Para quem anda sempre com folmes na cabeça - filmes no sentido "merdas dramáticas" do termo - como eu, às vezes é giro parar e tentar reconstituir os passos até a génese da ideia X ou Y. Sei lá, a inspiração pode vir realmente de muitos lados. Os meus filmes nascem, na maioria das vezes, de canções pop.
Há filmes que vêm de interpretações de canções, a maioria. Ontem falava com o Joanão e a Ana Vasques sobre uma canção ("Sonhos", do Peninha), em duas interpretações: a do Caetano e a do Paulinho Moska: a do Caetano é uma canção dolorosa de amor, cheia de aceitação, resignada, seguindo a letra. A do Moska é um grito de dor desesperado, que chora tudo que a letra não diz, cheio de raiva. Tão lindo, isto, a mesma letra poder dar duas canções tão diferentes. Fiz logo dois filmes diferentes.
Há filmes que vêm de tons de canções: ando a ouvir um álbum do Kanye West há alguns dias, aquele cheio de modulações (808 e qualquer coisa) e também há ali momentos em que a própria modulação me lança em processo criativo, e upa, que lá vem outro filme.
Há filmes que vêm do ambiente da canção: eu e a Cê andamos (prefiro pôr no presente, Cê, nunca se sabe) de volta de uma ideia que tomou forma, na minha cabeça, a partir da canção "Amor", dos Secos e Molhados. É uma canção que, para mim, não tem só letra e música. Tem também cores e textura (granulada, já agora). Aconteceu-me várias outras vezes.
Há filmes que vêm de uso de canções em filmes (filme, agora filme mesmo, e séries de TV também), e aqui entram os clichés do costume: Romeu + Julieta, Moulin Rouge, Glee... Lembro-me especialmente de um momento muito especial e delicado da segunda série do Nip/Tuck que usa "Rocket Man", do Elton John, e quem viu a série lembra-se de certeza. É uma cena muito forte, corajosa e inspiradora.
Resta-me dizer que os tais filmes não são ideias acabadas. Às vezes, são. Às vezes, são só um cheirinho de filme. Mas divertem-me sempre. Seeeempre, e quanto piores são, mais me divertem.
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