quinta-feira, 30 de julho de 2009

Perda de inteligência

Disse há uns dias algo como "perdi alguma inteligência".
Bem, isso foi claramente um understatement. Eu e o Hugo, de um casal antenado e criativo, estamos a caminhar a passos lentos em direcção à... qualquer coisa diferente.

Se há uns tempos víamos séries premiadas mas pouco assistidas como The Wire e Mad Men, hoje em dia o Hugo vibra com o Salve-se Quem Puder.
Enquanto eu...
Bem, eu desci mais baixo.
Não durmo antes de ver isto. E isto. E muito especialmente, isto.
E onde está o Hugo nessas horas, perguntam vocês.
Ao meu lado, é claro, porque casal que é casal coordena os horários dos programas preferidos.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Assim, de repente (nanomomento deprê)

Não me importava nada que todas as nossas sensações fossem causadas pela presença de uma hormona qualquer devidamente identificada; e que essas hormonas devidamente identificadas estivessem disponíveis em qualquer farmácia, como um benuron para estados macambúzios, sem esperança, sem energia. E assim como não pensamos nas causas das pequenas enxaquecas porque há um comprimidinho que as faz desaparecer, também não teríamos de pensar nas causas dos nossos momentos nanodepressivos, evitando assim o agravamento dos mesmos.

Doces manhãs

Cada vez gosto mais das nossas idas ao parque pela fresquinha, com os fones postos enquanto palras com o vento, bebendo cafés em quantos cafés me apareçam à frente, lendo a revistola de fofocas do dia, botando os bofes para fora porque a vinda é a subir.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

da maternidade

Gosto:

- Morro de orgulho de, sendo uma pessoa caótica e cheia de pequenas falhas, ter feito metade de uma pessoa tão normal e tão perfeitinha, com mãozinhas e bracinhos e barriguinha.
- Acho que agora somos mais família do que quando éramos só um casal. O Gabriel solidificou-nos enquanto instituição e dá-me a sensação de que estamos aqui para ficar.
- Adoro todas as novas nuances do Hugo, que se revelou o melhor pai de bebé de que já tive notícia. Nesta casa, as tarefas com o Gabriel são divididas MESMO. Ninguém ajuda ninguém. Isso só faz crescer o meu amor por ele.
- Agora é a lamechice: adoro a existência do meu filho. Adoro o cheirinho e os sons, e as caras, dele a fazer cocó, a bocejar e a meter a mão na boca. Adoro as coisinhas que vão mudando dia após dia, o som do choro, as gargalhadas, o volume de baba. Adoro sentir que ele já me reconhece. Adoro o seu feitiozinho, igual ao do pai. Tem cara de Lyra, mas personalidade de Carvalho. Não podia ter pedido melhor.
- Gosto muito de algumas competências que adquiri: um bebé traz todo um conjunto de novos conhecimentos e todo um mundo novo para descobrir. Sempre adorei aprender coisas novas e formar opinião sobre elas. Adoro tomar opções.
- Adoro, simplesmente ADORO ver como a minha família é doida pelo Gabriel. Vê-lo com o tio é um gozo, com o avô também. Cada um tem menos jeito e mais carinho do que o outro. Também é uma delícia vê-lo com a Lurdes e com a Isabel, cada qual dentro do seu estilo. O meu filho tem todo o amor que precisa para crescer.


Não gosto:

- da depressão pós-parto, ou depressão maternal, não sei bem: existe, e doeu muito. Logo que o Hugo voltou a trabalhar e dei por mim sozinha em casa, comecei a ter crises de ansiedade, choro convulsivo, sensação de perda profunda. Detestava tudo isto. Até que passou – embora, sim, haja momentos horrorosos nesta aventura.
- Sinto muitas saudades das minhas amigas, não por elas estarem longe, porque são amigas com A grande e não se afastaram nunca, mas é porque a maternidade aliena, mesmo. Deixei de ser a pessoa que era antes. Aliás, melhor será reformular: sinto muitas saudades de mim mesma.
- Acho que já não tenho tanta piada quanto tinha antes, e perdi alguma inteligência também. E interesses, perdi alguns interesses, e eu era uma tipa cheia deles.
- De estar sempre à disposição do Gabriel: um filho é o pior patrão que existe. Não podemos ter enxaquecas, dias maus, sono. Não há espaço para nada enquanto ele está acordado.
- Sair com o bebé é uma seca cheia de preliminares.

Coisas que eu esperava que acontecessem e (ainda) não aconteceram:

- Sentir-me afastada do Hugo e incomodar-me com os nossos silêncios. Antes estávamos sempre a falar, tínhamos sempre assunto. Agora temos silêncio ou assuntos do bebé. Mas não me sinto minimamente afastada dele, muito pelo contrário. O cansaço une.
- Instinto maternal. Estou plenamente convencida de que é mito urbano. Criar um filho é uma tarefa aprendida com sangue, suor e gargalhadas todos os dias. Nunca senti instinto nenhum e agradeço a Deus o meu filho nos ter sobrevivido enquanto ainda não sabia nada de nada.

Aliás, mesmo depois de já sabermos umas coisas, a parentalidade troca-nos tanto as voltas que agradeço a Deus o meu filho sobreviver-nos todos os dias.

domingo, 26 de julho de 2009

Work it, baby

O Hugo está aqui ao lado a fazer uma massagem ao Gabriel com uma amostra de óleo da Mustela. Errou na dose. Por excesso, mesmo.
O meu filho parece um stripper-bebé.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Óculos novos

Hoje estive a olhar para o Gabriel e a pensar naqueles mitos que se ouvem por aí, de bebés que são criados por animais. Lembrei-me da lenda do Rómulo e Remo que foram alimentados por uma loba e ainda fundaram a cidade de Roma. Esta história de coragem, conhecida por toda a gente, inspirou muita coisa na cultura popular como por exemplo a origem de Tarzan. Esse teve a sorte de ser adoptado por simpáticos símios.
Mas a verdade é que se olharmos para um recém-nascido percebemos que os coitados não são capazes de fazer nada para se defenderem do mundo que os rodeia. A única arma que realmente têm é o choro. E é uma boa arma, sem dúvida, especialmente quando utilizada a meio da noite.
Foi então que comecei a gozar com a minha cria, chamando-a, não exactamente com estas palavras mas quase, de animal dependente. Avisei-a da minha importância enquanto pai para a sua sobrevivência e informei-a logo que é a força, perspicácia e ousadia do progenitor que a vai defender do mundo. Por isso o melhor é ter-me respeito desde já.
- Essa do Rómulo e do Remo só mesmo nos livros. Aonde é que vocês conseguiam safar-se numa selva, heim! Vá diz-me lá seu parvalhão indefeso. As coisas em que as pessoas acreditam, francamente. Tu nem consegues rebolar, quanto mais afastar os inimigos.
Foi então que o raio do miúdo alçou da mão e aplicou o golpe “Haste partida não tarda nada” que me vergou e humilhou vergonhosamente em frente de toda a gente.
- Pronto Gabriel. Os óculos não. Tira lá a mão! Vá lá, devagarinho! O pai promete nunca mais gozar contigo! Tira lá a mãozinha que isto é caro. Oh Meus Deus! Ó Melissa anda cá depressa!!!!!!!


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ainda a ler

O livro sobre a Motown, o que é fixe, porque tem banda sonora das boas.
É um livro que se lê e se ouve, contra aqueles livros nefastos cheios de comida que nos deixam cheios de fome.

Mais um dia daqueles

Em que só me apetece trancá-lo cá dentro com muita água e comida e fugir.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

As dondocas da mesa ao lado

Uma das coisas de ficar em casa com a cria é irmos muitas vezes ao shopping, porque é muito fácil e fresquinho. Uma das coisas de ir muitas vezes ao shopping com a cria é almoçar sem interlocutor, ou seja, com os ouvidos livres para ouvir as baboseiras das dondocas da mesa ao lado. E as dondocas da mesa ao lado, ó Deus Santíssimo, são iguais virtualmente em qualquer lugar deste mundo:
- Adoram ouvir as próprias histórias. Se a companhia é um homem, não lhe conhecemos a voz nunca, apenas os hum-hum e um olhar alheio. Se a companhia for outra dondoca, fala uma de limões e a outra de hipopótamos, certíssimas de que estão a ter ali uma ouvinte sincera e atenta;
- Têm algumas características em comum: são todas mulheres “muuuito orgulhosas, ai que este meu orgulho não me leva a lado nenhum”, são “teimosas, teimosas, teimosas – batendo as unhinhas na mesa – quando meto uma ideia nesta cabeça, não há quem a tire.” E estão sempre sentidas com uma ou outra amiga, “e falo assim muito fria para ela a ver se ela percebe.”
- Têm todas de perder dois ou três quilinhos e estão invariavelmente mais gordas que a interlocutora. Por vezes, dão beliscõezinhos na barriga uma da outra para verem quem afinal é a gorda das duas.
- Têm a certeza de que azeite não engorda. Morreriam a defender essa ideia.
- Foram ontem retocar as madeixas mas a Lu queimou-lhes as raízes todas desta vez. Nunca mais lá voltam.
- Têm sacos da C&A escondidos em sacos da Sacoor.
- Acham que uma empresa de limpeza é muito mais fiável do que uma empregada, mas desde que veio – baixam a voz se me ouviram ao telemóvel – essa quantidade de brasileiras para cá que as empresas também não valem nada. Boas mesmo são as ucranianas, que trabalham bem e barato.

Normalmente esta é a hora em que começo a interagir com o meu interlocutor preferido, o Sr. Gabriel José, que é tão mais cheio de nuances e surpresas no seu discurso. As suas reacções ao meu bubabubabubabuba são muito mais estimulantes intelectualmente.

O Gabriel é o meu Super Mario

Sempre que penso que já domino isto com a pata às costas, ele muda-me de nível.
Este novo nível inclui choros nocturnos por perda da chucha, que foi coisa que nunca o incomodou.
Unhé, levanto-me, tum, tum, tum para o quarto dele, poc chucha na boca, tum tum tum de volta para o meu quarto, ahhh deito-me, unhé. E lá vamos nós outra vez.
Estava tão estoirada que não acordei quando o Hugo saiu. Encontrei este bilhete na cama de grades do bebé:

Ao lado, estava este bebé, obviamente:

O que o Gabriel não sabe é que descobri o truque deste nível: é não lhe dar a chucha depois do biberão da madrugada. Assim o neutralizo e ganho minutos-bónus de óó.
Bring it on!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cinco meses

De muita baba, muita papa comida, muita papa desperdiçada, muitas caretas de maçã, banana e melão, muito deleite com gelado do Santini, muita suspeita de que estão dentes a despontar, muitos mééés e nééés, muito sorriso aberto, muito beicinho, muito chorinho com lágrima e tudo, muita falta de paciência, muita paciência, muito amor, cada vez mais ajustados estamos um ao outro.

sábado, 18 de julho de 2009

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Meu coração bate tanto quando te vê

Estive a ler os posts de Fevereiro (até ao parto) e todas aquelas emoções boas invadiram-me de uma tal forma que deixo aqui a canção do parto mais uma vez, para não me esquecer nunca.

Conselho para todas as grávidas, mamãs, etc: criem o vosso registo em blog, nem que seja privado. É muito bom poder voltar a estes momentos e sentir coisas boas outra vez. E quando lemos as menos boas, ficamos contentes porque já passaram.

De irmãos

Nope. Ainda me restaram alguns neurónios da última gravidez para não pensar nisso como plano pelos próximos "alguns" anos, no mínimo.

Mas ontem à noite ocorreu-me um pensamentinho. Se a minha sogra tivesse irmãos, teria tido com quem dividir a longuíssima doença da sua mãe, que consumiu 10 anos de vida a ambas.
E Deus sabe o que é que eu faria sem o alucinado do meu irmão, que me tem ajudado imenso com o Gabriel, superando toda e qualquer expectativa.
Isto para dizer que a nossa perspectiva - minha e do Hugo - tem sido muito limitada, assim como a da maioria dos pais, que têm um maninho para o outro "ter com quem brincar". Ora bem, isso é o de MENOS. Fui filha única até muito tarde e nunca me faltaram putos com quem brincar. Nos inevitáveis momentos em que não tinha mesmo remédio se não brincar sozinha, comecei a escrever histórias, ou seja, devo a minha parte mais divertida ao facto de ter sido filha única.

Mas não é só de infância que vive um ser humano, e não é na infância, fase em que estamos cobertos de amor e protecção, que "precisamos" de irmãos. Acho que é justamente quando a infância acaba. Por mais histéricos, excessivamente sinceros, distantes, enlouquecidos ou sabe-se lá mais o quê, salvo as excepções que confirmam a regra, um irmão FICA.
(Lembrei-me também da doença da minha mãe, em que todo o seu enorme clã se transformou dum minuto para o outro em autênticas mães para ela. Os irmãos têm este condão.)

Também tive um pensamentinho nº 2, mas este fica para amanhã.

(Nota: este post sobre irmãos existe porque o meu próprio irmão chegou cá às seis da manhã, provavelmente com os copos, tentando não acordar ninguém mas acordando todo mundo. Quando ele acordar, eu o esgano.)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

uma canção bonita

Estou a ler um livro óptimo sobre a Motown (à velocidade gabriélica, é claro), e desde ontem que estou com isto na cabeça, versão Isley Brothers e não Supremes.

Parabéns, Ana C!


Trocámos três mails antes da hora do almoço e eu nem TCHUM!!!
Mas ela sabe o quanto gosto dela, o quanto admiro - cada vez mais - a sua inteligência, sentido de observação e generosidade e o quanto sou grata por tudo que ouviu e disse durante e depois da gravidez.
34 anos e um bebé a caminho, tudo coisas de muito respeito.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Já me viram isto...

Quando cheguei a casa, adivinhem lá quem é que estava todo pronto para ir ver os Metallica ao Optimus alive?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Há horas em que só me apetece cheirá-lo (esquizopost)

Ele não cheira a mustela, não senhores. Só imediatamente a seguir ao banho.
A bem dizer da verdade, o meu filho é um bocado azedinho. Como um iogurte natural. Principalmente na nuca, que é onde ele é mais azedinho e mais meu filho do que nunca.

É estranho, eu às vezes tenho saudades dele e ele mesmo aqui ao lado, a dormir.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Como dizer "eu amo-te"

Ele diz assim:

Morangos macerados em limão e feta em cama de rúcula com flor de sal e vinagrete de hortelã.
Meu Deus,dai-me mais maus dias a acabarem assim tão bem.

Tudo cá para fora

Ou não.
Às vezes acho que se começar a escrever algumas das coisas que sinto, nunca mais paro e entupo o blogger.
Acho que sou capaz de passar uma semana a pôr tudo cá para fora sem parar e ainda haveria mais coisas cá dentro.
E pareceria tão mal. Mal além do possivelmente explicável.
Por isso, hoje não vem nada cá para fora.

(Mais Irmãos e Irmãs... alguém se lembra de quando a Kitty liga à Nora a queixar-se dos enteados constipados? Pensamos que a Nora vai ser Nora outra vez e correr para lá, e ela diz, simplesmente: Honey... suck it up. That's being a mother. Suck it up.)

domingo, 5 de julho de 2009

Mais um blog

Agora vou passar a escrever com esta miudagem, aqui. Eles devem querer alguém que lhes prevarique os épicos, que se há de fazer? :)

Curtinhas I: Adoro o professor Langdon!

A maneira como ele dá aulas de história enquanto corre de símbolo em símbolo para salvar o mundo de catástrofe iminente é muito cool.
Que venham mais aventuras, Mr. Brown!

Vamos a la playa ô ô ô ô

Como as novas indicações da ministra dizem para não levarmos crianças para lugares fechados, eis que trocámos a nossa Fnac pelo minúsculo areal das Avencas, e assim será durante todo o Verão.



Ele nem achou aquilo a última coca-cola do deserto nem um castigo apocalíptico. Acho que para ele foi igual ao estar em casa com os dois pais, que é o que ele curte mesmo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os anos do Metal

Os anos do Metal foram talvez aqueles em que o teu pai se sentiu mais feliz em toda a sua vida. Não pretendo com isto desfazer do teu nascimento nem das emoções que senti com ele, mas a verdade é que a felicidade, pelo menos para mim, sempre esteve inversamente proporcional à responsabilidade que uma pessoa possa assumir para si própria. Estou convicto que nada é melhor nesta vida do que não ter que pagar hipotecas a bancos estropiados, não trabalhar uma única hora ou poder ter a liberdade de evitar fazer compras Sábado de manhã num hipermercado apinhado de gente infeliz.
Seja como for, o conceito de responsabilidade como deves talvez imaginar, era coisa que não fazia parte do meu juízo quando tinha os meus 14 anos. As únicas coisas que realmente os meus pais me exigiam eram que passasse de ano e não rompesse as calças nos joelhos a jogar à bola. Hoje, aos 36 anos, este grau de exigência até me faz sorrir enternecido, mas na altura, confesso, tanto uma condição como outra eram bastante difíceis de cumprir.
Foi então que, no meio deste idílio vivencial, nos finais dos anos 80, que o teu pai começou a ouvir a música que todos os rapazes dos subúrbios ouviam na altura. Era o chamado Heavy Metal que simbolizava, para todos nós que o sentíamos, a afirmação duma certa individualidade não só perante os nossos pais mas, também e essencialmente, perante uma sociedade que se preparava para nos começar a cobrar comportamentos e condutas que não estávamos muito interessados em seguir.
Imbuído neste espírito contestatário, comecei a detestar todos os artistas que não se vestissem de preto, não tivessem cabelo cumprido ou cujo aspecto não fosse assim a dar para o ameaçador. O Heavy Metal era uma música feita por chungas para chungas e convenhamos, agora que passaram 20 anos, o teu pai não era propriamente um beto da linha de Cascais.

O primeiro grupo que comecei a gostar foi, claro, dos Iron Maiden. Todos os dias alguém levava um álbum deles para a escola e emprestava-o ao seu semelhante. O dono do disco era sempre um homem tido em grande conta e possuir um exemplar dos Iron Maiden era um símbolo de status nada negligenciável. Claro que em contrapartida o vinil andava a rondar pela turma toda e quando chegava às mãos do dono, presumo que não viesse nas melhores condições, mas isso, como os jornalistas gostam de chamar, era assunto tabu. Apesar de 1988 terem lançado o Seventh Son of a Seventh Son, um disco baseado num livro de Orson Scott Card sobre uma criança com poderes de vidência, era o mítico Somewere in Time, lançado em 86, que tinha mais êxito entre os putos. A explicação é simples. Além de ser um disco melhor, embora seja apenas a minha opinião baseada no meu gosto que tanto na altura como hoje não é de fiar, a capa dele era absolutamente fantástica. Nela via-se o Eddie (a mascote ameaçadora do grupo) de pistola de lazer na mão a passear pelas ruas de Londres num futuro longínquo. Era impossível aos 14 anos não se ficar vidrado naquele desenho e a desejar, não só, ter o disco, como também formar logo a seguir uma banda de Heavy Metal. Este foi o primeiro álbum que ouvi dos Iron Maiden e também deste estilo musical. Fiquei fascinado, claro, e aqueles solos da guitarra do Adrian Smith ou do Dave Murray mexiam comigo e, quanto mais alto os ouvia, mais louco ficava. Abanava a cabeça com força e tocava na guitarra imaginária imitando, na medida do possível, as posições do solo. Era um orgasmo performativo purificador para mim mas um motivo de preocupação para a minha mãe que passava os dias a trabalhar para me proporcionar algum futuro. Mantenho o sonho de ver um espectáculo deles ao vivo um dia destes. Os Iron Maiden para os machos com mais de 32 anos e suburbanos foram os Rolling Stones dos anos 70 e todos eles conseguem cantar de fio a pavio músicas intemporais como o Wasted Years ou o Stranger in a Stranger Land ou mesmo a reconhecer de imediato o solo melancólico inicial do Alexander the Great.

Mas nem só de Iron Maiden vivia o som pesado.
Mais rudes e sujos eram os grandes Manowar. Em 1988 lançaram o seu melhor disco de sempre, Kings of Metal. A grande potencialidade dos Manowar residia no ambiente gótico que conseguiam criar em todas as músicas. As suas canções estavam pejadas de reis que perseguiam o seu destino percorrendo o tortuoso caminho que os levava ao trono lado a lado com a morte, com as mulheres e a fiel espada cujo aço era normalmente lambido a sangue dos inimigos. Por outro lado havia uma analogia interessante entre o cavalo, o ferro das espadas e as Harley Davidson o que os tornava bastante populares entre os motoqueiros. Não era de estranhar que algumas músicas começassem com sons de batalhas, motores a acelarar e gemidos femininos de prazer. Um dos pormenores interessantes do grupo era que todos os elementos rapavam os pêlos do peito o que lhes dava um ar asseadinho nas fotografias que normalmente víamos nas páginas dedicadas ao rock pesado da revista alemã Bravo. Como vês, razões de interesse eram o que não faltavam a estes senhores que se vestiam de cabedal. Em relação à indumentária que se usava entre os metaleiros o teu pai, por muita pena dele, nunca seguiu a tendência. É que os teus avós não me deixavam usar ganga apertada, pulseiras de caveiras, botas ténis e muito menos o cabelo cumprido. No entanto, e é muito importante frisar isto porque ainda hoje tenho orgulho nisso, o teu pai era o único puto a usar uma cruz de Cristo invertida feita com crachás de bandas de heavy metal. Claro que só formava a peça após sair de casa para não ser repreendido, mas recebia muitos olhares de aprovação dos meus semelhantes e isso fez crescer sobre a minha pessoa uma aura de mistério que muito me agradava. Repara que, tal como agora, o teu pai teve sempre um aspecto jovem e naquela idade tinha um físico dum garoto de 11 anos. Olhar para mim com aquela crucifixo invertido ao peito deveria ser um espectáculo algo macabro para os transeuntes. Mas enfim, a necessidade de afirmação tinha de ser preenchida de alguma forma.

De entre todos os artistas da pesada que apareceram, destacaram-se os Metallica. Talvez sejam aqueles que ainda preservam a fama embora, infelizmente para os fãs da velha guarda, pelas piores razões. Mas a honra de terem feito o melhor disco de Heavy Metal de todos os tempos ninguém a pode tirar. Chama-se …and justice for all e é um portento eléctrico. Foi graças a ele que o teu pai começou a ter a panca de escrever a palavra MetallicA em todos os cadernos e em todas as mesas em que se sentava na escola. Era lindo e reconfortante prolongar a perna do “M” e a do “A” como na capa dos discos. Devo-te dizer que graças a este disco comecei a ter uma sensibilidade musical mais apurada que me permitiu, aliás, descobrir novas sonoridades e novos projectos fora do circuito mainstream das rádios da moda. …and justice for all é uma orquestração esplendorosa onde todos os instrumentos se encaixam como uma sinfonia. O disco em questão é ouvido amiúde no meu MP3 e digo-te que é dos poucos que me faz bater o pé e abanar a cabeça nos transportes públicos e um dos melhores discos que ouvi em toda a minha vida.
Apesar de tudo havia uma certa incongruência na minha existência de então que tenho de confessar aqui publicamente. É que apesar de venerar os Iron Maiden, os Manowar ou os Metallica, ouvia às escondidas os Wham e todas as semanas via o Top Gun que foi o filme que, de longe, mais vi até hoje. Qualquer dia tenho de te escrever também sobre estes dois marcos da minha história.




quinta-feira, 2 de julho de 2009

O bom humor deste blog

Volta quando eu voltar a dormir mais de quatro horas seguidas.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ainda sobre o post anterior

Presença. Presença, estar lá por nós. Às vezes a intervenção nem é precisa, só a presença já nos dá o que precisamos.

O meu pai ficou connosco desde a minha 30a semana até o Gabriel completar um mês. Ele não sabe trocar uma fralda e, com todo o respeito, só dizia disparates no que tocava a recém-nascidos. Mas estava aqui no quarto ao lado, para eu poder virar filha quando a coisa apertava. Não tinha de fazer nada para me ajudar além de ser ele próprio e de estar ali.

É a falta da presença dela, para um telefonema estúpido que seja, que me lixa. Nem um marido estupendo como o meu colmata a ausência de uma mãe.

Mas pronto, vou voltar ao meu eu normaleco que falar disto já começa a custar.