios não sejam maus desde que, por contas feitas de cabeça e assim por alto, se coma mais do que se pague. Mas não podes fazer disto um estilo de vida.
Uma das tuas características é chorares apenas quando tens fome. Podemos estar aborrecidos contigo e chamar-te todos os nomes que não te importas nada com a humilhação. Podemos até te levar para o paredão, para os jardins e para os restaurantes de má fama que não soltas um único pio. Agora há um preço a pagar por esse reconfortante pragmatismo comportamental. É que mal sentes um leve ratito nesse teu estômago minúsculo, que só a custo aguenta 120 mililitros de Mc Leite Suíço, desatas num berreiro tal que duvido que algum dos nossos vizinhos não saiba que chegou a tua hora de repasto. A Sofia do 1º andar confidenciou-me que já nem se preocupa em programar alarmes para acordar às sete da manhã. É que o seu despertar para a labuta coincide, por graça divina, com o teu primeiro biberão do dia.
De forma a te manter feliz, os teus pais vão fazendo alguns progressos para reduzir o tempo do escarcéu. Um biberão anti-cólica Dr. Brown com pega ergonómica, que nos primeiros dias demorava quase 5 minutos a ser preparado é agora aviado em 36,2 segundos pelo pai e 43,7 pela mãe. Vai ser bastante difícil superar estas marcas, mesmo que os chineses entrem na corrida.
Agora explica-me uma coisa, que ando curioso. Desde que nasceste já te fizemos, assim por alto, duas centenas de refeições. O processo é sempre igual. Pá, tu estás a ver-nos ali ao teu lado a mexer no termo, no biberão e na Mc Lata, exactamente da mesma forma como das outras vezes, porque raio pensas que desta não te vamos enfiar a tetina na boca? Achas o quê? Que vamos fugir com 90 mililitros de leite instantâneo debaixo do braço às 4 da manhã?
Meu, percebo pouco de bebés e nunca tive de alimentar um cão ou um gato, mas aposto que os animais de estimação compreendem um sistema simples desta natureza numa semana.
Gostas que te troquem a fralda Dodot etapas nº2 após a refeição, especialmente se adormeceste aos 40 mililitros (outra mania tua). Isso é montes de chato. Repara que a tua fome não é directamente proporcional aos decibéis com que castigas o mundo. Se o teu cosmos de bebé fizesse sentido, com a algazarra que costumas fazer, era de prever que só te consolasses depois de beberes uma litrada. Agora adormeceres a meio biberão, por amor de Deus! Ao menos podias respeitar um pouco quem te alimenta e passar pelas brasas no final, depois de expulsares o teu Mc Arroto.
Em relação à fralda. Apesar de seres querido, redondinho e absolutamente adorável, o teu cocó, e ao contrário da ideia que dás quando se olha para ti em especial quando bocejas, cheira realmente muito mal e não é agradável estar por perto nessa altura. Isto só prova que não se devem julgar as pessoas pelas aparências.
Aproveitando a onda, deixa-me dar-te só mais uma informação estatística. A média de banhos que tomas com a tua própria urina é neste momento de 1,3 por dia. Só para veres como são as coisas, nos primeiros três dias o ratio era de 4,5. Isto demonstra bem a forma como os teus pais estão a progredir nas suas tarefas parentais.
O teu gosto musical é neste momento muito melhor que o da tua mãe. Gostas dos concertos de Brandenburgo de Johann Sebastian Bach, das partituras mais emblemáticas de Mozart, dos concertos para violoncelo de Handel e o concerto para o príncipe da Polónia de Vivaldi. Aprecias também Diana Krall e algum Acid Jazz, não todo.
A tua mãe, que não pode ver nada, quando eu voltei a trabalhar, aproveitou-se do meu infortúnio para te iniciar nas músicas mexicanas das telenovelas dos anos 80.
E ainda por cima cantou-as todas. Acho que não merecias e por isso fui obrigado a tirar férias à pressa.
Uma coisa porreira é que, se andarmos contigo atrás, poupamos imenso tempo nos balcões dos serviços públicos. Na Segurança Social somos atendidos em 15 minutos, no Registo Civil 10 minutos e nas finanças 20 minutos. Já viste? Além disso o Jumbo, por tua causa, oferece-nos um ano de entregas grátis. Como se fosse pouco ainda temos lugar reservado nos estacionamentos e até nos deixam passar nas caixas de supermercado. Além disso és a desculpa perfeita para nos livrarmos de convites sociais de baixa motivação.
E repara que és capaz de nos proporcionar isto tudo enquanto dormes. Nem quero imaginar o que serás capaz de fazer quando estiveres acordado e aos berros.
É um facto que a vida dos teus pais mudou imenso. Nem imaginas. Tudo diferente. Mas ao contrário do que se poderia pensar, sentimos uma total e libertadora sensação de alívio. A partir de agora tudo perde a importância que costumava ter. As coisinhas enfadonhas e desgastantes da vida deixam de fazer sentido. Apenas nos concentramos em ti. Deixou de ser relevante aonde vamos jantar, com quem, o filme que queremos ver, a quem telefonamos, qual o shopping onde vamos fazer compras, a necessidade de comprar umas calças ou uma camisa, as chatices laborais, a mesquinhez humana e, para ser sincero, nem sequer sabemos o que se passa no mundo. Nem a crise nos perturba e até, quando o Cavaco surge na televisão, já não mudamos de canal nem nos interrogamos como é que alguém como ele chegou a presidente da república.
Se queres que te diga, nem imaginava o quanto a vida poderia ser tão motivante e agradável. Quando acordei e te fui ver ao berço, estavas a dormir todo fofinho na tua posição de bebé com uma prenda maior do que tu ao lado. É disto que falo. Bem, hoje é dia do pai e parece-me que, desta vez, sou eu que estou de parabéns! Só gostava de saber aonde arranjaste dinheiro suficiente para comprar a t-shirt Pull and Bear que me ofereceste.
Comes sempre de 3 em 3 horas, independentemente da quantidade de Mc Leite Nestlé que te tentarem enfiar pela goela abaixo. 180 minutos é a unidade de tempo pela qual a tua existência de bebé se rege. Nem mais nem menos. Por isso é que andas a engordar em média 46 gramas por dia. Pelo menos é o que o médico diz depois de chegar a esse valor na sua calculadora amarela Aptamil fabricada na China:
- Uh lá lá!
Dica de pai: Companheiro, a tua vida não vai ser sempre um rodízio permanente, por isso, para o teu bem, é bom que te vás habituando a refeições ligeiras, embora concorde que os rodízios não sejam maus desde que, por contas feitas de cabeça e assim por alto, se coma mais do que se pague. Mas não podes fazer disto um estilo de vida.
Uma das tuas características é chorares apenas quando tens fome. Podemos estar aborrecidos contigo e chamar-te todos os nomes que não te importas nada com a humilhação. Podemos até te levar para o paredão, para os jardins e para os restaurantes de má fama que não soltas um único pio. Agora há um preço a pagar por esse reconfortante pragmatismo comportamental. É que mal sentes um leve ratito nesse teu estômago minúsculo, que só a custo aguenta 120 mililitros de Mc Leite Suíço, desatas num berreiro tal que duvido que algum dos nossos vizinhos não saiba que chegou a tua hora de repasto. A Sofia do 1º andar confidenciou-me que já nem se preocupa em programar alarmes para acordar às sete da manhã. É que o seu despertar para a labuta coincide, por graça divina, com o teu primeiro biberão do dia.
De forma a te manter feliz, os teus pais vão fazendo alguns progressos para reduzir o tempo do escarcéu. Um biberão anti-cólica Dr. Brown com pega ergonómica, que nos primeiros dias demorava quase 5 minutos a ser preparado é agora aviado em 36,2 segundos pelo pai e 43,7 pela mãe. Vai ser bastante difícil superar estas marcas, mesmo que os chineses entrem na corrida.
Agora explica-me uma coisa, que ando curioso. Desde que nasceste já te fizemos, assim por alto, duas centenas de refeições. O processo é sempre igual. Pá, tu estás a ver-nos ali ao teu lado a mexer no termo, no biberão e na Mc Lata, exactamente da mesma forma como das outras vezes, porque raio pensas que desta não te vamos enfiar a tetina na boca? Achas o quê? Que vamos fugir com 90 mililitros de leite instantâneo debaixo do braço às 4 da manhã?
Meu, percebo pouco de bebés e nunca tive de alimentar um cão ou um gato, mas aposto que os animais de estimação compreendem um sistema simples desta natureza numa semana.
Gostas que te troquem a fralda Dodot etapas nº2 após a refeição, especialmente se adormeceste aos 40 mililitros (outra mania tua). Isso é montes de chato. Repara que a tua fome não é directamente proporcional aos decibéis com que castigas o mundo. Se o teu cosmos de bebé fizesse sentido, com a algazarra que costumas fazer, era de prever que só te consolasses depois de beberes uma litrada. Agora adormeceres a meio biberão, por amor de Deus! Ao menos podias respeitar um pouco quem te alimenta e passar pelas brasas no final, depois de expulsares o teu Mc Arroto.
Em relação à fralda. Apesar de seres querido, redondinho e absolutamente adorável, o teu cocó, e ao contrário da ideia que dás quando se olha para ti em especial quando bocejas, cheira realmente muito mal e não é agradável estar por perto nessa altura. Isto só prova que não se devem julgar as pessoas pelas aparências.
Aproveitando a onda, deixa-me dar-te só mais uma informação estatística. A média de banhos que tomas com a tua própria urina é neste momento de 1,3 por dia. Só para veres como são as coisas, nos primeiros três dias o ratio era de 4,5. Isto demonstra bem a forma como os teus pais estão a progredir nas suas tarefas parentais.
O teu gosto musical é neste momento muito melhor que o da tua mãe. Gostas dos concertos de Brandenburgo de Johann Sebastian Bach, das partituras mais emblemáticas de Mozart, dos concertos para violoncelo de Handel e o concerto para o príncipe da Polónia de Vivaldi. Aprecias também Diana Krall e algum Acid Jazz, não todo.
A tua mãe, que não pode ver nada, quando eu voltei a trabalhar, aproveitou-se do meu infortúnio para te iniciar nas músicas mexicanas das telenovelas dos anos 80.
E ainda por cima cantou-as todas. Acho que não merecias e por isso fui obrigado a tirar férias à pressa.
Uma coisa porreira é que, se andarmos contigo atrás, poupamos imenso tempo nos balcões dos serviços públicos. Na Segurança Social somos atendidos em 15 minutos, no Registo Civil 10 minutos e nas finanças 20 minutos. Já viste? Além disso o Jumbo, por tua causa, oferece-nos um ano de entregas grátis. Como se fosse pouco ainda temos lugar reservado nos estacionamentos e até nos deixam passar nas caixas de supermercado. Além disso és a desculpa perfeita para nos livrarmos de convites sociais de baixa motivação.
E repara que és capaz de nos proporcionar isto tudo enquanto dormes. Nem quero imaginar o que serás capaz de fazer quando estiveres acordado e aos berros.
É um facto que a vida dos teus pais mudou imenso. Nem imaginas. Tudo diferente. Mas ao contrário do que se poderia pensar, sentimos uma total e libertadora sensação de alívio. A partir de agora tudo perde a importância que costumava ter. As coisinhas enfadonhas e desgastantes da vida deixam de fazer sentido. Apenas nos concentramos em ti. Deixou de ser relevante aonde vamos jantar, com quem, o filme que queremos ver, a quem telefonamos, qual o shopping onde vamos fazer compras, a necessidade de comprar umas calças ou uma camisa, as chatices laborais, a mesquinhez humana e, para ser sincero, nem sequer sabemos o que se passa no mundo. Nem a crise nos perturba e até, quando o Cavaco surge na televisão, já não mudamos de canal nem nos interrogamos como é que alguém como ele chegou a presidente da república.
Se queres que te diga, nem imaginava o quanto a vida poderia ser tão motivante e agradável. Quando acordei e te fui ver ao berço, estavas a dormir todo fofinho na tua posição de bebé com uma prenda maior do que tu ao lado. É disto que falo. Bem, hoje é dia do pai e parece-me que, desta vez, sou eu que estou de parabéns! Só gostava de saber aonde arranjaste dinheiro suficiente para comprar a t-shirt Pull and Bear que me ofereceste.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Curtíssima geograficamente limitada
Diante das perguntas da madrinha Carla sobre como se celebra o Natal no Brasil, dei-me conta de que o meu Brasil é Fortaleza. Não sei como os cariocas celebram o Natal. Ou os gaúchos. É que não faço ideia. E foi uma sensação um bocado estranha, não era suposto sermos conterrâneos?
Saí do Brasil aos 12 anos, e, pior do que isso, antes da Internet. Tá bem, voltei algumas vezes, mas foi sempre para o morninho fechado da minha cidade. Já estive em mais capitais europeias do que brasileiras - naquele tempo era tudo muito longe e viajar de avião no Brasil era luxo. Nunca saí do Norte/Nordeste.
Sim, sempre posso usar a desculpa de ser de um país continental, mas não me deixa de fazer um bocado de impressão saber que se come polvo e formigos no Norte de Portugal e não saber se os paulistas almoçam com a família no dia 25.
Praça do Ferreira, no centro da minha amada Fortaleza, vestida para o Natal.
Saí do Brasil aos 12 anos, e, pior do que isso, antes da Internet. Tá bem, voltei algumas vezes, mas foi sempre para o morninho fechado da minha cidade. Já estive em mais capitais europeias do que brasileiras - naquele tempo era tudo muito longe e viajar de avião no Brasil era luxo. Nunca saí do Norte/Nordeste.
Sim, sempre posso usar a desculpa de ser de um país continental, mas não me deixa de fazer um bocado de impressão saber que se come polvo e formigos no Norte de Portugal e não saber se os paulistas almoçam com a família no dia 25.
Praça do Ferreira, no centro da minha amada Fortaleza, vestida para o Natal.
Coisas claramente sobrevalorizadas para esta blogger
Segundo conversinha com bloggers do meu coração esta manhã no Facebook:
Ora, cá vão:
- materno-descontraísmo.
- sou-muito-sincerismo.
- desenrascancismo.
- verdadismos e frontalismos (não é bem a mesma coisa que o sincerismo).
Já agora, coisas que acho subvalorizadas:
- metodismos (não a religião, mas o ter passos claros para cumprir tarefas);
- auto-analismos (não o super, mas o ser capaz de olhar para dentro e ver fraquezas);
e especialmente, muito especialmente
- humildismos.
Ora, cá vão:
- materno-descontraísmo.
- sou-muito-sincerismo.
- desenrascancismo.
- verdadismos e frontalismos (não é bem a mesma coisa que o sincerismo).
Já agora, coisas que acho subvalorizadas:
- metodismos (não a religião, mas o ter passos claros para cumprir tarefas);
- auto-analismos (não o super, mas o ser capaz de olhar para dentro e ver fraquezas);
e especialmente, muito especialmente
- humildismos.
Isto não é um postal de Natal
Nunca fui um tipo desenrascado no que toca ao arranjo casual das avarias domésticas que, de tempos a tempos, amaldiçoam a casa dos Lyra de Carvalho. Coisas pequenas mas desesperantes para o Feng Shui familiar como uma persiana avariada, uma torneira que pinga, um pedaço de parede que cai ou um fusível que se funde num electrodoméstico qualquer.
É triste, mas não consigo resolver estes infortúnios pelas minhas próprias mãos e, de certa forma, a minha condição de macho ressente-se um bocado dessa incapacidade, especialmente na Melissa que, para infelicidade minha, tem um pai que sabe fazer tudo. E quando escrevo tudo é mesmo tudo. Estão a ver os estádios que têm sido erigidos pelo mundo para jogar futebol? Pronto, ele é um dos homens que normalmente mete o bedelho naquilo. Se houvesse uma competição entre mim e o meu sogro, o resultado seria, eu trocava uma torneira ele construía um país, com barragens, pontes e estradas a ligar cidades.
Por isso, disponho todos os anos dum budget anual estipulado para estas misérias no humilhante valor de 500 euros retirados do subsídio de Natal, isto porque não sou capaz de pedir à Melissa que pague a meias os arranjos que precisamos. Sou da opinião que deve de haver alguma dignidade na forma como se lida com as incapacidades genéticas (o meu pai também é como eu).
Mas o nascimento do Gabriel trouxe com ele, felizmente, alguma paz sobre este problema, fazendo-me mesmo esquecer que existe. Dos 7854 brinquedos de plástico made in china que se espalham pelas divisões do apartamento é frequente haver vários estragos a precisar duma mãozinha. O guizo do Noddy que deixa de badalar, as pilhas do avião dos Irmãos Koala que se gastam, uma roda do carro Faísca que salta, o telhado da quinta do Ruca que desaparece…enfim, problemas vários que desestabilizam a harmonia mundana da criança entristecendo a sua pobre alma e esbatendo-lhe a alegria de viver.
Felizmente que a vida dum catraio é a coisa mais simples do mundo e os problemas que o seu quotidiano gera enquadram-se na perfeição nas minha habilidades, estando eu sempre à altura de todas as dificuldades lúdicas do petiz. Posso-me orgulhar de, naquela casa, não existir nenhum carro sem pilhas (embora haja lá alguns que bem podiam ficar sem pio), nenhuma peça desencaixada nem tão pouco alguma luz fundida. Sabe bem vê-lo chegar-se perto de mim a estender-me um brinquedo qualquer para eu o ajustar com aquela certeza que o pai lhe vai resolver o problema em singelos segundos. Ele vê em mim um Bob o Construtor e isso aquece-me o raio do coração todos os dias.
No outro dia, percebendo que a casa ainda estava despida pela falta de árvore de Natal, vociferou o pedido. Fiz-me difícil, claro, que aquilo era muito complicado, exigia bastante esforço e que era uma tarefa que só os grandes e fortes conseguiam fazer, mas como ele fazia questão o pai fazia com muito gosto, mergulharia na tarefa com todo o prazer. Mandei-o buscar a chave de fendas, embora não precisasse dela para nada, e lá montei o arvoredo. O Gabriel exclamou um uau sentido quando liguei as luzes e aquilo ficou tudo para ali a piscar. Abençoadas luzes, compradas a 4,99 no chinês da Rebelva, mudavam de cor a cada dez segundos transformando o meu trabalho numa obra épica e maravilhosa.
A noite tinha tudo para ser perfeita não fosse a tradicional insensibilidade feminina que teima em não respeitar aquele momento sagrado de transição entre o Hugo pai e o Hugo marido.
-Já arranjaste o raio do botão do autoclismo que te pedi?! Porque é que tenho de te estar sempre a repetir as mesmas coisas?
É triste, mas não consigo resolver estes infortúnios pelas minhas próprias mãos e, de certa forma, a minha condição de macho ressente-se um bocado dessa incapacidade, especialmente na Melissa que, para infelicidade minha, tem um pai que sabe fazer tudo. E quando escrevo tudo é mesmo tudo. Estão a ver os estádios que têm sido erigidos pelo mundo para jogar futebol? Pronto, ele é um dos homens que normalmente mete o bedelho naquilo. Se houvesse uma competição entre mim e o meu sogro, o resultado seria, eu trocava uma torneira ele construía um país, com barragens, pontes e estradas a ligar cidades.
Por isso, disponho todos os anos dum budget anual estipulado para estas misérias no humilhante valor de 500 euros retirados do subsídio de Natal, isto porque não sou capaz de pedir à Melissa que pague a meias os arranjos que precisamos. Sou da opinião que deve de haver alguma dignidade na forma como se lida com as incapacidades genéticas (o meu pai também é como eu).
Mas o nascimento do Gabriel trouxe com ele, felizmente, alguma paz sobre este problema, fazendo-me mesmo esquecer que existe. Dos 7854 brinquedos de plástico made in china que se espalham pelas divisões do apartamento é frequente haver vários estragos a precisar duma mãozinha. O guizo do Noddy que deixa de badalar, as pilhas do avião dos Irmãos Koala que se gastam, uma roda do carro Faísca que salta, o telhado da quinta do Ruca que desaparece…enfim, problemas vários que desestabilizam a harmonia mundana da criança entristecendo a sua pobre alma e esbatendo-lhe a alegria de viver.
Felizmente que a vida dum catraio é a coisa mais simples do mundo e os problemas que o seu quotidiano gera enquadram-se na perfeição nas minha habilidades, estando eu sempre à altura de todas as dificuldades lúdicas do petiz. Posso-me orgulhar de, naquela casa, não existir nenhum carro sem pilhas (embora haja lá alguns que bem podiam ficar sem pio), nenhuma peça desencaixada nem tão pouco alguma luz fundida. Sabe bem vê-lo chegar-se perto de mim a estender-me um brinquedo qualquer para eu o ajustar com aquela certeza que o pai lhe vai resolver o problema em singelos segundos. Ele vê em mim um Bob o Construtor e isso aquece-me o raio do coração todos os dias.
No outro dia, percebendo que a casa ainda estava despida pela falta de árvore de Natal, vociferou o pedido. Fiz-me difícil, claro, que aquilo era muito complicado, exigia bastante esforço e que era uma tarefa que só os grandes e fortes conseguiam fazer, mas como ele fazia questão o pai fazia com muito gosto, mergulharia na tarefa com todo o prazer. Mandei-o buscar a chave de fendas, embora não precisasse dela para nada, e lá montei o arvoredo. O Gabriel exclamou um uau sentido quando liguei as luzes e aquilo ficou tudo para ali a piscar. Abençoadas luzes, compradas a 4,99 no chinês da Rebelva, mudavam de cor a cada dez segundos transformando o meu trabalho numa obra épica e maravilhosa.
A noite tinha tudo para ser perfeita não fosse a tradicional insensibilidade feminina que teima em não respeitar aquele momento sagrado de transição entre o Hugo pai e o Hugo marido.
-Já arranjaste o raio do botão do autoclismo que te pedi?! Porque é que tenho de te estar sempre a repetir as mesmas coisas?
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Bebegugrafia - 2
A tua mãe deu-me a novidade enquanto eu esperava pela confirmação dum fax que enviara a um advogado a dar-lhe uma má notícia.
Foi assim, no meio do barulho das impressoras a bombearem ofícios de 70 vírgulas por parágrafo e com os nomes próprios escarrados a bold que eu soube que vinhas fazer parte da minha vida. Nesse preciso instante o teu pai passou a ter o seu próprio futuro e os batimentos cardíacos tornaram-se bastante mais acelerados.
Não acho que o meu futuro passe por pertencer a uma família sorridente enfiada numa vivenda ajardinada impecavelmente arrumada e com as divisões pintadas de fresco como os anúncios “Kinder”, mas aguardo que seja suficientemente motivante para que destrua o desgosto que o passado se transformou e a angustiante previsibilidade deste presente de crises capitalistas sucessivas.
É uma sensação realmente boa começar a esperar alguma coisa na vida que não seja apenas o som do toque do despertador todos os dias ou a decadência dos ponteiros do relógio a marcar a meia-noite avisando que o dia seguinte também é de labuta.
Quero lá saber que chores todas as noites ou que durmas de dia para gatinhares pela madrugada como se fosses um super-heroi saído das páginas da Marvel. Por mim podes fazer o que te apetecer que me estou a borrifar para as consequências.
O que eu quero mesmo é que o som do despertador não me acorde e que sejas tu a ter essa honra.
Agradeço mesmo que me canses de amor e venhas para a minha cama às cinco da manhã para desenhares casas de monopólio e ilhas desertas como a tua prima Adriana fazia aos teus tios.
Se tiver que dormir pelos cantos, antes que seja no trabalho que junto a ti.
(isto sou eu agora aqui a escrever, é bem natural que mude, durante o teu processo de crescimento, de opinião)
13/11/08
Foi assim, no meio do barulho das impressoras a bombearem ofícios de 70 vírgulas por parágrafo e com os nomes próprios escarrados a bold que eu soube que vinhas fazer parte da minha vida. Nesse preciso instante o teu pai passou a ter o seu próprio futuro e os batimentos cardíacos tornaram-se bastante mais acelerados.
Não acho que o meu futuro passe por pertencer a uma família sorridente enfiada numa vivenda ajardinada impecavelmente arrumada e com as divisões pintadas de fresco como os anúncios “Kinder”, mas aguardo que seja suficientemente motivante para que destrua o desgosto que o passado se transformou e a angustiante previsibilidade deste presente de crises capitalistas sucessivas.
É uma sensação realmente boa começar a esperar alguma coisa na vida que não seja apenas o som do toque do despertador todos os dias ou a decadência dos ponteiros do relógio a marcar a meia-noite avisando que o dia seguinte também é de labuta.
Quero lá saber que chores todas as noites ou que durmas de dia para gatinhares pela madrugada como se fosses um super-heroi saído das páginas da Marvel. Por mim podes fazer o que te apetecer que me estou a borrifar para as consequências.
O que eu quero mesmo é que o som do despertador não me acorde e que sejas tu a ter essa honra.
Agradeço mesmo que me canses de amor e venhas para a minha cama às cinco da manhã para desenhares casas de monopólio e ilhas desertas como a tua prima Adriana fazia aos teus tios.
Se tiver que dormir pelos cantos, antes que seja no trabalho que junto a ti.
(isto sou eu agora aqui a escrever, é bem natural que mude, durante o teu processo de crescimento, de opinião)
13/11/08
Bebegugrafia - 1
Durante a minha gravidez e ainda um bom tempo depois, o Hugo teve um babyblog que eu adorava. Era a cara dele, ternurento e meio esquisito como ele. O blog foi engolido pelo blogger, mas ainda tenho cá alguns textos, que vou publicando aqui para que não se percam, sem ordem cronológica.
Podes pensar que nada te afecta quando levas com a seta do cupido no raio do peito mas a verdade, se a queres ler, é que as relações amorosas passado algum tempo caem numa toada mais lenta e a culpa nem sempre é de alguém. Por isso, aquele fragmento inicial arrebatador, provocante, vigoroso cheio de fulgor e de momentos intensos como uma chávena de café moído na altura, acaba por definhar e é bom que tenhas isso em consideração quando chegar altura de escolheres a tua parceira ou parceiro. Mesmo que a tua paixão seja correspondida por uma Cláudia Shiffer ou um George Clooney, acredita no que te digo, mais cedo ou mais tarde vais perceber que até com sex symbols os tempos de rodopio emocional expiram como a garantia dum electrodoméstico. Repara, não quer dizer que o electrodoméstico em si não funcione, pode até nunca se estragar, a grande chatice é que se não tens garantia válida não o podes devolver e, por isso, vais passar por um mau bocado.
O teu pai e a tua mãe já estão juntos há 8 anos (espero mesmo que sejam oito senão durmo na sala). Estamos bem, não te apoquentes, e apreciamos muito a companhia um do outro. Claro que há coisas que mudaram. As nossas conversas já não duram horas e horas como nos primeiros encontros e há dias em que embirramos porque um prato não foi limpo (ela) ou uma passa dum cigarro não foi baforada totalmente janela fora (eu). Mas as coisas nunca atingem proporções desmedidas e sabemos sempre compreender a verdadeira dimensão delas. Normalmente resolvemos os assuntos com uma boa dose de piadas. Os teus pais gozam muito um com o outro embora, desde que nasceste, essa tendência se esvaecesse. Compreende que é mais apetecível e mentalmente desafiador gozarmos contigo e com o teu aparvalhado estilo de vida! Apesar deste ambiente saudável que fará de ti, assim o espero, uma criança especial, certas particularidades desmoronaram-se. A que sinto mais falta, mas que por outro lado é a mais fácil de recuperar, é o acto de oferecer. Claro que nos continuamos a presentear e não deixamos passar incólumes as datas especiais como o dia do casamento ou os nossos aniversários, no entanto, o princípio da oferta tornou-se rotineiro e insalubre. Um perfume, um livro ou uma camisola é sempre a nossa melhor solução de recurso para não ficarmos em branco. Já chegamos ao ponto de perguntar um ao outro o que se quer receber pelo Natal. Nada pode ser mais humilhante se analisarmos a circunstância friamente. Em tempos primordiais uma prenda tinha um significado especial porque tendia a ser batalhada. Era escolhida com base na leitura do outro e perspicaz na forma como surgia. A primeira que ofereci compôs-se numa conversa ocasional em que a Melissa me contou as histórias de infância dela. Eram bastante políticas porque o Brasil na altura vivia em ditadura e a mensagem da liberdade espalhava-se pelas canções das histórias infantis. As cantigas surgiram do génio do Chico Buarque e os censores não conseguiam alcançar a subtileza das letras. Procurei feito doido por todo o lado e lá encontrei o CD. Se não fosse o sentido de oportunidade de um verdadeiro apaixonado ela provavelmente nunca teria voltado a escutar aqueles pedaços de memória da sua terra, mas assim, graças à astúcia do teu pai, relembrou a saudade da pátria. Julgo que a conquistei no instante em que carregou no Play do Discman Sony MegaBass. Foi apoteótico porque lembro-te que não havia ainda YouTube nem mp3’s sacados na net.
Percebes agora aonde quero chegar?
O teu nascimento trouxe consigo novamente essa efervescência. Claro que entre mim e a tua mãe continuamos com as oferendas em piloto automático, mas para ti o caso muda de figura e parecemos novamente dois apaixonados. A minha primeira acção nesse sentido foi um Body impresso com uma clara alusão ao teu compositor preferido, uma moda muito em voga no início dos anos 90, especialmente com grupos de Heavy Metal. Toda a gente diz que os bebés da tua idade ficam mais calmos quando ouvem música clássica. Aproveitando o filão, existem milhares de colectânea à venda de música erudita para recém-nascidos e pasma-te, todos a ouvem. Tu não és excepção e partilhas e estás sempre a ouvir Bach. No outro dia até choraste quando o CD acabou. Por isso andei na internet à procura duma imagem para estampar. Comprei o Body e passei a hora do almoço a compor minuciosamente o produto final para que ficasse um estoiro nesse teu tronco minúsculo e sem penugem. Não ligaste nenhuma, não esperava outra coisa de alguém que está sempre de trombas, mas foi sensacional andar uma sexta-feira todo ansioso por aparecer com aquilo em casa e ver a reacção da tua mãe ao meu trabalho.
Foi mesmo espantoso voltar a sentir a dimensão épica da lembrança e ainda melhor foi ver-te ao lado dos outros bebés cheios de ursinhos e pinguins que passeavam dentro dos ovos pelo paredão.
Estavas mesmo com um ar fixe.
25/03/09
Podes pensar que nada te afecta quando levas com a seta do cupido no raio do peito mas a verdade, se a queres ler, é que as relações amorosas passado algum tempo caem numa toada mais lenta e a culpa nem sempre é de alguém. Por isso, aquele fragmento inicial arrebatador, provocante, vigoroso cheio de fulgor e de momentos intensos como uma chávena de café moído na altura, acaba por definhar e é bom que tenhas isso em consideração quando chegar altura de escolheres a tua parceira ou parceiro. Mesmo que a tua paixão seja correspondida por uma Cláudia Shiffer ou um George Clooney, acredita no que te digo, mais cedo ou mais tarde vais perceber que até com sex symbols os tempos de rodopio emocional expiram como a garantia dum electrodoméstico. Repara, não quer dizer que o electrodoméstico em si não funcione, pode até nunca se estragar, a grande chatice é que se não tens garantia válida não o podes devolver e, por isso, vais passar por um mau bocado.
O teu pai e a tua mãe já estão juntos há 8 anos (espero mesmo que sejam oito senão durmo na sala). Estamos bem, não te apoquentes, e apreciamos muito a companhia um do outro. Claro que há coisas que mudaram. As nossas conversas já não duram horas e horas como nos primeiros encontros e há dias em que embirramos porque um prato não foi limpo (ela) ou uma passa dum cigarro não foi baforada totalmente janela fora (eu). Mas as coisas nunca atingem proporções desmedidas e sabemos sempre compreender a verdadeira dimensão delas. Normalmente resolvemos os assuntos com uma boa dose de piadas. Os teus pais gozam muito um com o outro embora, desde que nasceste, essa tendência se esvaecesse. Compreende que é mais apetecível e mentalmente desafiador gozarmos contigo e com o teu aparvalhado estilo de vida! Apesar deste ambiente saudável que fará de ti, assim o espero, uma criança especial, certas particularidades desmoronaram-se. A que sinto mais falta, mas que por outro lado é a mais fácil de recuperar, é o acto de oferecer. Claro que nos continuamos a presentear e não deixamos passar incólumes as datas especiais como o dia do casamento ou os nossos aniversários, no entanto, o princípio da oferta tornou-se rotineiro e insalubre. Um perfume, um livro ou uma camisola é sempre a nossa melhor solução de recurso para não ficarmos em branco. Já chegamos ao ponto de perguntar um ao outro o que se quer receber pelo Natal. Nada pode ser mais humilhante se analisarmos a circunstância friamente. Em tempos primordiais uma prenda tinha um significado especial porque tendia a ser batalhada. Era escolhida com base na leitura do outro e perspicaz na forma como surgia. A primeira que ofereci compôs-se numa conversa ocasional em que a Melissa me contou as histórias de infância dela. Eram bastante políticas porque o Brasil na altura vivia em ditadura e a mensagem da liberdade espalhava-se pelas canções das histórias infantis. As cantigas surgiram do génio do Chico Buarque e os censores não conseguiam alcançar a subtileza das letras. Procurei feito doido por todo o lado e lá encontrei o CD. Se não fosse o sentido de oportunidade de um verdadeiro apaixonado ela provavelmente nunca teria voltado a escutar aqueles pedaços de memória da sua terra, mas assim, graças à astúcia do teu pai, relembrou a saudade da pátria. Julgo que a conquistei no instante em que carregou no Play do Discman Sony MegaBass. Foi apoteótico porque lembro-te que não havia ainda YouTube nem mp3’s sacados na net.
Percebes agora aonde quero chegar?
O teu nascimento trouxe consigo novamente essa efervescência. Claro que entre mim e a tua mãe continuamos com as oferendas em piloto automático, mas para ti o caso muda de figura e parecemos novamente dois apaixonados. A minha primeira acção nesse sentido foi um Body impresso com uma clara alusão ao teu compositor preferido, uma moda muito em voga no início dos anos 90, especialmente com grupos de Heavy Metal. Toda a gente diz que os bebés da tua idade ficam mais calmos quando ouvem música clássica. Aproveitando o filão, existem milhares de colectânea à venda de música erudita para recém-nascidos e pasma-te, todos a ouvem. Tu não és excepção e partilhas e estás sempre a ouvir Bach. No outro dia até choraste quando o CD acabou. Por isso andei na internet à procura duma imagem para estampar. Comprei o Body e passei a hora do almoço a compor minuciosamente o produto final para que ficasse um estoiro nesse teu tronco minúsculo e sem penugem. Não ligaste nenhuma, não esperava outra coisa de alguém que está sempre de trombas, mas foi sensacional andar uma sexta-feira todo ansioso por aparecer com aquilo em casa e ver a reacção da tua mãe ao meu trabalho.
Foi mesmo espantoso voltar a sentir a dimensão épica da lembrança e ainda melhor foi ver-te ao lado dos outros bebés cheios de ursinhos e pinguins que passeavam dentro dos ovos pelo paredão.
Estavas mesmo com um ar fixe.
25/03/09
sábado, 17 de dezembro de 2011
Curtíssima sobre ser imigrante (de longa data, mas mesmo assim)
- Quando cá, as pessoas acham que não estou exatamente em casa.
- Quando lá, as pessoas não entendem que não estou exatamente em casa.
- Quando lá, as pessoas não entendem que não estou exatamente em casa.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Das coisas que o meu pai já me disse - parte I
No fim do ano sentimo-nos cansados porque fazemos contas ao ano que passou e as contas parecem nunca bater certo entre o que esperávamos e o que fizemos. Não tem de ser algo consciente.
Foi há anos que ele me disse isso, e concordo com ele. Por mais feliz que esteja, não há fim de ano em que o desânimo não bata à porta. Tudo me cansa, tudo me aborrece. E não dá para pôr culpa no Natal, que não conheço Natal mais light que o nosso. Não sei o que é, só sei que é assim.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Do melhor da vida
- Filho, já é tarde, vamos fazer um ó-ó dos grandes?
- Xim.
(vamos para a caminha de mãos dadas, deito-o, aconchego-o, e beijo-o 49 vezes).
- Moanoite, mãe.
- Boa noite, filho. Te amo muito, muito, muito.
- Tiamo muito muito muito.
- Muito muito muito.
- Muito muito muito.
(Saio. Às vezes ele adormece de vez, às vezes chama-me e pede uma história (sempre de três frases, sempre com o Noddy), às vezes pede para vir para o meu quarto, como hoje).
- Xim.
(vamos para a caminha de mãos dadas, deito-o, aconchego-o, e beijo-o 49 vezes).
- Moanoite, mãe.
- Boa noite, filho. Te amo muito, muito, muito.
- Tiamo muito muito muito.
- Muito muito muito.
- Muito muito muito.
(Saio. Às vezes ele adormece de vez, às vezes chama-me e pede uma história (sempre de três frases, sempre com o Noddy), às vezes pede para vir para o meu quarto, como hoje).
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Memória recente
O Gabriel, como se devem lembrar as minhas seis leitoras, acordou a cada três horas todas as noites da sua vida até muito mais de um ano, embora nunca tivesse tido problemas para adormecer. Mesmo não tendo problemas, todas as noites desde que passou a dormir no seu próprio quarto (aí dos quatro aos oito meses), punha-lhe o mesmo vídeo do youtube.
Punha-o na cama de grades e ele demorava os sete minutos do vídeo a adormecer - talvez um pouco menos.
E agora estes sons me levam de volta a esses momentos: ele deitado na caminha, eu sentada a ouvir a chucha do meu pequeno insone, a sete minutos das minhas primeiras três horas de paz da noite. E como o tempo cobre tudo de açúcar, hoje não me lembro do cansaço, lembro-me só do cheirinho dele antes de o deitar.
Não sei o que me levou a escolher este vídeo e não outro qualquer - acho que foi o primeiro a aparecer-me numa noite de desespero ao pôr "songs to sleep" na busca do tubi. Tinha esperança de que, em loop, o manteria a dormir toda a noite, mas não.
Punha-o na cama de grades e ele demorava os sete minutos do vídeo a adormecer - talvez um pouco menos.
E agora estes sons me levam de volta a esses momentos: ele deitado na caminha, eu sentada a ouvir a chucha do meu pequeno insone, a sete minutos das minhas primeiras três horas de paz da noite. E como o tempo cobre tudo de açúcar, hoje não me lembro do cansaço, lembro-me só do cheirinho dele antes de o deitar.
Não sei o que me levou a escolher este vídeo e não outro qualquer - acho que foi o primeiro a aparecer-me numa noite de desespero ao pôr "songs to sleep" na busca do tubi. Tinha esperança de que, em loop, o manteria a dormir toda a noite, mas não.
domingo, 11 de dezembro de 2011
The Holstee Manifesto
De vez em quando
Toda a confusão desfaz-se e vejo tudo com muita clareza e pouco julgamento: o que é fundamental, o que é acessório, o que é verdadeiro, o que é transitório, o que não vivo sem, o que não devia viver com.
Como é só de vez em quando, tento gravar esses momentos a ferro e fogo na minha cabeça, que é para quando o dramarama voltar, poder usá-los como botão pára-tudo.
Sei que a maioria das mulheres encontra esses momentos de verdade nos filhos. Curiosamente, os meus relâmpagos de clareza costumam acontecer quando estamos sós, eu o Hugo, a apreciar qualquer coisa em silêncio - seja a avenida da Liberdade, a praia das avencas, um bom filme no sofá, um livro na cama.
Como é só de vez em quando, tento gravar esses momentos a ferro e fogo na minha cabeça, que é para quando o dramarama voltar, poder usá-los como botão pára-tudo.
Sei que a maioria das mulheres encontra esses momentos de verdade nos filhos. Curiosamente, os meus relâmpagos de clareza costumam acontecer quando estamos sós, eu o Hugo, a apreciar qualquer coisa em silêncio - seja a avenida da Liberdade, a praia das avencas, um bom filme no sofá, um livro na cama.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
A minha caderneta de cromos parte 2
Vocês tinham os Mr. Darcy e outros da BBC, nós tinhamos Dona Beija.
Ao contrário das novelas da Globo, as da Manchete não tinham medo de ser mais arrojadas, mais apelativas - mais sexuais, portanto. Ainda não tinha maminhas e já sonhava em tomar banho de lama, por qualquer motivo que fosse, nas nascentes de Araxá.
Todas as meninas do colégio viam dona Beija. Todo mundo dominava a trama, todo mundo queria ser Beija ou Antônio. Quando Beija amaldiçoou todos os homens que tocassem nela, também amaldiçoámos. Quando Beija se tornou prostituta, também considerámos a carreira. Odiávamos a família do Antônio.
Hoje, ao revisitar a novela no tubi, odeio o próprio Antônio pelo mesmo motivo que odeio Romeu.
Ao contrário das novelas da Globo, as da Manchete não tinham medo de ser mais arrojadas, mais apelativas - mais sexuais, portanto. Ainda não tinha maminhas e já sonhava em tomar banho de lama, por qualquer motivo que fosse, nas nascentes de Araxá.
Todas as meninas do colégio viam dona Beija. Todo mundo dominava a trama, todo mundo queria ser Beija ou Antônio. Quando Beija amaldiçoou todos os homens que tocassem nela, também amaldiçoámos. Quando Beija se tornou prostituta, também considerámos a carreira. Odiávamos a família do Antônio.
Hoje, ao revisitar a novela no tubi, odeio o próprio Antônio pelo mesmo motivo que odeio Romeu.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Três coisas fixes, entre muitas outras, que aprendi no curso que estou a fazer
- Contar com a inspiração é contar com o ovo no cu da galinha.
- É melhor perder um prazo do que entregar algo de que não gostamos a 100%. Fragilizamo-nos de outra forma. Sentimo-nos menos mal.
- Podemos exagerar na storyline. Tudo vale para garantir a continuação da leitura.
- É melhor perder um prazo do que entregar algo de que não gostamos a 100%. Fragilizamo-nos de outra forma. Sentimo-nos menos mal.
- Podemos exagerar na storyline. Tudo vale para garantir a continuação da leitura.
domingo, 4 de dezembro de 2011
A minha caderneta de cromos - parte I
Enquanto vocês andavam a mudar do canal 1 para o 2 e a ver a desconhecidíssima-para-mim Abelha Maia, a minha vida era outra, ali do outro lado do mar. Até aos 10 anos, tenho quase a certeza de nunca ter vestido mangas compridas e nunca ter comido morangos.
Na saída da escola, não havia gomas coloridas para vender, era algo que faria os naturebas de hoje em dia gemer de prazer verde: o puxa da cana, doce 100% natural e artesanal.
Era um homem muito baixo, de pele escura e curtida, que ficava à porta da escola puxando a cana com as mãos (bare hands, nada de luvas nem mariquices de espécie alguma)e vendendo o puxa em dois tamanhos, de 20 e de 50 - não me perguntem a moeda, não faço ideia. Como sabem, nós, brasileiros, mudámos de moeda algumas vezes nos anos 80/90.
O puxa é um doce dinâmico, tem de estar sempre a ser puxado e esticado, porque se não fica duro. Tem consistência de caramelo (que é o que é, na verdade) e é quente, e cola-se aos dentes like a bitch. Imagino que ainda se faça nos engenhos, mas duvido que ainda haja homens muito pequenos e escuros a vendê-lo à porta das escolas, já que somos todos tão assépticos hoje em dia.
Na saída da escola, não havia gomas coloridas para vender, era algo que faria os naturebas de hoje em dia gemer de prazer verde: o puxa da cana, doce 100% natural e artesanal.
Era um homem muito baixo, de pele escura e curtida, que ficava à porta da escola puxando a cana com as mãos (bare hands, nada de luvas nem mariquices de espécie alguma)e vendendo o puxa em dois tamanhos, de 20 e de 50 - não me perguntem a moeda, não faço ideia. Como sabem, nós, brasileiros, mudámos de moeda algumas vezes nos anos 80/90.
O puxa é um doce dinâmico, tem de estar sempre a ser puxado e esticado, porque se não fica duro. Tem consistência de caramelo (que é o que é, na verdade) e é quente, e cola-se aos dentes like a bitch. Imagino que ainda se faça nos engenhos, mas duvido que ainda haja homens muito pequenos e escuros a vendê-lo à porta das escolas, já que somos todos tão assépticos hoje em dia.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Retrospetiva 2011 parte I e Resolução de Ano Novo parte II, tudo assim meio confuso
É comum ver as pessoas, depois de uma doença grave ou algo assim, dizerem que aprenderam a apreciar o que havia de bom e verdadeiro na vida, e nada mais. Não se contentam com meias coisas.
Ora bem, eu contento-me com meias coisas desde que me entendo por gente, e isso é algo que quero trabalhar em 2012: distinguir o que há de bom e verdadeiro na vida e investir nessas coisas. Quero investir em qualidade, tanto do que consumo como do que ofereço.
Também quero parar de dar murros em pontas de faca e ser mais resignada em algumas áreas da minha vida. Como é que aquele senhor muito religioso* diz? Dai-me força para mudar o que posso, humildade para aceitar o que não posso mudar e sabedoria para distinguir uma da outra.
O que mais quero é sabedoria para distinguir uma da outra.
_______separador de assunto_______________separador de assunto________
Os últimos seis meses têm sido "groundbreaking" para mim de várias formas:
- tenho tido contato com experiências novas que exigem de mim atitudes para as quais não tinha pensado nunca, o que me dá oportunidade de me conhecer melhor;
- tenho tido contato com pessoas demasiado parecidas comigo, o que é meio assustador, porém enriquecedor. Descobri que acho meio difícil lidar "comigo", mas também acho que vale a pena tentar :) (usei um smiley, mas estamos em 2011)
- tenho percebido coisas sobre a minha relação com a minha mãe e o luto que muitas sessões de terapia não me tinham conseguido mostrar;
- essas coisas que percebi sobre mim e a minha mãe também me deram a oportunidade de entender melhor algumas características minhas;
- Saio de 2011 a gostar mais de mim do que quando entrei e queria começar a agir em conformidade com isso em 2012 ( o que nos leva ao começo do post).
- Saio de 2011 sem fugir aos meus fantasmas, graças à Gralha, que me espoletou uma epifania daquelas porreiras.
- No fim de 2010, sentia que 2011 ia ser mau. Acabou por se revelar um ano duro, mas com coisas excelentes, especialmente a nível profissional. Aprendi muitas coisas novas e empolgantes e tenho cada vez mais certeza de que a aposta feita em 2007 foi uma boa ideia. Dito isto, acho que 2012 vai ser bom para mim.
- 2011 também foi um ano de sedimentar novas amizades, e sou grata por elas. É muito bom descobrir e desvendar gente nova. Obrigada, amigas novas! Obrigada por gostarem de mim. Gosto muito de vocês também.
- 2011 foi o meu melhor ano de mãe até agora. O Gabriel é uma coisinha pequena, saudável, bonita, boa onda, tranquilo como o pai. Na verdade, ainda não sei o que, de feitio, ele herdou de mim. A ver se em 2012 aparece-me aqui uma pequena criatura dramática e com queda para a super-análise. Acho que não. De um modo geral, estou orgulhosa do trabalho que fizemos em
2011, embora tenhamos, como diz lindamente o Hugo, perdido o comboio do desfralde e desmame da chucha. Mas perdemos com classe, sem descer das tamancas.
- Ia escrever que 2011 foi o ano em que comecei a ver o meu irmão como irmão, e não como filho, mas seria incrivelmente precipitado. Mas é cada vez mais meu amigo e cada vez gosto mais dele com um gostar que não é instintivo - é mesmo por ele ser um amor: inteligente, batalhador, boa onda, descomplicado a maioria das vezes, engraçadíssimo. Quero ter mais tempo com ele em 2012, mas acho difícil. Temos 10 anos de diferença, demorou alguns 20 até sermos amigos de igual para igual e receio bem que demore outros 10 até termos o mesmo ritmo de vida (se é que alguma vez);
- Os timings de 2011 foram tão perfeitos como têm sido desde sempre - tudo aparece na hora em que é mais necessário - o que me faz continuar a acreditar em anjos da guarda em 2012. Não sei se é em Deus que acredito, mas o acaso na minha vida é inteligente de mais para não ser um pai ou uma mãe. Aconteceram coisas extraordinárias na vida do meu pai também, com timings duvidosos (no sentido de "demasiado duvidosos para serem acaso").
Isto já vai muito longo, mais retrospetiva e resoluções em futuros posts! Sim, porque há muito mais. Arre, como eu penso.
* Chama-se Niebuhr, e a frase não-adaptada-à-realidade-Melíssica é: "God, grant me the serenity to accept the things I cannot change, Courage to change the things I can, And wisdom to know the difference".
Ora bem, eu contento-me com meias coisas desde que me entendo por gente, e isso é algo que quero trabalhar em 2012: distinguir o que há de bom e verdadeiro na vida e investir nessas coisas. Quero investir em qualidade, tanto do que consumo como do que ofereço.
Também quero parar de dar murros em pontas de faca e ser mais resignada em algumas áreas da minha vida. Como é que aquele senhor muito religioso* diz? Dai-me força para mudar o que posso, humildade para aceitar o que não posso mudar e sabedoria para distinguir uma da outra.
O que mais quero é sabedoria para distinguir uma da outra.
_______separador de assunto_______________separador de assunto________
Os últimos seis meses têm sido "groundbreaking" para mim de várias formas:
- tenho tido contato com experiências novas que exigem de mim atitudes para as quais não tinha pensado nunca, o que me dá oportunidade de me conhecer melhor;
- tenho tido contato com pessoas demasiado parecidas comigo, o que é meio assustador, porém enriquecedor. Descobri que acho meio difícil lidar "comigo", mas também acho que vale a pena tentar :) (usei um smiley, mas estamos em 2011)
- tenho percebido coisas sobre a minha relação com a minha mãe e o luto que muitas sessões de terapia não me tinham conseguido mostrar;
- essas coisas que percebi sobre mim e a minha mãe também me deram a oportunidade de entender melhor algumas características minhas;
- Saio de 2011 a gostar mais de mim do que quando entrei e queria começar a agir em conformidade com isso em 2012 ( o que nos leva ao começo do post).
- Saio de 2011 sem fugir aos meus fantasmas, graças à Gralha, que me espoletou uma epifania daquelas porreiras.
- No fim de 2010, sentia que 2011 ia ser mau. Acabou por se revelar um ano duro, mas com coisas excelentes, especialmente a nível profissional. Aprendi muitas coisas novas e empolgantes e tenho cada vez mais certeza de que a aposta feita em 2007 foi uma boa ideia. Dito isto, acho que 2012 vai ser bom para mim.
- 2011 também foi um ano de sedimentar novas amizades, e sou grata por elas. É muito bom descobrir e desvendar gente nova. Obrigada, amigas novas! Obrigada por gostarem de mim. Gosto muito de vocês também.
- 2011 foi o meu melhor ano de mãe até agora. O Gabriel é uma coisinha pequena, saudável, bonita, boa onda, tranquilo como o pai. Na verdade, ainda não sei o que, de feitio, ele herdou de mim. A ver se em 2012 aparece-me aqui uma pequena criatura dramática e com queda para a super-análise. Acho que não. De um modo geral, estou orgulhosa do trabalho que fizemos em
2011, embora tenhamos, como diz lindamente o Hugo, perdido o comboio do desfralde e desmame da chucha. Mas perdemos com classe, sem descer das tamancas.
- Ia escrever que 2011 foi o ano em que comecei a ver o meu irmão como irmão, e não como filho, mas seria incrivelmente precipitado. Mas é cada vez mais meu amigo e cada vez gosto mais dele com um gostar que não é instintivo - é mesmo por ele ser um amor: inteligente, batalhador, boa onda, descomplicado a maioria das vezes, engraçadíssimo. Quero ter mais tempo com ele em 2012, mas acho difícil. Temos 10 anos de diferença, demorou alguns 20 até sermos amigos de igual para igual e receio bem que demore outros 10 até termos o mesmo ritmo de vida (se é que alguma vez);
- Os timings de 2011 foram tão perfeitos como têm sido desde sempre - tudo aparece na hora em que é mais necessário - o que me faz continuar a acreditar em anjos da guarda em 2012. Não sei se é em Deus que acredito, mas o acaso na minha vida é inteligente de mais para não ser um pai ou uma mãe. Aconteceram coisas extraordinárias na vida do meu pai também, com timings duvidosos (no sentido de "demasiado duvidosos para serem acaso").
Isto já vai muito longo, mais retrospetiva e resoluções em futuros posts! Sim, porque há muito mais. Arre, como eu penso.
* Chama-se Niebuhr, e a frase não-adaptada-à-realidade-Melíssica é: "God, grant me the serenity to accept the things I cannot change, Courage to change the things I can, And wisdom to know the difference".
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Um pequeno post daqueles
Hoje de manhã, e por causa de uma epifania que tive na 3a feira, tinha feito uma resolução de Ano Novo: parar de me irritar tanto e levar tudo com mais leveza. A energia que desperdiço com pequenas obsessões saem-me caro em horas perdidas a elocubrar, em qualidade de sono, em várias coisas.
Depois apercebi-me de que essa resolução era apenas uma maneira de eu perpetuar a minha absoluta incapacidade de dizer o que me magoa e o que me desagrada: já sei que frontalidade é algo que não me corre no sangue (diria que em 75% das vezes, para meu próprio bem) e também já sei que as pequenas obsessões que vêm da minha falta de frontalidade me envenenam.
Estou, portanto, num impasse em termos de resoluções de Ano Novo.
Se calhar faço outra dieta.
Depois apercebi-me de que essa resolução era apenas uma maneira de eu perpetuar a minha absoluta incapacidade de dizer o que me magoa e o que me desagrada: já sei que frontalidade é algo que não me corre no sangue (diria que em 75% das vezes, para meu próprio bem) e também já sei que as pequenas obsessões que vêm da minha falta de frontalidade me envenenam.
Estou, portanto, num impasse em termos de resoluções de Ano Novo.
Se calhar faço outra dieta.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
A sopa da Lurdes
É dividida em tupperwares de vários feitios e tamanhos: dois enormes e de igual tamanho para cada um dos filhos, um mais pequeno para o próprio dia, outro assim-assim para congelar, e mais uns tantos em dose individual que não adivinho para onde vão. Estão todos ali em cima da bancada da cozinha: uns altos, outros baixos, parecendo assim uma Manhattanzinha de tupperwares.
Antes de começarmos a comer sopa, a Lurdes pede para esperar, pois vai deixar a sopa ao senhor Álvaro - um vizinho velhote cuja mulher, já acamada, foi para um lar há alguns meses.
A minha sogra é a gnoma da divisão da sopa. Não há quantidade de sopa que não se divida um pouco mais, fazendo caber mais um prato. Ninguém, na vida da Lurdes e no que depender desta, fica sem sopa.
E eu adoro-a por isso acima de tudo.
Na noite em que o meu pai e irmão chegaram do Brasil, poucas horas depois do enterro da minha mãe, já quase todos tinham ido dormir, exaustos dos dias anteriores. Mas uma grande e fumegante sopeira cheia de canja brasileira (com muito cheiro verde e vários legumes) os esperava sobre a mesa da casa da tia Ane.
Antes de começarmos a comer sopa, a Lurdes pede para esperar, pois vai deixar a sopa ao senhor Álvaro - um vizinho velhote cuja mulher, já acamada, foi para um lar há alguns meses.
A minha sogra é a gnoma da divisão da sopa. Não há quantidade de sopa que não se divida um pouco mais, fazendo caber mais um prato. Ninguém, na vida da Lurdes e no que depender desta, fica sem sopa.
E eu adoro-a por isso acima de tudo.
Na noite em que o meu pai e irmão chegaram do Brasil, poucas horas depois do enterro da minha mãe, já quase todos tinham ido dormir, exaustos dos dias anteriores. Mas uma grande e fumegante sopeira cheia de canja brasileira (com muito cheiro verde e vários legumes) os esperava sobre a mesa da casa da tia Ane.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Nos caixotes do lixo a transbordar da Mouraria, Alfama e por vezes até da Almirante Reis, não é raro ver-se, ali pelo chão, caixas de Skip de mil novecentos e antigamente, discos de cera, bombril, Pinho Sol e outras coisas que deixaram de existir há uma carrada de anos.
Pergunto-me sempre se a velhota que foi encontrada morta não ia às compras há vinte anos ou se era daquelas malucas que não deitam nada ao lixo.
Pergunto-me sempre se a velhota que foi encontrada morta não ia às compras há vinte anos ou se era daquelas malucas que não deitam nada ao lixo.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Nascidos um para o outro
A melhor pizza que o Hugo já comeu foi a pizza Parma de uma pequena trattoria em Roma chamada La Famiglia. A pizza tinha a massa fina como hóstia, rúcula, parmesão e presunto de Parma em fatias abundantes, fininhas, muito fininhas, cerca de 15 eur.
A melhor pizza que eu já comi foi a de tomate do Stuppendo, reduto brazuca no CascaisVilla, com dois dedos de massa e queijo a escorrer por todos os lados, e o tomate partidinho aos bocados ali por cima, sem frescura de orégãos ou rúcula ou o raio que o parta, 2 eur a fatia.
A melhor pizza que eu já comi foi a de tomate do Stuppendo, reduto brazuca no CascaisVilla, com dois dedos de massa e queijo a escorrer por todos os lados, e o tomate partidinho aos bocados ali por cima, sem frescura de orégãos ou rúcula ou o raio que o parta, 2 eur a fatia.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
O sono da fuga
É normal, dizem.
Sempre que estou com um volume de trabalho estratosférico, sou acometida por um sono incontrolável, à prova de cafeína, de água fria, de buzinadas. Hoje, às dez da manhã, a pensar em como iria encaixar X no meio de Y e ainda ter os TPC do curso que tenho deixado para segundo plano, o dito cujo bateu. Levantei-me e caí na cama já a dormir. Acordei 40 minutos depois e 40 minutos atrasada.
Ao fim da tarde, recebo um mail do meu pai a pedir-me para resolver não sei quê não sei aonde amanhã impreterivelmente, e, no meio das minhas contas de como ia encaixar Z no meio de Y e X e do TPC, pumbas, lá vem ele outra vez. Mais 20 minutos, agora. Menos mau.
Em períodos de stresse crónico, dá-me para as fomes ansiosas. Em situações de stresse agudo, como esta, dá-me para dorminhocar durante o dia. É o cúmulo da auto-sabotagem. É como se o meu tempo tivesse artrite reumatóide. É um tiro ensonado no próprio pé, que faz ricochete e bate nazzzzzzzzzzzz
Papai também tem.
Sempre que estou com um volume de trabalho estratosférico, sou acometida por um sono incontrolável, à prova de cafeína, de água fria, de buzinadas. Hoje, às dez da manhã, a pensar em como iria encaixar X no meio de Y e ainda ter os TPC do curso que tenho deixado para segundo plano, o dito cujo bateu. Levantei-me e caí na cama já a dormir. Acordei 40 minutos depois e 40 minutos atrasada.
Ao fim da tarde, recebo um mail do meu pai a pedir-me para resolver não sei quê não sei aonde amanhã impreterivelmente, e, no meio das minhas contas de como ia encaixar Z no meio de Y e X e do TPC, pumbas, lá vem ele outra vez. Mais 20 minutos, agora. Menos mau.
Em períodos de stresse crónico, dá-me para as fomes ansiosas. Em situações de stresse agudo, como esta, dá-me para dorminhocar durante o dia. É o cúmulo da auto-sabotagem. É como se o meu tempo tivesse artrite reumatóide. É um tiro ensonado no próprio pé, que faz ricochete e bate nazzzzzzzzzzzz
Papai também tem.
Máxima para a vida nº 2
Às vezes, cheira a cocó porque temos cocó debaixo do nariz. E, às vezes, cheira a cocó porque há mesmo cocó à nossa frente, e aos lados, e atrás.
Há que pedir a Deus discernimento para os distinguir.
(Aqui entraria uma imagem alusiva).
Há que pedir a Deus discernimento para os distinguir.
(Aqui entraria uma imagem alusiva).
domingo, 20 de novembro de 2011
E o tempo levou
Eu e o Hugo começámos a namorar no começo de 2002. Desde então, deixámos de usar:
- discmen;
- máquinas fotográficas de rolo;
- mapas de estrada;
- disquetes (já nem me lembro de como se escreve);
- VHS (esta teimei um pouco, mas o Hugo lembrou-me de que fui com ele comprar o seu primeiro leitor de DVD, e é verdade).
Não me lembro de nada que tenha deixado de usar entre 1992 e 2002. Até cassetes eu usei até mais tarde.
E estou curiosa sobre o que terá ficado para trás ao chegarmos a 2022.
- discmen;
- máquinas fotográficas de rolo;
- mapas de estrada;
- disquetes (já nem me lembro de como se escreve);
- VHS (esta teimei um pouco, mas o Hugo lembrou-me de que fui com ele comprar o seu primeiro leitor de DVD, e é verdade).
Não me lembro de nada que tenha deixado de usar entre 1992 e 2002. Até cassetes eu usei até mais tarde.
E estou curiosa sobre o que terá ficado para trás ao chegarmos a 2022.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
cenas que me trazem lágrimas quase aos olhos*
Alecrim alecrim aos molhos
por causa de ti
choram os meus olhos
Quando eu já for velhinho
Acabado de morrer
Olha bem para os meus olhos
Sem vida hão de te ver
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Não foram poemas nem rosas
Que colheste no meu colo
Foram cardos, foram prosas
Arrancadas do meu solo
Acho que tem de se nascer fora e gostar muito de cá para entender o que esses versinhos fazem ao meu coração. É que eles só funcionam em português de portugal - e são tremenda, dramaticamente tugas.
* não é quase me trazem, é mesmo quase aos olhos. Não choro, mas fico com o ugh. Ugh.
por causa de ti
choram os meus olhos
Quando eu já for velhinho
Acabado de morrer
Olha bem para os meus olhos
Sem vida hão de te ver
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Não foram poemas nem rosas
Que colheste no meu colo
Foram cardos, foram prosas
Arrancadas do meu solo
Acho que tem de se nascer fora e gostar muito de cá para entender o que esses versinhos fazem ao meu coração. É que eles só funcionam em português de portugal - e são tremenda, dramaticamente tugas.
* não é quase me trazem, é mesmo quase aos olhos. Não choro, mas fico com o ugh. Ugh.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Dia de Ação de Graças
Querido Deus, agradeço por tudo, mas por favor dai-me uma capacidade de concentração superior à de uma chimpanzé jovem.
Por favor.
Já amanhã.
Por favor.
Já amanhã.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Uma máxima para a vida
domingo, 13 de novembro de 2011
Going local
Já pesquisei: pão, frutas, legumes e carne nas mercearias e talho locais são praticamente do mesmo preço dos do supermercado. Sendo assim, o supermercado fica para mercearias e produtos de higiene - por ora. Talvez passe a comprar azeite e mel no mercado biológico da quinta da Alagoa, mas tenho de ver preços. Peixe é que não vem da peixaria, porque só comemos lombos de pescada congelados, mas verei se há alguma casa de congelados por aqui.
Sempre usámos o videoclube do bairro, passaremos a usar mais. Sempre embirrei com filmes vistos em casa, mas a verdade é que a vida de pais não nos permite ir ao cinema nem metade das vezes que gostamos. Assim, será um hábito a criar.
O ginásio é local, o infantário também, o mecânico também.
Antes de procurar no shopping, procurar lá em baixo no centro (é a única medida que tem de ser implementada de raiz, o resto já está mais ou menos em andamento).
Continuarei a pesquisar mais coisas que poderei fazer/adquirir num raio de 3 km de casa e sem dar dinheiro a grandes grupos, ou pelo menos dando bem menos.
Update: e hoje, ao pequeno almoço, pus-me a pensar que ainda hei-de passar um mês inteiro a fazer compras na mercearia do bairro. É que, com a escolha restrita aos produtos essenciais, sem muita coisa colorida a distrair-nos nas prateleiras, até é provável que passe a gastar menos por mês, mesmo comprando produtos mais caros - e a comer melhor. Amadurecerei a ideia de fazer um test drive em janeiro.
Sempre usámos o videoclube do bairro, passaremos a usar mais. Sempre embirrei com filmes vistos em casa, mas a verdade é que a vida de pais não nos permite ir ao cinema nem metade das vezes que gostamos. Assim, será um hábito a criar.
O ginásio é local, o infantário também, o mecânico também.
Antes de procurar no shopping, procurar lá em baixo no centro (é a única medida que tem de ser implementada de raiz, o resto já está mais ou menos em andamento).
Continuarei a pesquisar mais coisas que poderei fazer/adquirir num raio de 3 km de casa e sem dar dinheiro a grandes grupos, ou pelo menos dando bem menos.
Update: e hoje, ao pequeno almoço, pus-me a pensar que ainda hei-de passar um mês inteiro a fazer compras na mercearia do bairro. É que, com a escolha restrita aos produtos essenciais, sem muita coisa colorida a distrair-nos nas prateleiras, até é provável que passe a gastar menos por mês, mesmo comprando produtos mais caros - e a comer melhor. Amadurecerei a ideia de fazer um test drive em janeiro.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Segundos! (Ou mais um post inspirado pela Gralha)
Curtíssima sobre textos apócrifos
Prefiro baratas. Prefiro baratas dentro de casa a textos apócrifos.
Sapos, não, mas baratas... Com toda a certeza.
Porque diabo as pessoas precisam de um nome famoso por baixo de poemas/citações/frases da treta que curtem? Qual é the fucking diferença? A frase fica menos pirosa com autor, é isso?
Depois de eu morrer deixando vasta obra para trás, é favor googlar o que eu disse e o que não disse antes de fazerem postalinhos, tá bem? Confirmem com o Hugo, ele há-de saber (e vai morrer depois de mim, com toda a certeza: a família dele chega sempre aos 100 anos).
*A propósito, o tal do "já cometi erros imperdoáveis" é de um senhor chamado Augusto Branco. Tá no Google.
Sapos, não, mas baratas... Com toda a certeza.
Porque diabo as pessoas precisam de um nome famoso por baixo de poemas/citações/frases da treta que curtem? Qual é the fucking diferença? A frase fica menos pirosa com autor, é isso?
Depois de eu morrer deixando vasta obra para trás, é favor googlar o que eu disse e o que não disse antes de fazerem postalinhos, tá bem? Confirmem com o Hugo, ele há-de saber (e vai morrer depois de mim, com toda a certeza: a família dele chega sempre aos 100 anos).
*A propósito, o tal do "já cometi erros imperdoáveis" é de um senhor chamado Augusto Branco. Tá no Google.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Uma vez disse aqui, em resposta àqueles desafios "so 2009", que o meu dinossauro seria o culpossauro. O Culpossaurus Rex, aliás, bicho carnívoro comedor de consciências. Não conheço ninguém que sinta culpa com a facilidade que eu sinto. Qualquer coisa que saia do equilíbrio normal das coisas é porque fiz merda. Acho que sou assim por detestar absolutamente o extremo oposto, a tendência que a maioria das pessoas tem para achar que os outros é que estão mal sempre.
Pois bem, era só para comunicar aqui, em direto, que o Culpossaurus Rex morrerá de inanição nos próximos dias.
Sabem porquê?
Porque estou a chegar à conclusão sincera e ponderada de que sou do caraças.
E quem não gostar não é porque tem mau gosto, porque isso seria achar que os outros é que estão mal. Mas também não é comigo.
Pois bem, era só para comunicar aqui, em direto, que o Culpossaurus Rex morrerá de inanição nos próximos dias.
Sabem porquê?
Porque estou a chegar à conclusão sincera e ponderada de que sou do caraças.
E quem não gostar não é porque tem mau gosto, porque isso seria achar que os outros é que estão mal. Mas também não é comigo.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Epifania provocada pela Gralha
Somos seres aglomeradores. Nada do que experimentamos é rejeitado. Se não desce redondo, desce quadrado, mas desce.
O fantasma* (substituir pelo recalcamento de sua preferência) deve ser incorporado. Se o fantasma (SRSP) não for incorporado, outra coisa será no seu lugar: ansiedade, pânico, dores, úlceras, dermatites, insónia, ganho de peso, perda de peso.
Devemos escolher o que preferimos incorporar.
Devemos perceber o que interfere mais na nossa vida.
Levei muito tempo, mas, depois de os incorporar, vejo que os meus fantasmas são muito mais simpáticos e inofensivos do que a dor que os ignorar durante tanto tempo me causou.
* claro que estou a falar de fantasmas daqueles intensos, dos que nos fazem fugir. Nada de Gasparzinhos.
Visto assim parece estupidamente lógico, não é? Mas acreditem que assimilar para superar é das coisas mais lixadas que existem. Às vezes temos a teoria na ponta da língua e andamos uma vida inteira a fugir dos fantasmas na mesma.
O fantasma* (substituir pelo recalcamento de sua preferência) deve ser incorporado. Se o fantasma (SRSP) não for incorporado, outra coisa será no seu lugar: ansiedade, pânico, dores, úlceras, dermatites, insónia, ganho de peso, perda de peso.
Devemos escolher o que preferimos incorporar.
Devemos perceber o que interfere mais na nossa vida.
Levei muito tempo, mas, depois de os incorporar, vejo que os meus fantasmas são muito mais simpáticos e inofensivos do que a dor que os ignorar durante tanto tempo me causou.
* claro que estou a falar de fantasmas daqueles intensos, dos que nos fazem fugir. Nada de Gasparzinhos.
Visto assim parece estupidamente lógico, não é? Mas acreditem que assimilar para superar é das coisas mais lixadas que existem. Às vezes temos a teoria na ponta da língua e andamos uma vida inteira a fugir dos fantasmas na mesma.
domingo, 30 de outubro de 2011
Vídeo de casamento
- Paaaaai! Mãããe! Hugoooo!
Remexendo na gaveta dos DVDs, o Gabriel encontrou o vídeo do nosso casamento, e lá tivemos de o pôr. Ele delirou ao ver o pai e a mãe na TV, conheceu algumas pessoas, andou à procura de si próprio e das primas.
Tão bom voltar a 2007 e aquela gente toda ali reunida, felizes e contentes, a bebericar e a rever os amigos. Toda a gente mais gordinha, mais descansada e muito unida. Estavam todos divertidíssimos enquanto eu não chegava - e eu, em casa, a ter uma síncope e a achar tudo uma grandessíssima merda, a perguntar-me repetidamente quem tinha tido aquela ideia de jerico.
O vídeo foi feito por um amigo do Hugo e foca mais sobre aquele grupo de compinchas dos tempos da primária, mas, ao fundo, vejo-os a todos: a minha malta do ex-trabalho, tudo tão novinho e sem filhos. A empresa ultrapassava graves dificuldades na altura, mas, naquele dia, era tudo vodka e charutos e piadas.
O meu irmão com um corte de cabelo absurdo. O meu pai sempre a limpar as lágrimas.
Contei sete bebés que ainda não tinham nascido. Duas pessoas que já cá não estão - a avó do Hugo, que fez 95 anos nesse dia, e se foi pouco tempo depois, e um menino que partiu cedo, demasiado cedo.
O Gabriel, ao ver a bisa Gnoma que não chegou a conhecer, não teve ponta de dúvida: OLHA A AVÓ!
Remexendo na gaveta dos DVDs, o Gabriel encontrou o vídeo do nosso casamento, e lá tivemos de o pôr. Ele delirou ao ver o pai e a mãe na TV, conheceu algumas pessoas, andou à procura de si próprio e das primas.
Tão bom voltar a 2007 e aquela gente toda ali reunida, felizes e contentes, a bebericar e a rever os amigos. Toda a gente mais gordinha, mais descansada e muito unida. Estavam todos divertidíssimos enquanto eu não chegava - e eu, em casa, a ter uma síncope e a achar tudo uma grandessíssima merda, a perguntar-me repetidamente quem tinha tido aquela ideia de jerico.
O vídeo foi feito por um amigo do Hugo e foca mais sobre aquele grupo de compinchas dos tempos da primária, mas, ao fundo, vejo-os a todos: a minha malta do ex-trabalho, tudo tão novinho e sem filhos. A empresa ultrapassava graves dificuldades na altura, mas, naquele dia, era tudo vodka e charutos e piadas.
O meu irmão com um corte de cabelo absurdo. O meu pai sempre a limpar as lágrimas.
Contei sete bebés que ainda não tinham nascido. Duas pessoas que já cá não estão - a avó do Hugo, que fez 95 anos nesse dia, e se foi pouco tempo depois, e um menino que partiu cedo, demasiado cedo.
O Gabriel, ao ver a bisa Gnoma que não chegou a conhecer, não teve ponta de dúvida: OLHA A AVÓ!
Eu sem facebook
- Ontem fomos a uma aula de dança na quinta pedagógica. Muito fixe para miúdos um pouco mais velhos que o meu (que curtiu mesmo assim, mas preferiu as cabras e porcos). Quem os tiver (miúdos mais velhos do que o meu, não cabras e porcos), que dê uma vista de olhos à programação para famílias da quinta. É repleta de atividades e todas elas são gratuitas.
- Estou apaixonada por todo o caso do Duarte Lima; mais uma vez, a realidade suplanta, e muito, a ficção: quem é que se lembrou de fazer um vilão que, depois de se ver a braços com a sua própria mortalidade, em vez de tentar fazer as pazes com o Criador e redimir-se diante da homens para garantir a imortalidade da sua alma se torna um assassino frio e calculista? Acho brilhante. Deve ter deixado os escritores do país todos a pensar: "Olha que esta...". Minha conclusão: só a realidade pensa fora da caixa.
- A Casa dos Segredos consolidou-se como o mais culpado de todos os meus prazeres culpados, e tenho muitos prazeres daqueles mauzinhos (entre os quais boybands latinas da década de 80). Ontem, pela primeira em vários anos, fui dormir às 3h da matina: não porque estava a dançar loucamente numa discoteca ou a ter uma noite incrivelmente romântica, mas porque estava a ver o resumo semanal. Considerações:
- O Carlos é a maior galdéria do mundo.
- Amo a Fanny e a Susana, por mostrarem que não temos de ter medidas perfeitas nem o melhor dos cabelos para fazer virar a cabeça de gorilões da noite. Uma boa dose de auto-confiança e altivez parecem ser suficientes.
- Estou apaixonada por todo o caso do Duarte Lima; mais uma vez, a realidade suplanta, e muito, a ficção: quem é que se lembrou de fazer um vilão que, depois de se ver a braços com a sua própria mortalidade, em vez de tentar fazer as pazes com o Criador e redimir-se diante da homens para garantir a imortalidade da sua alma se torna um assassino frio e calculista? Acho brilhante. Deve ter deixado os escritores do país todos a pensar: "Olha que esta...". Minha conclusão: só a realidade pensa fora da caixa.
- A Casa dos Segredos consolidou-se como o mais culpado de todos os meus prazeres culpados, e tenho muitos prazeres daqueles mauzinhos (entre os quais boybands latinas da década de 80). Ontem, pela primeira em vários anos, fui dormir às 3h da matina: não porque estava a dançar loucamente numa discoteca ou a ter uma noite incrivelmente romântica, mas porque estava a ver o resumo semanal. Considerações:
- O Carlos é a maior galdéria do mundo.
- Amo a Fanny e a Susana, por mostrarem que não temos de ter medidas perfeitas nem o melhor dos cabelos para fazer virar a cabeça de gorilões da noite. Uma boa dose de auto-confiança e altivez parecem ser suficientes.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Publicidade de Natal gera controvérsia
No Canal Panda, onde os bonecos trabalham, não se tem falado de outra coisa que não seja a entrada no período natalício. À priori, seria uma época de grande felicidade para todos uma vez que, naturalmente, a avalanche de anúncios serviria para encher os cofres da empresa detentora do canal e dar algum sossego aos trabalhadores e colaboradores.
Contudo, tem existido alguma crispação, principalmente por todos aqueles que estão na posição mais baixa da pirâmide. A quase totalidade dos bonecos queixa-se da forma abusiva como a publicidade é gerida, remetendo para segundo plano os seus programas e, em alguns casos, retirando os mesmos da grelha. O descontentamento surge na sequência da posição da administração em suspender os pagamentos a todos os bonecos cujos programas, já filmados, não sejam emitidos.
Alguns dos visados, que preferiram manter o anonimato por receio de receberem represálias, lamentam-se da sua situação. De facto, segundo se conseguiu apurar, todas as grandes estrelas do canal estão numa situação de recibos verdes e recebem os seus honorários 90 dias depois do episódio ir para o ar, um período demasiado longo e que, no entender dos mesmos, é um abuso de poder. O descontentamento piorou desde o início deste mês onde muitos programas foram suspensos para que o tempo de publicidade aumentasse.
Mesmo no seio dos artistas alguma rivalidade tem vindo ao de cima, alimentada pelas desigualdades existentes. Os mais novos, que chegaram agora, sentem-se descriminados pelos cortes. Dizem que depois de tanto esforço para conseguirem que o seu projecto fosse aprovado, deparam-se nesta situação o que os leva a desaprovarem a atitude dos mais velhos que dominam o horário nobre e cujos shows não são mexidos, sendo mesmo emitidos vários episódios diariamente. O que lhes custa, é “o discurso miserabilista de quem tem a barriga cheia.”
Afim de mostrar ao mundo a sua preocupação quanto ao futuro, está marcada uma concentração junto da sede do Canal onde o movimento “desenhos desanimados” dará a conhecer o seu desagrado. “…as pessoas e as crianças que assistem aos nossos programas olham para as nossas personagens a viver vidas utópicas e não se apercebem que fora da televisão sentimos tantas dificuldades ou mais do que as famílias normais.”
Contudo, tem existido alguma crispação, principalmente por todos aqueles que estão na posição mais baixa da pirâmide. A quase totalidade dos bonecos queixa-se da forma abusiva como a publicidade é gerida, remetendo para segundo plano os seus programas e, em alguns casos, retirando os mesmos da grelha. O descontentamento surge na sequência da posição da administração em suspender os pagamentos a todos os bonecos cujos programas, já filmados, não sejam emitidos.
Alguns dos visados, que preferiram manter o anonimato por receio de receberem represálias, lamentam-se da sua situação. De facto, segundo se conseguiu apurar, todas as grandes estrelas do canal estão numa situação de recibos verdes e recebem os seus honorários 90 dias depois do episódio ir para o ar, um período demasiado longo e que, no entender dos mesmos, é um abuso de poder. O descontentamento piorou desde o início deste mês onde muitos programas foram suspensos para que o tempo de publicidade aumentasse.
Mesmo no seio dos artistas alguma rivalidade tem vindo ao de cima, alimentada pelas desigualdades existentes. Os mais novos, que chegaram agora, sentem-se descriminados pelos cortes. Dizem que depois de tanto esforço para conseguirem que o seu projecto fosse aprovado, deparam-se nesta situação o que os leva a desaprovarem a atitude dos mais velhos que dominam o horário nobre e cujos shows não são mexidos, sendo mesmo emitidos vários episódios diariamente. O que lhes custa, é “o discurso miserabilista de quem tem a barriga cheia.”
Afim de mostrar ao mundo a sua preocupação quanto ao futuro, está marcada uma concentração junto da sede do Canal onde o movimento “desenhos desanimados” dará a conhecer o seu desagrado. “…as pessoas e as crianças que assistem aos nossos programas olham para as nossas personagens a viver vidas utópicas e não se apercebem que fora da televisão sentimos tantas dificuldades ou mais do que as famílias normais.”
De vícios que I can't afford
É impressionante as vezes que, depois de suspender a conta, fui lá e dei com a cara na porta. Impressionante, mesmo. Nem digo um número aproximado para não me envergonhar. Não tinha essa noção porque, como a página entrava automaticamente, era um seguimento natural das coisas.
Já não era uma droga recreativa para mim. Não, senhor.
(Podia falar mais sobre o incómodo que me causam objetos/lugares/comportamentos-de culto-que-se-tornam-indispensáveis logo a seguir, mas esse seria outro post).
Na decisão de tirar as bu-férias (que espero que sejam) prolongadas, a frase de Robert McKee:
Você deve amar escrever (...) e suportar a solidão.
foto via
Um post scriptum: não sei se alguém aqui já desativou a sua conta, mas eles fazem toda a coisa parecer um suicídio mesmo. "XXX is going to miss you. Send her a message" com a foto do amigo em questão ao lado de muitas outras com o mesmo texto. Everybody is going to miss you. Vais mesmo premir o gatilho?
CENA.MARADA.
Já não era uma droga recreativa para mim. Não, senhor.
(Podia falar mais sobre o incómodo que me causam objetos/lugares/comportamentos-de culto-que-se-tornam-indispensáveis logo a seguir, mas esse seria outro post).
Na decisão de tirar as bu-férias (que espero que sejam) prolongadas, a frase de Robert McKee:
Você deve amar escrever (...) e suportar a solidão.
foto via
Um post scriptum: não sei se alguém aqui já desativou a sua conta, mas eles fazem toda a coisa parecer um suicídio mesmo. "XXX is going to miss you. Send her a message" com a foto do amigo em questão ao lado de muitas outras com o mesmo texto. Everybody is going to miss you. Vais mesmo premir o gatilho?
CENA.MARADA.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
O que importa realmente
Hoje é 26 de Outubro e recebi a notícia da gravidez de uma das minhas pessoas preferidas no mundo - minha e da dona Melânia.
E o 26 de Outubro se cumpre como dia especial mais uma vez.
Bem-vinda à existência, pessoínha muito pequenina na barriga da minha prima!
E para quem me tem no FB e estranhou a minha ausência, estou de bu-férias por algum tempo - o suficiente para pôr alguns projetos em dia. Mas estou por aqui!
E o 26 de Outubro se cumpre como dia especial mais uma vez.
Bem-vinda à existência, pessoínha muito pequenina na barriga da minha prima!
E para quem me tem no FB e estranhou a minha ausência, estou de bu-férias por algum tempo - o suficiente para pôr alguns projetos em dia. Mas estou por aqui!
Uma pesquisa engraçada na Net
É pelo termo "cara de parva" no banco de imagens do Google.
Tá bem, estão lá algumas, mas se fosse para ser a Kirsten Dunst num dos meus filmes preferidos de sempre, não me importava mesmo nada até de ser mesmo parva, em vez de ter só a cara.
Tá bem, estão lá algumas, mas se fosse para ser a Kirsten Dunst num dos meus filmes preferidos de sempre, não me importava mesmo nada até de ser mesmo parva, em vez de ter só a cara.
26/10/11
Hoje voltam os álbuns de fotografias que andam a criar pó na cave às minhas prateleiras, e a gaveta com a tua roupa que conservei estes anos todos vai ser esvaziada. Os perfumes que guardei também vão para o lixo. Depois de sete anos, até tenho medo de abrir os frascos.
Prendi-te cá por demasiado tempo. Demasiado tempo, mesmo. E peço desculpas por isso, a ti e a mim.
Hoje é o dia em que te liberto para seguires o teu caminho, e me liberto para seguir o meu. Levo de ti muita coisa, mas deixo aqui, neste ponto em que nos encontramos, o excesso de bagagem.
Tchau, então.
E, se voltares um dia, espero que sejas um pé gigantesco de buganvílias de várias cores, não só das lilases.
Prendi-te cá por demasiado tempo. Demasiado tempo, mesmo. E peço desculpas por isso, a ti e a mim.
Hoje é o dia em que te liberto para seguires o teu caminho, e me liberto para seguir o meu. Levo de ti muita coisa, mas deixo aqui, neste ponto em que nos encontramos, o excesso de bagagem.
Tchau, então.
E, se voltares um dia, espero que sejas um pé gigantesco de buganvílias de várias cores, não só das lilases.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
O fim do luto
Não me canso de dizer aqui que tive um luto complicadíssimo, cheio de etapas queimadas, uma bola de neve de problemas rolando para baixo fosse Inverno ou Verão.
Hoje, ao deparar-me com um post de um enlutado da blogosfera, tive a noção muito, muito clara de que o meu luto acabou. Não é por ter um ou dois ou três recalcamentos que ainda não aceito a morte da minha mãe: houve coisas que ficaram por dizer e por fazer que agora passam, simplesmente, para o meu legado espiritual e emotivo. Fazem parte da dor e da delícia de eu ser quem eu sou. Mas...
- Já não penso que vou voltar a vê-la, nem neste plano nem noutro qualquer.
- Não sei o que faria se voltasse a vê-la. Neste momento, não sei que papel teria na minha vida.
- Ela não fez uma viagem. Ela deixou mesmo de existir. É ponto assente.
- Conheço bem o que ela deixou de bom e de mau.
- Sei que ninguém teve culpa do que aconteceu, nem Deus, havendo Deus.
Ainda não estou pronta para falar dela ao Gabriel, ainda dói muito. Mas ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, combato a paralisia que essa dor causa. Estou a tentar incorporar essa dor como incorporei tudo o resto. O objetivo aqui é transformar a dona Melânia na protagonista das memórias fixes que o meu irmão e o meu pai têm dela e passar isso ao meu filho, como eu guardo as melhores memórias de uma avó que eu nunca conheci - a mãe do meu pai - porque foi o que me foi passado.
Estou pronta. Estou pronta, agora.
Estou pronta porque descobri que estar pronta não é o mesmo que não sentir dor.
Bola para a frente, porque daqui a dois dias é 26 de Outubro.
Hoje, ao deparar-me com um post de um enlutado da blogosfera, tive a noção muito, muito clara de que o meu luto acabou. Não é por ter um ou dois ou três recalcamentos que ainda não aceito a morte da minha mãe: houve coisas que ficaram por dizer e por fazer que agora passam, simplesmente, para o meu legado espiritual e emotivo. Fazem parte da dor e da delícia de eu ser quem eu sou. Mas...
- Já não penso que vou voltar a vê-la, nem neste plano nem noutro qualquer.
- Não sei o que faria se voltasse a vê-la. Neste momento, não sei que papel teria na minha vida.
- Ela não fez uma viagem. Ela deixou mesmo de existir. É ponto assente.
- Conheço bem o que ela deixou de bom e de mau.
- Sei que ninguém teve culpa do que aconteceu, nem Deus, havendo Deus.
Ainda não estou pronta para falar dela ao Gabriel, ainda dói muito. Mas ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, combato a paralisia que essa dor causa. Estou a tentar incorporar essa dor como incorporei tudo o resto. O objetivo aqui é transformar a dona Melânia na protagonista das memórias fixes que o meu irmão e o meu pai têm dela e passar isso ao meu filho, como eu guardo as melhores memórias de uma avó que eu nunca conheci - a mãe do meu pai - porque foi o que me foi passado.
Estou pronta. Estou pronta, agora.
Estou pronta porque descobri que estar pronta não é o mesmo que não sentir dor.
Bola para a frente, porque daqui a dois dias é 26 de Outubro.
sábado, 22 de outubro de 2011
A mãe da mala azul
A mãe da mala azul chega à natação com os dois filhos. O mais velho vai equipar-se e o mais novo, da idade do meu, fica com ela na sala de espera. A dona Idalina pede-lhe o cartão do menino e a mãe da mala azul abre a mala azul e começa a tirar de lá papéis.
E papéis.
E mais papéis.
E lenços usados, e talões de multibanco, e pequenos desenhos e bocadinhos de faturas, que o filho mais novo vai pondo ao lixo um a um, e nada do cartão. A mãe da mala azul começa a suar e, às tantas, despeja a mala, e nada do cartão da natação no meio das 200 coisas que caíram ali pelo banco de madeira.
Ninguém que não tenha filhos leva tanta coisa na mala. É que até abro o desafio, o mala-challenge.
Na semana anterior, estivemos a conversar um bocadinho, eu, a mãe da mala azul e a mãe de outro menino que está em fim de tempo. A mãe em fim de tempo lá ia falando das expetativas de ter dois filhos, eu ia falando que se calhar íamos ficar por um filho só e a mãe da mala azul também começou a falar da sua experiência. E, quando começou, já não parou mais. Que nunca lhe tinham dito que ia ser tão difícil, que se ia sentir tão sozinha nos meses da licença, que a gestão das necessidades dos dois filhos fosse tão custosa, que fosse andar sempre tão, mas tão cansada, mesmo tendo a ajuda da sogra, que é um doce de pessoa. "Ninguém me avisou" foi algo repetido umas cinco vezes. A grávida perguntou-lhe, meio boquiaberta, se entretanto as coisas tinham melhorado, agora que o mais novo tinha quase três anos.
Não, disse a mãe da mala azul. Tá igual. Continuo cansada, continuo sem tempo, continuo um pouco suicida de vez em quando.
Nós três sorrimos, tristes.
A dona Idalina pôs a cruz de presença no nome do menino mesmo sem o cartão.
A maternidade não é um exercício simples e natural para a mãe da mala azul, como não foi para mim durante até muito recentemente. Foi muito difícil encaixar o Gabriel no meu dia, e tenho a plena noção de que não foi por ser uma pessoa muito ocupada - que não sou - mas por ser desorganizada por natureza, com pouco método, com uma mala já bem cheia de papelinhos bem antes de o Gabriel nascer e já dramática por natureza. E sempre cansada, também, porque os desorganizados e os dramáticos se cansam mais, muito mais. Durante a gravidez, tive a ilusão de que o Gabriel poria ordem na minha vida por um passe de mágica, porque seria impossível sobreviver no meio do caos com um bebé - seria uma espécie de milagre forçado - e a verdade é que é bem possível, sim. Mas é estupidamente cansativo e meio suicida de vez em quando.
Tive vontade de partilhar isso com a mãe da mala azul e dizer que comigo é igual, mas se calhar a história dela é outra bem diferente. Há sempre mil e uma maneiras de as coisas não correrem bem como estávamos à espera, e a desorganização e o pé no drama são as razões que eu encontrei para a quebra de expetativa que eu sofri. Tantas outras coisas podem ter acontecido na vida da mãe da mala azul. Se um dia voltarmos a conversar, se calhar pergunto-lhe.
Ela traz sempre um saco da Zara com livros lá dentro, e troca-os com a dona Idalina e outras mães. Há um autêntico book club ali na sala de espera dos Bombeiros. Era uma leitora voraz, a mãe da mala azul. Agora lê bem menos.
E papéis.
E mais papéis.
E lenços usados, e talões de multibanco, e pequenos desenhos e bocadinhos de faturas, que o filho mais novo vai pondo ao lixo um a um, e nada do cartão. A mãe da mala azul começa a suar e, às tantas, despeja a mala, e nada do cartão da natação no meio das 200 coisas que caíram ali pelo banco de madeira.
Ninguém que não tenha filhos leva tanta coisa na mala. É que até abro o desafio, o mala-challenge.
Na semana anterior, estivemos a conversar um bocadinho, eu, a mãe da mala azul e a mãe de outro menino que está em fim de tempo. A mãe em fim de tempo lá ia falando das expetativas de ter dois filhos, eu ia falando que se calhar íamos ficar por um filho só e a mãe da mala azul também começou a falar da sua experiência. E, quando começou, já não parou mais. Que nunca lhe tinham dito que ia ser tão difícil, que se ia sentir tão sozinha nos meses da licença, que a gestão das necessidades dos dois filhos fosse tão custosa, que fosse andar sempre tão, mas tão cansada, mesmo tendo a ajuda da sogra, que é um doce de pessoa. "Ninguém me avisou" foi algo repetido umas cinco vezes. A grávida perguntou-lhe, meio boquiaberta, se entretanto as coisas tinham melhorado, agora que o mais novo tinha quase três anos.
Não, disse a mãe da mala azul. Tá igual. Continuo cansada, continuo sem tempo, continuo um pouco suicida de vez em quando.
Nós três sorrimos, tristes.
A dona Idalina pôs a cruz de presença no nome do menino mesmo sem o cartão.
A maternidade não é um exercício simples e natural para a mãe da mala azul, como não foi para mim durante até muito recentemente. Foi muito difícil encaixar o Gabriel no meu dia, e tenho a plena noção de que não foi por ser uma pessoa muito ocupada - que não sou - mas por ser desorganizada por natureza, com pouco método, com uma mala já bem cheia de papelinhos bem antes de o Gabriel nascer e já dramática por natureza. E sempre cansada, também, porque os desorganizados e os dramáticos se cansam mais, muito mais. Durante a gravidez, tive a ilusão de que o Gabriel poria ordem na minha vida por um passe de mágica, porque seria impossível sobreviver no meio do caos com um bebé - seria uma espécie de milagre forçado - e a verdade é que é bem possível, sim. Mas é estupidamente cansativo e meio suicida de vez em quando.
Tive vontade de partilhar isso com a mãe da mala azul e dizer que comigo é igual, mas se calhar a história dela é outra bem diferente. Há sempre mil e uma maneiras de as coisas não correrem bem como estávamos à espera, e a desorganização e o pé no drama são as razões que eu encontrei para a quebra de expetativa que eu sofri. Tantas outras coisas podem ter acontecido na vida da mãe da mala azul. Se um dia voltarmos a conversar, se calhar pergunto-lhe.
Ela traz sempre um saco da Zara com livros lá dentro, e troca-os com a dona Idalina e outras mães. Há um autêntico book club ali na sala de espera dos Bombeiros. Era uma leitora voraz, a mãe da mala azul. Agora lê bem menos.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Reflexão pequenina sobre a amiga fome
Se há um conselho que não entendo muito bem em dietética e nutrição para a perda de peso é o de não se permitir ter fome. Incentiva-se as pessoas a andarem o dia inteiro a gelatina diet e a chá, ou a rodelas de cenoura ou o diabo para ir controlando a tal "fome", que a maioria das vezes nem fome é.
Acho que é um conselho meio tiro-no-pé, ou melhor, dois tiros, um em cada pé: primeiro, aumenta-se o medo de um impulso perfeitamente natural e ÚTIL. Acho que o que nos engordou como sociedade foi justamente o se esquecer do que é fome e ir comendo por força do hábito (horário das refeições) ou das vontades. Acho que, sem reconhecer a fome, também não reconhecemos a saciedade. Deixamos de reconhecer dois sinais reguladores importantíssimos. E mais falaria, mas não. E este é o primeiro tiro no pé.
O tiro no outro pé é não permitir que o que quer que não seja fome verdadeira seja reconhecido - ansiedade, depressão, tristeza, vazio - porque, aí está, pomos um muro de rodelas de cenoura e gelatina diante de nós. Se não nos permitimos saber o que é fome, além de não sabermos o que é saciedade não vamos saber o que NÃO é fome. E seguimos assim, tapando fomes de coisas que não são comida com comida. Bum, lá se foi o outro pé.
Fome não é enxaqueca, fome suporta-se bem. E fome acaba quando se come. Se a fome não acabar quando se come, é porque não era fome e isso tem de ser resolvido (ou saciado :)) de outra forma. Mas, para se saber destas coisas e conhecer-se a esse nível, é preciso estar-se aberto a encarar o ratito de frente.
Acho que é um conselho meio tiro-no-pé, ou melhor, dois tiros, um em cada pé: primeiro, aumenta-se o medo de um impulso perfeitamente natural e ÚTIL. Acho que o que nos engordou como sociedade foi justamente o se esquecer do que é fome e ir comendo por força do hábito (horário das refeições) ou das vontades. Acho que, sem reconhecer a fome, também não reconhecemos a saciedade. Deixamos de reconhecer dois sinais reguladores importantíssimos. E mais falaria, mas não. E este é o primeiro tiro no pé.
O tiro no outro pé é não permitir que o que quer que não seja fome verdadeira seja reconhecido - ansiedade, depressão, tristeza, vazio - porque, aí está, pomos um muro de rodelas de cenoura e gelatina diante de nós. Se não nos permitimos saber o que é fome, além de não sabermos o que é saciedade não vamos saber o que NÃO é fome. E seguimos assim, tapando fomes de coisas que não são comida com comida. Bum, lá se foi o outro pé.
Fome não é enxaqueca, fome suporta-se bem. E fome acaba quando se come. Se a fome não acabar quando se come, é porque não era fome e isso tem de ser resolvido (ou saciado :)) de outra forma. Mas, para se saber destas coisas e conhecer-se a esse nível, é preciso estar-se aberto a encarar o ratito de frente.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Casa
E inspirada pela Gralha (não consigo linkar), queria só lembrar que casa é um lugar, sim, e é um clique, um calor, um aconchego bom, o antigo, o reconhecível, o sublimado, o regresso.
Casa é para onde se volta.
Sem querer parecer mórbida, porque de mórbido, para mim, isto não tem nada, a última frase da minha mãe foi "aqui está bom".
Casa é para onde se volta.
Sem querer parecer mórbida, porque de mórbido, para mim, isto não tem nada, a última frase da minha mãe foi "aqui está bom".
Luzes de Terça à Noite
Às terças à noite, não tenho marido, não tenho filho, não tenho nada além de mim mesma. Às terças à noite agarro na minha mochilita e parto para Lisboa, onde passo três horas à volta duma mesa a aprender e a falar daquilo que mais gosto de fazer nesta vida. Toda a confusão mental e problemas de distração que me acompanham no resto do dia desaparecem ali, e ali estou de corpo e alma, a absorver tudo que é dito, a revirar os olhos com os disparates, a tomar notas com a minha letra muito feia.
Às 22h30 saio para o Largo Camões, que está apinhado de putos e estrangeiros e desço a rua do Alecrim em direção ao Cais do Sodré sozinha, escorregando na calçada, feliz da vida e a digerir todas as conversas daquela sessão da oficina, a sentir-me viva e revigorada - e cheia de fome também. O Pingo Doce do Cais do Sodré está aberto, uhuuu! (Também é bom fingir que estou num 7/11 de beira de estrada num filme qualquer, que a felicidade dá para isso, dá para a embriaguez).
E depois é o comboio das onze, cheio de malta trabalhadeira dos restaurantes a falar mal dos patrões ou de algum colega ausente, miúdas produzidíssimas que vão para algum lugar cheio de estilo, todo mundo com uma conversa tão gira, tão pouco suburbana, tão longe do que vivo que a viagem acaba por se tornar... Isso, uma viagem.
E é chegar a casa quase à meia noite, beijar o Hugo, perguntar se o jantar correu bem, espreitar o pequeno a dormir e voltar para o sofá, contar ao Hugo tudo que se passou na sessão do dia, conversar um pouquinho. Dividir um pouquinho.
Adoro estas terças e vou morrer de pena quando terminarem.
Às 22h30 saio para o Largo Camões, que está apinhado de putos e estrangeiros e desço a rua do Alecrim em direção ao Cais do Sodré sozinha, escorregando na calçada, feliz da vida e a digerir todas as conversas daquela sessão da oficina, a sentir-me viva e revigorada - e cheia de fome também. O Pingo Doce do Cais do Sodré está aberto, uhuuu! (Também é bom fingir que estou num 7/11 de beira de estrada num filme qualquer, que a felicidade dá para isso, dá para a embriaguez).
E depois é o comboio das onze, cheio de malta trabalhadeira dos restaurantes a falar mal dos patrões ou de algum colega ausente, miúdas produzidíssimas que vão para algum lugar cheio de estilo, todo mundo com uma conversa tão gira, tão pouco suburbana, tão longe do que vivo que a viagem acaba por se tornar... Isso, uma viagem.
E é chegar a casa quase à meia noite, beijar o Hugo, perguntar se o jantar correu bem, espreitar o pequeno a dormir e voltar para o sofá, contar ao Hugo tudo que se passou na sessão do dia, conversar um pouquinho. Dividir um pouquinho.
Adoro estas terças e vou morrer de pena quando terminarem.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Curtíssima sem excepções
Não acho que o que leva uma pessoa a achar-se "muito inteligente" seja a sua auto-estima. Acho que é a sua burrice.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Café do Manel hoje de manhã
Malta dividida entre:
- Não sou funcionário público, portanto nada disto me atinge e
- Sempre vivi com menos de mil euros, essa malta que aprenda a trabalhar, mas é.
Fico muito triste ao ouvir este tipo de coisas. Esta é a minha casa, este é o povo que me acolheu há mais de 20 anos, é nesta cultura que eu me encontro e com que me identifico. Mas nunca com o espírito de querer nivelar tudo por baixo, tudo na falta absoluta de sonhos e planos, do medo de sonhar com uma vida melhor.
E se é assim que a maioria pensa, temo pelos anos que se seguem neste atoleiro espiritual, temo pelo futuro do meu filho. Mas esta é uma família portuguesa e é aqui que o futuro vai acontecer, de qualquer jeito.
E ser infeliz não é uma opção válida, com mil desculpas aos fãs dos baldes de merda. Há N meses em que ganho bem menos de mil euros, ou não ganho nada de todo. E continuo a achar mil euros uma miséria. Recuso-me a não achar. Não é por viver com quaisquer três tustos (porque vivo) que vou deixar de achar.
E a quem não é funcionário público e por isso está-se a cagar, é esperar ver a desolação dos seus professores, médicos, etc a ver se a sua vidinha não é afectada. Mais empatia, senhores.
- Não sou funcionário público, portanto nada disto me atinge e
- Sempre vivi com menos de mil euros, essa malta que aprenda a trabalhar, mas é.
Fico muito triste ao ouvir este tipo de coisas. Esta é a minha casa, este é o povo que me acolheu há mais de 20 anos, é nesta cultura que eu me encontro e com que me identifico. Mas nunca com o espírito de querer nivelar tudo por baixo, tudo na falta absoluta de sonhos e planos, do medo de sonhar com uma vida melhor.
E se é assim que a maioria pensa, temo pelos anos que se seguem neste atoleiro espiritual, temo pelo futuro do meu filho. Mas esta é uma família portuguesa e é aqui que o futuro vai acontecer, de qualquer jeito.
E ser infeliz não é uma opção válida, com mil desculpas aos fãs dos baldes de merda. Há N meses em que ganho bem menos de mil euros, ou não ganho nada de todo. E continuo a achar mil euros uma miséria. Recuso-me a não achar. Não é por viver com quaisquer três tustos (porque vivo) que vou deixar de achar.
E a quem não é funcionário público e por isso está-se a cagar, é esperar ver a desolação dos seus professores, médicos, etc a ver se a sua vidinha não é afectada. Mais empatia, senhores.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Hoje alguém postou isto no Facebook, há séculos que não ouvia. Conheço umas dez versões diferentes, umas mais sensuais (como a original de Tim Buckley) das mais espirituais, como a da Sinead O'Connor, passando por tantas outras leituras.
É a matéria dos clássicos, digo eu: temas universais, reconhecíveis, a quem cada um empresta a sua visão e pinta com as suas cores próprias.
On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."
Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning, broken love lost on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."
É a matéria dos clássicos, digo eu: temas universais, reconhecíveis, a quem cada um empresta a sua visão e pinta com as suas cores próprias.
On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."
Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning, broken love lost on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."
Para começar o dia with the chills
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Quando é preciso, elas saem lá do outro lado do mundo e caem como um milagre na minha frente. Sempre que é preciso. O destino me levou para longe delas, mas elas guardaram-me lá na mesma, junto das suas filhas. E são pura gentileza, bondade, graça e generosidade.
E colo de mãe.
As minhas tias e primas mostram-me, a cada vez que caem como um milagre na minha frente, que
Deus existe,
Deus são as pessoas,
Deus são as mulheres.
E colo de mãe.
As minhas tias e primas mostram-me, a cada vez que caem como um milagre na minha frente, que
Deus existe,
Deus são as pessoas,
Deus são as mulheres.
Magic Hour
No fantástico livrinho sobre escrita infanto-juvenil que estou a ler, a autora fala da magic hour, que, em cinema, é a hora que antecede o pôr-do-sol e dá uma luminosidade incrível ao rosto dos actores e tudo o mais. Na criação literária, a magic hour corresponde ao momento entre o sono e a vigília, em que os pensamentos correm soltos, sem julgamento - a autora diz ainda que é possível reproduzir a magic hour durante o dia, através de alguns exercícios.
Na altura em que li essa parte, desconfiei logo duma coisa que comprovei horas depois: eu não tenho magic hour. Eu tenho o seu justo oposto: eu tenho a super-reality hour. Entre o sono e a vigília é quando sou assolada pelos problemas mais negros e quando todas as coisas totalmente sem importância viram uma cena de tirar o fôlego, de tão cruciais. Não há felicidade nem paz na minha super-reality hour: há gente má, problemas insolúveis, falta de esperança. Na verdade é, de facto, um momento sem julgamento, mas para o dark side. Depois acordo e aí tudo volta ao sítio, já com os meus queridos e chatinhos julgamentos que me fazem procrastinar tudo na vida ad infinitum.
É uma pena. Adoraria ter uma magic hour.
Por sugestão do meu irmão, encomendei outro livro que traz exercícios para ter algo parecido com isso. Espero que resulte. As dicas do meu irmão costumam ser boas.
Antes que pensem que sou a magnata da Amazon, compro absolutamente tudo em 2a mão e é raro pagar mais de uma libra por um livro (com a entrega fica em cerca de 4, 5 eur).
Na altura em que li essa parte, desconfiei logo duma coisa que comprovei horas depois: eu não tenho magic hour. Eu tenho o seu justo oposto: eu tenho a super-reality hour. Entre o sono e a vigília é quando sou assolada pelos problemas mais negros e quando todas as coisas totalmente sem importância viram uma cena de tirar o fôlego, de tão cruciais. Não há felicidade nem paz na minha super-reality hour: há gente má, problemas insolúveis, falta de esperança. Na verdade é, de facto, um momento sem julgamento, mas para o dark side. Depois acordo e aí tudo volta ao sítio, já com os meus queridos e chatinhos julgamentos que me fazem procrastinar tudo na vida ad infinitum.
É uma pena. Adoraria ter uma magic hour.
Por sugestão do meu irmão, encomendei outro livro que traz exercícios para ter algo parecido com isso. Espero que resulte. As dicas do meu irmão costumam ser boas.
Antes que pensem que sou a magnata da Amazon, compro absolutamente tudo em 2a mão e é raro pagar mais de uma libra por um livro (com a entrega fica em cerca de 4, 5 eur).
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Todas as segundas-feiras
Aliás, todos os dias: chegamos à porta do infantário, eu vou tirá-lo da cadeira, ponho-o no chão.
- Toma a chucha, mamã.
- Toma o caderno, filho.
E lá vamos nós para dentro, tchau, filho, sem beijinhos.
Todos os dias é igual, mas passo as segundas-feiras cheia de saudades.
- Toma a chucha, mamã.
- Toma o caderno, filho.
E lá vamos nós para dentro, tchau, filho, sem beijinhos.
Todos os dias é igual, mas passo as segundas-feiras cheia de saudades.
domingo, 9 de outubro de 2011
iWolf
Se eu tivesse um supertelemóvel com câmara fotográfica, net, ou como muito romanticamente chama a amiga Tatas "o mundo nas mãos" acho que deixava pura e simplesmente de olhar para a rua, que é uma cena que ainda curto deveras e que me dá sempre ideias, das mais práticas às menos (a maioria, confesso).
Eu ia mergulhar na Teia Mundial e não saía mais de lá. E ia ser bloqueada por Deus e o mundo no Facebook, fartos das minhas fotos de formigas e panfletos estranhos, porque, convenhamos, eu SINTO coisas o tempo todo.
Não é um lobo que eu precise alimentar, definitivamente.
Eu ia mergulhar na Teia Mundial e não saía mais de lá. E ia ser bloqueada por Deus e o mundo no Facebook, fartos das minhas fotos de formigas e panfletos estranhos, porque, convenhamos, eu SINTO coisas o tempo todo.
Não é um lobo que eu precise alimentar, definitivamente.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Dos prazeres simples (mais um)
Apaga-se a velinha (tea light) do duende da sala e quando arrefece, amassar as bordas da forma e soltar a cera, enfiar lá o dedo, fazer bolinhas.
Curtíssima sobre it's all too much
Chegar à novidade mais cedo do que todo mundo, ter quatro ou cinco livros mal lidos na mesa de cabeceira, saber sempre do que se está a falar, ter sempre um comentário bem informado e espirituoso sobre tudo, estar por dentro de todos os lançamentos de tudo e mais alguma coisa que possa ser interessante para mim ou para quem me rodeia.
Estar sempre a receber algum tipo de informação, o tempo todo, e pavoneá-la para o mundo em seguida.
É demasiado, caneco.
Let's just chill.
Às oito e meia da manhã o parque está repleto de pavões. Para onde vão eles depois, que só lá ficam dois ou três à tarde?
Estar sempre a receber algum tipo de informação, o tempo todo, e pavoneá-la para o mundo em seguida.
É demasiado, caneco.
Let's just chill.
Às oito e meia da manhã o parque está repleto de pavões. Para onde vão eles depois, que só lá ficam dois ou três à tarde?
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Para Viver Um Grande Amor
Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
da rubrica "cenas baratas ou baratíssimas que curto"
Já que só tenho tempo para este blog, trago o meu de low cost para cá.
Ora bem, aqui fica a primeira cena barata ou baratíssima que curto:
cadeiras de massagem dos centros comerciais - um euro por oito minutos de castigo nas costas! Tão bom! Constrangedor porém muito bom. É a coisa mais íntima que me apanham a fazer em público (não esperem ver-me a livrar-me de pilosidades faciais no meio de um shopping), porque, caramba, um eurito por oito minutos de rom rom rom? SIM. SIM.
Ora bem, aqui fica a primeira cena barata ou baratíssima que curto:
cadeiras de massagem dos centros comerciais - um euro por oito minutos de castigo nas costas! Tão bom! Constrangedor porém muito bom. É a coisa mais íntima que me apanham a fazer em público (não esperem ver-me a livrar-me de pilosidades faciais no meio de um shopping), porque, caramba, um eurito por oito minutos de rom rom rom? SIM. SIM.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Cada vez mais assumida
domingo, 2 de outubro de 2011
Freud explica
Sonhei que eu e uma gaja que desprezo com paixão éramos melhores amigas, entendíamo-nos lindamente, um espectáculo. Eu sabia tudo dela, e ela tudo de mim. E não foi pesadelo, foi um sonho agradabilíssimo e fiquei decepcionada quando percebi que não era verdade.
A verdade é que me sinto desconfortável com desafectos mesmo de muuuuuito longe. O meu peito só tem lugar para dois ódios sem volta: a prostituta (com nome de prostituta) da Vodafone que andou a espalhar mentiras sobre mim em 1799 e o gajo que atropelou o meu irmão. Esses dois queria vê-los sofrer à minha frente. Devagarinho. O resto das peçonhas que sinto são só isso mesmo, peçonhas, coisas sem valor nenhum: nem eu faço falta da vida da pessoa, nem ela na minha.
No entanto, sonho com elas.
Ah, também sonho frequentemente com amigas do peito a traírem-me sem piedade.
A verdade é que me sinto desconfortável com desafectos mesmo de muuuuuito longe. O meu peito só tem lugar para dois ódios sem volta: a prostituta (com nome de prostituta) da Vodafone que andou a espalhar mentiras sobre mim em 1799 e o gajo que atropelou o meu irmão. Esses dois queria vê-los sofrer à minha frente. Devagarinho. O resto das peçonhas que sinto são só isso mesmo, peçonhas, coisas sem valor nenhum: nem eu faço falta da vida da pessoa, nem ela na minha.
No entanto, sonho com elas.
Ah, também sonho frequentemente com amigas do peito a traírem-me sem piedade.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Story
"Precisa de(...) Tudo isso e, (...) muito amor.
O amor pela estória - a crença de que sua visão pode ser expressa apenas através da estória, de que as personagens possam ser mais "reais" do que as pessoas, que o mundo ficcional é mais profundo do que o concreto. O amor pelo dramático - a fascinação pelas surpresas súbitas e revelações que trazem mudanças imensas à vida. O amor pela verdade - a crença de que a mentira aleija o artista, de que toda verdade na vida deve ser questionada de acordo com os motivos secretos de cada um. O amor pela humanidade - uma disposição para sentir empatia pelas almas que sofrem, para arrastar-se para dentro das suas peles e ver o mundo através dos seus olhos (...) O amor pela perfeição - a paixão por escrever e reescrever na procura do momento perfeito. O amor pela singularidade - o prazer pela audácia e uma calma absoluta quando ela encontra o ridículo. O amor pela beleza - um sentido inato que estima a boa escrita, odeia a escrita ruim e sabe a diferença. O amor próprio - uma força que não precisa de autoafirmação constante, que nunca duvida que você seja, de fato, um escritor.
Você deve amar escrever e suportar a solidão."
Robert McKee
O amor pela estória - a crença de que sua visão pode ser expressa apenas através da estória, de que as personagens possam ser mais "reais" do que as pessoas, que o mundo ficcional é mais profundo do que o concreto. O amor pelo dramático - a fascinação pelas surpresas súbitas e revelações que trazem mudanças imensas à vida. O amor pela verdade - a crença de que a mentira aleija o artista, de que toda verdade na vida deve ser questionada de acordo com os motivos secretos de cada um. O amor pela humanidade - uma disposição para sentir empatia pelas almas que sofrem, para arrastar-se para dentro das suas peles e ver o mundo através dos seus olhos (...) O amor pela perfeição - a paixão por escrever e reescrever na procura do momento perfeito. O amor pela singularidade - o prazer pela audácia e uma calma absoluta quando ela encontra o ridículo. O amor pela beleza - um sentido inato que estima a boa escrita, odeia a escrita ruim e sabe a diferença. O amor próprio - uma força que não precisa de autoafirmação constante, que nunca duvida que você seja, de fato, um escritor.
Você deve amar escrever e suportar a solidão."
Robert McKee
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
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