terça-feira, 26 de novembro de 2013

Um dia é assim, o outro é como hoje

Se há dias em que me sinto a última coca-cola no deserto, a mulher dos mil afazeres interessantes e desafiadores, uma pessoa que teve a sorte a encontrar o talento a meio do caminho e fazerem com que tudo corresse sobre rodas...

... Há outros como hoje, em que não sou carne nem peixe, não sou boa nem na profissão A nem na B, em vez de ter duas Melissas completas numa só, não, tenho duas metades mal-amanhadas, sendo medíocre em cada uma delas, sem ter tempo (nem força) para me dedicar a ser realmente boa em nada, nem na A, nem na B, e já agora, porque falamos em crise, juntemos-lhe o mãe, o esposa, o irmã e o filha.

É como se tudo estivesse desastrosamente incompleto, como se vivesse em eternos ensaios do que gostaria de ser, na verdade.

Dias de merda. Dias de merda.


Mamãe adorava esta canção, julgo que era a sua preferida. Adoraria saber o que ela me diria num dia de merda.

sábado, 23 de novembro de 2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Chegadas e partidas

Quem é imigrante e tem pai emigrante passa mais tempo em aeroportos do que as pessoas normais. E levamos com as avalanches de emoções dos desencontros e reencontros dos outros o tempo todo, especialmente quando somos especialmente abelhudos, com uma predileção em futricar a vida alheia (como eu).

Nas partidas é segurar o nó na garganta. Abraços longos, mãos no rosto, crianças que mudam de colinho, tens aí tudo, não te esqueces de nada, cartão de embarque, passaporte. Silêncio, choro chorado e choro engolido. O meu é engolido. O meu pai trabalha fora há demasiado tempo para ainda haver drama de aeroporto. Fico-me pelos outros.

Nas chegadas, correrias desvairadas, crianças a driblar seguranças aturdidos e a pendurar-se em pescoços, malas que se soltam, carrinhos de bagagem que se tresmalham. Beijões enormes e melados. Adoro as chegadas. As chegadas são sempre boas, mesmo quando só há alguém com um papelinho e o nosso nome à espera. Mesmo a pessoa do papelinho leva com um sorriso aliviado. Ah, está ali alguém por minha causa.

Na última vez que fui ao aeroporto buscar papai, houve outra chegada. Ela vem com uma mala pequena, vem a arrastar-se, alheia à alegria toda à sua volta. É esperada por duas pessoas muito sérias, um rapaz e uma mulher. A cerca de dez metros de quem a espera, ela apressa o passo. Vai dar um abraço ao rapaz, mas os joelhos falham-lhe enquanto o pranto rebenta, ela cai. Chora como nunca chorou na vida, talvez apenas como tenha chorado quando recebeu a notícia que a põe em Lisboa naquela manhã. O rapaz ajoelha-se também e estão ali naquele abraço doloroso. A mulher tenta fazer algum controlo de danos. As pessoas interrompem a alegria da chegada e olham para aqueles desgraçados. Eu também. Sei bem o que é aquela chegada, bem como muita gente que está à volta. Não passei por ela da mesma forma, mas passei por ela da mesma forma. Há coisas que são estranhamente iguais para todos nós. 

Gabriel para a minha tia Ane

Tia,, sabes, tenho uma vó Mel que já morreu e mora no céu, sabe voar.
No melhor tom "how cool is that?"



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Curtíssima sobre educação coerente (à minha maneira)

Se a minha cabeça me diz que errei, assumo o erro. Volto atrás. retiro o não ou o sim.

Ah, mas eles têm de aprender que não é não porque a vida dá muitos nãos. E temos de ser consistentes.

Pois, mas aí discordo. Na minha experiência, a vida raramente é preto no branco, e mais raramente ainda são as suas voltas definitivas (passe o paradoxo). Para mim, a vida é muito mais como uns pais relutantes, a aprenderem pelo caminho, do que uma governanta suíça. E a única consistência que me faz falta é a que ele tenha a certeza de que estou sempre com os interesses dele em mente, mesmo nas mudanças de direção.

O resto é sambinha.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Coisas que não combinam


Vários prazos a aproximar-se em simultâneo e um livro daqueles que nos fazem andar na rua de kobo no ar, aos tropeções.


E aqui, tal e qual com Zafón, guardarei o último para ler quando sair o novo, diminuindo a ressaca. E aqui, tal e qual com Zafón, falharei na missão. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Amor de longe*

Há algumas semanas, postei no FB que tinha saudade de chegadinha. Chegadinha é uma das derradeiras street foods de Fortaleza, basicamente hóstia com um bocadinho de açúcar, em formato de telha, extremamente delicada. O que há de especial nas chegadinhas, podem perguntar-se, e eu respondo: a forma como é vendida.
Um homem com um tubo de alumínio preso por uma alça ao ombro, com um triângulo. Aparece nas ruas a tocar o triângulo e a meninada toda corre; é a hora da chegadinha. Não se vendem nas lojas. Portanto, se uma mulher grávida tiver desejo súbito de chegadinhas, o marido estará metido em sérios problemas. Só lhe resta esperar pelo timtimskitimtimtimskitim na rua.

Já disse que eram extremamente delicadas, certo? Isso é dizer pouco.São finíssimas, quase transparentes. Imaginem uma hóstia com metade da espessura e dez ou quinze vezes maior. Desfazem-se com o olhar, na verdade.

Isso não impediu que as minhas tias e primas conseguissem embrulhar algumas dúzias em plástico, papel de cozinha e as pusessem numa caixa de sapato perfeitamente isolada dentro de uma mala, como se contivesse uma relíquia sagrada, para as trazer para mim, cruzando o mar e tudo. 
Eu, de avental de sopeira e cabelo ao ar, e o meu tesouro.


E é assim que se ama de longe. Sim, o Skype e o Facebook facilitaram muito a vida das famílias e amigos separados, mas é muito fácil, e amor difícil sabe melhor. E trazer uma chegadinha, ou várias, intactas de Fortaleza até Lisboa é amor difícil. 
Um dos melhores presentes que já ganhei até hoje. 

* O título do post vem desta maravilha de alto astral.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Curtinha mitológica

Adoraria mudar de calcanhar de Aquiles.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

15h27

E sabem quantas palavras traduzi/escrevi até agora?
Nenhuma.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Um dia excecional de trabalho

Sim, eu sei que sempre que falo de trabalho é para me queixar, mas hoje não.

Hoje vou escrever falas para o Ruy de Carvalho, caraças. Há que fazer uma pausa para honrar a oportunidade e agradecer à vida por poder fazer duas coisas bastante diferentes e (quase) igualmente satisfatórias.

Obrigada, vida. Espero não te deixar mal com tanto mimimi.