Estou sempre a aprender coisas com as minhas amigas. Tenho algumas amigas muito generosas e cheias de compaixão, que conseguem contextualizar todas as minhas neuras e relativizar todos os meus retumbantes fracassos, mostrando-me que só são retumbantes fracassos dentro da minha cabecinha doente.
(Tenho outros tipos de amigas também - daquelas que puxam por nós, que nos fazem querer fazer mais e melhor mesmo quando nos irritam milhões - mas não é dessas guerreiras que quero falar hoje, mas sim, das minhas belas compassivas, que são duas ou três e cujos nomes não direi aqui. Elas sabem quem são).
Sempre - quando digo sempre é sempre mesmo, desde que nasci - associei a minha dificuldade em gerir o peso à minha dificuldade em viver de um modo geral. Se não conseguia emagrecer era porque não conseguia NADA. E só conseguiria qualquer coisa DEPOIS de domar a tal "food thing", como lhe chama a minha guru Geneen. Todo o sucesso é roto se não for o sucesso em tornar-me magra. E isso era incontestável.
Mas alguma coisa não batia bem. Não batia bem porque, diabos, sou muito bem-sucedida em quase tudo o resto - certamente em tudo o resto que me interessa. Lido bem a família, o casamento, o trabalho que está sempre a crescer e a desenvolver-se (por algum motivo há-de ser). As pessoas confiam em mim e aquela lista da vida perfeita do post anterior é bem verdadeira, por mais irritante que possa parecer (a mim, parece-me). Sei ganhar dinheiro. Durmo bem, acordo a horas sem despertador e sem achar a vida uma merda, muito pelo contrário.
Mas, obviamente, já que não controlo o meu peso, nada, absolutamente nada disso valia fosse o que fosse.
Até que uma amiga disse que NÃO TINHA NADA A VER. Bastou isso. Bastou que alguém, um dia, me dissesse isso. NÃO TINHA NADA A VER. Posso, sim, tenho todo o direito a ter tudo ok na vida e isto ser uma caca. Posso ter uma só caca na vida, ela pode ser isolada. Dois ou três dias depois, chego a um trecho do livro que estou a traduzir sobre a força de vontade e o sucesso, que diz mais ou menos que há uma fórmula para todo o tipo de sucesso, mas que a relação problemática com a comida é algo diferente, não cabe nos parâmetros normais de esforço, força de vontade, método, etc etc. É outra coisa. O investigador chama-lhe muito apropriadamente "the Oprah Effect".
Isto quer dizer que não deixarei o calcanhar ferido transformar-se em Melissa.
Respirei fundo e decidi relaxar e concentrar-me no que já tenho. Ou morrer tentando, porque é dificílimo, é tirar Jesus a um crente ferrenho.
(O mais engraçado é que, ao fazê-lo - ou morrer tentando - voltei finalmente a emagrecer devagarinho, coisa que não acontecia há quase um ano).
E obrigada, amiga X, por me ter apontado o óbvio.
8 comentários:
Há coisas TÃO importantes que só quando são ditas por outros nos chegam cá dentro...
gostei de ler!
Ainda bem que o blogue voltou que eu não tinha lido este post e está uma maravilha!
Posto isto, duas coisinhas:
1.ª: Eu não sou de neuras e tenho uma auto-estima bem superior ao que devia (ahahahahahah) mas continuo a achar que quanto mais magra, mais sucesso e mais feliz sou; isto há-de colocar-me numa escala qualquer antes de se fazer luz(mas é que eu não gosto mesmo nada de me sentir/ser gorda);
2.ª: O que é isso do Oprah effect? É por ela ser bem sucedida e rechonchuda, logo, não tem nada a ver? É que apesar de tudo (e talvez seja a única pessoa a achar isto) há qualquer coisa nela que me diz que não é muito feliz... não sei explicar o quê...
Pronto, e é isto!
Eu acho que ela não é feliz por ser gorda, o que seria bastante parvo. :)
Eu sou feliz quando não penso no peso, e penso muito no peso, muuuuito. Depreender-se-ia daqui que sou uma infeliz do caraças, mas aí é que está: eu sou muito feliz. Dá para entender? Não, né?
Bom, de qualquer maneira, adoraria não atrelar toda a minha felicidade ao meu peso. É que ele flutua muito, muito mesmo, e quero a felicidade permanente.
foda-se, estava irritada porque não conseguia ler isto. Agora já li :)
O peso é a nódoa no pano branco que tu és, mas não é de todo o pano em si!
Tu és muito mais que um número e às vezes gostava que não tivéssemos estas "formatações" enfiadas na pinha!
Eu gosto de ti com tudo!
Gosto tanto de ter-te de volta, a ti e ao teu calcanhar que também é lindo e tem de ser acarinhado por muitas dificuldades que levante.
Desconfio que o maior problema do peso é ocupar espaço literal. Tantas outras merdinhas que conseguimos relativizar, negar, mas essa está lá a olhar-nos ao espelho e a tirar-nos energia. Mas é SÓ uma molécula no todo da nossa vida (no todo da nossa Melissa!)
Vocês são lindas, pá. Deviam todas ser grandes hosts de talk shows.
Ainda bem que o buraco negro blogosférico trouxe o teu blog de volta!
O peso é um sacana... ainda bem que mesmo com ele sempre a sussurrar-te ao ouvido, tu és feliz! No fundo isso é que importa!
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