Sou pró-ciência. Pró-medicina. Pró-aprendizagem.
A sério que sou. Depois de morta, quero ser doada para alguma faculdade para que jovens médicos imberbes aprendam com as minhas singelas tripinhas.
Depois de morta, entendam-me bem.
Porque, durante um episódio de urgência com uma carga de nervos em cima ter duas adolescentes recém-formadas a olharem-me pelo cérvix adentro dá-me a sensação de ser uma vaca. Mas não é a vaca lá do Hospital dos Animais da Sic Mulher, que essa tem bons veterinários que lhe vão fazendo festinhas. É mesmo uma vaca daquelas que viram bife depois.
Não me perguntaram nada. Nem nome, nem sexo do bebé, nem absolutamente nada. Fui explicada e analisada como se fosse uma peça de picanha. Acho que nem sequer me olharam para a cara. Eu era uma Placenta Prévia, acima de tudo o resto.
Engraçado que hoje tive consulta no centro de saúde e falámos sobre a minha dúvida de ir ter o Gabriel no público ou no privado. A enfermeira de lá, uma querida, diz-me que o importante são os meios do hospital, se têm lá resposta para todos os problemas que possam surgir. Que não olhasse apenas às instalações. Como tinha consulta no hospital público amanhã, resolvi dar o benefício da dúvida, afinal além de ser pró-ciência também sou pró-público. Quis a placenta que eu aterrasse lá hoje.
Com alguma tristeza, vi que não, eles não têm meios para que eu tenha lá o meu filho. Nem têm resposta para os problemas que possam surgir.
7 comentários:
Eu só quero que sejam profissionais, podem não me mimar, podem não ter a sensibilidade que o momento exige, podem não ter a noção da importância que aquele momento têm para mim e para o pai, mas por amor de Deus que sejam bons profissionais!!!!!!!beijo
o público nao tem condições? whatti?? no meu tempo era o privado que enviava para a MAC os casos mais problemáticos e tudo o que nascesse antes das 38 semanas! (e só foi há 14 meses :))
Não duvido nada das condições técnicas, mas para mim não chegam. Tenho de ser tratada como gente, e não fui.
Bailarina, acho que a sensibilidade que o momento exige é parte mais que fundamental do tratamento. Até ontem, achava que não. A verdade é que saí de lá bem diagnosticada, mas com a sensação de que foi a pior ida ao hospital de sempre.
Mas não falo de todos os públicos, Deus me livre. Falo do que eu fui. Mas pelo que leio nos fóruns de grávidas e afins há a crença generalizada de que basta terem pessoal mais treinado e melhor equipamento para serem melhores hospitais. O tratamento humano "depende da equipa, há que ter sorte".
Não devia ser assim. Não podia ser assim. O tratamento humanizado de qualquer grávida, parturiente, para não dizer de qualquer paciente, devia ser tão importante quanto saber aspirar ou quando usar fórceps, etc.
Enfim, pus público vs. privado porque é - era - a minha situação em particular, mas não duvido que as boas maneiras com as pacientes variem de hospital para hospital independentemente de serem empresas ou não. E não deviam variar.
Porque é que os hospitais públicos não têm tudo? Os meios, os bons profissionais, o miminho, a competÊncia? Sabes o que te digo? Seguro de Saúde é a resposta para tanta, mas tanta coisa.
Vão-me desculpar as grávidas que foram parir ao público, mas é importante sim ter água quente para tomar banho, um sorriso nos lábios da enfermeira que atende a milionésima chamada da nossa campainha, o médico que nos faz uma festinha nos cabelos e tudo isto aliado aos meios neo-natais necessários.
Uma grávida é um ser mais sensível que o resto do universo.
Tenho imensa pena que só algumas mulheres possam garantir esse tipo de conforto, e nem é de conforto de hotel que falo: é de conforto humano.
Isso não devia depender de dinheiro, até porque o público faz-se pagar bem todos os meses nos nossos recibos de ordenado.
Acho muito triste, e injusto, que por eu poder pagar um seguro ter mais direito do que outras raparigas a uma garantia de tratamento humanizado.
E também acho que nós, grávidas, podíamos exigir mais da equipa médica e não nos contentarmos apenas com a "sorte" de arranjar uma equipa boa ou instalações neonatais que façam a diferença. A maioria dos partos não complica e não precisa de instalações neonatais por aí além.
Já de um sorriso e de um carinho, qualquer grávida precisa. Está ali a viver o momento mais intenso da vida dela.
Só que nem nós grávidas (salvo seja no meu caso) , nem qualquer pessoa que esteja dependente dos outros num hospital, está em condições de reclamar nada. Porque estamos mais sensibilizados, mais desprotegidos, mais carentes, mais dependentes...
De resto, podemos não gostar dos mesmos filmes, mas concordo com tudo o que disseste...
Ontem foi o que aconteceu comigo. Aguentei aquela invasão toda sem dizer um pio, com medo de comprometer o meu atendimento. Dá uma sensação de impotência enorme.
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