sexta-feira, 8 de maio de 2009

Partos

A minha amiga M. teve um bebé grandalhão na madrugada do último domingo para segunda. Tinha-a visto nesse dia já a completar as 41 semanas, com um barrigão formidável e muito bem disposta - nada, mesmo nada a ver com o monstro flutuante que eu estava às 37.

Falo eu com o marido da M. ontem e eis que soube algo que ela não me tinha dito, e julgo que muito pouca gente sabia: eles tinham resolvido ter o bebé em casa com a ajuda de uma doula e uma parteira, na intimidade do seu cantinho e com a sua filha de 3 anos como participante. E assim foi. A M., tranquilíssima como não conheço igual, deu à luz ao D. em menos de uma hora, apoiada à janela do seu quarto, sem ter tido tempo de chamar parteiras nem de encher a piscina comprada para o efeito, na presença apenas do marido e da filha e, nos últimos momentos, da doula que chegou 15 minutos antes. A parteira só chegou uma hora depois.

Eu rejeito em tese esse regresso ao século XIX e às nossas raízes tribais, simplesmente porque acho que estamos já longe dessa mulher em contacto com a natureza que sabe ouvir o seu próprio corpo, e já não vivemos da mesma forma. A nossa tolerância à dor não é a mesma, além de que se correm mais riscos. Mas foi-me impossível não sentir uma invejinha branca desse parto tão de olhos abertos: não cheguei aqui a fazer o relato do meu porque não foi o momento mágico que achava que seria. Tive problemas com a anestesia e tiveram de me drogar para eu relaxar e conseguirem fazer alguma coisa. Por causa das drogas, passei o recobro a dormir com o Gabriel a mamar anonimamente, sem qualquer vínculo (qualquer dia escrevo sobre essa cena do "vínculo", que virou outra palavrinha de pressão a jovens mães). O Hugo foi um participante mais activo no meu próprio parto do que eu.
Não gostei.

Sim, fiquei com invejinha branca da M. e do seu parto intimista. O R., meio a brincar meio a sério, disse-me para ir lá para casa ter o próximo, eles cuidavam de tudo. Ri-me, pois só pariria em casa se não desse tempo de chegar ao hospital, e não seria um momento nada intimista, provavelmente os meus berros acordariam toda a Parede.

Mas quero estar acordada no meu próximo parto.
Quero estar acordada.

1 comentário:

Ana C. disse...

Eu também gostava de me agachar e parir como as Índias. Mas essa arte do parto natural não é para todas as fémeas.
Não posso dizer que tenha inveja, pois há muito percebi que cada mulher é uma mulher, cada mãe é diferente e cada puto tem o seu feitio muito próprio.
Venha o que tiver que ser, mas acordada sim, acho que é importante. Pode-se dizer que é o mínimo exigido num parto :)