Uma pessoa fez-me mal há oito anos - vai fazer oito anos no dia 25 de abril. Esta pessoa fez-me mal ao ponto de eu ter deixado de acreditar prestar para varrer um vão de escadas, quanto mais exercer a minha profissão. Por conta disso, passei vários meses parada. Foi um período negro.
(Nota para outro post: quando despertei, decidi que não era mais aquilo que eu queria fazer da vida, profissionalizei-me noutra área e corri atrás. Acabou por ter sido a melhor coisa que podia ter feito: descobri uma nova paixão, um novo talento, um novo valor. E, uns dois anos depois, fui capaz de voltar a exercer a primeira também. Portanto, nada na vida são perdas ou ganhos exclusivos. Mas isto é outro post.)
O que importa para este post é que a tal pessoa me disse coisas escabrosas. Coisas que vocês provavelmente nunca ouviram na vida e que não vou "escrever em voz alta" aqui, mas que repeti hoje para uma amiga chegada e que foi bom, porque é sempre bom olhar para os demónios de frente de vez em quando.
Tanta água passou por baixo da ponte. Fiz tanta coisa interessante, arranjei novos clientes e amigos. Aprendi a relacionar-me melhor com as pessoas, a defender-me melhor. Tive períodos bons, períodos excelentes, períodos maus. Tanto que cresci nos últimos oito anos - todo mundo cresce em oito anos, certo? E gosto mesmo da profissional em que me tornei, com todos os meus pontos fortes e pontos fracos. E tenho tido um bom feedback por parte dos meus parceiros.
Mas...
Não é raro acordar depois de ter sonhado que um cliente ou PM atual me diz as mesmas palavras. Ou que o telefone toque e eu pense: é desta que vou ouvir a mesma coisa. É desta que descobrem que era aquela pessoa que estava certa o tempo todo. É desta que fraude acaba. É desta que descobrem que não pesco nada disto. Sempre que começo qualquer coisa nova, então, tudo piora. Sei que é assim para toda a gente, mas imaginem já terem um guião prontinho de desaforos já ditos por alguém a que recorrer sempre que a insegurança bruxa precisa de falas.
São pensamentos curtos, mas muito tóxicos. O amargo de boca dura séculos. E claro que já não posso culpar a tal pessoa que me fez mal, não oito anos depois. O problema é meu. Demoro demasiado tempo a enterrar os meus defuntos.
Demoro demasiado tempo a enterrar os meus defuntos.
Lembro-me de há uns anos ter escrito que esta coisa que aconteceu tinha ficado para trás. Não, não ficou.
5 comentários:
Acho que há alguns defuntos de que nunca nos livramos completamente. Se calhar mais vale aprender a viver com eles do que investir a energia toda em tentar enterrá-los (e estou a escrever isto para ti mas também para mim, que cada um tem a sua dose de ecos). Mais fácil de dizer do que fazer, lá está.
(e se eu lhe fizer uma espera, não ajuda?)
Ajuda bastante.
Bom, só em saber que é um defunto mal enterrado já é um progresso, certo? Eu até me tenho dado bem com os meus defuntos desde que lhes reconheço o estatuto de defunto.
Mas este atrapalha-me bastante. Não dá para conviver com ele, mina-me a confiança.
Realmente, por vezes somos o nosso principal inimigo... porque ao invés de lutarmos contra esses demónios do passado, parece que os acolhemos e acarinhamos, e sempre nas piores ocasiões.
Acho que não devemos enterrar os defuntos... o melhor é olhá-los nos olhos e provar-lhes que estão redondamente enganados! Fácil dizer, difícil concretizar...
tenho um ex professor que me fez o mesmo! e ainda hoje, em alguns momentos, duvido de mim à custa dele...beijo grande
O tempo, só o tempo, mostra o nosso verdadeiro valor enquanto pessoas, enquanto mães... enquanto profissionais. E o tempo também se encarregará de mostrar a podridão de certas pessoas...
Tu és fantástica! :)
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