- Vou-te buscar ao lanche, ok? Não vais para o ATL, hoje vamos ao Ikea.
- Ao lanche? Fixeeeee!
- Sim, não é preciso ires para o ATL, espera-me lá em baixo.
Pois.
Mas hoje foi o primeiro dia de folga numa longa fila de dias doidos e eu... deixei-me adormecer. Acordei 23 minutos depois da hora combinada. Cheguei lá e estava o meu filho no ATL a brincar sozinho a um canto, dececionadíssimo, olhos vermelhos de chorar. Disse-me a auxiliar que depois do lanche, ele vestiu o casaco, pôs o gorro, agarrou na lancheira e pôs-se à porta. As mães começaram a chegar, e nada da dele. E chegou a hora de subir para o ATL, e nada de eu chegar, e aí ele abriu o berreiro. Abriu mesmo a sério: ele, que nunca tinha chorado na escola. "Vi as pernas de todas as mães, menos as tuas". Meu Deus, podia dar-lhe o mundo em Playmobis naquele momento se soubesse que iria melhorar alguma coisa: não nele, mas em mim - a fé dele na mãe restaurou-se num sorriso quando me viu ali à porta da escola, 36 minutos depois do combinado.
Hoje foi o dia em que o Culpossauro descobriu o que é culpa de verdade: não é um nagging feeling de insatisfação, mas sim, um completo atestado de inaptidão que passamos a nós mesmas. Fui terrível. Fui péssima. Magoei-o, justo a ele, a pessoa que me ama com menos reservas do mundo, que espera de mim aquilo que digo, sem contestar. E sim, sei que isto parece dramático, mas morro de medo de perder a confiança dele, nem que seja por um dia.
E por ter adormecido, foda-se. Não foi um pneu furado.
Aconteça o que acontecer, amanhã às 15h lá estarei, na hora do lanche.
O trabalho pode esperar.
8 comentários:
Mel,
Primeiro, seria preciso fazer um esforço enorme para errar demais até que ele perca um fiozinho de confiança em você.
Segundo, a verdade é que mães são humanas - erram, se complicam, ficam exaustas. Você não estava no cinema, apenas foi vencida pelo cansaço acumulado. Pode ser uma oportunidade de mostrar que você, assim como ele, faz o melhor possível e ainda assim às vezes falha. E de mostrar o que é estar arrependida e compensar com uma dose extra de bons momentos juntos. E assim ele aprende também que cabe a ele compreender, mesmo que nem sempre seja divertido, e sente na prática como deve se comportar alguém depois de errar, pois certamente vai acontecer com ele também.
Um abracinho nos dois.
Obrigada, Carol. Tudo que diga respeito à maternidade é ampliado mil vezes, é tudo gravíssimo, indesculpável.
Raio de emprego.
Eu mandei-te dormir, eu!!! A culpa é toda minha, Gabi!
Podia contar-te uma cena no duche que durou horas, enquanto os miúdos esfomeados esperavam pacientemente... Esse sentimento de culpa é altamente corrosivo, portanto, esquece! O Gabriel achará sempre que és a melhor mãe do mundo. E para ele és mesmo! :)
Mel, a Carolina já disse tudo. Força. :)
Ohh (pelo Gabriel). E ohh (por ti). Mas é mesmo verdade que ele hoje vai estar à tua espera com a mesma confiança inabalável. Beijinhos e chuto no culpossauro.
Fogo, até me deu um aperto no coração... nenhuma de nós está livre de nos suceder uma dessas... e é terrível mesmo!
Sabes o que te digo? Faz-lhe uma surpresa um dia destes!
Maldito culpossauro materno!
Ele hoje já nem sem lembra mas sim, uma surpresa vai eliminar qualquer vestígio de C.... calcário, deixa a culpa para outras coisas...
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