segunda-feira, 19 de julho de 2010

Avassalada

Lembram-se, minhas amigas mais antigas, dos meus tempos de engonha?
Engonha, engonha, engonha.
Não fazia um cu e, ao fim do dia, vinha uma sensação de frustração tremenda por não ter despachado trabalho, por me deixar corromper tão facilmente por qualquer chamada para um café ou assunto mais interessante - ou menos interessante - no msn? Tão descontente que eu estava comigo mesma e com tudo, queria virar a mesa, queria mudar de dentro para fora, queria renascer uma pessoa que eu não era.

Aí chegou o Gabriel, pondo ordem no meu dia e obrigando-me mais do que qualquer patrão a get my act together. Passei a ir para biblioteca trabalhar, de modo a ter menos acesso a distracções. Passei a acordar mais cedo (como se possível fosse), passei a organizar listas de compras. Passei, aos trambolhões, a ser o mais organizada que conseguia ser.

E perguntam vocês agora: está a correr bem?
A resposta é: não. Continuo com muitas coisas sempre por fazer. A casa está um caos. As vacinas do Gabriel estão atrasadas. Tenho de o levar ao dermatologista. Tenho de tirar o cartão do cidadão. Tenho de o inscrever, e ao Hugo, na minha médica de família.


Isto para não falar do meu médico, do meu dermatologista, do meu cartão do cidadão, da minha vida.

Pergunto-me se me sentirei sempre assim, avassalada. Ou pela engonha, ou pelo excesso de coisas, mesmo. Tenho muitas coisas para fazer, muitas. Sou o coelho do Cais do Sodré.

PS - O tal livro "Get Your Act Together" anda a render umas boas gargalhadas. Excelente para aumentar a autoestima dos que sofrem de défice de organização. Vá lá.

16 comentários:

Pekala disse...

sim,vais ter sempre muitas coisas pra fazer,habitua-te,é a vidinha:D

p.s.e sim,vai haver sempre mais qualquer coisa que fica pra trás,é porque não era assim tão importante!

Melissa disse...

tipo as vacinas?

Pekala disse...

depende...qnd disse ao médico do puto que lhe tinha dado a vacina da griposa ele perguntou-me "Pra quê?" e no entretanto andei angustiadíssima a adiar a dita-cuja...

Anónimo disse...

dizem os psi que a isso se chama tergiversar

para mim, o importante não é ter a casa arrumada, tirar o cartão, ir aos médicos ou dar as vacinas. O importante é a importância que tu dás a essas coisas ou ao facto de não as fazeres. Ou melhor ainda, o quando é importante para ti teres sempre um motivo para te auto-flagelares? Se procurares bem, vais sempre encontrar um bom motivo para uns acoites, mesmo depois da casa arrumada cartões tirados, vacinas dadas e todos os médicos devidamente consultados.
Sei que não adianta dizer que mandes essa sensação para as urtigas porque ela não desaparece quando mandamos...
Desculpem lá tanta "importância" escrita mas é mesmo um assunto importante :)
quanto às vacinas, o meu filho só levou as da maternidade porque não as consegui evitar e está aqui cheio de saúde. Para mim as vacinas não são mesmo nada importantes. Basta mudar o ponto de vista....

Melissa disse...

Cátia, OBRIGADA. A sério :)
Tenho um pezinho bem enfiado no auto-flagelo.

Melissa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

eu reconheço-me nessa de bater em mim mesma por tudo e por nada o que é um belo de um exemplo para o meu filho e por isso tenho pensado sobre o assunto. LOL

c disse...

Epá vou já comprar esse livro. Mas também acho que haverá sempre um motivo para acharmos que fizemos istou ou aquilo menos bem. A vidinha NÃO É MESMO fácil de gerir. Mas pelo que já contaste aqui admiro muitas das coisas que consegues fazer e não encontrei na tua lista nada que eu também não adiasse. E a engonha é uma característica das mentes criativas. Worry less, enjoy more :)

c disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana C. disse...

Melissa: Ir tirar o cartão do cidadão no nosso país é o equivalente a veres uma guilhotina no meio do jardim com um carrasco a acenar-te e a chamar-te e a fazer-te sinais que te vai decapitar. Vais tu a correr enquanto soltas risinhos de felicidade ter com o carrasco?...
A mesma merda com os médicos de família e tudo o que implique papéis, burocracias, filas intermináveis, mulherio frustrado do outro lado do balcão.
Tu tens varrido a poeira para debaixo do tapete, como milhentas de nós por aqui e isso não é pecado, é humano. Só que quanto mais poeira escondes, maior é a preguiça de a varreres e aquela merda vai crescendo, crescendo, até ao dia em que acordas debaixo dela :)
Começa por uma coisa por mês.

Pekala disse...

ora ora ora,tirar o cartão do caidadão é buéda rápido!!!juro!!primeiro ligas pra este número-217231237-que na realidade até já nem ´este mas outro começado por 707 e que eu perdi mas seligares para este eles dão-te o novo número-é rápido,ligas e marcas um dia e hora na conservatória à tua escolha.No dia e hora marcados vais lá e demoras uns dez minutos a fazer o cartão.uma semana depois vais buscá-lo.comigo foi assim.Demorei mais a levantá-lo.esperei uns 15 minutos no prédio das conservatórias ali no marquês.
e não,não tou a gozar.mas se fores à loja do cidadão habilitaste-te a uma valente seca...

Pekala disse...

"o cartão do caidadão"AHAHAHAHAHAHAHAH

Ana C. disse...

Pekala tu cala-te e não faças cair por terra a minha teoria, que o nosso país é de facto o país das dificuldades, onde nada é fácil. Eu vim à conservatória de Cascais, só soube que se podia marcar quando lá cheguei, mas tinha que esperar tanto pela marcação, que decidi enfrentar o touro pelos cornos. Foram 3 cartões, 3!!!!!!!

Pekala disse...

eu sei eu sei mas tirar o cartão correu-me tão bem que eu não resisto a partilhar com toda a gente:)e mais,todos os meus amigos que ainda não tinham tirado seguiram o meu conselho e também correu muito bem e isto a mim parece-me um pequeno milagre!!!!quer dizer..estamos em portugal,não era suposto lol

Maria disse...

que nível de exigência, mel! concordo com tudo o que foi dito pela "want a miracle". enquanto não te aceitares, a ti e à tua vida, vais ter muito mais dificuldade em gozar o dia-a-dia. porque há sempre falhas...
eu também tenho sempre as vacinas atrasadas (mais de 6 meses) e o único embaraço que me causa é o confronto com as enfermeiras do centro de saúde. no ano passado, dei-me conta que tinha o BI caducado há 6 meses e o passaporte há 2 anos. é óbvio que, na altura, me apercebi da minha dificuldade em lidar com as coisas práticas e burocráticas da vida. mas será isso um mau sinal, uma "falha"? vejo tanta gente sempre num estado permanente de vigília, a tentar ter controlo sobre tudo, e não me parece que este seja o caminho.
e que tal agarrarmo-nos ao que fazemos bem? posso dar uma série de exemplos que, creio, se aplicam à minha família e à tua. os nossos filhos estão a crescer junto do pai e da mãe, que se amam e se cuidam (e, olha, eu não tive este "privilégio" e bem me custou). trabalhamos, pagamos as nossas contas e há muito que deixámos de depender de qualquer mesada. somos nós que levamos e vamos buscar os miúdos à escola, não os deixando entregues a mulheres-a-dia, nem achando que a nossa função de pais é apenas dar um beijinho de boa noite. tentamos transmitir aos nossos filhos os valores certos: o amor, a alegria, a solidariedade, o ser (e não o ter). temos tanta coisa com que nos orgulhar, mel... um beijinho

Ana. disse...

Eras gaja para me emprestar o livro, não Mel?!
;)