Mamãe engravidou inesperadamente do meu irmão no meio da floresta - fronteira entre o Amazonas e o Pará. Passámos lá uns parcos seis meses que me ficarão na alma para sempre. Tucanos no jardim, o maior jardim do mundo - sapos do tamanho de bolas de futebol (na altura ainda não tinha medo deles), pacas, muitas pacas e macacos e o que vocês conseguirem imaginar. Borboletas azuis, metálicas. igarapés de águas gélidas (não tinha estado nas praias da linha, nessa altura). Árvores com troncos do tamanho de casas. Fruta estranha, comida de índio, botos no rio. Andar só de calções aos nove anos.
Eu tinha quase dez anos e o sonho doido de ter um irmão. Sonho doido e esperança nula. Até que mamãe me liga dum orelhão do centro de saúde: deu positivo, Melissa. Fui a primeira pessoa a saber. Papai não estava em casa, corri para o jardim e corri e corri e corri até o viveiro de plantas. E voltei a correr também. Ia ter um irmão. Ia ter um irmão. Deu positivo. Eu nem sabia que ela ia fazer um exame de gravidez, mas tinha entendido perfeitamente o que era "deu positivo" (como anos mais tarde entendi imediatamente o que começava com "encontrei um caroço no peito").
Continua...
3 comentários:
Esta última frase ficou-me na memória da mesma forma. Foram essas mesmas palavras que ouvi da minha mãe aos 13 anos...
Só nunca ouvi o deu positivo... porque também nunca fiz questão... e não valia a pena esperar por essa novidade.
Não sou de intrigas, mas onde é que este tema vai parar na parte X...?
(os meus pais deixaram-me ser a primeira a ir ver as risquinhas do teste do meu mano, que faz hoje 29 anos, nunca me esquecerei da alegria que senti)
Nossa Mel, chorei. Que imagens lindas que você mostra.
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