quarta-feira, 31 de março de 2010

34 anos

E continuo a achar que tenho muita gente cá dentro para pouco tamanho. Por mim, simplificava tudo, deixava tudo mais polido, menos dramático, mais claro, com menos cinzentos, com menos leituras e menos nuances. E o que sobraria de mim?

A maior parte do tempo, queria ser uma pessoa diferente. Olhando de fora, juntando tudo que eu queria mudar, acho que não ia gostar muito dessa pessoa final. Ela é muito ponderada, organizada, concentrada, focalizada na carreira e nos filhos, come bem, dorme bem, cuida das unhas e dos cabelos, usa o sutiã certo, lava a cara com três produtos todas as manhãs, não tem cotão pela casa.

Tem as medidas certas.
A minha Melissa ideal não parece ter saído da minha cabeça, parece ter saltado da Marie Claire. E eu não gosto de mulheres que saltaram da Marie Claire. Gosto é das minhas amigas e tias e primas e gostava da minha mãe.

Há 700 defeitos meus que quero mudar, mas quando os olho de frente vejo que amo cada um deles.

sábado, 27 de março de 2010

Prémio Bitch of the Year

Vai para a autora deste comentário encontrado na babyblogosfera:

Pois eu acho q fizeste muito mal desistires de amamentar !
Não é facil eu sei mto bem com direito a mastites e logicamente acaba por passar(...) e o meu filho nunca conheceu um biberão.. o q faz cicatrizar as feridas é a saliva do bebé e o próprio leite deixar secar nos mamilos. ( o sangue n lhes faz mal nenhum )
Desculpa lá mas o leite artificial nunca substituirá o leite materno , isso são tretas para aliviar a culpa..
e as que vêm para aqui dizer nos blogs q o afecto é o mesmo no biberon e na mama , etc etc
como diz a minha comadre devem preferir o vibrador lolol

Desculpa, mas acho que os bebés merecem o leite materno , como deixar de fumar e outros vicios..irrita-me ao limite as desculpas q inventam para não se assumirem umas fracas..



Tenho mesmo muita, mas mesmo imensa pena dos filhos dessa senhora. Desejo-lhes sorte na vida.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Amor nas trombas

Acho que o amor é isto. É assim que sabemos ser amados.
Não sei se é a costela gay que há em mim, mas adoro ver programas de culinária. Vejo-os a todos. Sou um péssimo cozinheiro, quase nunca preparo uma refeição, mas quando um chef está a dar na televisão eu fico ali a vê-lo a mexer nos talheres e no fogão. É uma tara.
Um dos que mais admiro é o Jamie Oliver. Gosto de estilo. Portanto quase nunca perco um programa dele. A Melissa acompanha-me e ficamos os dois a comentar as receitas e a atitude dele perante o crescente problema da obesidade no mundo ocidental.
Um dia desses comentei que gostava de poder comer no Restaurante dele, o fifteen. Um daqueles comentários que valem o que valem, nada!
Hoje recebi um mail da Melissa com reservas para uma viagem a Londres e um almoço no restaurante do Jamie.
Obrigado Melissa por transformares os meus pequenos nadas em injecções de vida!


PS: Só não sabemos o que fazer com o Gabriel nesse fim de semana!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Vieste - Ivan Lins

Vieste na hora exata
Com ares de festa e luas de prata
Vieste com encantos, vieste
Com beijos silvestres colhidos para mim
Vieste com a natureza
Com as mãos camponesas plantadas em mim

Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens, para dentro de mim
Meu amor

Vieste a hora e a tempo
Soltando meus barcos e velas ao vento
Vieste me dando alento
Me olhando por dentro, velando por mim

Vieste de olhos fechados num dia marcado
Sagrado para mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens, para dentro de mim

Não é Pandora mas é lá quase

Quero lá saber se é piroso ou não, mamãe usava, vovó usava, as minhas tias usam e estou muito contente por ter um também.
Prenda do papai.

terça-feira, 16 de março de 2010

Life boosters

Nesta nova rubrica, vamos falar de coisas que nos facilitam a vida, e bem precisamos, porque somos as coisinhas mais caóticas de sempre (genes Lyra, não Carvalho, mas o meu é dominante, infelizmente.)

Life booster #1:

Para quem, como eu, odeia descascar legumes e deitar cascas fora e cortar o dedo e errar na quantidade de batata e aquilo fica massudo e depois são quantidades industriais que temos de comer em cinco dias porque se não azeda e não gostam de guardar a sopa no congelador porque caga os tuppewares todos antes de virar gelo e ainda por cima quando vamos descongelar aquilo está cheio de grumos...

E - importante - não tem o processador-de-comida-com-função-calor-que-custa-o-primogénito-mas-não-descasca-legumes...

Inventaram a bela da sopinha de litro do Pingo Doce.

Por 1,45 comemos sopa caseira todos os dias, de sabores diferentes, e ainda dá para o Hugo levar na marmita.
Por isso, eis o meu life booster#1.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Invencíveis

Quando, à noite, depois do Gabriel banhado e apijamado, estamos os três na cama, pai e mãe com os pés colados, fazendo um círculo de protecção para o bebé que bola e rebola às gargalhadas e baba-nos, dando beijinhos e dentadas e puxando cabelos, penso nos meus bisavós que foram para a capital de jumento levando uma data de filhos, numa viagem que deve ter durado dias, e penso no meu pai, tão aventureiro, tão sempre pronto a deitar tudo para o alto e recomeçar, e penso na avó do Hugo que se levantava de madrugada na Madragoa para ir buscar peixe a Setúbal e voltar para a Madragoa vendê-lo (na década de 30), na Lurdes, que acartava com baldes de água dois dias depois de ter bebé, na minha avó paterna, que saltava pela janela para ir ao cinema fugida de um marido tirano, e em tanta gente que veio antes de nós e que nos trouxe até àquele lugar tão seguro que é a nossa cama, com o nosso filho, e penso que nada nos vencerá, nunca nem em tempo algum.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Steinway & Sons

Bem se sabe que agora, depois do surgimento do Gabriel, dinheiro é coisa que não abunda. Por outro lado, para além do dinheiro, o tempo é outro bem que nos vai escasseando. Entre um e outro, a falta de tempo é talvez aquele que mais nos dói na alma. Estamos menos com amigos, vamos menos a espectáculos culturais e nem sequer conseguimos ter jantares românticos a dois. Quer dizer, não tínhamos, porque agora, precisamente um ano depois, a criatura minúscula que se arrasta pelo nosso chão e acorda a que horas quer, vai dando sinais evidentes que, afinal, o investimento pode começar a ter algum retorno.
Recentemente o meu pai ofereceu-lhe um pequeno piano infantil para que ele se entretenha enquanto nós, pais, fazemos as lides domésticas com afinco. A ideia era cuidarmos da casa sem sermos interrompidos pelas súbitas carências afectivas do bicho. Paralelamente, a oferta do piano serviria também para lhe desenvolver o gosto pela música. Nada se mostrou mais acertado do que esta singela e aparentemente inofensiva oferta. Colocámos o piano no parque e agora, mal atiramos a fera para lá, esta gatinha decidida para o instrumento e começa a tocar com os seus minúsculos dedos nas teclas. Portanto, todos aquelas tarefas caseiras aborrecidas como varrer o chão, limpar o pó ou dobrar a roupa têm agora um som de piano por trás que muito nos alegra e aquece o coração.
Imbuídos pela novidade de ter um pianista de graça em casa arriscámos um jantar romântico que tanta falta nos fazia. Fizemos a comida, desligámos a televisão, acendemos as velas e colocámos o Gabriel no parque junto ao piano. Meus amigos, foi sublime. Conseguimos estar relaxados numa amena cavaqueira a falar da vida e do amor ao mesmo tempo que uma balada preenchia a nossa sala dando vida a uma família que por vezes anda mesmo muito cansada. Depois do jantar e aproveitando a inspiração do pianista, ainda me senti tentado a outros voos mais picantes, mas ela, maricas, não acompanhou o desejo.
- Com ele acordado nem pensar!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Porque às vezes esqueço-me de que isto (também) é um babyblog

Fica aqui a primeira palavra:
TEUSHHH
(Adeus.)
Nem mamã, nem papá, nem água.
Adeus.
É mesmo lusitano.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pandora Virtual

Tenho um problema terrível em querer coisas. Odeio querer, sinto-me mal. Sou uma desapegada por natureza, não ligo a objectos e desfaço-me deles mal deixem de ser necessários, sem me preocupar com o valor.

Mas queria tanto uma Pandora que dou por mim a ter grandes crises de despeito e inveja de quem tem, coisa própria de quem se sente mal com... ter coisas.

É que ainda por cima acho pindérico. Andar com a nossa vida em berloques a tamborilar no braço? Parece-me parvo.

Mas queria TANTO.

Para aplacar o meu despeito e confusão, vou começar a fazer a minha Pandora virtual.
O meu primeiro pingente é o Gabriel.

terça-feira, 9 de março de 2010

Queria comprometer-me

a não deixar a parte de mim que não gosto (ansiosa, preguiçosa, pouco focalizada, cheia de traumas) seja maior do que aquilo que eu queria ser.
Mas, por algum motivo, vejo-me sempre demasiado fraca para compromissos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Daquelas coisas engraçadas

De uns meses para cá, tenho vindo a achar piada a algo que nunca, nem nos meus sonhos (ou pesadelos) mais alucinados acharia há uns anos: famílias grandes, aí de três filhos, gente barulhenta a almoçar em restaurantes baratos, a distribuir carolos e gargalhadas, a contar o dinheirinho muito bem contado, com o sentido de individualidade reduzido a pó e uma alegria desmedida por se ser clã.

É daquelas coisas engraçadas.

(Mas mesmo na ocorrência do milagre de ter condições financeiras/conseguir convencer o Hugo, nunca, atenção, NUNCA faria parte da detestável Associação de Famílias Numerosas, que considero isso mesmo que disse, detestável.)

terça-feira, 2 de março de 2010

Do nosso casamento

- O Hugo foi de ténis e estava lindo.
- Proibi gravatas.
- A sala era demasiado pequena para 70 convidados.
- Não houve baile e arrependo-me disso.
- 80% dos recados no meu livro de honra são de bêbedos a dizer coisas como "tou a adorar melhor casamento EVER".
- O Hugo pôs o Lyra do meu pai, eu pus o Carvalho do pai dele e fiquei Melissa Carvalho Lyra Carvalho, sem comentários.
- Flipei na hora do buffet e tranquei-me na casa de banho.
- O fotógrafo esqueceu-se de fotografar a sala, que estava linda, e eu passei-me.
- As mesas tinham nomes das mulheres da nossa família, e a principal chama-se Melânia.
- As minhas primas fizeram-me o vestido de noiva e o arranjo do cabelo. Atrás do arranjo, bordaram: TE AMAMOS.
- A avó do Hugo fez 95 anos no mesmo dia, houve bolo e parabéns para ela.
- Depois da festa fomos para o bar da Lili, eu vestida de noiva.
- Apesar de termos dito que não era preciso, toda a gente nos deu dinheiro, o que soube MESMO MUITO BEM.
- Houve prendinhas para toda a gente: origamis para as mulheres, mikados para os homens, sacos com brinquedos para as crianças, parkers gravadas para a família chegada, caixas personalizadas com chocolates, velas e revistas da Turma da Mônica para os padrinhos.
- Entrei ao som de Marisa Monte, de mãos dadas com o meu pai e o meu irmão.
- Tive uns convites estupendos que fizeram muito sucesso.
- Chorei em dois momentos: quando vi os meus amigos do peito que tinham vindo de Londres e quando o meu pai disse que não me tinha visto chorar.
- 20 dias depois, no dia 26 de Outubro, atirei o meu ramo ao mar, em homenagem à minha mãe.



Agora vendo, acho que a coisa que mais destoava no meu casamento era eu mesma, vestida de noiva.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Actualizações das últimas queixas

Sólidos: seguindo a sugestão da Tatas e da Júlia, agora deixamo-lo javardar. E ele javarda. Vai comendo e javardando. Ontem fomos ao japonês e ele enfiou a cara num sushi vegetariano. Adorou. Hoje foram ervilhas, que ele espremia e metia na boca (há vídeos.)
É porco, porém divertido.
Depois de javardar, come a sopa e a fruta.
Sem pressas.

Sono: continua a mesma trampa. Agora acorda aos berros às 4h da manhã e não há co-sleeping que lhe valha. Tanto berra em nossa cama como na dele.
É que são mesmo berros! Não é fome, não é sede - mas com leite, pára. É a pavorosa da relação entre comida e paz que eu não queria que ele estabelecesse, mas, às quatro da manhã, estamos num vale-tudo educacional.
Quem cá vem sabe que ele nunca fez noites completas. Tudo bem, porque acordava, comia e voltava a adormecer. Mas agora é diferente, é como se fosse um pesadelo. Dura uma hora completa.
Andamos de rastos, sem forças.
Li numa newsletter que, pouco tempo antes de começarem a andar, é natural que passem por essas alterações nos padrões de sono. No nosso caso, passamos do inferno para o inferno adentro.

Como sempre, sugestões são aceites.