segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Reset


Um 2013 de boas lutas para todo mundo!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Eu e a Vera em 2013

Agora não paro de pensar nesta canção :D hahahah, só me rio.


(com dez quilos a menos em dezembro, o mais tardar).

E os vossos planos para o ano novo, hein? Não fiz nenhum para 2012, mas resolvi ser uma mulher resoluta desta vez. Sei lá. Descobri que fazer com que a minha vida corra melhor é não menos do que uma obrigação minha, e exige empenho.

Mais do que me faz feliz

Para 2013, além de distribuir o meu charme pelo mundo, quero:

- Terminar o O., sem medo e sem sustos. Ele não vai deixar de existir por eu o ter terminado.
- Ir ao máximo de aulas de dança que conseguir, porque adoro.
 - Comprar roupinhas giras para ir às aulas de dança, porque não basta ser a bolota da turma, quero ser a bolota fashion.
 - Aprender a fazer duas coisas novas: estou a pensar em velas e sabonetes.
 - Aprender tarot. Desejo antigo, quero tratar disso (é mais do que me faz feliz).
- ORGANIZAR MELHOR A MINHA SEMANA para ter mais tempo para o Hugo, o Gabriel e sobretudo para mim. Posso e vou fazer melhor nisso.
 - Deixar de trabalhar às sextas de manhã ou à tarde (difícil prá caramba). Tem que ver diretamente com o ponto anterior. Quero esse tempinho para ir ao mercado e ao ginásio. Ou para arranjar as unhas e peruar. Não sei. Mas quero.
 - ACABAR COM O NÃO-PLANEADO. Não dá certo. Não-planeado = emergência, e só.
 - Continuar, como estive durante todo o o ano de 2012 (com grandes frutos) atenta ao que me faz feliz.

  Vou pôr uma tag nisto, porque quero ir ticando à medida que coiso.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Memórias que mudaram de valor

Num carnaval em Olinda, numa kombi com o rádio a dar esta canção (que até hoje adoro) um único passageiro só de calções, sem chinelo, sem carteira, t-shirt, sem nada - a única coisa que ele tinha era o diabo da canção, que cantava a plenos pulmões e dançava como ninguém conseguiria num banco duma kombi. Caramba, era talento. 

Guardei a imagem até há pouco tempo como uma coisa boa - o homem não tinha só talento para dançar sentado, tinha talento para ser feliz sem nada. Os brasileiros pobres são conhecidos por serem felizes sem nada, e reconheço essa capacidade. "Com uma caixinha de fósforos, fazem samba". Achava essa capacidade a coisa mais linda do mundo. Mas deixei de gostar dela. 

Talvez hoje fosse tudo diferente se ela não existisse. 

Mil vezes a capacidade de se enfurecer e se indignar por só ter o Sai da Frente aos berros na kombi de 1981 aos peidos do que transformar aquilo numa festa. 

Expressões da minha infância que ainda uso: tchovê

Tchovê se há o livro que ando à procura.
Tchovê se chegou mail.
Tchovê o Gabriel.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Grinchice básica

Odeio o ho ho ho. Odeio. Usei agora e dei-me conta de o odeio. Já não basta importarmos todo o conceito Pai-Natal-Coca-Cola como ainda temos de ter a gargalhada de gordos americanos? Porque diabo não traduzimos o ho ho ho por um hahahahahahah, ou um kkkkkkk como no Brasil? Não vale. É muito.

Mais patético ainda é o hemisfério Sul a importar todo o conceito de Christmas Wonderland e neve artificial em shoppings. Mas acho que está a mudar, felizmente. Na minha cidade, a árvore de Natal da praça central é feita de redes. E é a mais linda do mundo.


Isto tudo para vos desejar um Feliz Natal à portuguesa, ou à vossa medida. Personalizem o que acham que devem. Eu, por exemplo, jamais comeria a comida de doente que vocês comem na Consoada: cá é bacalhau gratinado com muitos pirlimpimpins e a sobremesa um bolo de brigadeiro com recheio de leite condensado e coco. Também não há a chegada do Pai Natal, porque o Gabriel não liga e nós também não alimentamos: há pessoas que se amam a trocar prendas. As gargalhadas são um misto de hahaha com kkkk. Mais tradicional, impossível. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Egotrip de Natal (Alta Definição)

Gosto: do cheiro do pescoço do meu filho ao acordar, do riso do meu marido, de brigadeiro, de Saramago e García Marquez, de música velha, de barulho de infantário, de sushi, de jantar fora às sextas, de maçarocas de milho, de que me limpem a casa, de uma hora de concentração seguida, de cemitérios e mementos mori vitorianos, do macabro de um modo geral, de trocar mails com amigas, de escrever no blog, de malas, de unhas, da minha capacidade de ver chifre em cabeça de cavalo, do Facebook, Nanni Moretti, Miguel Gomes, botija de água quente, analisar as pessoas até ao tutano, analisar filmes até ao tutano, analisar a vida até ao tutano, analisar a mim própria até ao tutano.

Não gosto: de perder o controlo com comida, de perder o controlo do trabalho, de perder o controlo da casa, das saudades da minha mãe, dos meus recalcamentos, de o meu pai viver longe, de o meu irmão viver longe, de não ter primos e tios por perto, de concorrentes de reality shows, da máquina de lavar do vizinho de cima, de gente que "escreve bem" (= gente que sente coisas), de escuteiros, de ser tão precipitada e ansiosa, de aipo, de maçãs moles, de qualquer fruta mole, de cozido à portuguesa, de oportunismo (pior defeito do mundo).

You had me at hello: arrancar-me uma gargalhada, toneladas de cultura inútil, leveza.

Deal breaker: Mentiras cosméticas (com as necessárias posso eu muito bem) e sangue-suguismo variado.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os melhores de 2012


Este ano, o meu Google Memory demorou cerca de 0.08 segundos a dar-me os resultados da pesquisa.
E os vossos, hein?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mais uma daquelas "lido não sei onde"

Fé:
você põe o pé primeiro,
Deus põe o chão depois.

Cá vamos nós outra vez

Criei o ticker de 2013. E todo mundo sabe que, quando se cria um ticker, o ticker tem de andar.
11 quilos em 12 meses parece-me bastante razoável.

Estratégia: procrastinar o mínimo possível. Durante o ano que passou, descobri que a coisa que mais me engorda é a ansiedade, e a coisa que mais me causa ansiedade é o não fazer o que tenho de fazer.

Se calhar crio um selinho com isto para pôr algures aqui no blog. Algo como: MELISSA, SAI DO BLOG E VAI TRABALHAR.

Vamos a isto.
E boa sorte para os vossos planos para 2013. Em 2011, decidi que 2012 seria o meu último ano de obesa. Não foi, porque eu decidi que o meu caminho não era o da dieta, mas sim, o da mudança de comportamento e mentalidade - o que complica mesmo tudo. De qualquer forma, já estou pertíssimo do sobrepeso, só a dois pontinhos de BMI. Vai acontecer. Sei que vai.


sábado, 15 de dezembro de 2012

Prendas de Natal - a inversão

Não é com prendas com hora marcada que mostramos que amamos quem amamos.

Mas pode ser com prendas com hora marcada que mostramos o apreço por pessoas mais distantes que facilitam ou melhoram o nosso quotidiano. Sendo assim, tirámos os amigos e alguns familiares da lista, mas pusemos o professor de natação e a senhora da receção da piscina, o amigo cabeleireiro com quem o Gabriel conversa ao fim do dia... Gente importante, tudo gente muito importante para o Gabriel e, por conseguinte, para nós também.

Acho que vai ser uma surpresa boa.

Oscilações das más

Ganho um quilinho aqui... perco meio ali... ganho 300g aqui... 

Já várias vezes que a coisa que eu menos quero nesta vida é "micromanage" o meu peso. Quero liberdade. Mas liberdade da boa, claro, e não liberdade para desbundar e comer metade do mundo. 

Dito isto, sinto que, nas pequenas oscilações, estou a engordar - estou, entre microvariações, um quilo mais gorda do que há dois meses. Parece pouco, mas não é. Não POSSO engordar, não posso. Dá-me cabo do moral e da moral. Por mais que tente definir-me fora do peso e gritar a plenos pulmões que o amor está aqui dentro e não nas coxas, ainda não cheguei lá. Estou cada vez mais perto em termos teóricos (o que já é um enorme avanço face ao passado), mas a prática vai bem atrasadinha. É muito difícil desconstruir o que passamos toda uma vida a erigir: a própria noção de nós mesmas. A parte da desconstrução é mais simples, o problema é o que pomos no vazio que fica; e, enquanto a nova noção não chega, a velha e bolorentas vem atormentar-me. A quenga. 

Mas tudo bem, eu disse que ia simplificar e vou simplificar. Tenho tudo que é preciso. Basta voltar por onde ia, o caminho do tapar o buraco com a areia certa. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Estritamente ao Ponto

A minha vodrasta tem muitos, muitos anos e tem muitos grupos e interesses, como apanha de cana em Cuba, ornitologia no Algarve e coisas do estilo. Um dos grupos de que faz parte tem um nome parecido com Amigos dos Jardins, e viajam pelo mundo todo só para verem jardins. Não veem mais nada. Imaginem saírem do avião, irem partir um choquinho no hotel só para curar o jet lag e depois zungas, ir ver topiarias e banquinhos e coisas. Nada de lugares emblemáticos nem autocarros hop-in/hop-off. Se são amigos dos jardins, verão jardins. Um luxo.

Se eu tivesse dinheiro, gostaria de fazer parte do grupo Amigos dos Cemitérios para fazer o mesmo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Como me fazer rebolar de rir no meio da biblioteca (para depois chorar)

Eu empolgadíssima com a leitura de Getting Things Done, porque 2013 vai ser o ano de todas as realizações, de colher tudo que passei anos a plantar, o meu ano de awesomeness e, claro, vou precisar de tempo para tudo. A Eliana, que já leu e ouviu o livro mas não viu a luz no fim do túnel que eu vi, manda-me este diagrama incrivelmente simplificado do método GTD:
PS - ler o livro e ler resumos do método em blogues não é a mesma coisa. 
PS2 - Mesmo com o diagrama do demo, continuo cheia de fé, Eliana!





domingo, 9 de dezembro de 2012

Coisas que leio por aí

"The words you speak become the house you live in"  - Hafiz


(Do Facebook da Cátia).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mais uma urgência de feng shui

Tenho a casa ATULHADA de comida. Se houvesse um hecatombe nuclear, acho que a minha família duraria mais do que as coupon ladies do TLC. Não sei como cheguei a este ponto - provavelmente por andar mais em restaurantes do que devia.

Enfim, sou uma tipa que gosta de espaço, e espaço nos armários e congelador também contam. Como já devem ter reparado, não preciso de espaço para pôr lá mais coisas, preciso de espaço para respirar melhor.  E ter comida a mais em casa dá-me crises de asma e problemas de consciência também.

Por mim, daria tudo a alguma instituição, mas não conheço nenhuma que receba congelados, por isso, só me resta ir comendo tudo aos poucos e não comprar mais nada até ter feito a digestão a tudo.

A partir daí, compro algumas latas de feijão para a despensa (nunca se sabe quando teremos um hecatombe nuclear) e, de resto, acabou-se a mania dos stocks. CABÔ. Vou comprar o estritamente necessário para a semana, como fazia dantes.

Assim será.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ando cheias de saudades da minha mãe.

As minhas saudades não são bonitas nem compreensivas nem resignadas nem cheias de boas lembranças. São exigentes, urgentes, sufocantes, autoritárias, espaçosas. Se as minhas saudades fossem uma figura histórica, seriam Maria Antonieta.

E não, não é do Natal. Culpo antes o stresse. Quando estou muito cheia de coisas, as minhas defesas caem. Constipo-me a sério e lembro-me de que não tenho mãe há muitos anos e de que não faço a mais pálida ideia de como seria a minha vida hoje com ela presente.

Tenho andado num processo - muito, muito tardio - de perceber que esta dor não é só minha. Não fui só eu a perdê-la. Tenho andado a tentar compreender a dor do meu pai, por exemplo, que perdeu um dos maiores amores da vida dele e a melhor e mais antiga amiga, além de mãe dos dois filhos, no mesmo dia. Não pode ter sido fácil. Tenho tentado compreendê-lo e dar espaço à saudade dele também, coisa que não fiz durante todos estes anos. Mas hoje não. Como diz a Marisa Monte, se ela me deixou a dor é minha só, não é de mais ninguém.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pois é

"Há dias em que Deus caminha ao meu lado, eu sei.
Há dias em que Deus me leva ao colo, eu sinto".

Sendo que substituo Deus pelos meus anjos da guarda. É a mesma coisa, na verdade.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

cheiro e memória

Não há memória como a olfactiva.

Às vezes, guardamos o sabor de um prato ou doce da infância e, ao revisitá-lo eras depois, vemos que a nossa memória o romantizou e que afinal aquilo nem é assim grande coisa - aconteceu este fim de semana comigo, estava com desejo de comer pamonha há sete anos. Acho que a  cada ano que passava eu ia dando mais uma camada de magia à pamonha, até transformá-la no maior manjar do mundo, um deleite.

Papai trouxe-me pamonha. Comi. Não era a mesma coisa que era na infância. Ou pelo menos, o que teria sido há sete anos. A simplicidade do sabor do milho, só milho e mais nada, já não me chegava. Que pena.

O mesmo se passa com gente e lugares bonitos, a memória visual - às vezes não resiste ao teste do tempo e ao nosso cada vez maior grau de exigência. E o humor de amigos, ou o amor de e por amigos. Acho que, no reencontro, tudo envelhece. Tudo se desencanta.

Mas os cheiros, não. Talvez por estarem condenados a permanecer eternamente no reino do imaterial, podemos romantizá-los à vontade, sem perigo de revisitações. O cheiro da cozinha da minha avó. Do perfume Seiva de Alfazema dentro do armário, do sabonete Phebo, de Omo, de pão, de farofa, de maracujá, de feijão verde, de caju, de bolo de milho e de pamonha, do cabelo da mãe da gente, do pescoço do bebê da gente, de talco no pescoço. Pinho Sol, trouxa que vinha da lavadeira. Cheiro de boneca nova.

Nada tão imaterial, nada tão concreto.




sexta-feira, 30 de novembro de 2012

E tu, que objetos estranhos tens de levar para a festinha de Natal da escola?

Eis a época do ano em que o caderninho do infantário vem com uma página inteira dedicada a vários ítens que os pais têm de desenterrar sabe lá Deus de onde. Tenho lido pedidos hilariantes no Facebook :)

A minha lista:

- Uma garrafa decorada.
- Collants castanhos.
- Camisola verde decorada com bolas.
- Sandes e sumos.
- Prenda do amigo oculto.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Livros com hora marcada

Há mais de um ano que lia duas, três, vinte páginas e, mesmo reconhecendo ser um livro do caneco, não continuava e lá ele voltava para a gaveta - não para a estante da sala, mas para a gaveta da mesa de cabeceira. Ia trocando por livros mais leves e mais ágeis e volta e meia, lá tentava outra vez, lá voltava esta história maravilhosa para a gaveta. E outra vez.
Mas, desta vez, tudo engrenou. Os nossos tempos estavam alinhados. Ele conseguiu olhar-me nos olhos para me contar a sua história, sem dizer psssst, volta aqui. E está a contar, e eu estou hipnotizada.
É Hemingway.


Tenho outro caso assim na gaveta - desta vez, na gaveta do Hugo. Estou à espera de que também este me segure pelos ombros e me diga que não vou a lado nenhum.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre o apanhado da menina fantasma no elevador

Abominável. Inqualificável. Não entendo quem ache piada àquilo, e nem quero entender. Humor é claramente uma coisa muito pessoal.

Qual será o próximo, hein? Dar a uma mãe a notícia da morte de um filho para ver as suas reações animais e, em seguida, apontar-lhe a câmara oculta no canto da parede? Sorria, era tudo brincadeirinha, aqui está a sua criança sã e salva?

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Desta vez, vai

Estou francamente farta da ressaca moral que toda esta nova onda de promoções nos supermercados me causa. Sem perceber, eles apanharam-me - hoje vi-me com um folheto do Pingo Doce na mão a ver que promoções valeria a pena aproveitar, mesmo tendo feito compras grandes ontem já para aproveitar um saldo X que ia vencer o prazo.

Está na hora de habitar o bairro. E ler isto fez-me lembrar que, lá por ter falhado noutras tentativas, não quer dizer que falhe sempre.

O objetivo concreto é deixar de ir a supers e hipers até ao fim do ano que vem. Sim, é muito tempo - mesmo para fazer a coisa faseada e conseguir levar a coisa a bom porto.

Não pretendo gastar mais dinheiro ao fazer as compras no talho, mercado e mercearia do bairro - pretendo é consumir com mais responsabilidade, ou seja, de modo a continuar com o mesmo orçamento, teremos de consumir menos.

Acho que tanto a minha família como a comunidade vão sair a ganhar.

Desejem-me sorte!

Curtíssima Sobre Pedrada Natural

Estar feliz por estar bem, mesmo bem profissionalmente, uma grande amiga ter tido hoje a notícia de uma vida e outra amiga estar alegremente soterrada em trabalho. Só coisas boas. Há mais aí para troca?

Sempre achei que o surfe era a derradeira natural high. Infelizmente, vai ficar para outra encarnação.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Onde estão vocês, hein?

Estou farta de gente que "escreve bem".

Por onde andam os bons contadores de histórias, hum? Daquelas em que realmente acontece alguma coisa, que andam para a frente e instigam a curiosidade, em vez de andar aos rodopios metafóricos masturbatórios da pessoa que escreve bem?

Gente narrativa - em oposição a gente descritiva, excessivamente descritiva - toca a usar a blogosfera para mostrar o que valem! Apareçam, contem-nos coisas!

Que saudades das blogonovelas, Ana Cê. Adoraria voltar a ter tempo para os nossos três leitores. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ação de Graças

Hoje escolho das graças pelo Facebook. Sim, pelo Facebook. Depois de longas guerras procrastinadoras travadas, capitulo aqui e reconheço-lhe o mérito.

Trabalho em casa, sozinha, em tarefas que exigem muito da minha fraca mioleira. Há dias em que fico das 10h às 18h  com cerca de dez palavras ditas. Sei que há muita gente que sonha em trabalhar em casa e com a liberdade que isso dá, e vejo isso tudo, mas, senhores, por vezes é imensamente solitário e desgastante.

E é aí que entram as pausas entre cada pomodoro para espiar as parvoíces e coisas mais sérias que se vão dizendo, e dar uma espreitadela na vida do povo, da família distante e do irmão em Lisboa, tudo ali juntinho num mesmo sítio. Eles sentem-se pertinho de mim e vão acompanhando o Gabriel e as minhas patetices. Eu acompanho o crescimento de priminhos que não conheço. Vejo as minhas amadas coisas macabras, recomendações de livros e filmes, receitas, tudo. 

Sim, sei que ali somos mercadoria e não o cliente, mas é o sítio onde vou beber café e onde me sinto mais acompanhada durante o dia de trabalho.  Desde que não extrapole essa função (importantíssima), somos amigos. 

Por isso, obrigada, Sr. Zuckerberg, pelo Facebook que anima as tão necessárias pausas no trabalho. 

Foi mais uma lição aprendida com a minha guru Geneen Roth, esta: tudo que consideramos "tapadores de buraco" na nossa vida tem uma função; em vez de nos chatearmos com os nossos vícios e obsessões, podemos utilizá-los para chegar ao tal buraco. Normalmente, o tal buraco é pequenino. Ao olhar para o tal buraco e medir a sua real dimensão, o tapador de buraco também diminui ou torna-se desnecessário.

domingo, 18 de novembro de 2012

Chovem coisas boas

E estou cheia de angústia da boa, também.

sábado, 17 de novembro de 2012

Doce Cantinho

- Hoje a gente vai numa casa de chá.
- Eu não gosto de chá.
- Tem problema não, tem suco. A gente vai é pra comer.

E assim lá saímos nós do Center Um e entrámos por um centro comercial pequenino ali trás, apanhando o bafo quente da rua entre a climatização dos dois shoppings - isso do bafo sou eu a dizer, que não me lembro, é claro. O ar quente de Fortaleza só virou "bafo" muito mais tarde, ao conhecer o frio. Lá fomos nós, mamãe muito empolgada.

- É lindo, Melissa. E tem todos os tipos de biscoitos.

Não fazia ideia ao que ia. Uma pequena portinha com cortina cor de rosa escrito "Doce Cantinho". Uma campainha. Uma mulher abre a porta, pergunta se mamãe marcou alguma coisa, mamãe diz que não, diz que é rápido, só quer que a filha conheça a casa de chá. E a mulher arranja-nos uma mesa.

- Bora, Melissa, bora.

Era uma salinha completa - COMPLETAMENTE - cor de rosa com rendas. Desde o papel de parede aos estofos das cadeiras "coloniais" à toalha das mesas redondas e mínimas "coloniais", vasinhos de violetas em cada uma. Cheiro bom de bolachas no ar, provavelmente coloniais. No Brasil da década de 80, "colonial" era o mesmo que chique, mas isto, tal e qual o bafo quente, sou eu a suprir. Naquela altura, eu não pensava no estilo colonial. Naquela altura, eu via a sala mais linda de sempre, um sonho de bonecas, como o mundo todo devia ser. Havia mais mulheres na sala, todas com roupas demasiado quentes para Fortaleza, com meninas que usavam meias. Lindo, lindo, como o desenho da Cinderela e o da Bela Adormecida ao mesmo tempo, e éramos só eu e ela ali e ela estava a dar-me aquele momento de presente.

- Não é lindo? É caro, mas é só hoje.

Vieram cestinhos de pão e bolachas, doce de morango (e não de goiaba ou banana). Bebi chocolate quente, que detestei - não tinha suco. Comi tudo e aquilo parecia comida do céu, nada a ver com biscoitos vitaminados São Luiz. Era tudo diferente e cor de rosa. O que importava é que era cor de rosa. Mal falámos, eu e ela. Estávamos ali a beber e a comer cor de rosa, mesmo sem meias, mesmo com o cabelo eternamente emaranhado e cadernos meio sujos com letra feia e a calcinha sempre aparecendo por cima do short, um dente escurecido por uma queda, mesmo meio tortinha como eu era e me sentia, ela levou a sua menina à casa de chá Doce Cantinho.

Meu Deus, como a amei nesse dia.

Lembrei-me deste episódio ao barrar uma fatia de pão com doce. Grata pelo pão, grata pelo doce, grata por ter tido mãe durante tanto tempo, mesmo que, por vezes, aos trancos e barrancos. Muito, muito grata por me lembrar destes momentos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Mental Note

Anotar as citações fixes que vejo por aí. Perco muito tempo a procurá-las depois.

Neste momento eu tinha uma perfeita para a Cê e o seu último post  e só me lembro de três palavras. Não me lembro do autor. Não me lembro de absolutamente nada. É caca. 

E o pior é que não me vou esquecer, vou andar a chafurdar facebooks e blogs e o diabo à procura dela. 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Crónicas do Encolhimento - a complexa simplicidade das coisas

 "Eu não tinha tendência para engordar.
Tinha tendência para comer.

Como a gente se engana com esse papo de tendência. Até deve ter, mas acho que é a minoria. De resto, quem engorda é quem come além da conta e não gasta. Sem mais firulas. É matemática. Sobram calorias e o corpo "esperto" armazena.

Rapidíssima sobre o dinheiro mais bem gasto do mundo

Em aquecimento no inverno.

Mil vezes mais satisfatório do que comida, livros e seja o que for,  especialmente quando se rapou frio nos últimos 50 invernos.
Mas agora comprei isto:
E não faço a menor intenção de o desligar. Só lá para março ou abril. Aliás, estou a pensar comprar outro para render o primeiro na hora de mudar a botija.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O momento mais aguardado

Jantar fora nas noites de sexta-feira, só os três, seja num restaurante ou na praça de alimentação de um centro comercial pouco movimentado, conforme as po$$ibilidades. Mas é sempre um momento importante e bom, a quebra da rotina do jantar à mesa da cozinha, o fazer planos para os dois dias seguintes, o desabafar do que correu mal na semana, o celebrar o que correu bem. Reclamar e dar graças. O Gabriel já sabe e já faz perguntas, se naquela sexta é carninha, se é piza. Sabe que pode ficar a brincar até mais tarde quando chega a casa. Sabe que vai ficar mais tempo na cama dos pais na manhã seguinte, antes da natação e das mil e uma coisas que a mãe arranja sempre para fazer. É sempre bom. O astral está sempre bom. Não há louça para lavar depois. 

O jantar de sexta à noite traz sempre a promessa de que só o que importa verdadeiramente será feito nos dois dias que se seguem. Só estaremos com quem interessa. O estar longe uns dos outros é coisa dos cinco dias anteriores, não é para ali chamado. É uma alegria de primeiro dia de férias que renovamos a cada seis dias. É um momento sagrado. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Aprendendo por aí

Desta vez,é a Cátia que volta a dar-me presentes.
Adorei este post cheio de ideias boas, Cátia. Obrigada.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Há tempos assim

Muita coisa para pouca Melissa.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Desabafinho tosco dentro das minhas possibilidades

Trabalho que me farto, foi para isso que estudei. Como já disse várias vezes, nesta casa somos uns passeadores natos e adoramos o gratuito, mas, além o gratuito, gosto muitíssimo de dar uso ao fruto do meu trabalho. Adoro mimar-me com autoprendas, adoro mimar o meu marido, adoro mimar o meu filho com coisas materiais também. Adoro comprar coisas para o meu irmão. Adoro, ADORO jantar fora e ir ao teatro e outras coisas, e faço-o muitas, muitas vezes enquanto posso. Adoro pagar uma empregada para me limpar a casa. Adoro ajudar amigos que precisem de mim.

Não consigo entender o que há de errado em tratar-se bem com o fruto do  trabalho, propagando assim o fruto do nosso trabalho por outras economias. É certo, é merecido. Todo mundo devia fazê-lo sem pudor. Todo mundo merecia fazê-lo sem pudor, mas não dá, porque, imaginando (e já é difícil!) que o pobre trabalhador até ganhe mais do que o suficiente para as contas, a história do "viver acima das possibilidades" se entranhou de tal modo em todo mundo que andamos sempre a justificar o que gastamos e o que deixamos de gastar, como se ALGUÉM TIVESSE ALGUMA COISA A VER COM ISSO.

Conheço muito pouca gente a viver acima das suas possibilidades, e mesmo assim sei lá se vivem - é que isso das possibilidades de cada um devia ser da esfera íntima, sabem? Cada família sabe do seu orçamento. E sei lá, sempre fui meio burrinha em certas coisas, mas será mesmo que foram as férias na neve a afundar este país? Custa-me TANTO a crer, senhores. Mais fácil seria se acreditasse nisso, porque aí a crise estava mesmo aqui ao lado, no irmão de classe média. Muito mais fácil culpá-lo a ele do que o impalpável e praticamente  incompreensível mundo dos juros estratosféricos de dívidas contraídas sabe lá Deus como, de agências de rating, do diabo.

Mas a menina que foi ao Rock in Rio e o cigano que recebe o RSI são inimigos tão mais simples e acessíveis. Mal temos de pensar. Claramente vivem acima das suas possibilidades. São eles os culpados deste buraco em que nos metemos. Porque viveram anos acima das suas possibilidades.

Rapidíssima sobre SE ENXERGUEM, PESSOAS!

Uma das piores coisas destes tempos é ouvir Deus e o Mundo a dizer como devemos viver as nossas vidas, ou como a devíamos ter vivido de modo a evitar este descalabro de situação que, claro, deriva do nosso próprio comportamento abusivo e esbanjador e consumista e americanizado e cheio de bifes e água a correr enquanto se lava os dentes. 

Menos, senhores teóricos da Vida Portuguesa. Menos. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ontem, ao jantar

"Senhoras e senhores, meninos e meninaaaaaas.... Com vocês.... o.... DEDO DA MÃE!!!"
E agarra-me o indicador, triunfal.

Adoro.

Não costumo falar de mimimices de crianças, porque tenho a mais pia crença de que só achamos piada às dos nossos. Acho que vou criar um blog separado para as mimimices do Gabriel, talvez fechado, definitivamente sem comentários. É que ele é TÃO criativo e tenho medo de me esquecer destes momentos. São 700 perspetivas interessantes das coisas todos os dias: um colar meu que vira um polvo no tapete azul da sala que é o mar, duas folhas secas são uma borboleta. É muito imagético e com-drama, como eu sempre fui, como a dona Melânia era.
Sim, os vossos também são, eu sei :)

domingo, 4 de novembro de 2012

Nova rubrica: é só comigo?

Acordar a meio da noite por um motivo ou por outro (normalmente os cães dos vizinhos de cima) e, qual computador sem antivírus, TODOS os problemas do mundo caem na minha cabeça, sem solução, sem tamanho, comedores-de-melissa. De manhã passa, mas caneco, que noites terríveis, as que não volto a adormecer depressa. É só comigo?

O Gabriel, depois de quase quatro anos de paz, entrou numa espécie de pequena adolescência e as birras seguem-se umas às outras. Por aqui, os terrible two viraram terrible nearly-four. É só comigo?


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dois catalizadores de decisões

Uma, a pior de todas, começou assim:

(Uma pena, porque até hoje acho a canção lindíssima)

E a segunda, uma tentativa já tardia de desfazer a primeira, começou assim:
Devo muito mais a Saramago do que o prazer que os livros me trouxeram. Devo-lhe a vida que tenho hoje. Um dia, quando conseguir, explico melhor.

Lembro-me dos catalizadores de todas as grandes decisões da minha vida: o Hugo, o casamento, o Gabriel... todos, mesmo. Todos eles minúsculos sinais a dizer-me que eu estava pronta.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O meu Pinterest

É o HoNY. Desde que os descobri há coisa de uma semana que ando para ali a ver gente e a suspirar por um motivo ou por outro.

Adoraria que houvesse um de Fortaleza e um de Lisboa.

O Queque existencialista

Antes: Estou ansiosa, é a entrega de um primeiro trabalho, aos meus olhos está tudo bem mas sei lá, pode correr mal, e no meio destas angústias o que é que o queque está ali a fazer a olhar para mim, ah, tá bem, é para "take the edge off" e manter-me calminha durante a manhã, tudo vai correr melhor por causa do queque, como o queque e não penso mais no assunto, o que raio é a merda dum queque, de qualquer maneira, 250 calorias? O que é isso no grande esquema das coisas quando posso ter um dia de trabalho muito calminho?

Depois: O queque só não é um problema no antes, olha só como te estás a sentir agora, derrotada pelo açúcar em vez de usares os teus próprios recursos para driblar a ansiedade, estarás a voltar aos velhos tempos, estarás a esquecer de ti própria outra vez? Não sabes perfeitamente quão merdosa um queque sem fome te faz sentir? O melhor será parares e pensares em tudo que aprendeste nos últimos tempos. Será que os novos recursos só servem em tempos de paz? Precisas de discernimento para os tempos de guerra, principalmente. Por favor, por favor, por favor, lembra-te do que uma merda dum queque sem fome pode fazer contigo.

To be or not to be

domingo, 28 de outubro de 2012

Várias domingueiras

 - Adoramos festivais de cinema, adoramos o clima, a sala gigantesca do São Jorge cheia de gente muito animada que aplaude falas, adoro ouvir os realizadores no final. É um clima espetacular para quem curte cinema além dos filmes. Ontem fomos ver Tropicália no Doclisboa. Eu adorei, é o filme das canções da minha infância. O Hugo gostou assim-assim, achou confuso. Tudo o resto foi muito bom.

- Ando a pedir muita luz ao meu anão da lareira. Tenho muitas coisas em movimento e preciso de ajuda para as priorizar. Preciso de ajuda para priorizar os meus sonhos, também. Tenho os sonhos pendurados, e isso não pode ser.

- Um conceito que sempre foi muito nebuloso para mim foi o de inveja enquanto força modificadora. Sempre achei ridículo o mulherio (especialmente) com os seus fáceis e defensivos "isso é inveja!". Mas tenho percebido que sim, a inveja existe, e não estamos a salvo nem de a sentir nem de ser alvo dela. Normal e humano como tudo que sentimos. Mas a inveja entre amigas é mais lixadinho. Cuidado com a inveja entre amigas, não a alimentem, porque inveja é um bicho que vem sempre ao de cima, o que leva à parte patética: a amiga invejada sabe. Amiga invejada: cuidado com o excesso de compreensão. Cliché, pois, mas já sofri com os dois e agora rimei.

- Quero muito ver a exposição do Hélio Oiticica no CCB (será que já acabou?), quero muito ver a exposição de cenografia brasileira no MUDE. Ia hoje, mas caramba, tá um solão lá fora. Raios partam. Mas vou ver o 007, ah, isso vou.

- Reparámos, esta semana, que andávamos a ver a Casa dos Segredos todos os dias para fazer tempo para a Bagarela (esperta, esperta TVI). Não pode ser. Uma coisa é deixar de ver séries porque me apetece ler, outra coisa é deixar de ver séries e ler para ver a Casa dos Segredos. Cabô. Ah, e eu disse "reparámos", mas quem reparou foi o Hugo. Aliás, quem nunca deixou de reparar. Nada contra para os outros, a sério, mas tudo contra para mim.

- É raro falar de livros aqui, mas ando a ler "A Culpa é das Estrelas" do John Green, recomendação e empréstimo (a louca) da minha Casaca, e ando a ter explosões de prazer. Que livro bom, bom, bom, bem escrito, boa literatura ágil. É difícil encontrar boa literatura ágil, normalmente ou é boa ou é ágil, e eu prefiro a ágil.

- Repito para mim: eu sou uma gaja com sonhos. Não posso esquecer-me disto. Ainda bem que tenho um marido como o meu, que me aponta alternativas quando está tudo meio escuro. Ainda bem que tenho um marido como o meu, ponto.

- Estar cheia de trabalho é algo que me dá prazer e faz subir a auto-estima - gosto de ter clientes a disputar o meu tempo. Dá-me também pouco tempo para pensar em pormenores. Daí este post cheio de pormenores no dia do Senhor. Um bom domingo para quem é de missa, de churrasco, de praia, de museu. Só tentem combater o sofá. Há tanta coisa a acontecer na cidade, caramba. Tanta coisa.

sábado, 27 de outubro de 2012

Slow tudo

Não vou escrever sobre os meus motivos, não agora - porque depois nunca mais acabava e hoje é sexta feira, mas tenho uma necessidade urgentíssima em abrandar tudo, fazer tudo com mais calma e aproveitar cada passo das coisas, dar-me o direito de desfrutar os instantes sem distração, sem ansiedade pelo momento seguinte. 
Habitar o presente, lá está. 
(Ainda muito o nome deste blog).

Não vou fazê-lo através do yoga nem da meditação nem nada disso: resolvi começar por algo mais terra-a-terra, mais perto de mim, menos transcendente. 
No domingo, vou fazer uma receita lentíssima, a receita mais lenta e mais cheia de passos que já vi na vida. Um Julie & Julia assim mais pé-de-chinelo e com menos lagosta. 

Desejem-me sorte. Nunca fiz nada que demorasse mais de 15 minutos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Post cheio de palavras nunca dantes usadas neste blog

Como quase tudo na minha vida, a Obesidade Mórbida também me separou de qualquer gosto em comprar roupa ou seja o que for. Estar bem arrumada foi perdendo a importância como tudo o resto, até se tornar pouco mais do que um isolante térmico no inverno e uma isolante de coxas coladas no verão. Camisolas cheias de nódoas e borbotos, calças a cair na pança, ténis de 2001, cabelo preso. Todos os dias, seja para que ocasião.

A minha nova obesidade (grau 1 a caminho do Excesso de Peso) trouxe a coragem de ir resgatando algumas das antigas fontes de prazer - e o facto de ter voltado a caber nas roupas da Zara e afins e não apenas da C&A ajudou bastante. Então no fim de semana passado fui comprar roupa, disposta só voltar às calças de ganga em caso de necessidade. Trouxe para casa algumas saias curtas, leggings, collants e camisolinhas básicas, um risco do caraças. E em casa pus-me a brincar: saia verde, camisola preta, collant azul. Collant azul, saia de ganga, camisola às riscas. E por aí além, sempre com o vaidoso Hugo todo contente a aprovar quase todos os looks. E eu estava lançada, cheia de peças intercomunicáveis. O inverno não ia ser um problema. Eu tinha coisas.

Não quer dizer que tenha jeito para as combinar.

Hoje debati-me, pela primeira vez em talvez sete anos, com o clássico "o que hei-de vestir hoje". Mais do que isso, troquei de roupa três vezes antes de sair de casa, optando por três peças de cores diferentes e uma quarta cor nas botas. Até aí, pouco grave. 

Foi quando me lembrei do casaco da Desigual no armário, à espera de ser estreado. O casaco mais espalhafatoso que podem imaginar, mas por que me apaixonei e que se lixasse, trouxe-o. 

Portanto, saí de casa com onze cores diferentes e nada intercomunicáveis. Olhei-me à porta do centro comercial e assustei-me. Minha nossa, como estava mal vestida. Como estou mal vestida. 

O que será pior: ver uma gorda colorida na rua, pirosa como ela só mas que visivelmente se empenhou na criação do boneco ou (não) ver uma gorda apagada cheia de nódoas a olhar para chão e a puxar as calças para cima?

The answer, my friend, is blowing in the wind. 
Mas não voltei a casa para mudar de roupa.

Hoje é o meu feriado pessoal - o dia em que mamãe morreu. Faço sempre qualquer coisa especial e tinha planeado entregar um trabalho muito importante para mim hoje, em intenção dela. Mas não deu, atrasei-me um bocado. E agora, às 10h25, me toquei: este post é a coisa especial deste 26 de outubro. A minha mãe era a mulher mais vaidosa do mundo e sofria horrores com o meu desprendimento (mesmo quando eu era magra). Se estiver lá em cima a olhar-me como penso que esteja, devem ter sido anos de desgosto, estes últimos. Um post sobre roupa vindo de mim só pode fazê-la feliz. Tou no bom caminho, dona Melânia.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Curtíssima para a Pekala e a Manue sobre meninos crescidos

Não vejo o meu filho a mudar - aos meus olhos, ele só fala cada vez mais e melhor. Mas continua a ser o meu bebé. Ainda faço dele uma bola, junto pé com cabeça e abarco aquilo tudo apertado. Ainda lhe dou colos sufocantes, ignorando os protestos de gato. Falo-lhe com mimimis mesmo quando ele odeia. Não acredito quando me dizem que ele está um crescido, acho que é conversa de circunstância. Olho-o e vejo um bebé - que fala melhor do que os outros, não usa fraldas e é razoavelmente independente, mas bebé não obstante.

Deve ser uma doencite qualquer minha :)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um post nada humilde sobre humildade

Já escrevi algumas dez vezes sobre isto, mas repito sempre que me lembro: adoro pessoas que admitem e falam com naturalidade dos seus pontos fracos e erros.

Conheço pouquíssimas, mesmo muito, muito poucas. A maioria das pessoas é defensiva até à morte no que diz respeito ao seu caminho e à sua vida. Tudo se explica a seu favor. Se erraram, o erro é dos outros, foram "induzidas em erro".

Eu não sei, a sério, não faço mesmo ideia do estado em que estaria a minha vida se não me tivesse arrependido de muita merda que fiz, se não olhasse de frente para os defeitos que mais me incomodam. Onde é que eu estaria se não tivesse percebido algumas vezes que estava no caminho errado. Se não me julgasse de vez em quando, a lembrar que tenho padrões, sim, e não valem só para os outros, valem para mim também.

Caramba, se ainda acho a minha vida uma bagunça, é que nem quero imaginar como estaria se tivesse chegado até aqui de olhos fechados em relação a mim mesma.

(Se calhar estava melhor).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Consulta popular sem propósito nenhum além da curiosidade

Lendo um post da bela Gralha em que ela diz que queria ler Jane Austen à lareira com espartilho, fiquei curiosa: se vocês pudessem passar um dia noutra era, para quando iriam? Não digo viver, porque acho que estamos bem é agora mesmo quando desejamos o contrário e tenho a certeza de que o meu nariz de princesa não suportaria nenhuma altura onde os banhos não fossem diários pelo menos no Verão.
 Mas um dia, um diazinho.
Eu não tenho dúvidas.
Adoro o fascínio por tudo que há de mais macabro da época da gorducha. E as cuecas também.

Num dia, nós, viajantes do tempo, podemos cometer sérios deslizes de etiqueta. Acho que, agindo normalmente, éramos capazes de ser condenados à morte à hora cinco ou seis. Pergunto-me também qual seria a minha gaffe.

Pois, vou trabalhar.

Hmmm se bem que o amor livre e drogas da década de 60 também me parecem divertidos. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Curtíssima sobre o método educativo do Eng. JBL, meu pai

O método educativo do meu pai consiste em achar os filhos os seres mais fabulosos, talentosos, inteligentes, bem humorados, bem preparados e CERTOS por Natureza e bem criar. Até quando nos critica, e critica bastante, podem ter a certeza, critica cheio de estupefação, pois como é que seres tão  fabulosos, talentosos, inteligentes, bem humorados, bem preparados e CERTOS podem fazer a cagada X ou Y.

Quero aqui dizer que o método funciona. Não consigo ver nenhum excesso ou limite para o amor. É tipo alho em pó. Resulta mesmo em quantidades dementes. Dentro de todos os nossos dramas, nem eu nem o meu irmão temos problemas em manter o pé no chão, fazer pela vida, acreditar em nós próprios e levantar-nos depois da merda. Como teríamos? 

É por aí que eu vou, gente.
Também acho o meu filho uma maravilha da Natureza e do bem criar, e que se lixem os moderados. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tratar-se com amor

Para mim é sobre gestão de peso (que é algo gigantesco, meio polvo), mas acho que se aplica a tudo. Adoro a Geneen Roth. Daniel Quinn mudou a minha maneira de olhar para o mundo, e a Geneen, de olhar para mim mesma.
A viagem à aceitação e ao carinho por si próprio pode ser longa, mas é urgente (justamente por ser longa).

E realmente o objetivo que pretendemos alcançar é o nosso companheiro na viagem, e não um prémio final. Às vezes, isto é claro para mim (no caso da gestão de peso: o importante não é chegar ao peso X, mas como me sinto mais bonita e melhor todos os dias, a vitória que é fazer uma aula de aeróbica completa, de não comer para me acalmar). 
Outras, nem por isso. Outras vezes, é tudo simplesmente tão confuso como sempre foi. 

TPC

Ver um filme.
Ler um livro, ouvir uma história.
Falar com os vizinhos, estar à janela, ir à mercearia puxar conversa.

Sim, estas são as coisas que me ocorrem porque são as minhas apetências. Os matemáticos, engenhocas e químicos (ui, o perigo!) lá terão as deles. O que quero dizer é que imagino mil e uma maneiras de aprender que não seja sentado numa mesa a fazer igual a todos os outros. Acho que o lugar disso é na sala de aula, e caramba, Deus sabe que já passam imenso tempo lá dentro. Saiu da sala de aula, é hora de perseguir a individualidade, o que os faz mexer, o que os intriga, sem obrigações nem interferências. Sei lá, o que os intriga até pode ser fazer trabalhos escolares. Mas há que haver o desligar, há que haver a fronteira entre o dever e a casa. E já há muito pouca casa para ser invadida pelo dever.

Sou contra qualquer quantidade de TPC como sou contra qualquer quantidade de trabalho que um adulto traga para casa. Para mim, as duas coisas querem dizer que as doses dos dois estão erradas e é isso que deve ser corrigido, em vez de contaminar os espaços.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O quarto post do dia

Serve para me lembrar de que ODEIO dias assim, em que nem trabalhei nem me diverti - pus-me apenas a angustiar-me entre as duas opções, ou seja, a procrastinar. A roubar tempo ao meu futuro.

São os dias em que me sinto pior. São poucos, cada vez menos, graças a Deus, mas o ideal seria mesmo que acabassem de vez - não quero trabalhar e tenho prazo para isso? Nada de angústias, é fechar o computador e ir-me embora.

(E CLARO, ÓBVIO, procrastinação é fome de qualquer coisa - nem que seja de uma tomada de decisão - mas o meu cérebro interpreta como fome de comida, mesmo, e comi sem fome. Duplo ODEIO para o dia de hoje. Agora é perdoar-me e seguir). 

O mais chato é que sei perfeitamente como começam estes dias, e começam assim: hoje vou trabalhar em casa. 

Happy Hour

No Verão, quando o Hugo vem do trabalho, encontramo-nos no infantário do iéu e vamos dar um mergulho ou ao parque. Criamos ali uma bolsa de uma horinha de prazer antes de entrar no vórtice de jantares, limpezas leves, Pandas e banhos.

Mas no inverno sempre foi um problema... às vezes íamos à biblioteca, mas caramba, eu já passo o dia todo lá e o que é que demais chateia. Ou ao centro comercial aqui ao pé para o puto andar montado nos cavalinhos e barcos das moedas. Mas nada era bom.

Até que há dois dias fomos a um café muito simpático aqui ao pé. Decoração acolhedora e amalucada, meio feminista meio retro, um armário com brinquedos e livros infantis e o melhor, muita gente que também curte a tal bolsa de prazer entre o trabalho e casa como nós, o que significa um ou dois meninos para o iéu brincar. 

Recomendo o Happy Hour frequente a todas as famílias. Ficamos logo com outro ânimo para enfrentar a rotina doméstica de fim do dia. Claro que não é a mesma pândega de beber umas jecas com os colegas de trabalho, mas quem não tem cão caça com putos. 

Sobre educação e sobre a vida


A trilogia Ismael e os livros que vieram a seguir é toda muito boa e provocativa, deliciosamente provocativa (palavra inglesada, mas que existe, já fui ver). Já cá disse várias vezes que Daniel Quinn abriu um caminho muito necessário na minha vida e, de certa forma, deu-me chaves para continuar a abrir outros. Fez e faz muito bem à minha família, e vou continuar a dizê-lo muitas vezes aqui: foi um presente para a minha mente e espírito que a best friend Sara me deu há seis ou sete anos.

"Meu Ismael" é o terceiro livro, e concentra-se principalmente na aprendizagem e sistema educativo. Li-o a suspirar, mas isto sou eu :)

A quem estiver interessado, estes livros estão disponíveis em PDF na Internet, é muito difícil encontrá-los à venda. São romances bastante acessíveis, não são tratados sociológicos nem nada que se pareça. 

No meio

É terrível quando não se acredita na escola (escola - sistema, nada que ver com público ou privado) e não se confia (nem se tem o que é necessário) no homeschooling.

Acho que o começo da vida académica do meu filho (que ainda está a alguns anos de distância) será o primeiro  verdadeiro sapo borbulhento e com picos que terei de engolir.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Serviço ao próximo - modo de emprego

Em tempos de fragilidade - dar o peixe.
Em tempos de força - ensinar a pescar.

A inversão é pura crueldade moralista travestida de sentido de dever.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Momento bom

Cagamos no jantar, metemos os fones e desatamos a ouvir tubis aos berros, como se a música brotasse de dentro do cérebro, todas as breguices norte-americanas instantâneas que adoramos mas que o marido-Radar reprova no autorádio.

Não há leite condensado no mundo que bata esta sensação.

domingo, 7 de outubro de 2012

Taylor Caldwell

Mamãe não era uma leitora - nem papai o é, não sei onde fui buscar o hábito, na verdade -, mas adorava Taylor Caldwell, que vocês provavelmente não conhecem. Acho que ninguém conhecia além da mamãe, a sua maior fã. Devorava livros com títulos como Médico de Homens e de Almas e comprazia-se em dar-me TODOS os pormenores do livro enquanto eu o lia, fim inclusive, se o entusiasmo para aí a levasse. Não era leitora, mas era uma boa contadora de histórias - fofocas também.

Poupada como era -pelo menos isso sei onde fui buscar - e não dispondo de uma rede de bibliotecas como há hoje em dia por cá, mamãe revirava sebos e feiras de livros velhos em busca de sagas familiares cheias de dinheiro e sangue. Era noveleira, a dona Melânia, e procurava o mesmo tipo de prazer nos livros - histórias ágeis, com descrições exatas e fragrantes, heroínas traídas por tudo e por todos. Para ela, ninguém as escrevia melhor do que o Taylor.

Sim, nós achávamos que era homem, os livros não traziam a foto da autora.

Este era o preferido. Li-o várias vezes e tenho trechos inteiros memorizados. Que idiota esta Ellen, Melissa!, dizia, enquanto ia virando as páginas com uma cara indignada de novela das oito. 

Crónicas do Encolhimento: wake up call (espero)

Apagaram o meu ticker por falta de atualizações!
Mais de 80 DIAS sem perder uma grama!!!!

Can not ser. Can not ser!

Volto para o ginásio amanhã.

sábado, 6 de outubro de 2012

Coríntios 13

Um dos mais famosos trechos do Novo Testamento, lindo e poético, reproduzido vezes sem conta em casamentos e batizados, canções bregas ou onde quer que precisem assim de uma coisa mais a puxar para o sentimento da Bíblia. E entende-se, a palavra "amor" segue escarrapachada pela carta afora e é fácil dar-lhe um tom romântico.

Mas há Bíblias em que o tal "amor" não é amor, é "caridade". Tudo igual, mas em vez de amor, é caridade.  Pffff, dizem os cantores bregas e noivos. Caridade não, caridade é so not romântico. A minha biblinha de bolso é das que tem caridade em vez de amor. Pfff.

Não sei em que língua as Cartas de São Paulo foram escritas, mas devia ser o mesmo termo para caridade e amor. E, aos 36 anos, caramba, queria que fosse a mesma palavra em português também. Amor é serviço ao próximo.
Amor é serviço ao próximo.
Amor é serviço ao próximo, claro que é.

Sem caridade, eu nada seria.

(Mas continuo a detestar o valor atual da palavra - o das velhotas, o dos pobres-e-ricos)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Da biblioteca

Trouxe uma xaropada sem fim da Luanne Rice para me ajudar com o léxico e forma num trabalho.

E trouxe um livro com um título do caraças e enredo completamente macabro, totalmente my cup of tea, sobre embalsamentos e coisas assim.

Adivinhem lá qual deles me agarrou pelos testículos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Para um amigo querido

Adoraria poder escrever coisas bonitas sobre o paraíso, vida após a morte, sobre o nos reencontrarmos um dia noutra dimensão. Disseram-me muitas coisas assim e, se me confortaram num primeiro momento, de nada ou quase nada me serviram pelos meses adentro. Para gente que pertence a terra, como nós, adianta de muito pouco saber que há outro plano em que nos vamos encontrar. Queremos este plano, esta existência. Queremos o telemóvel, a gargalhada, a crítica sem pudor. Trocamos o momento real pela eternidade sem piscar o olho. Queremos o tempo anterior. Queremos o que nos pertence.

Perder a mãe é das experiências mais rouba-chão que vamos ter na nossa vida, seja em que idade for.
Para tudo. Tudo para. Na verdade, tudo muda, mas é como se tudo parasse. 

O que posso dizer é que melhora. Melhora, sim. E as recaídas de dor, aquela dor surda que não tem jeito, vão sendo cada vez menos frequentes e as memórias da doença se vão esbatendo. O amargo da injustiça da perda também. Tudo vai seguindo em frente, inexoravelmente. E um dia, aquilo passa a ser um divisor de águas, uma baliza para tudo que era antes e tudo que veio depois, mas sem ser uma coisa negativa - é simplesmente diferente e poderoso à sua maneira.

E aí, se tiveres a sorte que eu tive, começas a acreditar em anjos da guarda.

sábado, 29 de setembro de 2012

O resto da casa está devidamente feng-shuizada

Mas a porta do meu frigorífico continua a ser assim uma Rotunda do Marquês energética.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

De uso diário

Gosto de me lembrar deste presente que a Cátia me deu há uns anos não só em períodos que pedem resignação e humildade mas quando estou em paz, também. Imagino que pareça um elogio à passividade a muita gente - mas não a mim.

1. A PESSOA QUE CHEGA É A PESSOA CERTA.
2. O QUE ACONTECE É A ÚNICA COISA QUE PODIA ACONTECER.
3. EM QUALQUER MOMENTO QUE COMECE É O MOMENTO CORRETO.
4. QUANDO TERMINA, TERMINA.  



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Em cinco minutos

Descobri que me tinham cortado a água, que não havia pão, que o tomate e a rúcula e o coentro estavam podres, parti um copo e enchi a cozinha de fumo.

Sentei-me a ler a Time Out e vi uma sandes de 18 eur. 18 eur por uma sandes. E pensei: que belo tema para um bash: a Festa do Clone da Sandes Mais Cara do Mundo. Vou ver datas com as pessoas do costume.

Deixei cair o pacote de leite aberto.

Há mais: o Hugo perdeu a aliança, íamos a Madrid e já não vamos e as passagens não são reembolsáveis, precipitei-me a pagar o Hotel em Madrid e só me devolvem o dinheiro em crédito groupon, o que não seria mau se a Gralha não me tivesse dito que os groupons vão falir e ainda aconteceram mais algumas merdices, mas caramba, por algum motivo recuso-me a me deixar abater pelo que não tem remédio. Contas feitas, a rentré está sendo estupenda na mesma. Por algum motivo.  


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como juntar valor ao momento

Se for pela esquerda, chego mais depressa.
Mas, se for pela direita, vejo o mar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Para quando, Disney,

Um herói que queira desafiar todas as regras, tal como fizeram as 125 princesas até agora, e lute por ficar em casa a cozinhar, limpar, brincar aos vestidos e aos bebés e ser aceite por todos como um honorável e bravo príncipe na mesma?

Sim, é o derradeiro desafio de guionismo, eu sei. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A quinta coisa boa

Que não é boa, é maravilhosa: A Letícia, irmã da Cecília, é 100% compatível. Habemus medula, e tento pensar que notícia se troca por uma dessas, mas não há, isto é o top dos tops!

Três coisas boas

 - O meu irmão voltou da sua viagem de cinco semanas pelos quatro cantos da Europa. Gastou menos de 100 eur da sua conta. O resto, foi ganhando e trocando pelo caminho. Music for couch, music for food. Fico feliz, pois ele é mais livre do que todo mundo que eu conheço.

- Achados da última ida a Cascais, em dia de feira de velharias: duas Magalis, duas Mônicas, oito bilhetes pré-comprados de carrossel.

- Tinha uma resolução antiga de cumprimentar todo mundo que se cruzasse comigo com um bom dia ou boa tarde, mas comecei a parecer maluquinha. Então, há umas semanas, fiz uma adaptação e passei a cumprimentar apenas as pessoas que normalmente são invisíveis: senhoras das limpezas, o homem que varre a rua, os condutores dos transportes. Agora tenho menos gente a achar-me maluquinha.

- quarta coisa boa: o meu Buchas Bucholadas faz hoje três anos e sete meses. Tenho saudades do bebé, mas estou apaixonada pelo moleque. 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Uma curtíssima verdade sobre mim e o meu irmão

Nós estragamos livros. Temos esmeril (???), como dizia a nossa mãe.

O padrinho de casamento Pedro disse-me, há uns valentes anos, que quando acabo de ler um livro, parece que ele foi lido por 15 pessoas. Conseguiu enfiar-me a peta de que um livro meu (os Pilares da Terra, julgo), foi-lhe confiscado pela alfândega no aeroporto por conter demasiada matéria orgânica.

O meu irmão é bastante pior. Tenho a certeza que amarrou a minha bíblia a uma quadriga e a arrastou por toda Roma antes de ma entregar de volta, indigna, humilhada, em farrapos. Levou-me dois livros para as suas extensas férias, dois livros que eu ainda não tinha lido, mas já os chorei.

Lembrei-me disto porque a Casaca ofereceu-me um livro emprestado.

A sério, não me emprestem livros. Não sou de confiança. E o meu irmão tira-os da minha estante sem me dizer nada.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Avós

Uma trá-lo penteadinho e com meias e sapatos, leva-o ao padeiro, ao peixe e à fruta em Moscavide e gaba-o pelas vizinhas. São doidos um pelo outro, e ele sabe exatamente o que fazer para a manter derretida: porta-se muito bem, come melhor ainda e é bebezão. Ela manda-o de volta aos pais com um pequeno enorme farnel das comidinhas preferidas do seu menino, nada de marcas brancas, tudo do bom e do melhor.

A outra despe-o e mete-o a chapinhar na água, ele suja-se, persegue as gatas, não tem hora para nada, come o que lhe apetece, faz o que bem entende, brinca muito e tudo muito alto, dorme de madrugada. São doidos um pelo outro, e ele sabe exatamente o que fazer para a manter derretida - ser selvagem, falador e engraçado.

E a minha mãe protege-o ferozmente lá de cima, assim como o resto de nós. É a única certeza que tenho na vida.

Tenho uma sorte descomunal.

domingo, 16 de setembro de 2012

Crónicas do Encolhimento - está alguém aí?

Estou estacionadona nos - 18 (ahamm, - 17, porque engordei um quilo) há muitos meses. Está na hora de retomar fôlego - ler o blog da Larissa ainda há pouco foi uma inspiração.

Cinco quilos até o fim do ano parece-me realista e exequível (oito seriam o paraíso, mas não gosto de pensar alto).

Vamos a isto, que eu mereço tudo e mais o céu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Adoro o blog desta miúda*

Porque é dos raros, raríssimos blogs que por aí andam sem egos e vaidades. É o diário de uma amiga e ela escreve com o coração, todas as vezes (que são poucas). E o último post dela tem mais coração do que os outros.
Adoro blogs como o da Pekala e o da Manue. Ganham Melissinhas de Ouro todos os anos pela sua sinceridade, realismo, simplicidade e tudo que falta nos outros blogs, este incluído.

*e adoro a miúda também.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cara Manue,

Ia comentar no teu blog, mas como este sítio anda tão paradinho e desanimado, resolvi responder por aqui - odeio passar muitos dias sem postar nada, e assim faço um apanhado dos últimos tempos.

Adoraria ter tido um verão magnífico como tu, mas não foi. Houve - e está a haver - tempo de qualidade com o meu buchas, que teve pela primeira vez a noção do que são férias (três semanas sem ir à creche). Todos os dias ele acorda e pergunta-me: mãe, não vou à escola, pois não? E eu: sossega, filho, ainda não é hoje. Ele podia voltar a dormir, mas, caramba, férias são uma cena boa de mais para se passar a dormir, pelo que os dias nesta casa começam aí às sete.

O verão foi angustiante para mim porque foi angustiante para algumas amigas. A minha doce Silvine!!! está em plena quimioterapia e cá estamos nós todos a torcer por ela, que é uma tipa do tamanho do mundo inteiro que me ensina coisas maravilhosas. No Brasil, a filha de uma amiga de infância teve uma recidiva de um linfoma que veio leucemizada, e estamos à procura de um dador compatível. Fora isso, uma criança que conheço há dois anos, bebé, colega de creche do Gabriel, foi retirada aos pais e está num abrigo, e isso também me angustia muito. Há dias que me pergunto se uma enorme cagada no nosso percurso de pais deve ditar todo o nosso futuro. Portanto, como vês... Bom, tem sido angustiante. E houve mais coisas tristes também. Mas cá estou, de cabeça erguida e a seguir em frente.

Nunca tive tanta preguiça na vida. Acho que é da amiga Mono, que ainda deve por aqui pairar. Somos uns gajos passeadores e desbravadores, eu e o Hugo. Mas, nestas "staycation", acordamos, vamos para o parque e lá ficamos a vegetar enquanto o Gabriel brinca. Eu, claro, morta de culpa por não estar a fazer mil e uma coisas interessantíssimas, quase tanta culpa quanto sonolência. É difícil ser-se um culpossauro quando se está molenga.

O melhor do verão é o meu pai, que está cá há duas semanas e fez-me ganhar um quilo. Sim, foi ele, não vale a pena analisar muito. O mais chato do verão é o meu irmão Nando estar longe há tanto tempo, em digressão com bandas italianas, pelo que sei. Morro de medo que ele, numa dessas idas, decida que não vale a pena voltar. É que não precisa de muito para se chegar a esta conclusão, estes dias. E eu iria ficar de coração partido. Espero que ele não leia este post para não se pôr com ideias. Por outro lado, gosto que não esteja por cá quando as coisas estão prestes a ferver - no dia da manifestação não vou ter o coração na mão por ele, que tem o coração na boca. Sim, vai haver outras e a coisa vai escalar porque tem de escalar, porque está na hora desta gente mostrar o seu valor. Penso isso para todo mundo, menos para o meu irmão. Queria que o meu irmão ficasse em casa em dia de manifestação, aliás, já planeei trancá-lo cá. Sim, não faz sentido. Depois de ser um culpossauro, sou um incoerentossauro. Mas ele é um dos amores da minha vida, e quando a gente gosta é claro que a gente cuida.

Tenho um novo desafio profissional à minha espera quando voltar a trabalhar, e isso também me angustia. Quero que corra bem, porque é algo que me faz mesmo muito feliz e me realiza quase tanto quanto escrever guiões (que é coisa difícil, neste momento). E já que falamos disso, aproveito aqui para desejar a todas as minhas amigas professoras um volte-face para esta história toda. E não só às professoras. Desejo-nos a todos a melhor das sortes para sobreviver a esta rentrée (é assim?). Sorte para sobreviver e coragem para lutar (menos ao meu irmão; para ele, peço menos coragem). Já chega de depressão económica. Quero posts felizes pela blogosfera, mas felizes com o pé no chão, e não felizes-alienados.

(Por falar nisso, estranho o silêncio de alguns blogs que tanto berraram o "VAMOS MAS É TRABALHAR!!!" a cada nova machadada que levávamos. Acho, e espero, que tenhamos todos chegado ao nosso limite de esforço e passemos a tocar pelo mesmo diapasão, agora).

E pronto, assim termino esta missiva de fim de temporada. Ainda tenho quatro dias de férias pela frente, que pretendo gozar ali no parque, a vegetar enquanto leio Zafón e respondo ao Hugo e ao Gabriel com monossílabos. A culpa é da Mono. Monossílabos. Haha. Eles sabem.

Com os melhores cumprimentos,

Melissa



sábado, 8 de setembro de 2012

Este Verão

Está a ser angustiante por vários motivos.
Já me apetece outono e mudanças, a sério.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Parte das férias

Deixar o carro à porta de casa e irmos em ziguezague pelo bairro fora, descobrindo novos relvados e cafés e pessoas, e ir brincando e nas calmas até chegar ao parque que quase ninguém vai (agora abriu lá um café jeitoso, pode ser que melhore), estar ali a procurar rãs e a brincar na areia, venha o diabo e escolha o que detesto mais, curtir o calor de fim de dia, ir ao Lidl comprar o jantar, voltar a casa por outros caminhos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Serviço Público

Custa pouco mais de um euro no Leclerc e tem um cheirinho divino, meio achocolatado/amendoado/abaunilhado mas nada enjoativo, e deixa a pele muuuuuito macia.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sou filha de Deus e chegou a minha vez

Para breve várias fotos dos meus pezinhos cruzados com livros levezinhos ao pé (do.pé.).

Livrinho bom para se ter em casa

Tudo, absolutamente tudo que precisamos de saber para cuidar bem de nós e da família. E simples como dois e dois.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A cavalaria

Conheci a Juliana tinha ela quatro anos, e eu, seis. A Juliana mordeu-me ferozmente por motivo nenhum. Fui fazer queixas ao pai dela e acabei levando nas orelhas dele também. E foi essa a minha primeira impressão da Ju: era brava e era muito amada.

O amor e a bravura fazem-na travar a guerra mais temida de todas - aquela para salvar a filha. E travou-a desde muito cedo. Estivemos grávidas ao mesmo tempo, com data prevista de parto próximas. Mas um revés trouxe a Cecília ao mundo demasiado cedo, e a guerra começou nesse dia. Mas o primeiro milagre aconteceu e, quatro anos depois, temo-la entre nós, brava e muito amada como a mãe. Mas havia mais guerra pela frente, e é por esta nova guerra que escrevo hoje. A Cecília precisa de transplante de medula e sei que muita gente ainda não é dador. E encontrar uma medula compatível é difícil - é mesmo preciso que as pessoas se cheguem à frente. No Brasil ou cá em Portugal, é um processo muito, muito simples. Como fazer análises. Se andam pela Internet ou veem TV, sabem disso, é chover no molhado. É só tomarem a iniciativa.

Eu acredito que quando uma mãe luta por um filho, todas as mães lutam com ela. E, além das mães, lutam os pais, e tios e primos de qualquer criança. Acredito que seja daquelas guerras a que ninguém vira as costas, é uma causa comum. E somos ferozes na luta, no desejo da vitória. Chamem-nos, que nós lutamos com uma doação de medula, o nosso coração e as armas que tivermos. Eu luto com a Juliana, hoje, pela Cecília.

Eu acredito no segundo milagre, Ju.
Eu tenho muita fé na bravura e no amor.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Crónicas do Encolhimento - tentando relaxar

Às vezes, penso que ando a comer feito um bizonte - e, realmente, comparando com o início do ano, estou realmente a comer mais - e tenho de reduzir as calorias para continuar a emagrecer. Neste momento, estou em ponto morto, estacionada e vigilante nos - 18, mas curtindo as férias na mesma.

Mas, às vezes, penso nesse "curtindo as férias na mesma" e tenho medo de estar a fazer o caminho de volta para o peso de janeiro, e ai meu Deus, será que estou a sabotar-me, será que vai voltar tudo ao mesmo, e ai meu Deus.

Deus parece ter respondido às minhas preces e, ontem, resolvi ver fotos antigas do FB, fotos do ano passado. Muita comida, muitos menus completos, muita descrição. Muito doce de leite, estrogonofes, chocolates, massas, etcs, mesmo muita comida. Uma prima disse-me, na altura: "você só pensa em comida". Pensei nessa frase ontem ao ver as fotos, antes de me lembrar que ma tinham dito antes.  Caramba, COMO EU MUDEI. Qual sabotagem, qual carapuça. Estou no caminho certíssimo, a limpar a minha vida.

E assim, respirei. Isto é um novo modo de viver para mim e para a minha família, em construção, e não um destino a chegar depressa. Haverá oscilações, haverá dias de saco cheio, haverá férias. Haverá barras de chocolate e haverá choros devido a barras de chocolate. Haverá drama, claro, que estamos a falar de mim.

E, assim, tenho um leve palpite que o meu objetivo está a ser atingido - e qual é o meu objetivo? Parar de pensar em comida e ponto. Parar de pensar em comida má/comida boa, em comportamento bom/comportamento mau. Não dar esse tipo de valor ao que é sempre, sempre bom quando comemos a ouvir o corpo e não a mente. Ainda não estou lá, mas estou mais lá do que em janeiro e isto sabe a um muito necessário crescimento espiritual.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Tempo de exclusividade*

O Gabriel anda a portar-se mal na escola e todos os dias fica lá a chorar. Não come sozinho, não se veste. Nem parece ele.

Vai daí que fiz uma revisão nas prioridades e decidi antecipar as férias. Acho que o meu filho, de nós três, é o que está mais precisado de descanso e de mimo e não vou fazê-lo esperar mais uma semana. Não vamos viajar na semana que vem porque o pai está a trabalhar, mas haverá muito parque, muita praia, muito comboio, muito aperto e muita beijoca. Em vez de duas, serão três semanas inteirinhas sem educadoras nem os mesmos amigos de sempre.

(Cheira-me que ainda volta para a creche pior, em setembro).

Ou seja, a menos que aconteça algo bombástico na próxima semana, como eu olhar para um calhau mais estranho, verão pouco de mim.

* título roubado descaradamente da Gralha.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A angústia do ano novo que começa no outono

Finalmente chegou.

Porque há três coisas de que preciso dentro dos meus dias úteis, das 9h às 18h, e seria tão bom se não precisasse de as renegociar:

- aumentar o volume de trabalho em 2/3 (inegociável e possível).
- três aulas de spin por semana (possível, porém altamente negociável)
- três horas a escrever o bendito Oscarizável e outros projetos por semana (não sei se possível, muito provavelmente negociável).

Não sou nada "you can do it!", sou muito mais de conhecer a minha natureza procrastinadora e acomodada. Era algo que eu pensava que o início do emagrecimento traria, mas não trouxe. Ainda nem fui de férias e já estou para aqui a pensar em como diabo vou fazer estas coisas todas e já tenho o diabinho a dizer-me que mais vale estar caladinha e não fazer planos.

ODEIO. 

Um dia, ainda fujo para o meio do mato.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A fábula preferida do papai - "esta é a minha natureza"


Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio.
O escorpião vinha fazer um pedido:

"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"

O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralizado e vou afundar."
Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos."
Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. 
No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.
Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?"
E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e esta é a minha natureza." 


Acho incrivelmente inspirador para quem escreve ficção.

A causa que eu não tenho (já falei nisso, mas já falei sobre tudo, portanto...)

Se ele sonha com monstros, não perco metade da noite a dizer-lhe que os monstros não existem (quando, claramente, para ele existem). Vem para a nossa cama a tremer de susto e relaxa todos os músculos em 20 segundos.

Acho natural e acho bom. Não tenho a menor pressa de lhe ensinar que monstros blablablablabla quando eu própria padecia de terrores horrorosos quando dormia sozinha - e ainda padeço.

Claro que se a coisa perdurar muito ou se agravar, logo vejo. Encontrei isto, li na diagonal, achei giro para crianças mais velhas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pequenas retificações

Há um período na minha vida que considero um pouco como "anos perdidos": andava à procura de mim mesma no Brasil e tudo que consegui foi afastar-me ainda mais de mim, e o resultado, no grande esquema das coisas, não foi bom. O mais provável é nunca vir a elaborar sobre isso aqui, porque 1) é uma época meio nebulosa, para mim, e 2) morreria se algum amigo dessa altura viesse aqui e interpretasse mal o que digo, porque isto não tem que ver com pessoas, tem que ver comigo num período muito difícil da minha adolescência e das minhas relações familiares e 3) acho que magoei pessoas que amo muito e que cá ficaram. Mas adiante, falávamos em anos perdidos.

No grande esquema das coisas, o lucro não foi grande. Diante da encruzilhada, entrei pela direita e mais valia ter ido pela esquerda. Mas aí tropeço numa canção que pode soar a breguice lamechas a qualquer ouvido, mas, para mim, traz todo o perfume dos anos perdidos, e o perfume não é mau. É perfume de sol quente, de dançar e cantar no meio da rua sem pudor, de ônibus lotados, de risos, de cerveja muito gelada e caranguejo, de praia durante todo o ano, de mãe, de tudo que já não existe e que passou.

Os anos perdidos podem não ter sido uma perda completa. Acho que ainda hei de os entender, um dia. Mas hoje não, hoje é só perfume.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Concorrência

Há que ter um bom par deles para abrir uma gelataria a 20 ou 30 metros do Santini, mas foi o que fez o senhor estrangeiro incrivelmente simpático da Concorrência (é como a chamamos, aliás, era como eu a teria chamado, se fosse minha). Desde que lá fomos pela primeira vez que ficámos fãs. Em vez de estarmos numa fila impessoal e altamente eficiente uns passos acima, ficamos para ali a decidir entre os sabores estranhos (Scrock? O que é scrock? Qual é a diferença entre o de chocolate e avelã e o de nutella?) enquanto falamos com o senhor estrangeiro incrivelmente simpático que faz aqueles gelados todos os dias, com muito pouca ajuda. O meu irmão chega a experimentar TODOS os sabores e a única cara feia que leva é com a minha.

O Gabriel só paga um euro (há preços especiais para crianças e velhotes) e come sempre o de cuxulate.

Claro que aquilo nem faz cócegas aos sovacos do Santini, mas noto cada vez mais gente de cada vez que lá vou, que é o tipo de coisa que nos deixa contentes, para quem já nos conhece. E acho que o simpático do gringo está a realizar um sonho. Tal como a senhora do Starbucks, o homem está para ali de alma lavada, feliz da vida. Creio que trocou um emprego chatíssimo por aquele.

Há que ter um bom par deles.

domingo, 19 de agosto de 2012

Quando a magia acontece

Leitura é telepatia, disse Stephen King no maravilhoso e divino On Writing. O escritor manda uma cadeira de lá, nós recebemos a cadeira cá: ele dá uma parte do caminho, nós damos a outra. E temos cadeira. A magia acontece.

Há uns dias, uma amiga disse-me no Facebook qualquer coisa sobre A Sombra do Vento e eu disse-lhe que ainda ia na página 67 (e tinha começado a ler três ou quatro dias antes, sou uma leitora lenta). Ela respondeu-me: então ele ainda não te hipnotizou. Pensei: hum, há muito tempo que as interferências do dia a dia não deixam que livro nenhum me hipnotize. Posso gostar muito, posso até lê-lo avidamente num dia que tenha livre, mas hipnotizar, não. A última vez que um livro me tinha hipnotizado tinha sido na adolescência.

Ontem, por volta das 22h, o Sr. Zafón entrou em telepatia comigo. Ia na página 150, 180 de um excelente livro e estava rendida a tudo: estilo, tema, personagens, cidade. Que livro do caneco. E continuei a ler. A magia acontecia.

Por volta da 01h, creio eu, completou-se a hipnose. Eu já não era eu, eu era um canal aberto para aquela história meio gótica, cheia de ecos e matrioskas e personagens incrivelmente gentis. Já não julgava, já não formulava. Simplesmente deixava-a entrar.

Às 02h24 (olhei para o relógio) tinha um leve soninho e fui à casa de banho. Voltei e pensei que o feitiço se tinha quebrado, até o autor me arrebatar com uma frase enlouquecedora e me puxar para um estado de total alerta mais uma vez. E segui em frente. Sentia umas coisas na barriga que devia ser fome, mas até isso (fome!!! Fome a sério!!!) não tinha importância nenhuma. Importante era o canal aberto. Importante era saber mais.

Não terminei o livro, deixei cerca de 40 páginas para hoje. Acabei por o fechar numa luta de mim contra o transe, em que ganhou o bom senso. Às oito, como todos os dias, estava de pé. Não sei quanto dormi. Mas não sou tipa de insónias, preciso do meu descanso e hoje estou como se tivesse sido passada por um rolo compressor depois de beber um litro de vodca.

Mas ninguém me tira o que vivi de madrugada, eu e eu somente, e que sei lá quando vou voltar a viver. O contrário de habitar o presente, ou a sua própria definição. Um prazer absoluto na ausência ou na presença.

Passei o dia podre, mas muito, muito feliz.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um marketing que nos cairia bem

Depois de pormos o Gabriel no bengaleiro de crianças do shopping, fomos beber um cafezóide fashion de 90 cêntimos ao Starbucks. Fomos atendidos por uma senhora já bem passada dos cinquenta, com um sotaque fortíssimo de uma região que não identificámos, e lá repetia o texto starbucks que todos os empregados repetem, mas com uma diferença: um sorriso verdadeiramente genuíno (passe o pleonasmo) e uma alegria em mostrar bolos e servir amostras de bebidas coloridas.

"A senhora está mesmo feliz de estar cá", disse eu ao Hugo, depois de uns minutos a vê-la despachar trabalho. "Deve ser o primeiro emprego dela em muito tempo. Ela já devia ter perdido a esperança".

E depois pensámos que era um marketing que funcionava lindamente conosco, este de se, em vez de contratarem putos para darem uma cara jovial à empresa, contratassem senhoras despedidas do setor fabril ou do diabo. O nível de consciência social hoje em dia é outro, todo mundo sabe o que se passa e todo mundo gosta de ver soluções. Sim, eu sei que os jovens precisam de trabalho, mas se para um jovem trabalhar num Starbucks é uma solução de recurso ou um "começar por baixo", para um tipo quase na idade da reforma pode ser um milagre. Um renascimento.

Não sei se era esta a narrativa da senhora contente do Starbucks, mas qualquer outra que me ocorria era igualmente boa e válida. E qualquer uma delas far-me-ia gostar de ver mais senhoras (e senhores) a perguntar-me se quero uma bebida gelada à base de café e uma das nossas queijadas para acompanhar. E far-me-ia voltar, mesmo pagando as cuecas por um café bem ruinzinho.