sábado, 13 de dezembro de 2008

Acima de mim

Há uns tempos, antes da GVGT - Grande Vaga de Gravidezes de Tradutoras - eu e a minha miudagem preferida reuníamo-nos na esplanada de São Pedro e passávamos lá horas a falar mal do patronato e da vida em geral. E lembro-me que falávamos de bebés e gravidez também, com a diferença que na altura só a Betita tinha passado por isso.

Claro, meia dúzia de jovens a entrar nos 30 e tendo de trabalhar como mulas para fazer um bom salário tinham opiniões algo parecidas sobre todo o processo, especialmente o parto: não quero dor, não quero sofrer, ai que horror, coisa de vacas (tá, essa foi minha), quero é despachar, quero é não passar por isso acordada, quero é que me tirem desse filme o mais depressa possível.

A Beta, do alto da sua magnífica experiência de ter um filho e mesmo assim um filho a mais que todas nós, só nos dizia: na hora, vocês querem é o melhor para o vosso filho.

Nós todas, ao imaginar a confusão de entranhas e sangue envolvida num parto, olhávamos - eu, pelo menos - como se a Beta tivesse vindo de outro planeta.

E hoje sei que ela tem razão.

Há uma grande possibilidade de o Gabriel ter de chegar por cesariana e eu, de uns (poucos) dias para cá, estou gradual e naturalmente a deixar de pensar nas minhas necessidades - conforto, privacidade, segurança, miminhos, muitos miminhos, controlo da dor, etc - e a pensar se ele chegará bem por via cirúrgica, se for o caso. Se não lhe faltará nada naqueles momentos iniciais - que imagino serem sofridos e confusos para ele - se não puder vir directamente para o meu colo. Se o levam para longe de mim e se isso lhe faz alguma diferença.

Acho que à medida que o tempo vai passando, vou cedendo o centro deste palco para a verdadeira estrela. E sem pensar muito no assunto.

1 comentário:

Ana C. disse...

Assino por baixo, integralmente. Isso já é o instinto maternal a crescer a cada dia que passa.
Por isso aquelas mulheres fanáticas do parto natural a todo o custo me tiram do sério.
O que for melhor para o nosso filho, é melhor para nós, acredita nisso.
Se houver uma hipótese, ainda que ínfima, de eles virem a sofrer algum tipo de risco no nascimento, para quê arriscar?
Foi o meu caso.