sábado, 21 de maio de 2011

O outro lado

Tá bem, é a vida editada: escolhemos os nossos melhores momentos, fotos e tiradas para mostrar no Facebook. Como o meu irmão uma vez disse ao ver-me fotografar a comida que tinha feito: "bonito era postares a loiça por lavar". Podia até ser, mas aí já não seria a tal vida escolhida. E sinto-me fraudulenta, às vezes, é verdade. Porque sou oversharer e dada a sentir-me sozinha com facilidade (e o meu trabalho não ajuda), uso bastante o Facebook, e a minha vida ali parece não ter momentos menos bons (para isso, existe o blog).

Mas...

Pude voltar a "falar" com gente com quem julgava nunca mais vir a cruzar-me, mandar bocas a malta que nunca ousaria abordar de outra forma, mudar de opinião sobre pessoas de quem não gostava. Conheci gente nova e muito fixe e quebrei preconceitos que me incomodavam muito. Fora contactos de trabalho e coisas mais práticas, como trocas de coisas, agenda de eventos para miúdos, informação sobre a minha biblioteca...

É um mundo bom de vidas editadas, perfeitas. Se calhar, não é fraudulento. Se calhar, é apenas uma oportunidade de termos isso mesmo, a vida como a escolheríamos.

Uma tentativa de existência sem problemas nem momentos chatos.

11 comentários:

Cati disse...

Muitíssimo bem descrito!!!

Bom fim de semana!

c disse...

Será com certeza uma fuga simples e barata, mas não deixa de ser fraudulento mesmo. É bom reflectir sobre isso para não cairmos no buraco quando fazemos log off.

Ana C. disse...

Tenho andado a sentir isso de uma forma assustadora.
Ando a limpar-me do facebook, porque acredito que não é saudável a edição da nossa vida em momentos kodak.
Tal como escrevi no blog, sinto que a obrigação de editar e fotografar tudo, nos prende, não nos deixa viver
fora da edição.
Parece que não vivemos até que o tal momento seja partilhado com meio mundo.
É uma sensação demasiado estranha que me bateu forte.

Ginguba disse...

Eu não edito. Não tenho blog nem facebook. Só comento em dois blogs e nem sei como é que isso aconteceu. Normalmente sou apenas leitora. O facebook assusta-me. Não quero encontrar as pessoas do passado, nem quero que me encontrem! Acharia piada a poder abordar pessoas que de outra forma não ousaria, mas também acho isso um pouco fraudulento. No entanto percebo o que dizes. A existência sem momentos chatos...ao menos podemos tentar!

Bom fim de semana, Melissinha

Melissa disse...

Concordo com todo mundo!

Melissa disse...

Mas o Facebook também me trouxe muita coisa boa, é a cena. Além de ser uma maneira simples de acompanhar e ser acompanhada pela minha família, que está tão longe.

De qualquer forma, planeio há meses um detox. Coisa discreta, porque também não quero perder a parte boa.

Melissa disse...

"Parece que não vivemos até que o tal momento seja partilhado com meio mundo".

É super incómodo, isso. MUITO.

Madame Pirulitos disse...

Sinto exactamente o mesmo. Mas sinto que mesmo o blog não deixa de ser fraudulento. prefiro mil vezes contar as coisas que me fazem sorrir, uma piada deles, uma aquisição do mais novo, a barriga agora a voltar a crescer... do que contar as suas desventuras (as nossas), as lágrimas que teimam em cair ou a saudade sem saber do quê.

E depois sinto que embora já ande neste mundo dos blogs há 6 anos, ainda não os compreendo bem (é tal e qual um filho, é o que é).
Porque é que há pessoas que ficam, porque é que há outras que vão. Porque é que há aqueles que nunca visitámos mas temos aquela vontade de os chamar e pedir que sejam nossos amigos?

Melissa disse...

Com o blog, não sinto nada disso. Amo este blog, sou 100% eu mesma aqui. Nada editado. É um tesouro, para mim. :)

Sofia disse...

Não sei se é bem isso, porque as nossas memórias também são muitas vezes editadas...
Aconteceu-me tanta coisa má, que me fez sofrer muito na altura e hoje olhando para trás, mal me lembro! Parece que ficaram apenas polaroids dos bons momentos na minha cabeça...
Um exemplo muito verdadeiro disto é as mães que dizem "ah tu dormias a noite toda desde que nasceste"..quando é óbvio que no primeiro mês tinham de mamar de 3 em 3 horas ou de 4 em 4...Ou outra que ouvi do "comecei a andar com 9 meses" da mesma pessoa que quando via o meu filho com o pescoço de pé aos 6 meses achava que "isso faz mal à coluna do menino". Ou seja, as nossas memórias também são um pouco aquilo que queremos (há coisas que obviamente não conseguimos esquecer).
Bjs

Melissa disse...

Sofia, só vi agora e adorei )