sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O melhor de 2010

Por unanimidade de dois:
O melhor livro de 2010 foi o melhor filme de 2009:

E sei lá se não é o melhor livro de 2009 também, e 2008, já agora.

sábado, 25 de dezembro de 2010

A vida editada

A nossa vida é melhor no facebook porque só publicamos o que é engraçado, o que achamos que nos torna melhor de alguma forma. Em pequenas frases espirituosas, todos mundo é especial. Toda a vida é especial, única e alegre. A ilustrar essa vida especial e alegre, fotos especiais e alegres, onde estamos sempre bem, ou, no mínimo, ternurentos.

Não, não vou dizer que é falso, ou errado. Mas é cansativo.
Ando meio cansada.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Oh happy days (inspirado na Joaníssima e na época)

Os dias mais felizes da minha vida foram o dia em que ouvi o coração do meu filho pela primeira vez na ecografia e o dia do meu casamento, por esta ordem.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lá se vai o Tony

Até aqui o meu papel de pai tem sido mais ou menos lavar a criança, alimentá-la com paciência e mudar-lhe a fralda. Não é para me gabar mas julgo que as coisas estão a correr bem, ajeito-me bem com as tarefas e de certa forma posso dizer que ando bastante contente com o meu trabalho.
Com o crescimento do petiz, os desafios têm aumentado de intensidade e, claro está, também de dificuldade. Até porque o Gabriel em si está mais inteligente e já não o consigo enganar com tanta facilidade. Ultimamente, até me tem tratado com maior consideração. Dum momento para o outro, deixou o gritinho “uh” que, apesar de ser fofinho ouvir, era um bocado escasso para a importância da minha figura e passou para um honroso e pomposo “pai” que tem a força de me abarrotar o coração e eriçar a penugem de felicidade.
Quis o destino que nos meus tempos de ociosidade juvenil seguisse séries de televisão tão esclarecedoras como o Super-Pai ou o Médico de Família. Deste modo pude assimilar os ensinamentos que me foram revelados pelo Luís Esparteiro e o Fernando Luís no seu rodopio paternal. Por isso, julgo que esta é uma das razões porque estou sempre tão bem preparado para dar uma resposta positiva aos eventos que me vão surgindo pelo caminho.
O meu maior desafio surgiu na semana passada. O Gabriel ia fazer parte duma peça de teatro. A ocasião merecia algum cuidado da minha parte. Já se sabe, é nestas alturas que uma cria precisa da presença e sabedoria do progenitor para lhe dar bons conselhos e estender a mão em ajuda.
Esta foi, mais ou menos, a minha primeira conversa de pai para filho, da qual diga-se muito me orgulho, embora a mãe do pequeno, um bocado ciumenta de eu me ter chegado à frente, pense o contrário:


“ Então é assim Gabriel…esta oportunidade pode ser um grande passo percebes? Pode parecer uma coisa amadora e até podes pensar que isto não é nada de especial, mas acredita que as coisas começam sempre assim. Quantas entrevistas é que já viste em que as estrelas de Hollywood se referem a estes espectáculos como o início? Ou tu pensas que o George Clooney e o Harrisson Ford estavam no café e no momento seguinte passeavam na passadeira vermelha? Pronto, tens razão, o Harrisson Ford não é o melhor exemplo para definir um bom actor mas enriqueceu com o cinema e isso também tem o seu valor ou não? Independente do seu talento o que interessa é a dedicação. Sabes? Dedicação!
O teu pai quando era pequeno nunca teve nada disto. Não havia espectáculos de Natal na escola, não havia câmeras de filmar e os miúdos ficavam sempre com as avós sem nada para fazer além de ver televisão ou, no meu caso, jogar Subbutteo. Portanto nunca pisei um palco. Se tivesse a oportunidade que tu tens agora agarrava-a com as duas mãos e esforçava-me imenso por interiorizar as ideias da educadora. Podes nem gostar daquilo que ela está a compor mas apenas tens de fazer o teu papel o melhor que conseguires e esperar os aplausos do público. No fim tudo se resume a isso, aos aplausos e reconhecimento do público.
Não deves é ficar ansioso ou nervoso. Se te apresentares calmo vais ver que tudo corre normalmente. Também não deve ser nada de especial o teu papel. Com toda a certeza que não tem a exigência dum Shakespeare, um Sam Shepard ou um Tenesse Williams. Repara, tens uma actuação física, não tens falas para decorar e nem sequer te vais preocupar com as marcações de cena. Ocupa a tua mente em bater palmas, rodopiar e bater com os pés. Só isso. Pá, estás sempre a fazer isso em casa e na rua só tens de transpor o sentimento para aqui. Mas digo-te que quando as cortinas se abrirem vais sentir um murro no estômago. É sempre assim, estejas aqui, na faculdade a apresentar um trabalho ou a pedir ao teu chefe um aumento. Chama-se pressão. E mais cedo ou mais tarde vais te de lidar com ela. E hoje é o teu dia. Vais ser o centro das atenções, os olhos e os flashes vão seguir-te por todo o lado. Todos os passos que vais dar vão ser registados e postos no youtube ou facebook.
Mas tu és bom sabes?! És talentoso e, nesta maravilha que é a criação, ficaste com a candura e inteligência do teu pai, só tens de usar o que te está nos genes. E deixa as coisas seguir com naturalidade. Olha, pensa que as pessoas estão todas de fralda. Costuma resultar.
Gabriel olha lá agora para o pai! Olha, olha para mim vá! Percebeste o que eu te quis dizer? Hum? Mas por favor, aconteça o que acontecer e tenho a certeza que a determinada altura vais ficar baralhado com as luzes, as pessoas e o movimento, não me chores em palco. O choro é para mariquinhas e no palco era bom que fique o teu suor e não as lágrimas. Percebeste, fofinho?
Ainda bem, sendo assim vai lá ter com os outros e muita merda para ti!”
Levei anos até conseguir não ter pena de mim por não ter mãe. E agora começa tudo de novo, ao pensar que o Gabriel teria mais uma avó, se a vida não tivesse tomado outro rumo. Consegui ignorar bem até recentemente, abafando a sensação cada vez que ela surgia, porque, caramba, já sofri muito neste luto todo. Mas, de uns dias para cá, foda-se, queria tanto, mas tanto, mas tanto que o meu filho a tivesse cá.
E com tudo que aprendi, já devia saber que o melhor é chorar tudo e mandar tudo à merda, porque é uma merda, mesmo. Não há maneira esotérica, religiosa, o diabo ao avesso, que traga nem um momento dela de volta. Ela acabou. Ela morreu. Ela não existe mais.



domingo, 19 de dezembro de 2010

As três gargalhadas mais duradouras

- Vendo o Viva La Bam, um programa imbecil da MTV, fizeram uma partida a um gajo que era, enquanto ele dormia, à noite, puseram-lhe o bocal de um aspirador em pó na boca e ligaram. Usavam uma câmara de luz nocturna. O homem parecia que estava a ser sugado para o inferno. Ri-me naquele momento - era tarde da noite - e acordei-me algumas vezes a rir-me durante a noite, acordei-me a rir e a tentar contar ao Hugo, mas perdendo o fôlêgo a cada vez, tal o histerismo.

- A passear por Miróbriga num dia de chuva, tudo cheio de lama, só os dois no sítio, e o Hugo ansioso para ver o fórum. Depois de algum tempo à procura, lá avistou o dito cujo, empolgou-se e lá aperta ele o passo. Mas está de chuva, e o Hugo enfia o calcanhar uma poça de lama e é projectado na horizontal para o ar, como se levitasse, aterrando bem no meio do charquinho, salpicando porcaria por todos os lados. Depois de me certificar que viveria, comecei a rir-me. A rir-me. E a rir-me um pouco mais. De boca aberta. Ri-me no fórum, ri-me no centro de interpretação, ri-me no restaurante a mandar a cabeça para trás e a bater os pés. "Já basta, não", dizia o Hugo, meu namorado há coisa de três meses.

- A mais duradoura: no cinema, a ver o Belleville Rendez-vous, filme engraçadíssimo para além de muito ternurento, lá está uma das gémeas a pescar sapos no lago, chega a outra, saca dum murteiro e manda aquilo para água. PFFFFFFFFFFFF, explosão surda, sapos para todo o lado. E eu não acreditava que pudesse haver algo tão engraçado no mundo. Não acreditava mesmo. Aquela cena premiu o meu ponto G da comédia. E abri a boca. E ri-me. E abri mais a boca. E comecei a ouvir os shhhh, shhhh. E tentava controlar a risota, mas era impossível, aquilo era muito engraçado, e eu ria-me, ria-me, aproveitava os outros momentos engraçados do filme para me rir, e me rir, e me rir. Depois, na saída, foi levar com os olhares acutilantes da malta metida a besta que vai ao King, mas tudo bem, porque mal via, só conseguia dizer ao Hugo: "mas... tu viste o... aaaai... PFFFFF.... e sapos a vo.... HAHAHAHA HAHAHAHAHA HAHAHAHAHAHAAAAAAAAAAAAAAAA". Ele levou-me delicadamente dali para fora. "Mas, Hugo, tu não podes ter visto o.... ai, meu Deus, o... HAHAHAHAHHAAH"


E vocês, hein?

sábado, 18 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Curtinha sobre um objectivo concreto para os próximos Natais da nossa vida

Radical e simples, assim.

Tanta coisa boa que se pode oferecer, de coração, se ser engolido pelo vórtice papainoélico. Tanta cena mais fixe para se fazer com o tempo (e com o subsídio, já agora) do que comprar tralha que se vai confirmar tralha no ano seguinte, ao fazer a viagem sem volta para a cave ou para a garagem. Imagino, assim, de catadupa, umas oito coisas.

Há muitas outras formas de fazer as pessoas felizes e sem deixar de dar e de se dar.

(Oferecemos vários vouchers aos padrinhos quando eles casaram e, aparentemente, gostaram: andam a poupá-los, a poupá-los!)

Aliás, comprar menos, sempre menos, cada vez menos e ter cada vez menos coisas é um objectivo concreto também, mas não para o futuro, mas para já, para ir fazendo já. Sobra mais espaço para todos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

É a Literatura, Camarada! Parte ?? - depois de Hemingway, as mulheres (mais uma vez)

Feministas (homens e mulheres) que gostem de contos, leiam In Love and Trouble. Ia escrever aqui sobre um conto específico desta pequena maravilha de livrinho, a propósito de uma conversa curta e boa que tive com uma amiga há bocado, mas não o encontrei em lado nenhum - chama-se Her Sweet Jerome, e é sobre uma mulher que descobre que a rival que tanto teme não é outra mulher, mas sim uma causa, algo muito mais difícil de fazer frente, e, de facto, não há frente a fazer.

Da mesma maneira que amo os homens fortes a cheirar a cavalo de Hemingway, adoro as mulheres completas de Alice Walker e Toni Morrison. Sei que a intenção de ambas é falar das negras americanas, mas, caramba, falam de todas. Não há mocinhas nem vilãs, são todas tão imperfeitas quanto qualquer uma de nós. E é tão clássico, tão intemporal... de tal forma que quando li Sula - um livro do qual já falei aqui e que não consigo MESMO entender porque não está traduzido (a autora é um Nobel) - não tinha mais de 20 anos e nem sonhava com casamentos nem filhos, mas uma passagem me fez fechar o livro, emocionada, e parar um pouco de ler, respeitando a dor daquela mulher que perdera o marido para as circunstâncias da vida. Graças a Deus que não foi só a mim que provocou isso, porque, ao procurar uma frase-chave na net, encontrei várias ocorrências.

E é assim:

Could he be gone if his tie is still here? He will remember it and come back and then she would... uh. Then she could... tell him. Sit down quietly and tell him. "But Jude," she would say, you knew me. All those days and years, Jude, you knew me. My ways and my hands and how my stomach folded and how we tried to get Mickey to nurse and how about that time when the landlord said... but you said... and I cried, Jude. You knew me and had listened to the things I said in the night, and heard me in the bathroom and laughed at my raggedy girdle and I laughed because I knew you too, Jude. So how could you leave me when you knew me?"

E é maravilhoso. :)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma portinha para o resto dela

Dois momentos luminosos da Lurdes, avó do Gabriel, minha sogra:

- Aqui em casa, há uns valentes meses, estava ela com o Gabriel na sala a ver um programa da tarde, eu entro lá e está ela com os olhos cheios de lágrimas. "É que o Marco Paulo está a cantar a música da Nossa Senhora, e me emociono sempre".

- Na segunda-feira, lá em casa, começa a dar um cantor também num programa da tarde e o rosto dela ilumina-se, aumenta a TV, alheia a tudo. "Adoro este cantor".

Em oito anos que estou com o Hugo, foram as duas únicas vezes que vi a Lurdes fora do papel de mãe/avó. Estava a desfrutar de emoções que nada tinham que ver com filhos e netos, que lhe falavam a ela enquanto mulher. Achei fenomenal e revelador, por mais pequenino que fosse o momento.

Há uns dias, deu na Oprah uma entrevista com a Laura Bush, em que uma das filhas diz que chorou durante toda a leitura da biografia da mãe. A Oprah diz-lhe: "Pois, é que, para nós, a nossa mãe é apenas isso, a nossa mãe. Foi sempre a nossa mãe. Não há nada que saia desse âmbito". Foi isso que emocionou a filha, ver as outras dimensões daquela mulher.

Como a minha própria mãe nunca foi muito maternal no sentido tradicional da palavra, conheci-a bem noutras facetas, sei do que ela gostava (jardinagem, boa música, pechinchas, dançar) e do que não gostava (quase tudo o resto). Mas foi excelente ter esse vislumbre da Lurdes, que acaba por desempenhar muito do papel de mãe comigo também. Abriu-me um bocado os olhos. É improvável que a Lurdes escreva uma biografia. Sendo assim, vou procurar conhecê-la melhor de outras formas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Post em construção: livros lidos este ano

Uma chatice não haver uma lista algures para escolhermos, como há a dos filmes estreados. Nunca me vou lembrar do que li, vá, em Abril.

- Selma
- A Estirpe
- A Catedral do Mar
- Pássaros Feridos
- Sum
- A vida na porta do frigorífico
- Women, Food and God
- O Buda dos Subúrbios
- Alta Fidelidade
- O Físico
- Milionários Acidentais
- Vou pondo à medida que me lembro (na esperança que apareça algum assim mesmo muito inteligente).

Hugo

- O Exorcista
- Neverland
- Blueberry (cowboyada)
- Money
- A I Guerra Mundial
- O Grande Salto
- Slam
- Alta Fidelidade
- 31 Canções
- (Também não se lembra de mais nada).

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dois amores

Um é um casamento antigo: continua charmoso e razoavelmente divertido. Já cultiva uma barriguinha saliente, fruto da acomodação, do tomar tudo por certo. Traz o conforto dos amores velhos, a previsibilidade, o saber que nada mudará daqui até ao infinito.

O outro chegou de rompante, rasgando tudo, lindo, jovem, fresco, cheio de genica, com muito calor. Fez-me desistir de tudo: num primeiro e breve momento, aos poucos, e depois foi mesmo mandar tudo pelos ares. Uma paixão tardia, como já julgava não encontrar na minha vida. E com as paixões tardias, chega a ansiedade. Ainda por cima porque este outro amor é instável. Prometeu-me tudo no princípio: teria o melhor dos dois mundos. Mas como todo bom amante, mentia com quantos dentes tinha, e o seu sorriso era devastador e abalava o meu mundo.

Mesmo assim, preferi-o. Preferi-o com todas as forças que tinha, por acreditar que tanta paixão só pode valer a pena. Mas ele era cada vez mais errático, cada vez mais vago, mais rarefeito. A paixão começava a arrefecer, embora eu negasse com todas as minhas forças. Mas que paixão sobrevive com uma mão-cheia de nada, só fumo? Já não tenho 15 anos.

E a carência instalou-se.

E com a carência, veio a saudade do casamento antigo, que me assaltava ao dormir, em sonhos nostálgicos. Saudades da segurança, do saber com o que podia contar, do conhecimento, da solidez. De alguma previsibilidade.

Uma manhã, acordei e tentei voltar para os seus braços. Não aguentei, pus o rabo entre as pernas e tentei voltar para os seus braços. Ele prometeu-me pensar. E eu aguardo...

...

... E enquanto aguardo, o segundo amor, lindo, quente, perfumado, jovem, fresco, criativo, cheio de novidade, voltou a assaltar-me os sonhos, inquietando-me, acalorando-me, deixando-me cheia de pena de que tudo tenha terminado assim para nós. Mas terá mesmo terminado? Sim, acho que sim. O meu coração diz que sim. Agora ainda dói, e doerá durante algum tempo, mas sei que acabará por sucumbir. E um dia, também para mim, será fumo, uma mão-cheia de nada, uma memória distante, uma brincadeira que foi divertida enquanto durou.

E direi a mim mesma: cresci. Agora, sou mesmo uma mulher adulta.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Recuperação de rubrica antiga: É a literatura, camarada parte ???

Hemingway é o meu escritor preferido, o que não deixa de ser cliché para uma mulher Carneiro.

Não, não é o meu contista preferido, é mesmo o meu escritor preferido. Não me vou pôr com disparates e fazer aqui um elogio, sairia sempre uma coisinha medíocre, além de não dizer nada de novo - o indefectível Harold Bloom explica timtim por timtim o que eu sinto em How to Read and Why, (há em português em qualquer biblioteca e vale muito a pena). Digo só, rapidamente, que adoro a economia, adoro as frases curtas, a absoluta limpeza do texto, a dignidade e sensibilidade masculinas, o sexo, a bebida. Falei da economia? Um génio, para mim, diz mais com menos. Tira tudo que não é David da pedra. E deixa-me completar o que não está dito.

É por isso que Os Assassinos tem, para mim, a escrita perfeita.

(Ou será o crístico caso de Francis Macomber? Ou o velhote solitário que procura um café bem iluminado que ofereça uma pausa da escuridão? Ou o regresso do jovem que nunca será como antes, ou será o menino que quer ser toureiro e aquilo tudo acabou muito mal. Sinto uma empatia enorme por todos os homens de Hemingway).

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Do que não me rio

Sou incrivelmente observadora e má-língua. Sou detalhista, vejo nuances imperceptíveis ao olho comum (comum não, normal) em tudo que vejo, todo mundo tem segundas intenções, a escolha de palavras revela quase tudo que uma pessoa mais quer esconder, quando João me fala de Pedro, sei mais de João do que de Pedro. Gozo muito com quem acho pretencioso, e acho muita gente pretenciosa. Acho muita gente ridícula, muita gente medíocre, muita gente burra. Mais ainda quando essa mesma gente se considera muito in, muito up, muito on.

No entanto, fui incapaz de me rir da Sónia que andou aí pelo "iutubi" a dizer "dabodabodabo", da mesma forma que não acho nem um pouco, mas nem um pouco mesmo, engraçado o miúdo do clarinéte. Não consigo ver, por mais que descontextualize, a piada da ignorância ingénua. Só acho triste, mais triste ainda por todo mundo (muitos do parágrafo anterior) se rir daquilo, quando "aquilo" é o que a pessoa é, de verdade, sem fingimentos.

Não achei piada ao Paulo Ruas à procura duma namorada pelo facebook. Só achei que o homem estava a ser extremamente pró-activo. Bem como todos os anúncios do correio sentimental da Maria. Não consigo rir-me daquilo, é gente a batalhar pelo que quer.

Das pessoas, não me rio do que é sincero e honesto, por mais caricato que possa parecer. Só acho piada aos maneirismos, convencimentos, à auto-estima em excesso.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cidade 2000



A Cidade 2000 é um bairro de Fortaleza construído mais ou menos no ano em que eu nasci e que foi inicialmente formado por 2000 casinhas pequeninas para a classe média-baixa. Vivi lá em bebé, mas não me lembro, obviamente. De qualquer forma, permanece sendo o meu bairro preferido da minha cidade. E porquê? Por vários motivos, mas vou escrever só um.

A Cidinha mora ao lado da Conceição que mora ao lado da Helena que mora ao lado do Chico que mora ao lado da Tetê. A Cidinha pôs uma placa na porta de casa a dizer "cabeleireiro", a Conceição pôs uma faixa de pano a dizer "faço salgados para fora", a Helena pôs "lava-se roupa", o Chico "conserta ventiladores" e a Tetê "vende dindim" (= sumo de fruta congelado).

É um bairro de gente pobre num país mesmo muito pobre. Agora estão os caros leitores a rir-se, coitadinhos, vão tirar as placas e faixas no segundo mês, porque não têm eles dinheiro para esses serviços e a classe média não vem aqui procurá-los. Vão morrer de fome.

Não vão, não. Sabem porquê?

Porque a Conceição corta o cabelo com a Cidinha, que manda os ventiladores para o arranjo no Chico, que adora um dindim quando está calor - e está sempre -, manda sempre a roupa para lavar na Helena, que é doida por empada de palmito.

Na Cidade 2000, os vizinhos são clientes uns dos outros. E assim vão levando a vidinha, de cabeça erguida.

E é por isso que eu, economico-analfabeta, vejo perfeitamente que não é a falta de consumo que salva economias.


E fiquei contente em escolher uma casa com uma placa a dizer "gráfica" para fazer os missais da missa de sétimo dia da mamãe.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porque somos doidos por...The Beatles

Foi a Melissa que me ensinou a gostar dos Beatles. É claro que, como toda a gente, já conhecia algumas músicas deles, mas apenas aquelas embebidas de yeah yeah e yos yos dos primeiros discos que, apesar de até serem fixes, não são assim nada de especial quando comparadas com o que eles fizeram a partir do Rubber Soul. Portanto, até aos 30 anos sempre tive uma ideia muito errada da banda e bastantes vezes me interroguei porque raio as pessoas gostavam tanto deles. Acho que o nome que o disco A Hard’s Day Night teve no Brasil simplifica realmente aquilo que eles eram: Os reis do iê iê iê. Mas nada disto é capaz de destruir um dos meus guilty pleasures preferidos: cantarolar A Hard Day´s Night enquanto faço os 15 minutos de caminhada que separam a estação de comboios da minha casa. Por ironia do destino, no exacto momento em que estou a escrever estas palavras, há uma greve geral que percorre as ruas de Lisboa e o Metro está fechado por isso vou ter de ir a pé dos Anjos ao Cais do Sodré. Imaginem a quantidade de vezes que vou ter de cantarolar aquilo!
Os Beatles foram a banda sonora da minha extraordinária entrada na vida adulta depois de eu e a Melissa termos aninhado confortavelmente as cabeças um no outro. Isto aconteceu aos 30 anos e, de facto, se for a pensar bem, 30 anos é um bocado tarde para isso, mas foi assim que aconteceu e não há nada que se possa fazer, muito embora, por outro lado e em minha defesa, posso sempre argumentar que estas circunstâncias permitiram que a minha juventude fosse um bocado mais longa, mas os reais proveitos dessa circunstância de vida não foram, como seria de prever, aproveitados condignamente com tudo aquilo que um solteirão jovem e, vá, engraçadote, deveria ter direito.

A Melissa sempre gostou de apregoar que foram os Beatles que a ensinaram inglês. Que em pequena, tal como a Mafalda do Quino, gostava muito das músicas deles e não descansou enquanto não percebeu o seu significado. Vai daí, pegou num dicionário e estrofe por estrofe, acorde por acorde vislumbrou a poesia. Isso demonstra bem a mulher que é. Na verdade, se alguém nos diz isso, sabemos que podemos casar com ela, ou não?

O primeiro disco que me ofereceu foi o Rubber Soul e disse-me que a partir dali podia ouvir o que quisesse deles. Fiquei tão impressionado com aquilo que ouvi-o continuamente durante meses até resolver comprar outra coisa. O acto de receber um disco teve para mim um efeito extraordinário, isto porque em tempos fazia imensas colectâneas das minhas músicas preferidas para oferecer às miúdas que me despertavam algum interesse. As minhas colectâneas, e fazia muitas porque tinha também muitos interesses, apesar de serem magníficas, isto qualquer crítico musical o pode facilmente comprovar, nunca fizeram grande furor e nunca atingiam o alvo tal como eu esperava. Portanto, para variar as vicissitudes amargas do passado, foi bastante agradável ser, desta vez, eu o alvo.

Nos primeiros tempos de namoro tínhamos um velhinho Fiesta de 88 a quem chamávamos muito carinhosamente de El Che porque a matrícula iniciava-se precisamente por XE. Apesar de prometermos muito, nunca chegámos a pôr um auto-rádio naquilo. O carro tinha um aspecto tão fungoso que gastar qualquer tostão nele causava-nos algum desconforto e, para ser sincero, tínhamos realmente muita coisa onde esbanjar o nosso dinheiro. Os princípios de namoro são óptimo por causa disso, perdemos a cabeça e fazemos tudo sem pensar muito nas consequências e isso até tem sentido porque nos sentimos mais ricos do que normalmente nos sentimos e há algo de profundamente sincero e maravilhoso quando conseguimos alguma riqueza não material nas nossas vidas. Independente do bom-senso, a dura realidade foi que os números da folha do saldo que a nossa vida imprimia nunca foram suficientes para comprar outro automóvel, de maneira que ainda passámos uns bons anos com o Fiesta. Com o disco rígido do cérebro da Melissa, que tem tanto espaço para o amor que sente por mim como para as canções dos Beatles, as nossas viagens eram percorridas com a sua voz a cantá-las uma por uma. Deitava-as cá para fora segundo o seu estado de espírito. Lançava farpas ao meu comportamento quando me portava mal em Norwegian Wood ou então arremessava o contentamento com o Here cames de Sun quando o sol nos fazia fechar os olhos e éramos obrigados a baixar a pala. É daquelas coisas que se vêem nas comédias românticas e que sabe bem conseguir senti-las fora do celulóide. Até porque como se sabe, as líricas do John Lennon e do Paul McCartney têm vários love you e dá um bom conforto a consciência que aquilo também pode ser cantado para nós. Até me dava vontade de gritar e puxar os cabelos como as parvalhonas das miúdas da altura.

Mas os Beatles marcaram também o meu afastamento da música mais negra, vocês sabem, daquelas canções em que tudo está a desabar e é difícil suportar a angústia duma paixão que se afasta do nosso controle. Enfim, sentimentos que estão sempre a acontecer enquanto não ancoramos num porto seguro. Mas com a Melissa isso não faz sentido pois não? Na verdade casámos, temos um filho e escolhemos sempre músicas dos Beatles quando do infantário nos pedem uma canção para pôr no PowerPoint que nos enviam de vez em quando com fotos do Gabriel. O Gabriel a comer, o Gabriel a dormir ou o Gabriel no penico. Ficamos sempre muito orgulhosos a ver as apresentações com o Got to get you into my life em fundo até que a Melissa cheia de orgulho maternal me diz:

- Não achas incrível termos conseguido fazer uma coisinha tão maravilhosa?

Curtíssima altamente enigmática



Acho que o meu primeiro momento verdadeiramente "de adulta" ainda está por vir. E cheira-me que está para breve.
E vai exigir uma goela suficientemente larga para deixar passar um cururu adulto.
E o mais provável é que a degustação batráquia seja absolutamente em vão, mas acho que vai ter mesmo de ser, porque, aí está, ser adulta tem destas coisas.

De qualquer forma, mesmo sendo diabolicamente vaga, peço reza a quem é de reza e torcida a quem é de torcida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nova rubrica: Porque somos doidos por... episódio 1- Glee



- Tem canções fixes com arranjos que são daqueles guilty pleasures calóricos, mas o guilty pleasure fica-se por aí, pelos arranjos e coreografias: a série não é sobre canções, a série usa as canções matematicamente para compor os diálogos, e cada verso e cada arranjo têm significado e colocação precisas.

- Assim como Popular, do mesmo gajo, vista cá por 10 pessoas na Sic Radical em 2002*, Glee começa com uma mão-cheia de clichés: as cheerleaders que têm um clube de castidade, o gay, a gorda, o jock, o deficiente físico. Leva os clichés aos píncaros durante uns poucos episódios - a cheerleader engravida, o gay tem dificuldades em sair do armário, etc - para depois começar a derrubar cada uma das nossas expectativas. Lá pelo meio da série, os lugares-comuns são baralhados - a cheerleader é boa pessoa, o gay e a gorda são sexy e cheios de segurança, o jock realiza-se mesmo é a cantar hard rock FM dos anos 80 - e os clichés que permanecem são cheios de leitura, não são caricaturas.

- Assim como Popular, Glee quer derrubar cada um dos nossos preconceitos. Quando achamos que já não nos surpreendemos, somos desafiados. Surge uma treinadora de futebol no balneário, um puto lindo de morrer mas que é profundamente inseguro da sua aparência, miúdas que curtem uma com a outra sem serem lésbicas, um deficiente que entra na equipa de futebol - tudo fundamentado de maneira profunda, bem escrita, com muita ternura e humor.

- Assim como Popular tinha a genial Bobby Glass, Glee tem a Sue, e se a série fosse uma merda mas estivesse lá a Sue, já valeria a pena. Um papel delicioso escrito para uma grande comediante! (Mas a minha personagem preferida neste momento é a Brittany - a melhor loura de sempre, e acho que é a do Hugo também. E não deve ser nenhum acaso, a produção está a dar-lhe mais espaço. Viram o episódio da Britney Spears?)

- Finalmente o Ryan Murphy tem o sucesso com uma série de adolescentes que já merecia com Popular. Quem for gleek como nós e ainda não o tiver feito - difícil - procure ver Popular.



*embora hoje em dia toda a gente diz que viu aquilo na altura em que deu e que sim, que uau, que génio, não é verdade. Traduzi boa parte da série e ninguém, fora eu e o Paulo, achava que aquilo era muito mais do que uma série de adolescentes.

domingo, 14 de novembro de 2010

Rapidíssima às amigas que serão mães

Conselho nº 1 - peçam ajuda e conselhos sem medo nem vergonha, sempre e a qualquer hora. As mães gostam de se ajudar, de uma forma geral. Troquem experiências, não se isolem, dividam
tudo que quiserem dividir, alegrias e angústias. Ter um filho é uma aventura e uma festa e os vossos amigos e amigas vão querer participar. Bem, eu sei que EU quero.

Conselho nº 2 - só sigam os conselhos que vos parecerem bem. Nisto dos filhos, a) todas nós estamos a fazer o nosso melhor e b) cada qual à sua maneira. Mais cedo do que tarde, também vocês terão o vosso jeitinho, as vossas teorias. Expressão-chave na maternidade: zona de conforto. Ninguém pode obrigar-vos a sair da vossa.

Conselho nº 3 - Não se esquecer dos dois conselhos anteriores. E de experimentar o secador de cabelo nas crises de berreiro.

Estou muito feliz por vocês, minhas bucholas! :)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Primeiro post do ano sobre o Natal

Sim, as pessoas entram numa fúria selvagem e cocainómana nos corredores dos brinquedos a 50%, sim, as crianças vêem 20 minutos de publicidade intercalados com cinco minutos de bonecos e também elas são engolidas pelo frenesim cocainómano, sim, o Natal é um "sugar rush" que dura mais de um mês e deixa meio mundo à beira de uma síncope nervosa.

Mas também, no Natal, as pessoas sentem-se mais generosas e caridosas, e falam com familiares que odeiam, e lá fazem o frete de sorrir àquele tio tão amargo, e aderem a campanhas de solidariedade, e fazem cabazes para velhinhos, e o que me importa a loucura cocainómana e hipócrita quando, no fim, pessoas com várias carências são beneficiadas, nem que seja uma vez por ano?

Com todos os seus problemas, más interpretações e maus usos, e merdas várias, continuo a gostar do Natal e a achar a sua existência mais que válida.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Microblogging

- Se a Internet só me tivesse dado algumas das pessoas que me deu já teria valido a pena o tempo que cá passo.

- Mas sim, deu-me muito mais: a totalidade do meu trabalho dos últimos três anos começou por networking virtual. Quase tudo muito bom. Fora as coisas que se aprendem.

- Também adoro os ódios de estimação virtuais.

- Adoro simplicidade, odeio simplismo. Mas é que odeio mesmo. Simplismo é burrice e cegueira ao mesmo tempo. "Ah, o problema é X? Duh, faz Y". Tá bem.

- Continuo com coisas a mais dentro de mim para o meu tamanho, e não sou pequena. Sou baixa, mas não sou pequena.

- Cada vez mais gosto de cuidar da casa. Não é nada visível para quem cá vem, porque ainda é um chiqueirinho de brinquedos e merda debaixo dos sofás, mas gosto cada vez mais, o que é melhor do que gostar cada vez menos.

- A Tatas disse-me que o senhor do Adeus do Saldanha morreu, e fiquei mesmo triste. Espero que apareça outro para continuar aquele trabalho que, por acaso, até acho bastante útil.

- Cozinho cada vez melhor, diz o Hugo.

- Tenho-me lembrado de coisas horríveis da minha infância, de quando a minha mãe trabalhava numa creche pública e estavam sempre a morrer bebés de fome, de pneumonia, disto ou daquilo. Tá bem, Portugal não está nada de jeito neste momento, mas falta muito para ser um país de terceiro mundo. Vocês não sabem o que é um país de terceiro mundo.

- Qualquer dia conto a mini-história de um desses bebés, já que é muito, mesmo muito provável que ninguém se lembre dele além de mim (e da mãe, se ainda for viva), e quando mais ninguém se lembra de uma pessoa, ela deixa de existir.

- Também me tenho lembrado de coisas maravilhosas que não podem deixar de existir, por isso, tenho de retomar o meu blog de infância.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Prioridades

- Gabriel.
- Cão.
- Ga-bri-el.
- Cão.
- Bi-el.
-Cão.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amá-lo

Ok, cá estamos.

Podes virar-te. Respira fundo e vira-te. Não está mais ninguém aqui dentro, só tu. E isso é o pior, porque ninguém consegue ter a tua criatividade para arranjar novas maneiras de ser mazinha para ti própria. E agora vira-te, por favor. Mais vale olhar de frente do que ir tendo pequenos vislumbres inevitáveis durante o processo, isso dói ainda mais.

Coragem, vira-te.

Pronto, essa aí és tu, esse é o corpo que ficou depois da gravidez. Aquelas são as estrias, já esbranquiçadas, que ganhaste na 36ª semana. Muito volume, muita falta de jeito, muito desencaixe. Seios, braços, celulite, pele seca, alguns sinais. Pelinhos, poucos. Um umbigo.

Tudo isso és tu. Tudo isso aí do outro lado tem história. Esteve tudo presente desde o primeiro momento, desde que mal passavas dum desejo de uma noiva pós-adolescente. E isso tudo foi crescendo afogado em amor de muita gente, que a família é grande e os amigos abundam. E levou-te por tanta parte, foi veículo para sentir tanta coisa boa, tanta coisa má.

Esteve tão presente quanto a tua mente, que gostas tanto e é capaz de coisas incríveis. Mas sabes que mais? Isso tudo, aí do outro lado, também é.

É sempre uma tortura comprar roupa. Deixas ter tudo velho, a cair de podre, para criares coragem e fazeres-te à luta. Mas a tortura, tu sabes, não é a roupa em si, e sim, este momento em frente ao espelho com as luzes fluorescentes da cabine acesas em cima de ti, despida, sem nenhuma piedade. E, se nada mais puderes fazer, se nada mais puderes pensar, vamos pelo menos, juntas, deixar de ter medo da verdade do espelho, em primeiro lugar.

E amá-lo, em segundo. Amá-lo assim como ele está, e não o que pode ser daqui a cinco meses, porque, ai meu Deus, a partir de amanhã não passarei das 500 calorias diárias para sempre. Vamos encarar a verdade de frente e amá-lo por tudo que ele permite: ver o vermelho, sentir frio e calor, cantar alto, ter orgasmos, chorar até fazer enxaqueca, cheirar o pescoço do teu filho.

Agora vamos lá, juntas, comprar roupa, que bem precisas. De cabeça erguida, agora.

domingo, 7 de novembro de 2010

A Castanha

Passeia com ela no ar, zuuuum zuuuum, ião, ião! (avião), zuuum... Para no segundo seguinte dar-lhe um grande pontapé: BÓIA! BÓIA! E leva-a ao ouvido, atarefadíssimo, e atende uma chamada: Tô? Tô? E desliga.

Não admiro tanto a criatividade do meu bebé como a invejo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O fervor que me falta

Ao contrário da ponderada amiga Cê, sou e sempre fui de extremos. As minhas ideias estão quase sempre nos pólos e é raro alguma coisa me ser indiferente (mas há algumas). Ao contrário de muitas características minhas que mandava sem olhar para trás pela sanita abaixo, o ser-se intensa faz de mim o que sou, e as melhores partes de mim o são por causa disso mesmo. De qualquer maneira, nunca disse e pouco pensei, na vida, que a opinião do outro é cocó*, e é isso o que interessa.

Interessa porque justifica o fervor que me falta: não tenho, nem nunca vou ter preconceito político. O estar-se errado à partida só por se ser de direita ou esquerda, e todos dum lado são uns cabrões e todos do outro são salvadores da pátria. Não consigo, apesar dos rubores vermelhos cá de casa, achar que não haja ideias boas e más em todos os lados. E especialmente que aqueles gajos lá a mandar sejam princípios bons ou maus antes de serem gente, o que me leva a pedir a chuva de pedras que se abaterá sobre esta singela extremista que vos fala: ontem, ao ver a entrevista com o Sócrates na TVI, não sibilava como os repórteres e os rodapés que o atacavam sem piedade. Só via um homem metido numa enorme alhada, mesmo que tenha sido criada por ele próprio. Pensei o quão lixado seria se tudo que estivesse ali a dizer fosse de absoluta boa fé, o quão kafkiano. E sim, tive pena do homem. Caraças, e se fosse o meu pai?

(Não, não voto PS, como disse, sou uma mulher de extremos. E não gosto mais do Sócrates do que de qualquer outro político, porque estou meio como uma lôra política, não sei bem quem fez o quê. É só de princípios que falo, e não da actualidade ou de quem fez o quê de certo ou errado, ou quem mentiu ou deixou de mentir. Interessa-me, é claro, mas não encontro uma resposta que me satisfaça em lado nenhum, nem na direita, nem na esquerda).


* têm é de estar de acordo com isto, obviamente.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vassalagem ao tempo

Porque às vezes, como já disse, não resta nada além de ficar parada a torcer por nós mesmos, sem perder a fé, e reconhecer que não dá para acelerar os dias, o ritmo das coisas, algo muito acima de nós e da nossa compreensão, e ainda mais da nossa intervenção.

Controlar a ansiedade. Viver o presente. Ver as cores de hoje. Sentir as sensações de hoje, humildemente, sem perguntar o que vem a seguir, porque o Tempo, senhor de nariz empinado, não diz.

Não hiperventilar.

sábado, 30 de outubro de 2010

O lugar perfeito

Sonhei com o lugar perfeito! Ao pormenor!!!

O lugar perfeito era um palácio em Belém, muito pouco utilizado pelos cidadãos mas com manutenção da câmara, e tem um grande pátio ao ar livre e, descendo umas escadas, dois salões enormes. Famílias encontram-se lá às sextas-feiras depois do trabalho. Algumas mães, segundo a escala da semana, vão para um dos salões, onde há muitos carrocéis, almofadas e muitos brinquedos. Vão para lá todas as crianças e lá ficam a brincar. Esse salão é ligado ao primeiro por uma porta. No primeiro salão estão puffs, revistas, máquinas de café e uma aparelhagem, onde os adultos podem ter um tempinho de adultos. Há tapetes vermelhos por toda a parte. Cada casal leva um CD da sua preferência e põem-se a ouvir música e a falar de várias coisas com os outros. Todos falam baixinho (mas isso se calhar, era por ser um sonho). As crianças entram e saem da sala dos adultos quando lhes apetece.

A conversa é animada e as pessoas são diversas. O Pedro e Carla, que não têm filhos, estão lá e adoram também. :)

Há uma parte da sala de adultos que parece uma loja de roupa em 2a mão, mas não é loja, é para troca. As pessoas trocam as coisas. E trocam também receitas e comidinhas.

É assim, o lugar perfeito. Uma tribo de gente da cidade. Adorei o sonho. Espero voltar lá todas as sextas.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tudo é uma questão de leitura

Acho que até já escrevi isto por aqui, que "tudo é uma questão de leitura" é a minha frase de eleição, aquela que respondo quando me perguntam, nas inúmeras entrevistas que dou, qual é a minha frase preferida.

Foi-me dita pelo meu pai - que é autor de muitas das minhas frases preferidas - quando eu disse que andava a ver fantasmas. Ele disse: podem ser fantasmas e pode ser por quereres que sejam fantasmas. Pode ser uma leitura. Se eu estiver virada para uma determinada interpretação dos acontecimentos, é essa a interpretação que o acontecimento vai ter.

"Tudo é uma questão de leitura" voltou-me à memória durante os aproximadamente 30 minutos que passei a ler "O Segredo", porque a tal "força da atracção" não é mais do que isso, uma questão de leitura. Se eu estiver a pensar em penas brancas, verei penas brancas (é o exercício que o livro dá para provar que temos um magnetismo XPTO para desejos: pensar numa pena branca e dar uma semana para a pena branca aparecer).

Mas adiante.

Estou a passar por dias difíceis, de muitas incertezas. No meio destes dias, há momentos excelentes, como se tudo corresse lindamente, como se o futuro brilhasse. E há momentos sombrios, sem energia nem fé, em que mal consigo levantar-me, em que não vejo nada de nada à minha frente.

Ora bem, a minha vida não muda todos os dias. Os dias são bastante parecidos uns com os outros desde que o Gabriel nasceu. Portanto, o que muda é a leitura de dia para dia. E é isso o que queria lembrar-me nos momentos sombrios: que é tudo uma questão de leitura. E essa leitura quem tem sou eu, está nas minhas mãos. Nos meus olhos.

(Terminei de ler Pássaros Feridos e trouxe para casa Alta Fidelidade, do Nick Hornby)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um meio problema que chegou

Naturalmente.

O Gabriel está a medir forças connosco. Dizemos não, e ele olha-nos nos olhos e repete a asneira, a desafiar-nos, testando o espaço (claro que estamos a falar de um bebé de menos de dois anos, não atribuo emoções adultas a crianças, acho parvinho). Voltamos a dizer que não, afastamo-lo do sítio, e ele repete. E repete. E repete. Até vir o grito e o choro, que o faz virar para outra coisa qualquer.

Pronto, queria saber das mães que passaram pelo mesmo como conseguiram impor a autoridade sem grito e sem palmada. Com grito e com palmada sei como se faz, e está fora de questão.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

26 de Outubro

Amanhã é o meu feriado pessoal, escolhido entre todos os dias do ano. O dia em que escolho que tudo dê certo.
Amanhã é o 6º aniversário da morte da mamãe e é um dia bom, como foi aquele dia de 2004. Dia do fim da dor dela, em primeiríssimo lugar, da nossa em segundo, sem más notícias, de alívio, de fome física, de sono físico e de tantas outras sensações físicas que tinham desaparecido, de descompressão, e, acima de tudo de verdade, sem engano, sem engodo, sem condescendência.


Tudo o que acontecer amanhã será para o meu bem, e para o bem do Fernando.

domingo, 24 de outubro de 2010

Confúcio não disse

Quando se está a passar por um momento difícil, quer a nível pessoal ou profissional (divisão parvinha, porque profissional é pessoal), quer a noutros níveis, quer a todos os níveis possíveis e imagináveis, às vezes o melhor a fazer é deixar-se estar quietinho, gastando o mínimo de energia possível.

sábado, 23 de outubro de 2010

Nova rubrica: alimente quatro por (às vezes muito menos de) cinco euros, em (às vezes muito menos de) 20 minutos

Cuscus à (o que a Melissa julga ser) marroquina.

Pegue numa caixa de cuscus (99 cêntimos, dá para bué), meça um copo de cuscus, ponha numa panelinha ou algo que o valha e deite a mesma medida de água fervente. Tampe e esqueça.

Pegue numa embalagem de strogonoff (ou bifes, mas neste caso tem de picar) de frango (cerca de 3 eur), ponha numa frigideira com azeite, tchooo, tchooo até a cena ficar branca, junte um potinho de knorr natura (1,50 4 unidades), mexe, mexe, tchoo, tchoo, salpique caril e canela, junte o cuscus, que depois de cinco a sete minutos já estará hidratado, cuscus para dentro da frigideira, mais caril, mais canela, quem gosta/quem não tem crianças pode pôr picante.

E pronto, é comer.

(As seguintes terão sempre fotos, o problema desta é que só me lembrei de criar a rubrica depois de termos comido).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O que é ser macho?

Sem me querer armar ao pingarelho, recentemente num artigo da Newsweek, escrevia-se sobre o papel do homem na sociedade e a necessidade da sua redefinição enquanto pai e marido.
Não é novidade para ninguém, mas se olharmos para o mundo de hoje, a mulher não é a mesma dos anos 50, que se limitava a cuidar do lar, dos filhos e ter o jantar pronto à hora do marido chegar.
De facto eram tempos de fartura para os machos, como aliás a personagem Don Draper muito bem sintetiza na multi-premiada série Mad Men.

O que é importante ressalvar é que o mundo mudou e a mulher pega na enxada e vai para a labuta, conseguindo amiúde ordenados superiores e tendo um papel determinante nas economias familiares. O que ainda parece não ter mudado é a partilha das lides domésticas e a assistência aos filhos. Mesmo em tempos de crise, onde em situações extremas em que os maridos estão desempregados e portanto com mais tempo livre, nada se altera. A mulher é que, depois do trabalho, continua a varrer o chão da cozinha, a cozinhar e a mudar as fraldas aos putos.


Para se ter uma ideia, a minha mãe numa recente conversa que teve comigo ficou bastante admirada de eu passar a minha roupa a ferro e aspirar a casa. A ideia do seu filho macho, criado para não mexer uma palha, ter uma esfregona na mão desiludiu-a bastante e julgo que lhe tirou alguns anos de vida. No final da partilha de opiniões que o assunto suscitou, fico na dúvida de quem ficou mais chocado com a opinião do outro, se eu, se ela.
Mas isso não é novo, de facto em qualquer conversa entre mulheres é normal que a referência ao trabalho macho seja uma ajuda. A frase “o meu marido ajuda-me imenso” é ouvida com bastante frequência. Nada pode estar mais desacertado que a utilização do verbo “ajudar”.

As mentalidades continuam iguais e por parte das mulheres é esperado muito pouco dos homens. Os pais presentes são confrontados muitas vezes com essa baixa fasquia, como reparou o escritor Michael Chabon no artigo. Por exemplo, quando vou com o Gabriel ao jardim ou ao médico, sou considerado um bom pai apenas porque estou a brincar com ele ou informar-me sobre a saúde da cria. O que realmente é estranho é o mesmo sentido de avaliação não ser feito à mulher. Ninguém diz a uma mãe que ela é diligente apenas porque tem o filho ao colo. Parte-se do princípio que é a obrigação dela.


Felizmente algumas coisas mudaram. Os próprios governos começam a legislar para dar mais regalias aos pais. Portugal até foi um dos pioneiros nessa matéria e já é possível haver partilha nos 6 meses de licença. Mas uma coisa é a legislação e outra completamente diferente é a vontade patronal em aceitar a repartição de responsabilidades. E nestas coisas já se sabe, e ainda por cima em tempo de crise, o homem trabalha a mulher cuida do recém-nascido. Podíamos até discutir o exemplo Sueco mas, sinceramente, não me apetece ficar deprimido!

O artigo, no entanto, acaba com uma pergunta extraordinária:
Afinal que é o mais macho? O pai ausente que fica sentado no sofá a ver televisão ou o aquele que cumpre com as suas obrigações em casa e cuida dos filhos?

O artigo pode ser lido aqui


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Por favor, Deus

Faz com que esteja tudo bem.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Carta ao boneco Noddy

Caro Noddy,

Imagino que não deve ser fácil a sua vida depois de se ter tornado numa celebridade. Não é que ser reconhecido na rua e ter bonecos com a sua imagem no supermercado seja de alguma forma uma chatice, até porque deverá ter um belo conforto financeiro em resultado disso, o problema, parece-me, foi a excessiva exposição mediática que inesperadamente obteve o que o tornou irritante e alvo de muitas críticas e piadas deselegantes por parte dos adultos. No meio de tanta coisa que lhe aconteceu em resultado disso, desde toques de telemóvel a dobragem de cariz sexual no youtube, ainda teve de levar com a versão do genérico do seu programa cantada pelos Moonspell o que não deve ser das coisas mais agradáveis de ouvir, mesmo sendo você um desenho a viver no país dos brinquedos e as cançonetas que lá chegam serem sempre harmoniosas, fofinhas e rimadas.

Devo confessar que, durante o boom da sua fama, sempre olhei com desdém para o seu talento, apesar de, tenha tido sempre um enorme respeito pela obra da sua mãe. Gozava imenso consigo e achava-o, assim, para o parvalhote. Não havia qualquer fundamento na minha apreciação, até porque, se quer que lhe diga, nem sequer tinha visto nenhuma das suas aventuras.

A vida dá as suas voltas, como muito bem sabe, e lá dizem os sábios que, quem vocifera injustiças à toa, acaba sempre por merecidamente ferrar os dentes na língua. Não sei se é por justiça divina ou humana, mas foi o que me aconteceu e escrevo-lhe com toda a humildade a contar que me transformei num grande admirador seu.
O meu filho, um rapaz bonito de quem lhe mando uma foto em anexo, mal o viu achou-o logo merecedor da sua amizade. É verdade que a admiração que sente por si seja um tanto ou quanto doentia, mal vê qualquer produto que tenha a sua imagem estampada, pega nele e fica a contemplá-lo como o Romeu o fez à Julieta, lá na varanda de Verona. Mas enfim, as crianças têm razões que os adultos desconhecem e isso faz parte do fascínio, acho eu.

Uma das coisas que, enquanto pai mais sofri na pele, foi a hora das refeições. Passei um ano, repito, um ano, a ser bombardeado com sopa para cima em consequência do feitio endiabrado do pequeno Gabriel quando confrontado com o acto de comer. Como se fosse pouco, o soalho da sala ficava sempre conspurcado com os resquícios da luta. Se quer que lhe diga alimentar a cria era sempre a pior parte do meu dia. Até que um dia, num acto de pura fortuna, calhou o seu programa estar a passar na televisão na altura em que tentava enfiar, pela 350ª vez consecutiva, a paparoca goela abaixo. Mal o famoso e imortal genérico se iniciou, a criança paralisou e de olhos pregados ao ecrã se deixou estar, quieto e silencioso, abrindo e fechando a boca ao ritmo das colheradas de sopa que o pai lhe colocava em frente.

Deixe-me escrever a bold as palavras, obrigado Sr. Noddy! Aquele bebé, desde que começou a jantar e a assistir ao seu programa ao mesmo tempo, nunca mais deixou migalha no prato, nunca mais se sujou, nem a ele nem ao pai e até, se a aflição for maior, os progenitores podem, sem problemas de consciência, vestir-lhe a mesma roupa dois dias seguidos que não vai parecer mal. Digo-lhe já, se quiser fazer algum juízo de valor, que, enquanto pai sempre me borrifei para a verborreia dos psicólogos e não julgo a televisão como um Diabo, Deus me perdoe o uso, embora justificado, da palavra. O Gabriel brinca comigo, ri comigo, passeamos no parque, vimos o pôr-do-sol na praia e até dormimos juntos quando as noites lhe são mais pesarosas. Só há uma coisa que não abdicamos, o episódio do Noddy ao jantar.

Em acrescento deixe-me que lhe dê os parabéns pelo programa. As histórias são muito engraçadas, bem contadas e é um gosto, também para mim, vê-lo a trabalhar. Gosto muito dos episódios, “Noddy vai ás compras”, adoro o “Melhor condutor do mundo”, e aquele, que não sei o nome, em que as abelhas desaparecem todas na floresta encantada.
Bem, agora tenho de me despedir porque ainda tenho de escrever uma carta ao boneco Pocoyo que desperta o apetite de dança no Gabriel. Gostava apenas de lhe solicitar um autógrafo, desculpe-me o abuso, mas é que não é para mim, mas para o pequeno que me pediu tanto…

Um abraço!
Hugo Carvalho

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Outono larger than life

Como o ano começa em Setembro, aí quando a temperatura baixa dos 25 fico com ânimo de ano novo, todos os anos. Há anos em que o ânimo é como aqueles foguetes de sinalização dos navios: dispara, luminoso, e vai caindo em cascata pouco tempo depois - que é mais ou menos o que disse a Cê há uns dias.

Mas há anos - menos, infelizmente - que me dá com força e lá vou eu disparada atrás do sonho. E sabe sempre ao que há de melhor em nós e no mundo inteiro, essas corridas desvairadas.

Quero muito que desta vez seja um ânimo fogo-de-artifício, e não foguete de sinalização. Quero fogos de artifício. Raios partam, quero Las Vegas. Quero Ano Novo o ano todo.

It's on, Outono!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aprendido hoje

Em casa, só devemos ter o que amamos e o que precisamos.

domingo, 26 de setembro de 2010

Claro que faço!

Lembro-me de o padrinho, há muitos anos, ter dito que odiava recomendações que viessem com um "tens de" antes: tens de ler o livro X, ou tens de ver o filme Y. Revestiam o acto de ler ou ver o dito produto de uma obrigação que ele não tinha e pronto, emburrava. E era só uma palavra, mas era a sua expressãozinha no-no.

Eu e o meu pai, numa conversa, descobrimos que temos a nossa própria no-no expressãozinha, o nosso próprio "pois é, bebé": é o "fazes bem", dito de forma enfática pelo interlocutor, depois de dizermos uma decisão ou outra coisa qualquer. É o equivalente genérico ao "gosto/não gosto" depois de uma grávida dizer o nome do bebé, como se precisasse urgentemente da aprovação de que perguntou.

Nós, Lyra filha e Lyra pai, achamos o "fazes bem" de uma condescendência chata, no mínimo, quase ofensiva - no caso apresentado pelo Lyra pai - no máximo.

E é assim, prontchis.

sábado, 25 de setembro de 2010

Role-playing

Pega no Noddy, tem longas conversas, diz "cocó" e tira-lhe os calções, canta-lhe uma canção, diz-lhe "teuss Tetí" e sopra-lhe um beijo a acenar, e baza com um saco do Continente cheio de fraldas sujas, tudo isso enquanto eu faço o pequeno-almoço, e depois volta, e dá beijinhos ao Noddy, claramente o seu bebé.

O meu filho começa a imitar a vida mais nitidamente. E é tão doce. Mesmo muito doce.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Aprendido hoje

Adoro ler blogs, adoro acompanhar a vida de conhecidos, de gente que não conheço, de gente completamente diferente de mim, mas, caraças, não há guilty pleasure igual aos mata-e-esfola das galinhas da blogosfera cor-de-rosa.

Meu Deus, ainda bem que há várias formas de se ser mulher.

Mas oh meu Deus, com os adoro, como os adoro.

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Trabalho mal e porcamente quando fico em casa. Concentração Zero. Mas isso eu já sabia. A dúvida é: porque diabo insisto nisso de vez em quando? NUNCA corre bem.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Aprendido hoje

Não se traz trabalho para casa à noite com um filho bebé. Ele não vai entender.

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- Pretend you are surrounded by a thousand hungry tigers, what would you do?

- Gee, I don't know! What would you do?

- I'd stop pretending!

Num mundo perfeito parte II

... Daria metade das explicações que dou hoje. Ou antes, um terço. Ou antes, apenas as que tivesse de dar.

Hoje, enquanto explicava mais uma vez os meus motivos para qualquer coisa a um conhecido (nem sequer amigo era!), dei-me conta de que cavar desculpas e razões é algo que me stressa tremendamente e faz-me sentir invadida. Se somar a isso a minha absoluta incapacidade de ser assertiva com quem gosto, o resultado é uma Melissa bastante irritada e sem nada fazer sobre isso.

Há uns tempos, pus um status no FB à procura de uma coisa qualquer e o resultado foram dezenas de palpites sobre "o que" eu devia fazer, passando bastante longe do que eu queria. Acabei por apagar o tópico, a sentir-me uma criança de seis anos... Sem nada fazer sobre isso.

Portanto, num mundo perfeito, a) daria menos satisfações, b) usaria a frase "vai brincar com a pilinha" mais vezes.

Umm... E daí o mundo perfeito pode começar hoje.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Num mundo perfeito

O cancro teria cura em qualquer estágio;
Dinheiro seria um acessório;
A corrupção no Brasil seria um passado distante;
A água do mar da Parede seria quentinha;
Seria uma pessoa organizada;
Não existiriam as alergias;
Moraria perto de todo mundo que amo;
Comida serviria apenas para matar a fome;
As novelas seriam todas como Tieta ou A Indomada;
Preocupar-me-ia com os problemas à medida que eles surgissem;
Saberia trocar lâmpadas e consertar tudo em casa;
Teria o desporto a correr-me no sangue;
Lembrar-me-ia da minha mãe sem dor nenhuma;
O mundo seria mais ou menos como a Anatomia de Grey, onde pretos, brancos, asiáticos, gays e heteros são apenas características como outras quaisquer;
Teria aprendido a jogar xadrez com todos os benefícios que isso implica;
As maternidades teriam quartos individuais;
Os bebés dormiriam noites completas a partir dos três meses.


Roubado da Gralha, da Precis e de mais malta.

Dias de Fortaleza

Em Dias de Fortaleza, eu acordou e leio O Povo, e vejo uma notícia de uma médica que comprava votos para o irmão candidato a vereador com consultas gratuitas aos eleitores, e bate uma tristeza fininha, uma tristeza que me diz que nunca mais volto a morar lá, por motivos como este.

E depois vejo vídeos de quadrilhas juninas com canções que conheço desde sempre, cheia de cores garridas e vestidos extravagantes que põem as marchas de Alfama e do raio que o parta a um canto, e aí é quando bate Fortaleza, porque Fortaleza para mim tem textura, tem temperatura, tem gosto e sensação: é maresia colada à bochecha o tempo todo, 32 graus com uma brisa boa a soprar, gosto de caldo de carne durante a semana e caranguejo no sábado e domingo, e um soninho permanente, soninho de depois do almoço de arroz e feijão.

E sim, os dias de Fortaleza às vezes começam com uma canção, um nome, a saudade de alguém, duas goiabas bonitas.

Recebi um presente em forma de memória, hoje

A minha mãe odiava os primeiros dias de aulas. Odiava de morte. Porque enquanto os outros meninos levavam lenços, perfumes e romances à professora, a minha avó ia ao quintal, escolhia duas goiabas bonitas da goiabeira, puxava-lhes o lustro e essa era a prenda que a Nan levava. Ela morria de vergonha.

Vai-me ninar o resto do dia, este pequeno diamante.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Desabafinho dos pequeninos

Há uns dois anos, sabia exactamente o que era melhor para mim.
Neste momento, não sei o que hei-de desejar. E isto faz-me uma confusão do caraças.
Acabo a reclamar de tudo e mais alguma coisa.

Quer dizer, sempre reclamei de tudo e mais alguma coisa, mas tendo um ponto de partida qualquer a orientar e alinhavar tudo.

Agora reclamo como as velhas reclamam.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Antídoto para a Rotina II

Porca e parafuso trocam de papéis: às terças e quintas, ele vai para a cozinha work his magic, eu trato do bebé.

sábado, 18 de setembro de 2010

Antídoto para a rotina

Ontem: filminhos parvos com malta gira numa casa linda, muita gargalhada, muita ideia boa. Hoje, dormir a más horas, acordar em conchinha a más horas.

Almoçámos muito bem,, depois fomos ver concertos, fotografias para lá de giras e putos a fazer de guias em museus, e, de quebra, já que estávamos por ali, fomos ao meu tão amado supermercado paquistanês e encontrei umas ervilhas que o Shahin andava à procura. Fiquei mesmo contente.

Mais tarde, bem mais tarde, fomos comer ainda mais, beber café num pátio lindo, depois fomos ver livros e deixei-me capturar em menos de dez minutos por um livro não menos do que abismal - mas respirei fundo e não comprei, ponto para mim.

Pelo meio, conseguimos bilhetes para uma das minhas peças preferidas de sempre, que julgava mais do que esgotada (adoro Tennessee Williams. Tenho tanta pena de o ter estudado na faculdade tão novinha. Adora pegar em todas as suas Blanches DuBois agora, com esta idade. Vai ficar para outra fase, no entanto).

Fomos ver o rio. Cheirava muito mal, mesmo muito mal.

Acabámos o dia com a sensação dos tempos de namoro, e a decisão firme de ter um dia assim, cheio de nós mesmos, todos os meses. Faz bem à pele, à cabeça, ao coração, ao juízo. Filho é bom, uma delícia, mas namorar também é.

PS - todas as refeições deste post foram feitas com groupons ou tickets da TimeOut.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Coisas em que é impossível errar

Snifar profundamente uma daquelas toalhinhas quentes que dão nos restaurantes é fundamentalmente bom, do princípio ao fim, até ao fim da snifada.

Ver um monumento famoso pela primeira vez.

Um bolo sair igual à foto da receita.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Volta e meia vamos lá II

Tive uma noite horrível - seguida de uma manhã horrível - e ontem pude desabar, mais do que desabafar, sobre duas grandes amigas, separadamente. Uma é casada e outra é solteira. Ouviram-me atentamente e aconselharam-me de acordo com o que ouviram, conselhos coerentes, simples, concisos. Um lote de conselhos de casada, um lote de conselhos de solteira. Completamente diferentes e válidos. E ontem, antes de pregar o olho, ainda consegui rir-me um bocadinho ao pensar em como as mulheres são tão ricas e têm tantas camadas, e ouvem tão bem, e conhecem-se tão bem e têm o coração tão grande que cabe tudo lá dentro, até uma amiga em crise a más horas.

Adoro as mulheres. Espero francamente voltar lésbica na próxima encarnação.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Volta e meia vamos lá

O anel que tu me deste era vidro e se quebrou;
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou!


Não, não se acabou nada. Mas volta e meia, vamos mesmo lá: noites de mau dormir. Acordar aos berros, sossegar com comida, vir para a cama dos pais. Choramingo.

Decidi não maldizer mais este cromo que me saiu e tentar controlar as crises depressivas das três da manhã quando tenho de acordar e embalar um bebé a esgoelar-se. A prioridade é dormir bem, e não educá-lo a ser independente aos 18 meses (pois, isso mudou, também). Se dormir bem requer um co-sleeping básico e involuntário, habituar-nos-emos.

Chega de drama, chega de queixume. Vamos mas é dormir.

(E agradeço aqui publicamente à Andie por me ter arranjado o Besame Mucho em português, as primeiras páginas trouxeram-me grande alívio).

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Livros que mudam tudo

É tão bom, de tempos em tempos, ler qualquer coisa que nos obrigue a mexer onde não mexemos ou nos faça mudar de ideias. Não é algo que aconteça com frequência, e graças a Deus que não, tontinhos seríamos nós se estivéssemos sempre a alterar o rumo das coisas.

Há uns anos, como já disse aqui algumas vezes, foi a História de B., que me fez ver, entre outras maravilhas, que o modo de vida da maioria não tem de ser o meu e posso ter outro padrão

Mudou tudo, ou pelo menos mudou muito. Mudei as regras do meu jogo, já que no grande esquemas das coisas estava sempre a perder. Relaxei os meus objectivos e deixei de medir o meu sucesso pelo dos outros. Comecei a perseguir um sonho. Sou muito, mas muito mais feliz desde então.

E agora, seis anos depois, surge-me o Women, Food and God. Claro que o procurei pelo Food, mas o que está a fazer-me parar e respirar fundo é mesmo o God. Entre outras maravilhas, está a ensinar-me a não fugir do momento, seja bom ou seja mau. O momento é meu e tem o seu valor. Não tenho de esperar que o tempo passe depressa à procura de momentos melhores. Tenho de parar de fugir do presente.

O resultado imediato é ter deixado de ter tanto sono durante o dia.

Assim dito, parece tudo muito óbvio e muito new-age, mas que se lixe. É outra coisa que estou a aprender com esta leitura, a parar de me criticar tanto. É, sem sombra de dúvida, a parte mais difícil, mas estarei atenta.

Mexer no que nunca foi mexido. São sempre umas cócegas boas.

Curtíssima sobre planeamento familiar

Foi o que descobrimos nestas férias, ao reflectir muito sobre a nossa família e o nosso futuro.

Que todas as configurações são válidas e boas: não ter filhos, ter um só, ter dois - popular choice - três ou quatro, pertencer à detestável associação de famílias numerosas.

Todas são boas. Vimos que não é para as opções em si que devemos olhar, mas sim, para nós três e como pretendemos viver.

A cada família, a sua configuração.

(Isto é tudo uma maneira vaga, com filosofia barata à mistura, para dizer: a cena dos dois filhos, apesar de tudo que dizem, não é uma obrigação: é uma opção de vida. Não sabemos se vamos ao segundo. Se tivéssemos de decidir já, a resposta seria um redondo não, estamos muito felizes assim, a três).

terça-feira, 7 de setembro de 2010

No McDonalds

- Estás a ver? A senhora quer um menu salada. Sa... la... da. E mais um fruit yogurt. Vês? Carregas aqui, aqui e aqui. É fácil. Pergunta à senhora se é mais alguma coisa.
- É mais alguma coisa, senhora?
- Não, é tudo.
- Pronto, então agora carregas aqui... Aqui... Diz o total à senhora.
- São cinco e...
- E noventa e cinco, já vi.
- E pronto, recebes, agradeces, dás o recibo.

Afasto-me porque o frango ainda está a grelhar. Não há clientes atrás de mim, então formador (17 anos) fala para a formanda (16?):

- Vês? Não é nada difícil. Não podes é vir para cá só uma vez por mês, porque assim esqueces-te, aparece aí alguém e pede cinco menus e vês-te grega. Mas se quiseres mesmo ser caixa, tens de provar que és boa, que és rápida, que mereces estar aqui. Percebes? Tens de dar tudo por tudo.

A formanda olha para mim e sorri-me, e eu sorrio-lhe também. Espero que sim, que dê tudo por tudo e que mostre que é boa, que é rápida, que merece estar na caixa e muito mais e aproveito e desejo também que saiba que pode muito mais do que aquilo, que não se encha de filhos antes de perceber isso, que termine os estudos. Desejei-lhe tudo de bom, ali na caixa que ia ser dela, com um nozinho bem hormonal na garganta que me fez lembrar das crises melosas da gravidez.

Que é que querem, a menina era a cara da minha prima Tainá.

(Não, não estou grávida)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

De volta

Vimos ontem, no Jamie na América - já dissemos aqui o quanto adoramos o Jamie? - que o sucesso de um jantar em casa é a rapidez com que se põe um copo de vinho na mão do convidado logo que ele entra porta adentro. Não poderá nunca ultrapassar os 30 segundos.

Portanto, a partir de agora, quero que os convidados das lentilhadas me mandem por sms o que bebem assim que estacionarem o carro lá na praceta, porque concordo tanto, tanto, tanto, tanto com essa premissa dos 30 segundos.

(E tenho de começar a pensar noutras coisas com que receber a malta, que só lentilhas também enjoa).

domingo, 29 de agosto de 2010

curtinha gira

O meu filho trata-me por Nan.

Nan era como os irmãos da minha mãe a tratavam em pequenos.

Este blog está paradito, pois tem uma das mão ocupada a abanar-se. Odeio Verão. Odeio Inverno também.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Perto de casa

Hoje à noite o Palácio da Pena estava particularmente fantasmagórico, uma luz difusa no meio da bruma no topo da serra. Amanhã a manhã será fria, de certezinha.

Adoro que o Palácio da Pena seja visível praticamente em toda a região metropolitana de Lisboa, mais coisa, menos coisa, pelo menos numa estrada ou numa praia, ou num ponto mais alto. Para mim, faz honras de farol e faz-me sentir perto de casa. E caramba, como me sinto bem ao sentir-me perto de casa.

Desde que vivemos juntos, exceptuando as férias que passamos na estranja, eu e o Hugo voltamos sempre para casa um dia antes do previsto. Não me lembro mesmo de nenhuma vez que isto não tivesse acontecido. E não estou a falar de grandes temporadas, estou a falar de cinco, seis dias. Muitas vezes, menos.

Vivia sozinha com a minha mãe e estávamos as duas em Fortaleza quando ela faleceu. Passei lá três semanas ainda, e, enquanto todos temiam a minha reacção ao regresso, eu só conseguia pensar em voltar para casa.

Não tenho alma viajante, ou nómada, nem nada disso. Sou sempre por voltar a lugares que conheço em vez de conhecer novos. Gosto de pertença e de conhecer. Em termos de espaço físico, sou muito consciente da minha zona de conforto.

Se é por ser imigrante? Talvez. Não sei, mamãe era igual.

E ela também tinha mil e uma teorias sobre como prever o tempo só de olhar para o Palácio da Pena, de onde quer que estivesse.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

18 meses

E se, há até pouco tempo, a palavra "cão" era a sua única ponte de contacto com o "nosso" mundo, hoje este bebé já percebeu como funcionam outras coisas.
Já sabe que os óculos vão na cara, a escova de dentes vai na boca e a de cabelo, na cabeça. Já sabe que o babete vai no pescoço, que as toalhitas vão no corpo todo, que as sandálias vão nos pés.
Já sabe que a vassoura varre, que o telecomando muda a TV e que não deve mandar o telemóvel para dentro da banheira e que, por isso, diz "não" antes de o mandar.

Andava sem comer até tomar vitaminas e agora come as paredes.

Faz uma dança nova cheia de pliers, parece que se vai mandar num salto ao ar, mas não.

Passou-se com uma toalha de praia do Noddy, acho que porque o Noddy era maior do que ele. Pensei que ele fosse ter uma síncope com a emoção.

Se a porta estiver aberta, ele entra ou sai. Sempre. Qualquer porta.

É o único bebé do mundo que não gosta de gelatina.

Todos os homens magros de óculos do mundo são Uhh (Hugo). Quando não lhe ligam como o Uhh lhe liga, fica muito confuso.

Adora roubar coisas dos armários e não é raro vê-lo a correr com latas de atum, champôs, pensos, sacos de lixo, pela casa fora, todo ele gritinhos de excitação por ter mais uma vez passado a perna aos pais.

Tem os olhos mais escuros que já vi na vida.

Adora cantar.

(Agora vou ver se convenço o pai a pôr mais coisas)


Já sabe que o pato é para a banheira e também o livro de banho.
Já sabe pedinchar guloseimas quando so pais as estão a comer.
Já sabe que depois de beber o biberão de manhã basta esticar o braço que alguém o vai buscar.
Já sabe que os pais andam todos babados e que se pode lançar de qualquer lado que alguém lhe ampara a queda.
Também sabe que o pai se queixa do trabalho que ele e a mãe dão , mas que quando se deita fá-lo com um sorriso nos lábios.


Mais:

o mundo animal divide-se em qua-quas (pombos, patos, galinhas) e cão (tudo o resto).

Já entrámos com toda a força na fase Noddy, que para ele é Téti.

Tem uma verdadeira loucura pelo Cucu do Babyfirst. Loucura mesmo: ri-se, bate palmas, dá gritinhos e faz cucu ao Cucu.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pessoas que não se viam há anos a pôr a conversa em dia em sussurros por trás de óculos escuros, o farfalhar do plástico das flores que vão entrando, olhares que percorrem as faixas das palmas. Família sofrida, pais emagrecidos, misericordiosamente sob o efeito de ansiolíticos, e toda a gente à volta a comungar da ideia de que é tão injusto, tão jovem e lindo e cheio de vida que aquela pessoa era.

Dói mais para quem se lembra daquela pessoa assim, linda, jovem, cheia de vida. Quem esteve por perto tem a imagem da cama de hospital, do IV, das máquinas, um resquício do que quem tanto amavam foram um dia. Para quem esteve perto, a memória é outra bastante diferente e o momento inicial, aqueles primeiros dias, são de choque e também alívio. Porque hoje vão dormir numa cama em casa, sem temer nenhum telefonema, e amanhã não irão ao hospital, e amanhã não terão nenhuma má notícia.

Amanhã não terão nenhuma má notícia. E isto sabe a lotaria. Não há mais dor, nem cansaço, nem derrota.

Claro que depois vem o momento de desfazer o quarto, de dar roupas, de desmontar toda uma vida. Mas isso é depois. Pode até ser um ou dois dias depois, ou pode ser um mês depois, ou pode ser muito tempo depois. E aí é outro assunto, outra ponte a atravessar.

Mas para já, o que importa é que amanhã não terão nenhuma má notícia.

Letras Traduzidas & Tenacidade

Ai, Letras Traduzidas... Corria de mês a mês à banca de revistas da Dom Luís para ver se tinha saído, e se era desta que trazia a letra daquela música linda da novela das 8, e em português, caramba. Aí podia cantar finalmente sem fazer figura de ursa, sim, porque mesmo aos 11, 12 anos, na Fortaleza da década de 80, mau inglês já era mau inglês.

Já em Portugal, aí aos 13, 14 anos, caí de amores pelos Beatles e por aquelas colectâneas da década de 50 e 60. Não dizia duas frases pegadas de inglês, mas era ver-me o dia todo com o toca-fitas (leitor de cassetes tinham vocês), passa para trás, passa para frente, hmmmm, isto soa-me a "toss the dice", vamos lá ao dicionário ver TODAS as palavras que soam minimamente a toss the dice, e lá se foram 20, 30 minutos num verso só, até que BAMBAM! Cá tenho a letra da música, com algumas falhas, é certo, porque só conseguia procurar o que distinguia minimamente. E aí já não precisava de traduzir, porque vinha tudo, literalmente palavra a palavra, do dicionário.

Era de uma tenacidade feroz. Lembro-me de que, assim, saquei, sem saber uma palavra de inglês, entre outras, "happy together", dos Turtles, "Norwegian Wood", "Blackbird" e várias outras dos Beatles, "Find my Love" dos Fairground Atraction e muitas, muitas outras.

Até hoje é-me impossível gostar de uma canção e não procurar a letra, não mais na Letras Traduzidas, não mais esperando pelo fim do mês a ver se a minha canção estava entra as vinte daquele número. Como para tudo o resto, mesmo tudo o resto, temos o Tio Gúgol, generosíssimo e incrivelmente culto.

Mas claro que a nostalgia bate, de vez em quando. Sacio as saudades do método quando estou a ouvir rádio e toca aquela cena fixe e nova, e lá estou eu de orelha arrebitada.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Duas gabriélicas

- Uma pergunta que me costumavam fazer quando eu estava grávida era se ia falar com o bebé em português ou brasileiro. Ora bem, eu não escolho, era o que respondia. O meu sotaque adapta-se naturalmente ao ouvinte, foi sempre assim. Nada é forçado, nada é artificial. Mas, dizia eu, buchuda, que acho que vou falar com ele como falo com o Hugo, que é uma coisa muito misturada.
Afinal não. Quando estamos todos juntos, sim, falo com ele como falo com os meus amigos de cá. Separados, a dois, é bem diferente. O sotaque do meu coração é o sotaque da minha mãe e de todo mundo para trás. O sotaque com que falaram comigo quando tinha a mesma idade do meu filho. Não só o sotaque, como as expressões, as brincadeiras, as rimas e canções. Volta-me tudo sem esforço. E despeço-me todos os dias à porta do infantário com um sonoro "mamãe te ama muito".

- Papai sobre o Gabriel: "Só lhe digo 'não'quando a segurança dele está em risco. De resto, ele está aprendendo os seus limites e a confiar em si próprio. Não podemos sabotar isso agora. Ele precisa de rédea solta para se conhecer".
Ora bem, eis um raro caso em que filha e pai (já agora, marido) partilham da mesma opinião. Agora é a hora de o Gabriel conquistar o mundo. Há muito tempo pela frente para o mundo lhe impor regras e o conquistar a ele. Não tenho pressa e lá vou cumprindo o meu papel de escudeira, a seguir os minipassinhos a toda a parte, forçando-o o mínimo possível a seguir-me a mim.
"Ah, ele vai ficar mal acostumado". É um risco que estou disposta a correr com um grande sorriso nos lábios.

domingo, 8 de agosto de 2010

O Melhor Verão de Sempre

É impossível manter uma criança de 18 meses medianamente entretida dentro de um T2 por mais de, vá, 40 minutos antes de ela começar a tirar os livros das prateleiras, tupperwares dos armários, enfiar dedos nas tomadas, dedos nas ventoinhas, dedos em tudo que não é feito para dedos. Por isso, desde que chegou o bom tempo, que os nossos fins-de-semana são sempre iguais: acordamos, vamos a algum lado para cansar o Gabriel, e lá ficamos até ao meio-dia. Voltamos para casa, almoçamos (quando não comemos fora), Gabriel desmaia, pais desmaiam, e assim ficamos todos até às quatro, hora do lanche e da saída número dois, que vai até às oito, mais coisa, menos coisa, voltamos para casa, jantamos, bebé desmaia, pais têm algum Me Time, ou Us Time antes de também desmaiarem.

Parece cansativo, né? E é. Mas o que temos reparado é que, na tentativa de sermos inovadores e criativos nas saídas, nós também nos divertimos imenso com ele: estamos sempre dum lado para o outro, vendo ou coisas novas ou coisas com novos olhos - os dele, que são, diga-se de passagem, uma pedra.

Muito diferente dos anos anteriores em que mal saíamos para ir à praia, tamanho era o "cansaço" (haha, quando me lembro disso) ou a preguiça. Paradoxo dos paradoxos, fazíamos muito menos coisas antes de ter o Gabriel, porque podíamos ceder à muito justa vontade de anhanço.

Este Verão vamos ficar por aqui mesmo, não dá para ser de outra forma. Mas não faz mal, vivemos numa zona com muitas opções, além de ser a menos de 10 minutos de carro da praia. Sem problemas. Já está a ser o Verão mais movimentado de sempre. O mais cansativo, mas, de longe, mesmo de longe, o mais divertido também.

E isto tudo ocorreu-nos hoje, já passados uns bons dois meses, se não mais, de essas maratonas de fim-de-semana terem começado. Só hoje. Podres de cansaço, voltando para casa, o Hugo toca-me no ombro, pensei que fosse para dizer alguma coisa.

"É só carinho. Fogo, estamos mesmo fixes. Está tudo a correr bem."

Pááá ptitititaaa cuaaa nééé, concorda a cria, no banco de trás.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Curtíssima

Há anos que não sentia tantas saudades da minha mãe.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

É a tradução do fenomenal "The Eternal Sunshine of the Spotless Mind" de Spike Jonze, no Brasil, cá toscamente traduzido por "O Despertar da Mente", que tanto dá para um filme sobre religião quanto sobre LSD. Na busca por um título mais acessível culturalmente, as distribuidoras às vezes falham em ver que o mais acessível está mesmo debaixo dos seus narizes.

Mas não é sobre tradução de títulos de filmes, este post. Este post é sobre apagar memórias.

Quem tem memórias fortes, das más, digo eu, daquelas mesmo más, costuma ser assaltado por elas quando abre os olhos à noite por um motivo ou por outro. Mais ou menos frequentemente, mas dou o meu dedo seu-vizinho, com aliança e tudo, a quem disser que tem uma lembrança horripilante que não o assole de vez em quando. E à noite, entre sonos.

Tenho umas duas ou três memórias horripilantes. Pouco tempo depois de acontecerem, costumavam visitar-me dentro do carro. Sempre dentro do carro, fazendo-me hiperventilar e ter de parar. Tinha de respirar fundo, telefonar a alguém, desviar o pensamento de qualquer forma. Era sempre no carro, e hoje penso que isso acontecia porque o carro é uma extensão de nós mesmos quando viajamos sozinhos. Isolados do resto da rua, sem qualquer máscara, estamos de guarda baixa. Com o tempo, desenvolvi mecanismos para substituir as memórias horripilantes por outra imagem qualquer, até que elas deixaram de aparecer dentro do carro. Aparecem agora nesses períodos de vigília na madrugada.

Quando uma memória horripilante aparece, faz-nos crer que tínhamos o poder de impedir que o momento horripilante acontecesse e não o fizemos. Não é como pôr um filme a rebobinar e a passar outra vez, sabendo exactamente o que vai acontecer. Com a guarda baixa, no meio da noite, ensonados, a memória horripilante aparece em aberto, apontando-nos o dedo, pondo o momento em pause e perguntando: E agora, como é que isto acaba? E pumba, acaba da mesma maneira, porque, aí está, é já uma memória, não mais um momento.

Isto para dizer que odeio quando dizem que os momentos maus fazem parte do que somos, do nosso aprendizado. Quem diz isso não tem memórias horripilantes. Não aprendo nada com elas. Não aprendi nada por ter vivido esses momentos, souberam apenas a castigo, sabem ainda, porque ainda voltam para me assombrar. Estaria bastante melhor sem essa bagagem. Seria uma pessoa muito mais feliz.

No dia que inventarem a máquina de tirar memórias, lá estarei eu na primeira fila.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Bad Karma, Good Karma

Dizem os budistas - e sucedâneos de budistas - que, quando morremos, temos sempre algo a dizer sobre a nossa próxima encarnação, de modo a favorecer-nos o karma: pelo que entendi, o objectivo é ter o mínimo de encarnações possíveis e ficar a beber caipirões no Nirvana para sempre, e isso consegue-se com a aprendizagem da alma - que, em bom português, é mais ou menos sinónimo de sofrimento.

Vai daí que parece sempre ser uma boa opção pedir para encarnar leproso, feio, desgraçado. Esses leprosos, feios e desgraçados podem ser assim por escolha própria no limbo, segundo os budistas (ou algo do género). É, por assim dizer, um investimento cármico.

Sei que escrito assim parece ironia, mas na verdade gosto muito desse modo de pensar: acho que dá um consolo enorme pensar que tudo tem uma causa maior (e, melhor ainda, a culpa das nossas cagadas e infortúnios NÃO SER INTEIRAMENTE NOSSA).

Dito isso, e enquanto tenho ali a roupa a acabar de lavar, um estendal cheio por recolher, o chão enchiqueirado a precisar de lixívia e o bebé a tentar bebê-la, quero aqui declarar, pública e formalmente, que CAGUEI no karma e faço QUESTÃO de encarnar como um DONDOCÃO INÚTIL da próxima, nem que demore mais algumas eras galácticas a chegar ao chatíssimo Nirvana.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Vó Gnoma

Antes de mais, e para tirar isto do caminho, a Vó Gnoma não se chamava, obviamente, Vó Gnoma, mas eu chamava-a assim de mim para mim, porque ela não devia passar de 1,30 m, andava a passos muito curtos e rápidos e era velhíssima. E porque corre até hoje pelo bairro que ela fazia bruxarias de verdade, daquelas que funcionavam mesmo, o que me deixou completamente apaixonada, porque, pela primeira vez, ali estava diante de mim uma velhota que parecia bruxa e era, de facto, bruxa.

A Vó Gnoma um dia sentou-se numa pedra no quintal e contou-nos toda a sua história, com pretéritos perfeitos e mais-que-perfeitos, com um requinte de pormenor que deixaria as nossas jovens memórias coradas de vergonha, desde que tinha vindo de uma aldeia ao pé de São Pedro do Sul, menina ainda, para limpar casas em Lisboa, e trabalhou toda a vida no duro, indo da Madragoa comprar peixe a Setúbal de madrugada para vir vender de volta a Madragoa ainda pela manhã. E "fazia casamentos". A princípio, achei que "fazer casamentos" era o código para alguma macumbinha básica de amarração, mas não: fazer casamentos era mesmo preparar banquetes em restaurantes. Não havia uma única festinha que levássemos a Vó Gnoma que ela não falasse mal de toda a comida e dos preparos, porque ela sim, é que sabia fazer casamentos.

A Vó Gnoma teve dois maridos. Não maridos oficiais, penso. Mas teve dois companheiros e um filho de cada. Estamos a falar de Portugal da década de 40, não mais do que isso.

A Vó Gnoma morava numa barraquinha. Não, não era numa casa simples, era mesmo uma barraquinha. Minúscula e esburacada. Um dia, perguntei-lhe se queria que eu trouxesse o aquecedor, ao que respondeu: "a minha casa é muito quente, muito quentinha, especialmente o meu quarto!", como se de um T3 falasse, com um orgulho enorme que deitou por terra ali mesmo todas as minhas queixas e insatisfações com a minha vida, redefinindo todo o conceito do que é ser rico para mim.

A Vó Gnoma fez 95 anos no dia em que casámos, e teve um bolo só para ela, com parabéns só para ela e a atenção de 70 pessoas só para ela, com palmas, muitas, muitas palmas de pé, só para ela.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Partilha, gentileza e confiança

Não preciso de mais do que isso para definir um amigo. Amigos são pessoas gentis com quem partilho o meu dia-a-dia de uma forma ou de outra e em quem confio. Não preciso de mais poesia, partilha e confiança para mim já é sólido o suficiente.

Ao contrário da maioria das pessoas que vou lendo pelos blogs afora, eu:

- Tenho uma sorte bestial com os amigos que tenho (vou passar a usar amigas, porque a verdade é que não tenho muitos amigos homens). São umas tipas valentes e generosas, preocupadas e leais.

- Não tenho mágoas passadas nenhumas e é-me fácil confiar nas pessoas. Conto pelos dedos da mão do Lula (menos, até) as pessoas com quem rasgo a alma sem estribeiras, mas não por medo de ser traída ou algo assim, e simplesmente por não gostar de ouvir palpites quando não os peço e isso acontece com mais facilidade depois de momentos de fragilidade (conheço poucas pessoas que sabem enterrar um assunto, eu, pelo menos, ainda estou a praticar). As minhas amigas nunca trairiam a minha confiança, nenhuma das muitas, nunca (fui traída duas vezes por amigas: uma grande, grande amiga dormiu com o homem por quem eu estava apaixonada e outra espalhou coisas terríveis sobre mim por toda a empresa em que trabalhávamos, fazendo-me alvo de bullying constante sem entender porquê. Não, não lhes desejo o melhor do mundo, muito pelo contrário. Desejo que sejam atropeladas diante dos meus olhos).

- Adoro não precisar de uma longa história a dois para usar o termo "amizade". Para mim, um acto de gentileza é um acto de amizade: uma pessoa que me empresta, sem me conhecer pessoalmente, um brinquedo caro da filha para o meu bebé é uma amiga. Alguém que, de longe, me estende a mão num momento difícil é, sem sombra de dúvida, minha amiga. Não preciso do convívio. Não é o convívio que faz as minhas amizades, mas sim, vide título do post.

- Não catalogo as minhas amizades por antiguidade.

- Entendo, aceito e abraço os ciclos. Há alturas em que os melhores amigos andam afastados por estarem em momentos diferentes. Os ritmos de vida mudam. Torço sempre, quando estou separada por um motivo ou por outro de algum amigo, que os nossos caminhos voltem a cruzar-se mais à frente, mas não forço nada. Faz parte.

- Ao escrever este post, pensei que tenho todos os tipos de amigos e amigas, mas que me faltava um: aquele amigo cromo que me acompanhasse nas minhas manias instantâneas que raramente duram mais de um mês. Foi quando me lembrei do meu melhor amigo de verdade, o Hugo. Além de partilhar o dia-a-dia, ser de uma gentileza rara (uma característica de todos os meus amigos homens, por acaso) e saber exactamente quando pode dar bitaites e quando leva com o telecomando na tola, é um excelente companheiro de cromices, e tá para tudo, desde que seja de dia e comece a horas.

Fogo, que sorte. Tenho mesmo muita sorte com todos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Curtinha sobre a empregada da Carolina Patrocínio

O meu filho não só me obriga a descaroçar cerejas como me cospe as peles depois de as comer.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Avassalada

Lembram-se, minhas amigas mais antigas, dos meus tempos de engonha?
Engonha, engonha, engonha.
Não fazia um cu e, ao fim do dia, vinha uma sensação de frustração tremenda por não ter despachado trabalho, por me deixar corromper tão facilmente por qualquer chamada para um café ou assunto mais interessante - ou menos interessante - no msn? Tão descontente que eu estava comigo mesma e com tudo, queria virar a mesa, queria mudar de dentro para fora, queria renascer uma pessoa que eu não era.

Aí chegou o Gabriel, pondo ordem no meu dia e obrigando-me mais do que qualquer patrão a get my act together. Passei a ir para biblioteca trabalhar, de modo a ter menos acesso a distracções. Passei a acordar mais cedo (como se possível fosse), passei a organizar listas de compras. Passei, aos trambolhões, a ser o mais organizada que conseguia ser.

E perguntam vocês agora: está a correr bem?
A resposta é: não. Continuo com muitas coisas sempre por fazer. A casa está um caos. As vacinas do Gabriel estão atrasadas. Tenho de o levar ao dermatologista. Tenho de tirar o cartão do cidadão. Tenho de o inscrever, e ao Hugo, na minha médica de família.


Isto para não falar do meu médico, do meu dermatologista, do meu cartão do cidadão, da minha vida.

Pergunto-me se me sentirei sempre assim, avassalada. Ou pela engonha, ou pelo excesso de coisas, mesmo. Tenho muitas coisas para fazer, muitas. Sou o coelho do Cais do Sodré.

PS - O tal livro "Get Your Act Together" anda a render umas boas gargalhadas. Excelente para aumentar a autoestima dos que sofrem de défice de organização. Vá lá.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Esta tocou-me

Nunca divulguei causas, mas acho tão bonito senhoras assim., de portas sempre abertas e sempre a pôr mais água no feijão para mais uma boca. Conheci algumas, e merecem tudo.
Agir localmente, pensando - ou não - globalmente. Mas agir localmente é sempre bom.

Esta pequena família adoptou a obra da tia Preta como sua causa.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O futuro começa AGORA

Porque, como a amiga Anacê, a amiga Carla e mais uma catrafada de boas amigas dizem, eu sei o que está mal. Ter este tipo de clareza é uma sorte do caraças (e não, não estou a falar de perder peso desta vez, não desta vez, não objectivamente, pelo menos) e já chega de pouco amor. É preciso mais amor.

Uma mudança para melhor de cada vez. Começa agora, com um plano, como eu gosto.

A primeira mudança: vou brincar com o meu filho concentradamente todos os dias. Ando muito, muito distraída e ele não para de crescer diante dos meus olhos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Felizmente são cada vez menos

Mas há dias em que só quero a minha vida a dois de volta, sem passar 99% do meu tempo extra-trabalho a correr atrás de um bebé incansável, poder sonhar com um livro à beira da piscina nas férias, que luxo, santo Deus.
Arre, que nem consigo ansiar por Agosto, assim.
Xô, baixo-astral.

Update: já pedia muita ajuda, mas vou passar a pedir ainda mais. Queria ser daquela raça de mãe para quem tudo é uma alegria e natural, ai como é bom ter bebés, tantos bebés, que venham mais bebés. Não sou. Isto cansa-me à brava.
E para quem pensa que me queixo muito, sim, queixo-me mesmo muito, e ainda me vou queixar muito mais.

Conversa que tive no FB com o meu irmão agora:

Eu

a nossa vida neste momento é:

acorda 6h30, pequeno-almoço do bebé, bebé, bebé bebé até deixar o bebé na creche

dp trabalhar até à hora de ir buscar o bebé

dp bebé bebé bebé até ele dormir

dp casa até desmaiarmos

no fim de semana muda para

bebé bebé bebé bebé bebé beb
é


Update 2: e quando me sinto assim, COMO.