segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma pergunta simples

Como faz uma pessoa para deixar de se sentir um perfeito idiota?
Vago, eu sei. Mas não sou capaz de melhor neste momento.

O que não volta

A paz que sentia ao fim de tarde de domingo depois da missa, depois de dar graças pela semana que passou e pedir pela semana seguinte. Não sendo mulher de fé, sou uma tipa de rituais: apaziguam-me e dão-me um sentido de pertença de que preciso muito.

Nunca fui uma católica muito católica: não me confesso desde que deixei de ser obrigada a isso (colégio) e tomava a eucaristia mesmo assim, cheia de pecados e ciente deles. Ouvia as Escrituras conforme a minha própria leitura, fazendo as minhas actualizações, sem o menor problema de consciência. Fui feliz assim durante muitos anos, até essa paz boa se perder quase instantaneamente num momento bastante específico na igreja de Santo António do Estoril, há uns valentes anos.

Enfim, lembrei-me disso ao passar ontem por uma igreja protestante das brazucas, com a malta lá dentro a cantar e a bater palmas, uma festa. Uma festa boa de comunhão entre homem e o que o transcende. Não é isso o que tem de ser?

sábado, 27 de agosto de 2011

E quando conseguimos pôr finalmente em palavras o que nos tem afligido nos últimos tempos, mesmo que com muitas pausas e gaguez e alguma vergonha, e a parte de lá entende exactamente o que queremos dizer, completa as frases que não conseguimos completar e, de quebra, temos um feedback que nos conforta, tranquiliza, quase nina?

E se depois de nos tirar esse peso de cima ainda nos levam a fazer exactamente o que precisávamos (no caso, um mergulho no mar, coisa que faço, vá, três vezes a cada cinco anos) e não exige atenção nenhuma, deixa-nos confortavelmente entregues ao sol, ao nosso livrinho e aos nossos fantasmas, sem que nos deixe esquecer-nos nunca de que está ali, bem presente.

O casamento é uma maratona, ou, como diz a Cê, uma prova de remo a maior parte do tempo, mas tem dias que é uma valsa lenta de olhos fechados, em silêncio, sem ninguém a ver, inesperada e mágica como nos filmes bons, e põe tudo de volta ao sítio, põe tudo que estava espalhado nos devidos lugares.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um momento daqueles

Ao ver uma foto da irmã da minha mãe, parecidíssima com ela, com o neto recém-nascido ao colo, e abriu-se a choradeira por não ter aquela foto, a choradeira que precede o motivo e o pensamento, a choradeira mais veloz do que a luz.

É assim, também, a ausência. Às vezes vem em ondas mais ou menos previsíveis e noutras é Iguaçu e Niagara juntas despejadas sobre a nossa cabeça em dez segundos.

If love could speak to you about food

http://www.oprah.com/oprahshow/Author-Geneen-Roth-Shares-Her-Eating-Guidelines-Video

De vez em quando volto à sabedoria da Geneen Roth e desejo sempre nunca mais afastar-me dela.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mais um post pragmático - receitas vegetarianas

Pessoas gourmet, lanço-vos um desafio: preciso de um livro de receitas/site/receitas em si para alternar com as refeições de carne e peixe aqui da casa, e tudo que encontro é sempre muito elaborado, com muitas ervas e especiarias e caris e misturebas, e tenho cá um picky eater. Por isso, saquem lá dos vossos baús receitas vegetarianas - preferencialmente sem tofu ou seitan, mas também pode ser - simples, baratuchas e que haja hipótese de o pequeno Gabriel comer.

Ando sem imaginação nenhuma.

Preciso de opiniões! Vacina contra os ácaros

Vacina contra os ácaros: sim ou não? Tenho uma alergia terrível, daquelas em que a picadela do teste invade o braço todo em cinco minutos, mas queria saber se a dita cuja melhora mesmo a qualidade de vida antes de começar a gastar 200 eur por trimestre durante cinco anos.

E também: porra, só temos resultados depois de CINCO anos?

Digam coisas, pessoas vacinadas e/ou conhecedoras!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ainda sobre o amor

Em conversa com uma amiga, às tantas ela diz que ter alguém não é condição sine qua non à felicidade. Pus-me a pensar, claro. É que se há condição sine qua non para a felicidade em que eu acredite é esta: um parceiro/a. Não o tempo todo, não sempre, pode ser com a intermitência que tiver de ser, com a intensidade dos primeiros dias ou dos últimos anos. Não falo de um amor para toda a vida, que não acredito nisso, nem em amores perfeitos. Falo em ter, ou ir tendo, outra metade para dar gargalhadas, cozinhar jantarinhos, fazer amor, brigar feito cão e gato também. Não estou a falar de um marido. Estou a falar de um parceiro.

Não creio mesmo que filhos sejam essenciais à felicidade. Consigo imaginar mil formas de uma pessoa ser feliz sem filhos, mas nenhuma sem viver paixões. A validação, confirmação, intimidade, segurança e alegria que um amor romântico proporciona é ímpar, única, como uma peça num puzzle, a melhor peça no puzzle a seguir ao amor próprio - e mesmo assim acho que é possível viver grandes amores sem amor próprio.

Com a intermitência que tiver de ser, com as pausas necessárias entre dois parceiros que façam sentido.

Sim, eu sei, "fala por ti" e tal, mas, que querem? É algo em que acredito. Quem acredita em Deus acredita que ele existe para todo mundo, até para quem não acredita nele.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Os primeiros amores da rainha do drama

- O primeiro chamava-se Sami, gorducho de caracóis ruivos, foi no Jardim II (pré-primária de cá, 5 anos) do Colégio Juventus. Sonhei com ele e acordei apaixonada. Roubei dinheiro não sei de quem para comprar um catavento, pus várias cadeiras da sala umas em cima das outras até chegar ao ventilador de tecto para fazer o catavento girar o mais depressa possível, a ver se o Sami notava. Não notou.

- O segundo foi o Napoleão, aos nove anos, durante a colónia de férias. No fim do desfile das mini-rainhas de beleza (não se esqueçam durante nem um segundo de que sou sul-americana), cruzei-me com ele nas escadas. Ele disse que eu estava linda. Eu abri a boca, incrédula, mas não pude dizer nada, porque a minha mãe puxou-me para ir não sei onde. A última imagem que tenho do Napoleão é debruçado no corrimão das escadas a dar-me adeus. Nesse dia, fomos ao clube ( = sítio com piscinas e tal) e saltei para dentro da piscina olímpica, tentando afogar-me de amor. Não aconteceu.

- Amei o Renato desde a 3a classe até praticamente vir para Portugal. O meu sonho era que ele simplesmente reparasse em mim, mas, caramba, eu era a coisa mais esquisita do colégio inteiro ( Tudo que hoje acho que são meus encantos, na altura jogava contra mim: escrevia histórias super longas e macabras, lia enciclopédias e sabia coisas muito esquisitas sobre arqueologia, gostava de ir de chapéu e luvas para o colégio e mais uma panóplia de coisas que não facilitaram muito a minha infância/pre-teens), e o Renato era o que hoje se designa por "popular", ou seja, as minhas hipóteses eram nulas. Até que um dia resolvi fazer um feitiço de amor que a empregada me ensinara e que resultava mesmo. Uns dias depois o Renato convidou-me para ser seu par na quadrilha das festas juninas, desde que eu não contasse a ninguém. Quase morro. Chorei muito de felicidade. No dia da apresentação da quadrilha, o Renato não apareceu.

- O meu primeiro namorado de verdade foi o Roman, tinha eu 14, 15 anos. O Roman vinha a Portugal nos Verões, por isso, era basicamente um namoro por correspondência. No Verão de 1991, o Roman decide terminar comigo. Veio lá a casa, terminou tudo e saiu. tentei criar coragem para saltar do 9º andar, mas tive muito medo de morrer. Em vez disso, telefonei ao meu pai a dizer que queria ir viver para o Brasil, pois a vida tinha perdido o sentido (é que tinha mesmo). Não aconteceu. Implorei tanto que o gajo voltasse o namoro que ele voltou pelo resto das férias, acabando tudo por carta assim que chegou a Holanda.

Este post, inspirado pela Gralha, é dedicado ao meu maridinho, que aconteceu e apareceu e notou e gostou, e que, por algum motivo, acha que eu fui o bambambam das relações amorosas na juventude, quebrando corações por todo o lado.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aprofundando

Tive de desmontar casas algumas dez vezes, ou mais. Por mudança de apartamento, cidade, país, continente, luto, casamento. A quantidade de coisas que vão para o lixo a cada desmontagem é impressionante.

Não sei se será por isso que não gosto de coisas. Por mim, tinha aí três ou quatro mudas de roupa para cada um de nós, o anjinho da minha avó, uma boneca que a minha mãe me fez, a primeira roupa do Gabriel, duas colchas que, pelo seu valor emocional, não me posso desfazer delas, as cartas dos meus avós, a camisola de baptismo do Hugo e mais nada. Mais nada além do equipamento necessário à casa.

Seria tudo mais simples, mais fácil, mais fluido.
E quando sentimos que a sala está cheia de mais, que os móveis são grandes de mais e só servem para acumular mais porcaria que não será usada, pó e ácaros...

O desejo de se estar numa sala vazia é intenso. Hoje foi tão intenso que saí para comprar caixas e mais caixas e encaixotei todos os CD e quase todos os livros.

Que tipo de loucura é esta, hein?

E a paranóia da "arrumação"? "Ah, que assim ficas sem arrumação nenhuma". Caramba, eu não quero ter é COISAS para arrumar. Não sinto necessidade de possuir objectos, nem o Hugo. Leio um livro e, nos raros casos em que é comprado, é doado para a biblioteca. Filmes, só tenho os meus preferidos, e as séries são de consumo rápido. Tento que o Gabriel tenha pouca coisa e ando sempre a rodar brinquedos.
Odeio guardar coisas. Odeio bagagem.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pesadelo recorrente

Sou obrigada a fazer todas as cadeiras de Matemática a que chumbei desde o 5º ano.

domingo, 14 de agosto de 2011

De um dos melhores livros que já li na vida

Fechou a boca. Depois beijou Oskar nos lábios.
Oskar viu durante uns segundos através dos olhos de Eli. E o que viu era... Ele próprio. Só que muito mais encantador, belo, forte do que pensava que era. Visto com amor.
Uns segundos.


Lindquist, John Ajvide, Deixa-me entrar.

sábado, 13 de agosto de 2011

Ele é

o puto mais boa-onda que já conheci. Vá lá, talvez seja o segundo: o primeiro foi o meu próprio irmão. Achava que a memória selectiva tinha apagado os maus momentos do Fernando, mas não: já comprovei com outras pessoas que ele era mesmo um puto fixe. Não me lembro do choro dele. O Gabriel também chorou pouquíssimo até agora.

Amo que os homens da minha família sejam descomplicados, dados, risonhos, divertidos, simples, seguros, no-nonsense.

Compensa todo o drama que eu carrego em mim.

Se hoje ele decidir virar um monstrinho devorador de mães, já valeu a pena.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bipolaridades (não é um blog, é a maternidade)

Pois bem.
Quando estou no parque a correr atrás do Gabriel, a empurrar o Gabriel no baloiço, a equilibrar o Gabriel no bebedouro e a gabrielar de várias outras formas, olho os casais filholess na esplanada a beber snobemente os seus cafés, a dar baforadas nos cigarrinhos e a ler livros, e penso, cabrões de merda, queria tanto.

Hoje fui Gabrieless ao mesmo parque e pus o meu melhor ar snobe (é excelente, garanto), abri o meu livro e pedi um café cheio e uma água castelo e pus-me a olhar enjoadinha para as mães a correr atrás das crias e a evitar que as crias comessem beatas e agarrassem os patos e levassem com um baloiço nas trombinhas e o livro perdeu o interesse e o melhor ar snobe deu lugar a um suspiro patético de saudades do meu porquito.

Caguei no boneco, vim-me embora.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

wish you were here

Se me perguntassem: Melissa, se pudesses ter a tua mãe de volta numa determinada situação, só numa, e nessa situação não pudesses dizer nada que não fosse subjacente à própria situação, o que escolherias? Eu diria, sem titubear por cinco segundos: queria ter mãe quando o Gabriel estivesse doente.

Quarenta minutos de tosse ininterrupta, fazendo lembrar os edemas de glote da mãe e do avô - que sabemos bem onde vão parar - cuspia o Aerius, lembrei-me da minha mãe a dizer que levavam o meu tio à praia no auge dos ataques de asma e foi isso mesmo o que eu fiz, agarrei nele só de fralda e baza para a praia, "tchau, Bob", diz ele para a TV, na praia a tosse continua, e voltamos para o carro, abro todas as janelas e vou até Cascais pela beira-mar e volto até Oeiras, até que a tosse ceda, cede logo, tosse, o menino quer cantar a-barata-diz-que-tem.

Dos prazeres simples e inexplicáveis

Lembram-se, caras seis leitoras, de eu ter dito há uns valentes meses (ou mais de ano) o quanto eu gostava de ficar a olhar plantações de abóbora e limoeiros carregados? Tenho descoberto outra cena, de uns tempos para cá:

ver uma pilha de papel a ser impresso numa impressora e a cair na bandeja, tudo bonitinho.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Família

Eu leio, ele vê TV, e o bebé, um bocado pedrado dos medicamentos para a tosse, faz cucu a uma almofada.

O melhor sofá do mundo.

O momento

Estava com a Melissa a ver o Concerto dos Bon Jovi, e veio-me à imagem o nascimento do Gabriel.
Ao ver aquela gente toda, de telemóveis e cameras fotográficas na mão a filmar o palco e a actuação do Sr. Meloso, reparei que já não é o momento, muito menos a emoção de ser algo único e pessoal que move as pessoas aos espectaculos. Na verdade, o que dezenas de milhares de fãs fizeram ao longo das duas horas e picos da actuação do Sr. Baladas foi filmar, filmar, filmar e assistir a um espectaculo que devia ser único e comovente através dum mini visor Sony ou Apple dos seus aparelhos, para depois postarem, em tempo real, no Facebook as imagens que captaram.
Parece-me que o sentimento de dar e receber nestes grandes espectaculos de estádio está completamente invertido e julgo que o que é mais importante é estar lá e provar nas redes sociais que se faz parte daquilo, colocando-se a música e a qualidade do artista para segundo plano.
Por acaso não trazia nenhum aparelhómetro comigo, porque dava um bom video filmar aquelas almas de braço esticado a captar todas a mesma coisa sem qualquer interesse no que se passava no palco. Para o mesmo efeito existem os DVD dos concertos.
Ah, isto a propósito do nascimento do Gabriel. Eu assisti a tudo e quando finalmente veio ao mundo apenas tirei uma e apenas uma foto para mostrar a cria a todos aqueles familiares que estavam na sala de espera. Guardei a máquina no bolso e fiquei ali a olhá-lo, comovido, claro. Aquele momento era meu e de mais ninguém!