sábado, 8 de março de 2014

Prazeres

Adoro cemitérios. Não há lugar no mundo mais bonito do que um cemitério, mesmo um cemitério feio. Adoro como se separa do resto da cidade no seu silêncio, adoro que seja uma cidade por si só. Não gosto só das esculturas, anjos e santos; gosto de espreitar para dentro de jazigos e gosto de ver lá o relicário montado por quem amou aquela gente. Gosto que os mortos continuem a existir, mesmo mais de cem anos depois, mesmo depois de todos os que lhes sobreviveram terem morrido. Já ninguém sabe que vidas levaram, mas sabem que ali repousam quando leem os seus nomes em pedra. Isso tem importância, para mim: a existência das pessoas para além da memória.













Este era uma explosão verde. Que lhe terá acontecido?


Não foi um passeio programado, esta visita aos Prazeres, por isso, o Gabriel veio connosco, sem drama. Disse que era o sítio das casinhas que a mãe gostava. Eu às tantas separo-me deles, e o Gabriel começa a somar dois e dois.
- Pai, quem vive nestas casinhas?
- As pessoas quando vão para o céu, filho. Deixam cá as coisas nessas casinhas.
- Hum... (pensa)... A avó Mel tem uma casinha?
- Aqui não, filho, a avó Mel está num desses sítios, mas no Brasil. 
- Ah, está bem.

Raios partam ter-me esquecido de tirar a data da câmara.

10 comentários:

Ginguba disse...

Conforme ia vendo as fotos ia pensando: A Melissa vai entrando em jazigos e tira fotos? Eles estão assim abertos? Pode-se entrar? É algo estranho para mim, nunca entrei num jazigo, só os vejo por fora, tal como às campas. As tuas fotos estão muito boas!

Melissa disse...

Não, não, Ginguba, é pelo vidro, mesmo :)

Anabela Conceição disse...

Uma das últimas vezes que fui a Lisboa andei de eléctrico e ele tinha como paragem final esse cemitério.
Como tínhamos que esperar um bocadinho para o apanhar de novo, fui lá dentro.
Bem, aquilo é mesmo enorme. E os jazigos são qualquer coisa.
AO contrário da Melissa eu não gosto de cemitérios. Fui por mera curiosidade, mas acho sempre que têm um ambiente pesado.

Cisma ♥ disse...

meu deus, aleluia alguém que pensa o mesmo que eu!! é uma paz enorme ali, não é? e ver as fotos super antigas, e datas anteriores ao nosso nascimento...aí ficamos a pensar como é que eles viviam naquele tempo, o que vestiam, o que ouviam e comiam... tantas tardes infinitas passadas num cemitério.

Unknown disse...

Acho que vai gostar deste vídeo, de origem brasileira, o cantor vive em Amesterdão. O cemitério é o da Mamarrosa na Bairrada.


http://youtu.be/OWMeTH3ARJs

Naná disse...

Sempre lidei bem com cemitérios, porque comecei a ir em tenra idade, com a minha mãe.

Lembro-me de ficar tempos sem fim a ler os nomes das pessoas e a ver as suas fotos. Perguntava-me quem seriam, do que morreram...

Mas com o passar do tempo, essa curiosidade foi dando lugar a uma certa tristeza...

Ana C. disse...

Sofro do mesmo "fetiche". Na maior parte das viagens que fiz, visitei sempre os cemitérios locais...

Ana C. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gralha disse...

Os da Costa Rica têm todos os túmulos cobertos de azulejos brancos, tipo casa-de-banho (e vi muitos, as escolas e os cemitérios estão todos junto às estradas). A princípio achei estranho mas depois vi como era bonita a ideia: no meio de tanta cor natural, ali está um espaço imaculado de descanso e homenagem. Pensei fotografar para te mandar mas depois tive receio de ferir susceptibilidades dos locais.

Melissa disse...

Vou googlar :D
(E obrigada pela lembrança, dona Gralha.)