quinta-feira, 23 de março de 2017

Dar nomes aos bois

Há dias que ando exausta. Absolutamente exausta, a adormecer pelos cantos em horas impróprias. Sem dar atenção a ninguém, a reclamar da saúde. Fui ao médico, tenho um batalhão de exames por fazer. Convenci-me de que estava anémica ou algo pior.

Ontem foi a despedida do meu pai, que voltou hoje para Inglaterra. Passou cá quase sete meses, desta vez. Estava completamente integrado na nossa rotina. Eu sou contra este regresso desde que foi anunciado: porque ele está perto da reforma, porque já trabalhou demasiado na vida, porque tem problemas de saúde. Chateio-o. Mas nada o demoveu, está entediado, precisa de trabalho e em Portugal não há.

Ontem, à mesa, estávamos todos. E eu voltei a fazer cara feia. Ele não devia ir. Não devia. E continuo a acender velas para que apareça trabalho em Portugal. Todos olhavam para mim como se fosse maluca, até o meu filho. A Bel olhou-me nos olhos e disse: tadinha.

O voo era hoje de manhã, não sabia bem a hora. Houve acidente na A5, estava tudo parado de Cascais às Amoreiras, e liguei ao meu pai. Estava já dentro do avião.

Ah.

Desejei-lhe boa viagem e boa sorte.

E disse para mim mesma, pela primeira vez: estou muito, muito triste por o meu pai ir para longe de nós outra vez.

E comecei a sentir-me um pouco melhor fisicamente.

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