quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

E começa

Na quarta que vem, vai um deles para o Brasil.
No começo de março, vai outro para sabe lá Deus.

E lá vou eu acostumar-me a ter só dois homens em vez em de quatro outra vez.

Não que os tenha tido alguma vez, só a ilusão da pertença. O meu pai e o meu irmão não são de ninguém, não têm chão, são do vento. 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Os adolescentes

Duas da manhã, o prédio dorme. A praceta dorme, o bairro todo dorme. Talvez só a luz do Pingo Doce esteja acesa no outro quarteirão. Se fosse verão, ouvíamos grilos neste post e ficaria muito giro.

Eu, na cama, acabo de ler um livro de amor adolescente, suspiro alto como quando vi o teledisco de Always pela primeira vez. Não durmo, quero saber o que acontece aos protagonistas, foda-se, eles merecem ser felizes para sempre. 

Ele na sala, headsets postos, mata extraterrestres e sei lá mais que tipo de criaturas. Tem picos de adrenalina a cada vez que o tentam assassinar.  

Ninguém nos manda apagar a luz. Ninguém nos diz que amanhã temos teste. Ninguém nos vai acordar no dia seguinte aos berros por estarmos atrasados. 

E eu não sei se isto é bom ou deprimente. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Curtíssima sobre a mais nojenta das tendências publicitárias atuais

Empurrar supermercados como mercearias de bairro.

Vocês não caem nessa, pois não? Tudo bem, vão ao supermercado, é mais cómodo, etc (mais barato? Há muitos fatores a considerar, depois falo sobre isso), mas não acreditam realmente que o Pingo Doce seja o sítio do costume, o Minipreço seja o vizinho e a dona Alice abra o mastodonte do Intermarché às duas da matina, pois não?

Ufa.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O dia seguinte

Abrir os olhos e ter esperança de que tudo não tenha passado de um sonho mau. Que o universo vai restabecer a ordem assim que perceber que fez merda e vai carregar no Rewind, só.naquela.vez. Como quando vemos várias vezes aquele filme com o final dilacerante, torcendo para que acabe de outra forma?

 O grande amor da adolescência não acabou o namoro por carta. O pequeno amor da vida adulta não resolveu que tinha dúvidas. A mãe não está doente. A mãe não está mais doente ainda. A mãe não morreu.

Mas não há rewind nenhum, e descontruímo-nos e reconstruímo-nos sempre, com peças novas e velhas, às vezes mais peças velhas do que desejaríamos, uma data de cicatrizes mal fechadas, um saco de traumas e memórias. Até que um dia acordamos e vemos que voltámos a ser felizes, porque não sabemos caminhar noutra direção. Acho que boa parte do instinto de sobrevivência é caminhar para um default de tranquilidade e felicidade, aos trambolhões.

Há que confiar nisso da próxima vez que acordarmos para um pesadelo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

E de vez em quando

Um momento, um vislumbre de um momento ou menos até, uma centelha dum vislumbre de momento :), faz-me ver que a vida podia ser tão maior do que é, ou é tão maior do que parece. Bastava dar um ou dois passos.

Que não dou.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A resolução que quase foi à vida

A minha única resolução para janeiro era não pôr os pés num supermercado. É impressionante a energia que um Pingo Doce ou um Continente consegue sugar-me, não sei bem porquê e já desisti de tentar descobrir. Dá-me sempre uma sensação de enfartamento, de coisa-demais, de clutter, de excesso de coisas - uma sensação que odeio. Também vale para compras online, sinto a mesma coisa.

Mas caneco, que ontem não tinha nem cápsulas de café, nem grão. Precisava de ambos. Lá entrei eu no Continente, chateada comigo mesma e a prometer que era a última vez que entrava num supermercado em janeiro.

Antes, bem antes de chegar às cápsulas e ao grão, havia um enorme corredor de promoções. Quando acordei, tinha no cesto champô para um ano, bolachas que não me convêm nada, cremes para o corpo. Ovos, pasta de dentes para dentes XPTO, mais uma data, repito, uma DATA DE MERDAS inúteis e impensadas. Olhei para aquilo e senti a energia a desaparecer para sabe Deus onde, raio de lugar que nos entorpece. Suspirei. Suspirei. Lá deixei o cesto onde estava e vim-me embora, sem grão, sem cápsula, sem cinco litros de champô, a pedir umas desculpas mentais ao senhor que teria de arrumar aquilo.

E vi que seria a primeira resolução de ano novo da minha vida facílima de se cumprir.

Para quem está a perguntar-se: quero fazer as compras na frutaria, no talho e na peixaria.  Para o pouco resto, vai o Hugo com uma lista, marido fofo e objetivo, não sente coisas.

Hoje descobri que abriu uma mercearia ao lado da biblioteca que há muito não ia. Dois ou três tipos de iogurte, nada avalassador. Alguma fruta, algumas bolachas mais simples. Havia cápsulas ao mesmo preço que costumo comprar. Saí de lá feliz. 

sábado, 3 de janeiro de 2015

As férias como meio de diagnóstico

Nas Maldivas? Tóquio? Vaiórquem?

Não, aqui mesmo. Uma semaninha bem esmifrada: três dias em Évora, o resto a passear por cá ou a dormitar enquanto os gajos jogavam playstation. Nenhum livro a relatar, dois filmes e dois episódios de série.

Foram as melhores férias de sempre porque, pela primeira vez, precisava delas. Estava exausta a tantos níveis - não fazia ideia do quão urgente era recalibrar, porque eu estava completamente fora dos eixos. As férias serviram para me lembrar de que a única coisa sobre a qual tenho algum controlo na minha vida sou eu mesma, as minhas leituras das situações. E elas têm sido mais do que más, têm sido vergonhosamente pessimistas. A onda de baixo astral pode ter sido fruto apenas do cansaço, mas acho que não. Acho que foi uma combinação cansaço + leitura errada das coisas (a a tal abordagem "sono do bebé" da qual falei há uns tempos). Não posso deixar-me cair na armadilha das leituras erradas outra vez, sugam o tutano a uma pessoa. E a minha pessoa é, por defeito, mais pateta alegre do que sombria (sei que não é o que parece por este blog, mas acreditem).

O que interessa é que estas foram as férias de uma vida. Também aproveitei para estar imenso tempo com a minha gente, família ad nauseam e amigos, a lembrar-me de que os últimos meses foram solitários. Preciso de gente à minha volta, preciso da partilha, da confirmação, da gargalhada. Amar e sentir-me amada num círculo mais alargado. A neura dos últimos meses manteve-me mais afastada do resto do mundo do que o que preciso.

Enfim, a lição das férias: há uma boa parte da carga dos dias que depende de mim. E não posso dar-me ao luxo de voltar a perder a mão nela.

Dancei a noite toda da passagem de ano. Quando a dança acabou, já lá para as duas da manhã, cantei sem medo de ser feliz na PS2 da Tatas. Isto tudo completamente sóbria. Era o quão as minhas endorfinas precisavam de ser libertadas. 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015

Primeiro: servir.
Depois: celebrar e agradecer.
celebrar é agradecer.