terça-feira, 30 de abril de 2013

Rapidíssima sobre a nossa vida

"Estás sempre a fazer coisas", dizem-me. Provavelmente é verdade. Nós não somos nem nunca fomos caseiros, gostamos de rua e gosto de mostrar o que faço - alguns podem achar que sou uma vaidosona oversharer, e é capaz de ser verdade, mas a partilha é mesmo para a malta que me ama lá fora e que às vezes se aflige por estarmos aqui meio "largados". Mas adiante.

Outra coisa que ouço muito é: "de onde tiram tempo para passear, cozinhar cenas que nunca vi na vida, ler, ver filmes, ir ao ginásio e aquelas coisas todas?".
A resposta é simples: da arrumação da casa e demais tarefas domésticas.Vivemos em serviços mínimos e, de vez em quando - muito de vez em quando -, baixa um santo e esfregamos tudo em não mais do que uma hora febril.

E pronto, é isto. Sempre que alguém me diz que não tem tempo para nada, respondo mentalmente para cagar na casa e ir para a rua. Fogo, há tanta coisa na rua para tão poucas horas.

(Sim, eu sei. Não é para todo mundo).

(Acho que já escrevi este post. Não faz mal. A Gralha inspirou-me a reescrevê-lo. Ou a Gralha ou a dormência dos neurónios. Caramba, mas em mais de mil posts, o que me falta dizer?)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Lido no FB

"A gente cresce aprendendo a lidar com as derrotas, e quando vem o sucesso vc simplesmente não sabe o que fazer".

sábado, 27 de abril de 2013

Há dias assim

Um dia claramente não, estou chateada e sem energia nenhuma, meio depressiva e dorminhoca. Calha-me estar sozinha com ele, caramba, o menino mais lindo do mundo que quer tanto a minha atenção, só falta fazer malabarismo à minha frente a ver se me envolvo. Mas continuo alheia.

Não há nenhum problema que a culpa não piore, já dizia Calvin (não o Ítalo, não o reformista, mas o amigo do Hobbes), e aqui não é diferente.

Um filme muito cedo e um livro muito tarde

O filme vi hoje, dia da estreia, e encheu-me o coração. O João Canijo, assim como o Miguel Gomes, é um poço de sensibilidade visual, de coisinhas boas e quase invisíveis, de ternura.
Um filme feminino, delicado, português até as pontas dos cabelos.


O livro ainda estou a lê-lo, provavelmente depois de toooooodo mundo, como foi com Zafón. Há muitos hypes aos quais chego atrasada (graças a Deus).
Que livro do caraças. Duro, bastante duro, mais duro ainda para mim, pois enxergo tanto do Brasil de servos e amos da minha infância na Índia do Tigre Branco. Muito, muito bom.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Curtíssima sobre prioridades

Estou sempre a resmungar que o mundo inteiro que trabalha por conta de outrem tem tempo para ler e eu, não. O comboio, a hora do almoço... Não tenho nem comboio nem hora de almoço - paro 20 minutos para comer e volto à labuta. Restavam-me as noites, que também não andava a funcionar lá muito bem: estou sempre cansadíssima e adormecia em menos de meia hora, além de me sentir culpada por não estar a fazer coisas, digamos, mais coletivas com os meus dois.

Sendo assim, hoje decidi: das 9h às 10h da manhã, que é o tempo que levo entre deixar o Gabriel ao infantário e a biblioteca abrir, leio. É a minha hora de leitura diária. Pronto, trabalhadores por conta de outrem, estamos quites.

Fora, claro, os subsídios, e a certeza de um cheque no fim do mês, segurança social paga e mais uns pormenorezinhos tão sem importância.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia de São Jorge



Deixam-me sempre com um nó na garganta, tanto a canção quanto o filme, um dos mais importantes da minha vida (provavelmente a canção tem dedo nisso).

Um dia chego lá


Às vezes gostaria de ser como muita gente em quem tropeço por esta blogosfera afora. Malta que claramente teve mais estudos ou é naturalmente mais elaborada do que quem os rodeia e a quem quaisquer dois dedinhos de senso comum ou cultura de botequim sabem a Sócrates. Claro que, apaparicadas pelo tal meio em que nadam, essas pessoas se sentem inteligentíssimas e aptas a qualquer desafio que a vida lhes atire. Deve ser uma sensação muito empowering (é uma malta que gosta muito de inglês).

Tive o azar de nascer num meio de gente espertíssima e de estar, de uma maneira geral, cercada por elas também. Não é nada fácil sentir-me inteligente ou culta perto de que me rodeia. Estou sempre, sempre, seeempre a aprender coisas novas e a tropeçar nas minhas próprias caquinhas.  Sempre a ver que, caneco, devia aprofundar-me mais nisto ou naquilo. Olha aí uma coisa que eu não sabia. E outra.  E mais outra. Raios partam, como dei esta mancada? Nem parece meu. Ou por outra, parece mesmo meu.

Um dia chego a sábia, sei lá.

Há pessoas na minha família que quase chegaram aos cem anos. 

domingo, 21 de abril de 2013

Flores da fábrica







O jardim mais lindo que já vi na minha vida: de longe, um caos de cores e folhedo, quase mato; de perto, pecinhas de mosaico nada ao acaso, que só podem fazer sentido a quem lhes dedicar algum tempo e um segundo olhar ao longe. Aí sim, o jardim revela-se - a quem o merece.
 
É para a linda Silvina, hoje, uma semana depois do voo.
E para a minha mãe, que certamente mereceria esta explosão de cor e de vida e de insetos dos bons e de tudo.
Seriam vocês as duas abelhinhas que andavam para ali a zunzunar até me botarem para correr, hein?

Tenho muita pena de a minha máquina ter perdido grande parte das fotografias. Bom, mais um motivo para lá voltar.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um relicário imenso deste amor

Lembro-me de, quando morreram os Mamonas Assassinas, mamãe ter ficado horas colada à TV, a consumir cada bocadinho de informação. Quando lhe perguntei que utilidade tinha aquilo, ela respondeu:

- Vão deixar de falar deles daqui a uns dias. Nunca mais vamos saber nada, acabou aqui. Por isso, vejo tudo agora para depois esquecer.

Encolhi os ombros e pensei "pois, queres é ver o sangue, que és um bichinho macabro".

Mas ela tinha razão, de certa forma. Quando alguém morre, deixa de produzir seja o que for. Congela-se no ar tudo que a pessoa deixa. E a quem cá fica, atordoado, não resta mais do que apanhar os bocadinhos que a pessoa deixou por aqui e fazer sentido deles: filmes, livros, e-mails, fotos. Fazemos a nossa colcha de retalhos pessoal de significados, colamos os pedaços e guardamo-los. E não há nada de macabro nisto. É o amor que ainda não foi devidamente sinalizado e continua a amar e a desejar a pessoa inteira, ou o mais inteira que possamos ter.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

histórias cantadas que transformo em histórias contadas





As duas fazem-me pensar em matas escuras, em lendas que afinal de lenda têm pouco, de mistério e segredo, tudo que eu gosto. Adoro-as. 

Projeto 1989

- Quanto é a tua mesada?
- Dois contos por semana.

(Fiquei lixada - eu ganhava cinco contos por mês. Mas preciso de juntar dinheiro no mealheiro, algo como a famosa técnica das 52 semanas, e pondero seriamente passar de segunda a sexta com 10 eur para poder alimentar o dito porco. Nem seria muito difícil, bastava levar a sandocha de casa).

Post Scriptum: e se o projeto 1989 fosse voltar ao peso de 1989, hein? Impóssibol. Ia ficar com cara de doente. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Há quem já não sinta a presença da pessoa logo depois do desencarne,  quem sinta que a pessoa que partiu está realmente noutro plano. O meu irmão é assim. Lembro-me de quando viu o túmulo da nossa mãe pela primeira vez. "Ela não está aqui, podemos ir", disse, depois de um minuto.

Eu sou diferente.
Eu fico lá horas, se me deixarem.

domingo, 14 de abril de 2013

Como se chama aquele monte na Bretanha que ela queria subir? Não me lembro.
Só desejo que se abra um enorme caminho de luz que a leve até lá.

A gente se vê por aí, moça bonita. 

sábado, 13 de abril de 2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A melhor sandes do mundo

Enquanto ruminava o meu almoço de atum em água e abacate em pão integral, lembrei-me de um gajo da minha infância/pré-adolescência que vendia sandes na praia. Só vendia um sabor, que era:

- pão.
- bacon estaladiço
- creme de frango (sem maionese, tipo recheio de empada)
- banana frita
- queijo
- alface
- pão

Sim, muitos blhécs, eu sei. Mas sou menina de sabores e misturas fortes. E as sandes do homem eram cheias de sabor e sustança.

Um dia ainda as faço em casa.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Erros de tradução

"Toda tradução tem erros. Achar erros em tradução alheia é um esporte muito popular, fundamentalmente porque exige pouca prática e quase nenhuma habilidade, mas infla o ego como poucos outros. Achar os erros que cometemos em nossas próprias traduções é um esporte bem mais difícil e, por isso há tão pouca gente praticando.

A facilidade para achar erros nas traduções alheias leva ao erro de achar que traduzir é fácil. Não é – e quanto mais se aprende a traduzir, mais difícil fica a tradução, porque vamos abandonando soluções reducionistas (o que às vezes se chama o piloto automático) e aprendendo a perceber dificuldades onde antes nada víamos de excepcional. Na verdade, é muito comum o profissional calejado trilhar com cuidado um caminho por onde o principiante saltita alegremente."


Do extremamente sensato - quase tão sensato quanto divertido - Danilo Nogueira, o nosso master Yoda tradutório. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

O dilema Bounty

Vais a meio do primeiro bounty, um que nem devias estar a comer. Do ponto de vista calórico, estás fixe, porque, somado à sopa do almoço, esta metade não completa as 300 calorias. Mas as 140 calorias da segunda metade mandam tudo pelos ares.

... Não manda TUDO pelos ares, porque, afinal, o que são 140 calorias no grande esquema das coisas? Duas maçãs. nada. Já vais a dois terços da primeira metade e a segunda metade vai-te saber pela vida.

... Manda sim, TUDO pelos ares, porque a questão aqui não são as 140 calorias, é a derrota que essas 140 calorias representam. Porque não são 140 calorias duma salada de atum, são 140 calorias do teu inimigo. Matematicamente ainda conseguirias recuperar hoje. Moralmente, não.

- Último bocadinho da primeira metade do bounty: o cesto de lixo está aí ao lado. Deita e não pensa mais no assunto. Deita a porra do segundo bounty ao lixo. Já. JÁ. Acaba-se o dilema aqui.

- Deito e saio, insatisfeita porém vencedora. É que isto importa, sabem? Não é caca, não é drama. Não é neura, ou melhor, até pode ser neura, mas é a neura que devo ter, porque sempre que deixo de tê-la engordo dois quilos. Por isso, sejam bem-vindos de volta, vocês todos: neuras, pesagens, respirar fundo, cobrir doces com fairy. Bem-vinda, neura, porque tu, neura, és sinónimo de amor próprio por estas bandas.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Curtíssima sobre variar os jantares

Deem uma hipótese aos supermercados asiáticos do Martim Moniz. Com pouco dinheiro e algum espírito aventureiro culinário, abre-se todo um novo mundo. Façam perguntas aos vendedores, peçam sugestões. Divirtam-se.

Na última visita, trouxe gel de coco (umas "gominhas" muito boas e frescas), o clássico molho de ostra, sésamo, naam, papadums (que faço sem óleo nenhum e ficam com coisa de 15 calorias cada, para alturas que pedem sabores fortes), noodles de várias espessuras (baratíssimo), algas e a minha maior descoberta em não sei quanto tempo: molho de peixe. Ando a pôr molho de peixe até na escova de dentes. Molho de peixe dá com absolutamente tudo - e acabei de me lembrar que ainda não experimentei na salada.

Para quem não anda com orçamentos calóricos apertados, há dim sums congelados de todos os sabores e feitios, a preços bem decentes. E vendem pãozinho chinês acabadinho de fazer.

A completar o passeio, estando bom tempo, experimentem as comidinhas do largo - tudo que já comi lá, desde comida africana à boliviana, era bom e barato. 

E sim, os produtos são seguros, trazem as informações todas, patati patatá. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Exercício difícil

Não fingir que não estás triste só porque a tristeza é incómoda para ti e para os outros, não julgar a validade dos motivos para estares triste, não engolir o estares triste, não tapar o estares triste com comida. Não ter medo da tristeza e da deceção, deixá-las correr, seguindo o seu curso natural até saírem de ti. Faz parte do se tratar bem, o ser honesta também com o que incomoda.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A avó Angelita

A minha avó paterna morreu no dia em que fez 33 anos - 3 de abril. Faria anos um dia depois do meu pai, dois antes da filha mais velha, uma semana depois de mim, seria uma festança na família.

 Não sei nada dela, além de que tocava piano e que adorava cinema - fugia pela janela para ir ao cinema. Sei que adorava pão com manteiga e tinha as ancas largas que todas nós, Lyra, temos. Era mais alta do que o meu avô (nada difícil). Nas fotos de casamento, as únicas que conheço, está um ou dois degraus abaixo do noivo.

A minha avó, mais nova do que eu, a menina avó que sorria da sala de jantar, vestida de noiva, para todos nós. A moça-avó tão amada, a avó cristalizada em menina. Só virtudes, só amor. Um fim trágico a dar-lhe uma aura de "intocabilidade". Ninguém chegou a conhecer-lhe os defeitos, ou ninguém se lembra deles, quase 60 anos depois. Ainda bem, mais sobra de avó perfeita para mim.

Há uma canção do Jovanotti, acho eu, que diz "bela como uma fotografia da minha avó em jovem", algo assim. Acho uma comparação lindíssima, nunca vi em mais nenhum outro lugar. As nossas avós são sempre lindas naquelas fotos de cabelo armado, ombro ligeiramente de lado, cabeça inclinada, dois dedos de pó de arroz. São sempre estrelas de filmes clássicos de Hollywood.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Ascender espiritualmente

A partir deste dia, não lerei mais blogs que usam o pretexto de aumentar a experiência da partilha (ou seja, aumentar a massa leitora) como isco de clientes para marcas que os patrocinam.

Não, não acho que seja como uma revista. Acho menos claro (mais cinzento, portanto), duvidoso. Traduzi um livro de marketing no Facebook que tratava os blogs não como paid media, meios pagos (espaço publicitário definido), mas como earned media, meios conquistados, extremamente apetecíveis ao cliente pela sua permeabilidade nos leitores. Tudo bem, pode ser a vossa cena, mas não é a minha cena. Não acho bonito espaços que eram de troca de informação, experiência e de amizade se transformarem em sítios de bajulação de marcas. Nem sequer encontro, em blogs portugueses, pelo menos, conteúdos que me beneficiem minimamente. Nunca aprendi nada nesses lugares. Por isso, lamento, senhoras, mas ficamos por aqui. Não posso continuar a perder posts do Don't Touch My Moleskine (só divulgação fixe) ou do Já Matei por Menos (só experiências fixes) para vos manter uma boa contagem de cliques.

(Ainda bem que este blog sempre foi  sombrio ou pouco dado a voyeurismos o suficiente para não ter uma massa leitora que chamasse a atenção de patrocinadores e me fazer cair na tentação de o vender. É-me precioso de mais para ter cá invasores). 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

96 cm

Do final do Verão até ao final do Inverno, deixou a chucha e o triciclo e passou a andar de bicicleta.
Diz que já é muito grande porque tem quatros anos.