quarta-feira, 16 de junho de 2010

Hora do jantar

Às vezes, quando estou na cozinha a lavar a loiça e a fazer o jantar, descabelada e com a camisola cheia de nódoas e oiço os berros do Gabriel dando luta para comer e a impaciência do Hugo, e estou para ali a tratar de dez coisas desinteressantes e desgastantes ao mesmo tempo, dou por mim a pensar que casamento e filhos é para onde todos nós nos dirigimos por defeito, sacrificando e abafando e esquecendo todos os planos grandiosos que tínhamos para nós, seres brilhantes e criativos e únicos. Não dá para saber que decisões tomámos que nos levaram até aquele lava-loiças com biberons e cascas de cenoura por limpar.

Há outras vezes em que exactamente o mesmo quadro me parece pleno de realização, de barulho, e que a luta para comer é viva e vibrante, e que a impaciência parece cheia de amor, e que fazer o jantar é cuidar de quem amo, e penso que casamento e filhos é a melhor ideia do mundo, que ser sozinho ou eternamente adolescente não é para mim, que a minha família me define como mulher e como ser humano e que sou mil vezes mais brilhante, criativa e única agora que os tenho ao meu lado, a encher o meu dia de substância e de assuntos novos.

Tenho tantos de uns como de outros. Estranhamente, não fico triste por não ter muito mais dias dos segundos do que dos primeiros. Não preciso de estar sempre eufórica para ser feliz.

Enfim, isto tudo para dizer a minha frase preferida de todos os tempos, a mais importante e a que mais uso para tudo, é a minha Maizena das frases boas.

"Tudo é uma questão de leitura".

5 comentários:

Ana C. disse...

Se tivesses uma máquina de lavar a loiça não passavas tanto tempo a pensar e depois não podias vir aqui escrever coisas destas para que nós, restantes mortais, nos identificassemos quase a 100% :)
Eu já percebi há algum tempo que nestas coisas não há teorias que nos valham, há sentimentos que nos consomem, ou que nos arrebatam, como em tudo na vida.

Precis Almana disse...

Se estivesses sozinha e sem filhos também pensarias muitas vezes que a tua vida não tem um sentido, que não eras uma mulher completa, que não tinhas contribuído para a sociedade e para a reprodução da espécie, que se calhar és egoísta por isso, que não tinhas a quem deixar todo o teu "património" (de saber e físico), etc etc.
Todas as vidas têm, de facto, mais do que um lado.

Sofia disse...

Acho que nos acontece a todas.
Bjocas

gralha disse...

A casca da cenoura é, sem dúvida, uma entidade que muda de aparência de uma forma incrivelmente inesperada, consoante o nosso estado de espírito. E pronto, já te deixei aqui uma pérola.

inesn disse...

brilhante :)