sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Empatia

Contares-lhe que tiveste um sonho pavoroso, dizeres umas três ou quatro frases sobre o sonho e ouvires um "isso é horrível" em vez de "foi só um sonho". Fiquei-lhe tão grata. Ele acha que me conquista com elogios e piadolas, mas não - não sempre, não de repente. Conquista-me, sim, com a sua enorme bondade, que ainda me surpreende nos momentos mais pequeninos.

(Os meus piores sonhos não são aqueles em que ele ou o Gabriel morrem. Nesses, eu acordo assustada, vejo que foi um sonho e sigo a minha vida. Os meus piores sonhos são com o regresso da minha mãe depois destes anos todos. Tenho um repertório completo de variações dessa história: ela abandonou-nos por outra pessoa; nós a abandonámos. Já não a conheço porque se passaram tantos anos. Já não temos assunto. Atiro-lhe coisas para a cara. Sou má para ela. Sabem aqueles sonhos dos mortos num lugar bonito, onde os abraçamos e somos felizes? Nunca os tive. Os meus são sempre de uma crueldade milimetricamente composta, obras-primas de coerência, nenhuma quebra de raccord.)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O ano que acabou.

Fui deixar o Gabriel à porta da escola no primeiro dia do segundo ano, entrei no carro e chorei. Chorei porque quando fui deixá-lo no primeiro dia do primeiro ano a minha vida estava uma absoluta merda. Tinha saído de um projeto maluco, com quase cem quilos e a hidropsia coclear no comecinho, a fazer das suas nos meus ouvidos. 

Estava mal, man. Mal, mas mesmo mal. E ainda ia piorar antes de melhorar. Valdoxan, sedoxil e mais umas coisas entraram no dia a dia. Deixei de fazer coisas. Foi horrível.

Mas... no fundo do meu poço há uma mola. Houve sempre.

Fast forward para quinta-feira passada, eis-me num projeto bem mais calmo, com gente criativa e de bem, cercada de amigos queridos, quase 35 quilos a menos, criativa em várias frentes. 

E isto, ontem:

Não estava à espera. Por N motivos que não posso escrever aqui (mas que certamente me lembrarei ao ler isto no futuro). 

No fundo do meu poço há uma mola. E tenho sempre de agradecer a quem me tenta lá enfiar, porque acaba por me acordar para coisas boas. E assim foi, mais uma vez.

Feliz ano novo, Melissa.







segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O que aprendi no último meio ano, mais coisa menos coisa



Tirando os assholes do caminho, tudo voltou a equilibrar-se.
Sinto-me de volta a mim mesma.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sempre grata

Pelas minhas pessoas, as melhores do mundo,
Pelo marido sexy e divertido e um filho cheio de nós dois,
Pelo pai, pelo irmão, pela saúde de todos,
Pelas minhas profissões, que me dão prazer e dinheiro,
Pelos livros,

E pelas voltas que a vida dá, tirando a merda do meu caminho.
Depois do último ano, sobretudo pelas voltas que a vida dá.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Vagueposting

Adoraria saber como vou olhar para este último ano daqui a dois anos.
É que adoraria, mesmo.

Lembro-me pouco, muitíssimo pouco do ano que se seguiu à morte da minha mãe. Provavelmente porque estava ocupada a comer.

Neste ano (que para mim começou em julho do ano passado e não vejo honestamente a hora que acabe, embora não lhe veja fim à vista), foi o contrário, perdi quase 30 quilos e todos os problemas que se escondiam por trás da obesidade viram a luz do dia. Não só os problemas que se escondiam atrás da obesidade. Às vezes penso que todos os problemas do mundo resolveram ver a luz do dia (e imediatamente envergonho-me do pensamento, já que o que verdadeiramente interessa - eles, sempre eles -, estão bem. Não falta nem saúde, nem dinheiro. Devia bastar. Mas não basta.)




terça-feira, 22 de março de 2016

Os 40 que chegam dentro de uma semana, mais coisa menos coisa

Bem se podiam ter passado 10 anos entre o meu último aniversário e este. Tanta coisa aconteceu nos últimos meses, tantas tempestades e tumultos que me apressei a rotular como perdas irrecuperáveis, irremediáveis. Não podia estar mais enganada.

O tempo continua a ser de transição, mas já tenho alguns apontamentos. Chego aos 40

- Com menos certezas do que aos 39, o que acaba por me dar
- Uma noção mais clara do que importa, e muitíssimo pouco importa.
- Uma forte sensação de que tudo é transitório, inclusive as pessoas na nossa vida.
- Que o nosso valor é intrínseco.
- Que não precisamos de nos esforçar, o que é bom e natural emerge.
- De que é mais fácil render-se ao ego do que tentar derrotá-lo, todos nós queremos ser amados e a vida torna-se mais fácil quando aceitamos isso.
- Com uma noção muito clara de que controlamos muito pouco.
- Grata. Chego aos quarenta muito grata por tudo.

E adoraria falar sobre estas coisas com a minha mãe. Creio que ela tenha chegado às mesmas conclusões no ano da doença. Dez anos separam-nos neste momento, já não podíamos ser mãe e filha. Seria tão bom conversar com ela sobre estas coisas todas.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Times, they are a changing

À porta da escola do Gabriel, sai do carro uma mãe de pijama babygrow de tigresse da Primark, abre a porta ao filho, beijinho e adeus. Há um ano, eu acharia aquilo a coisa mais engraçada do mundo, gozaria, mandaria umas mensagens a amigas, etc etc.

Hoje só me ocorreu que a mulher deve ter feito o turno da noite, foi pôr o filho à escola a horas e voltar para a cama antes de pegar no batente outra vez.

Gostei mesmo muito deste pensamento-reflexo. Se faz de mim uma pessoa mais chata, que seja - o bem que daí vem é maior.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Era para escrever sobre Space Oddity, mas antes disso

Ando a perder demasiado tempo a correr atrás das pessoas erradas, ou pelo menos as pessoas erradas para este momento - ou para quem eu seja a pessoa errada, não sei.

 E o tempo que passo a correr atrás das pessoas erradas (ou... ou...), deixo de ver os bons dias e os links "isto é a tua cara" e as carradas de carinhozinhos das pessoas que foram sempre certas, as sedimentadas - as minhas pessoas. Ando negligente com muitas delas, e evidentemente só quem perde com isso sou eu.

Devo ter por aqui um mecanismo de vitimização esquisito que me faz correr atrás de patadas e silêncios. O que me faz pensar noutras pessoas a quem, por um motivo ou por outro, só ofereci o meu silêncio e patadas discretas quando procuravam a minha atenção.

Meio chatos, esses desencontros.
Porque o que importam são as pessoas, sempre e incondicionalmente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Demorou, mas chegou

A proximidade dos 40 anos também me trouxe uma característica que nunca pensei que fosse desenvolver (até porque nunca foi uma vontade minha): não me esforço mais para agradar ninguém. Acabou-se o charme, acabou-se o esforço. Aqui está o conjunto completo montado desde 1976, nem um sorriso extra.

Tem sido algo muito natural, como ter percebido que as pessoas afinal podem ser más só porque sim. Talvez tenha sido uma consequência disso. Mas para quem sempre andou em esforço para agradar gregos e troianos, esta nova forma de estar é bastante relaxante.

Só não é completamente relaxante porque ainda não cheguei ao ponto de não me chatear quando não agrado, mas terá de acontecer, certo?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Quando a maturidade não falta

Tendo passado a maior parte dos últimos meses na mó de baixo, virei-me para dentro, tentando dar atenção aos buracos que estavam abertos. Tenho cultivado o meu lado espiritual, que estava a mirrar a sério. Enfim, tenho tentado cuidar de outras partes de mim negligenciadas por anos de dedicação a outras partes (algumas meritórias, outras apenas idiotas).

E estou menos cínica, menos cética, mais tolerante. Estou mais compreensiva e mais compassiva. Consigo ver as coisas de uma maneira mais abrangente, consigo perceber melhor que realmente anda tudo em fluxo. Que nenhuma parte do nosso valor é definida por um momento ou uma área das nossas vidas - seja ele bom ou mau. Valemos intrinsecamente, ponto final.

Se calhar estou a tornar-me uma chata por causa disso, mas quero lá saber. Nos momentos em que a maturidade não falta, estas novas perspectivas só me fazem aceitar melhor a minha própria vida e as pessoas dentro dela.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Daqueles dias em que a maturidade falta

Todo o mundo é mais feliz do que eu.
Todo o mundo tem menos problemas do que eu.
Todo o  mundo é mais organizado do que eu.
Todo o mundo tem trabalhos mais fixes que o meu.
Todo o mundo é mais disponível e menos ansioso do que eu.
Todo o mundo faz a cama.
Todo o mundo se maquilha.
Todo o mundo arranja as unhas.
Todo o mundo tem a depilação em dia.
Todo o mundo vive para os filhos.
Todo o mundo faz bolos perfeitos.
Todo o mundo tem roupa passada.
Todo o mundo acaba os livros que começa.
Todo o mundo responde à altura.
Todo o mundo está à altura.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Um daqueles posts que julguei que nunca iria escrever (curtíssima sobre)

Sim, as pessoas são cabras umas para as outras muitas vezes, por nada.
Sim, as pessoas farejam fragilidade dos outros e muitas vezes usam-na a seu favor.

Sim, tenho de aprender a manter o bico fechado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Lido ontem enquanto o meu filho adormecia depois de uma crise de tosse, 4am.


"Todas as culturas e religiões condicionam-nos a termos um sentimento negativo em relação a nós mesmos. Ninguém é amado ou apreciado por aquilo que é. Temos de provar o nosso valor: ganhar medalhas de ouro no desporto, atingir o sucesso, dinheiro, poder, prestígio, respeitabilidade. Prove o que vale!
Intrinsecamente, não temos valor nenhum; é isso que nos ensinam. O nosso valor tem de ser comprovado."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sobre o não estarmos sozinhos, mais uma e mais uma e mais uma vez.

Em relação ao tinnitus, tenho neste momento cerca de três dias bons para um pior. O último dia mau que tive (antes de hoje) foi na quinta-feira passada e foi um verdadeiro horror, com ataque de pânico pelo meio e muito, muito sofrimento. 

Hoje voltei a ter um dia mau, e já não foi tão mau quanto a quinta passada (uhuuu, ponto para mim), consegui, mesmo com os ventos uivantes nos ouvidos, fazer uma aula de zumba. 

Mas o que queria dizer aqui era outra coisa. Uma coisa comum aos dias maus é a leitura de fóruns sobre tinnitus - só as histórias de sucesso, mas mesmo assim. É fácil enveredar-me pela pesquisa, que é coisa que não ajuda rigorosamente nada porque esta merda não tem cura, ou desaparece ou me habituo e o caminho é a aceitação, e não a luta. 

Ora, se te faz mal, porque vais lá? Boa pergunta. As histórias de sucesso consolam-me e dão-me esperança. Por outro lado, fazem-me concentrar no zumbido, que é coisa indesejável para o tal caminho da aceitação. É uma faca de dois gumes mesmo. 

De três dias para cá, não consigo aceder a sites sobre tinnitus, nem pelo PC nem pelo telemóvel. Fui à página do Facebook dos fóruns que frequento e ninguém reporta nenhuma anomalia.

Estou impedida, pela tecnologia que tenho disponível, de chafurdar sobre os meus ouvidos. 

Não acho que seja uma coincidência. 
Não acho.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Ouvido ontem

Somos todos o peso uns dos outros.

Faz parte da caminhada "não faz mal não teres uma piada na ponta da língua a todo o momento".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Coisas que gostava de ver mudadas antes dos 40

Lembro-me da altura da vacina da Gripe A, o Gabriel com pouco mais de seis meses, metade dos médicos a dizer que sim e a outra a dizer nem pensar, e eu feito um peru no meio, angustiadíssima e revoltada por não chegarem a um consenso sobre algo tão importante. (Vacinei, BTW).

De uns meses para cá, tenho chegado à conclusão de que a falta de consenso é coisa que me perturba muito. A para B é maravilhoso, e para C é merda. C é um génio para D e merda para E. Se parecer imaturo da minha parte, é porque é: queria que os valores das coisas, opiniões e pessoas fossem absolutos, que não restasse margem para dúvidas. Mas não são. Teremos de ser nós mesmos a medir, como medi na questão da vacina. Teremos de arcar com a responsabilidade do julgamento. Com a subjetividade de quase tudo nesta vida.

E o nosso valor próprio? Também é subjetivo? Vejo-me com lentes muito severas a maior parte do tempo, e tendo a achar que me veem com as mesmas lentes do que eu. É duro.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Atos falhados

O meu pai e o meu marido dizem-me, às vezes, que gosto de sofrer. Odeio quando dizem isso, ainda para mais porque não o fazem em conjunto, vão dizendo de várias formas.

Por causa do tinnitus (já vos disse que ando mal dos ouvidos? :)), não posso sofrer, não posso. Daí odiar que eles digam isso. Porque estou completamente investida em não sofrer desde que os ouvidos começaram a zumbir.

Ando a comer muito melhor, a emagrecer.
Ando a fazer exercícios respiratórios, meditação.
Ando mais paciente e tolerante.
Ando a rir-me mais e a dar mais carinho aos meus.

Hoje escrevi a uma amiga: caramba, que isto de ser feliz é o meu emprego, agora.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Tinnitus

É uma merda, mas algo me diz que veio para me dar um recado sobre o que realmente importa na vida. 

Se esta minha noção é um mecanismo de defesa para não sofrer mais do que o necessário, caramba, é perfeito.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Curtíssima sobre a entrada na vida adulta

Continuo a dizer que a entrada na vida adulta me dói muito aos 40 anos.