quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ecos indesejados

Uma pessoa fez-me mal há oito anos - vai fazer oito anos no dia 25 de abril. Esta pessoa fez-me mal ao ponto de eu ter deixado de acreditar prestar para varrer um vão de escadas, quanto mais exercer a minha profissão. Por conta disso, passei vários meses parada. Foi um período negro.

(Nota para outro post: quando despertei, decidi que não era mais aquilo que eu queria fazer da  vida, profissionalizei-me noutra área e corri atrás. Acabou por ter sido a melhor coisa que podia ter feito: descobri uma nova paixão, um novo talento, um novo valor. E, uns dois anos depois, fui capaz de voltar a exercer a primeira também. Portanto, nada na vida são perdas ou ganhos exclusivos. Mas isto é outro post.)

O que importa para este post é que a tal pessoa me disse coisas escabrosas. Coisas que vocês provavelmente nunca ouviram na vida e que não vou "escrever em voz alta" aqui, mas que repeti hoje para uma amiga chegada e que foi bom, porque é sempre bom olhar para os demónios de frente de vez em quando.

Tanta água passou por baixo da ponte. Fiz tanta coisa interessante, arranjei novos clientes e amigos. Aprendi a relacionar-me melhor com as pessoas, a defender-me melhor. Tive períodos bons, períodos excelentes, períodos maus. Tanto que cresci nos últimos oito anos - todo mundo cresce em oito anos, certo? E gosto mesmo da profissional em que me tornei, com todos os meus pontos fortes e pontos fracos. E tenho tido um bom feedback por parte dos meus parceiros.

Mas...

Não é raro acordar depois de ter sonhado que um cliente ou PM atual me diz as mesmas palavras. Ou que o telefone toque e eu pense: é desta que vou ouvir a mesma coisa. É desta que descobrem que era aquela pessoa que estava certa o tempo todo. É desta que fraude acaba. É desta que descobrem que não pesco nada disto. Sempre que começo qualquer coisa nova, então, tudo piora. Sei que é assim para toda a gente, mas imaginem já terem um guião prontinho de desaforos já ditos por alguém a que recorrer sempre que a insegurança bruxa precisa de falas.

São pensamentos curtos, mas muito tóxicos. O amargo de boca dura séculos. E claro que já não posso culpar a tal pessoa que me fez mal, não oito anos depois. O problema é meu. Demoro demasiado tempo a enterrar os meus defuntos.

Demoro demasiado tempo a enterrar os meus defuntos.

Lembro-me de há uns anos ter escrito que esta coisa que aconteceu tinha ficado para trás. Não, não ficou. 

5 comentários:

gralha disse...

Acho que há alguns defuntos de que nunca nos livramos completamente. Se calhar mais vale aprender a viver com eles do que investir a energia toda em tentar enterrá-los (e estou a escrever isto para ti mas também para mim, que cada um tem a sua dose de ecos). Mais fácil de dizer do que fazer, lá está.
(e se eu lhe fizer uma espera, não ajuda?)

Melissa disse...

Ajuda bastante.

Bom, só em saber que é um defunto mal enterrado já é um progresso, certo? Eu até me tenho dado bem com os meus defuntos desde que lhes reconheço o estatuto de defunto.

Mas este atrapalha-me bastante. Não dá para conviver com ele, mina-me a confiança.

Naná disse...

Realmente, por vezes somos o nosso principal inimigo... porque ao invés de lutarmos contra esses demónios do passado, parece que os acolhemos e acarinhamos, e sempre nas piores ocasiões.

Acho que não devemos enterrar os defuntos... o melhor é olhá-los nos olhos e provar-lhes que estão redondamente enganados! Fácil dizer, difícil concretizar...

Bailarina disse...

tenho um ex professor que me fez o mesmo! e ainda hoje, em alguns momentos, duvido de mim à custa dele...beijo grande

Amigo Imaginário disse...

O tempo, só o tempo, mostra o nosso verdadeiro valor enquanto pessoas, enquanto mães... enquanto profissionais. E o tempo também se encarregará de mostrar a podridão de certas pessoas...

Tu és fantástica! :)