sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Do que não me rio

Sou incrivelmente observadora e má-língua. Sou detalhista, vejo nuances imperceptíveis ao olho comum (comum não, normal) em tudo que vejo, todo mundo tem segundas intenções, a escolha de palavras revela quase tudo que uma pessoa mais quer esconder, quando João me fala de Pedro, sei mais de João do que de Pedro. Gozo muito com quem acho pretencioso, e acho muita gente pretenciosa. Acho muita gente ridícula, muita gente medíocre, muita gente burra. Mais ainda quando essa mesma gente se considera muito in, muito up, muito on.

No entanto, fui incapaz de me rir da Sónia que andou aí pelo "iutubi" a dizer "dabodabodabo", da mesma forma que não acho nem um pouco, mas nem um pouco mesmo, engraçado o miúdo do clarinéte. Não consigo ver, por mais que descontextualize, a piada da ignorância ingénua. Só acho triste, mais triste ainda por todo mundo (muitos do parágrafo anterior) se rir daquilo, quando "aquilo" é o que a pessoa é, de verdade, sem fingimentos.

Não achei piada ao Paulo Ruas à procura duma namorada pelo facebook. Só achei que o homem estava a ser extremamente pró-activo. Bem como todos os anúncios do correio sentimental da Maria. Não consigo rir-me daquilo, é gente a batalhar pelo que quer.

Das pessoas, não me rio do que é sincero e honesto, por mais caricato que possa parecer. Só acho piada aos maneirismos, convencimentos, à auto-estima em excesso.

4 comentários:

c disse...

Melissa,
falaste-me ao coração.
Também não consegui ver a mínima piada no "dábodábodábo" da senhora brasileira, e não entendi que toda, mas mesmo quase toda a gente à minha volta andasse, não só a reenviar freneticamente o video, mas a falar e rir dele em grupo. Sentia-me uma extra-terrestre, mas só me apetecia dizer "deviam ter vergonha". Acho que aproveitar a ignorância ingénua, como dizes, de quem confia no interlocutor e inocentemente se expõe, para gáudio de quem se sente superior, é arrogante e fraco e enjoa-me.
Sendo assim, já não sou a única.

Irina A. disse...

I'm a bitch, adoro rir das parvoices alheias, assim como adoro rir-me das minhas.

E o que mais gosto é: "as arverez somo nozes e o jardineiro é Jesus" muahahahahah

Carla R. disse...

Sempre me senti desconfortavel com este tipo de humor, e nem sei porquê nunca o verbalizei.
Era uma sensação de desconforto secreto. Pronto, agora, sempre que for preciso venho aqui e faço copy past. Explicaste tudo.
(farei referência à autora, descansa!)

Ana C. disse...

Quanto mais prepotente, convencida, auto-confiante, cagona, pedante é a pessoa, mais me dá vontade de gozar.
Se é apenas básica e humilde, sem pretensões a melhor do mundo e está apenas a mostrar-se ingénuamente a alguém que tem o propósito de a gozar, a vontade esmorece quase completamente.
Ainda existe o correio sentimental da Maria? Sabes que sempre achei que inventavam tudo?