O meu pai é muito grato, mesmo genuinamente grato por todos os anos em que teve a minha mãe (em vários papéis: amiga de infância, namoradinha, mulher, mãe dos filhos, ex-mulher, amiga de infância outra vez).
Não lhe vejo ponta de revolta em tê-la perdido tão cedo. De facto, comparado ao tempo que o meu pai teve mãe - e a idade com que a mãe dele morreu -, tivemos mesmo a Melânia durante muito tempo. Mas não é por isso, não é por comparações nenhumas, nada de Freud-explica. É a tal paz que falei há uns dias. O meu pai sente umas saudades cheias de paz da minha mãe.Acho que nem se lembra dela doente, nem ele nem o Nando. Eu só me lembro dela doente.
Fico tão feliz que, depois de tantos anos meio desencontrados, eles tenham voltado a tocar o coração um do outro no fim. É um legado maravilhoso para mim, para o meu irmão e, porque não, para o meu filho. Ainda bem que, não tendo havido tempo para muito mais, houve para isso.
*Podia chamar a este post "aprender a ser filha", como o último da bela Gralha. Tenho de reaprender a ser filha. Filha de mãe imaterial. Demora, caraças. É-me cada vez mais difícil chegar ao intangível, ao "sentir". Preciso de um sinal.
3 comentários:
O post da gralha está sublime e este também.
Há tantas frases feitas sobre os filhos não trazerem manual de instruções, mas os pais/mães também não trazem...
Aliás, acho que é mais fácil aprender a ser mãe do que aprender a ser filha, que é condição que nasce connosco e depois a vida vai-se encarregando de esculpir. Acho que, cada uma à sua maneira, temos de ir com a maré, mesmo.
Ser filha não é fácil... especialmente quando ainda nem fomos pais. Falta-nos uma certa perspectiva!
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