Na volta de Londres, à espera dum atrasadíssimo voo da Tap para Lisboa. Ao pé de nós, um rapazote de cinco ou seis anos perdido, é abordado por uma senhora que o leva a um segurança. Desaparecem e passam-se um ou dois minutos, ouve-se no altifalante que se encontrou um menino perdido de camisola vermelha que não falava inglês. Pouco depois, vê-se uma tipa da minha idade, baixinha como eu, fato de treino e rabo de cavalo, sem pinga de sangue na cara, a gritar por um nome, de olhos arregalados, num pico de adrenalina. Perguntei-lhe se era um menino de camisola vermelha - apontei para a minha, ela disse que sim com a cabeça e apontei-lhe por onde o menino tinha ido com o segurança. Quando olhei, estavam montes de pessoas a apontar o mesmo caminho, quase formando um corredor para a mulher.
Quando ela apareceu agarrada ao rapazote, a cobri-lo de beijos e a ralhar-lhe numa língua esquisita e a dar-lhe tautaus nervosos ao mesmo tempo, tive de sair de perto do Hugo para chorar sossegada.
E choro até hoje, quando me lembro.
4 comentários:
é uma daquelas coisas que não queremos nem imaginar
deve ser avassalador, olhar para o lado e não estarem lá...
é por isso que eu me passo sempre que ela puxa pela mão a tentar soltar-se
São, sem dúvida, situações marcantes.
Tinha eu 7 anos qd vivi algo parecido que me deixou marcas durante mto tempo. Andava às compras num centro comercial com os meus pais e irmã recém-nascida qd começo a ouvir uns gritos de pânico. À minha frente uma mulher gravidíssima, com um grande barrigão, subia e descia umas escadas rolantes a uma velocidade vertiginosa, muito pouco compatível com o seu estado, enquanto gritava pelo nome da filha.
Todas as pessoas à sua volta se mobilizaram para encontrar a menina. A cena desesperante arrastou-se ainda alguns minutos, que me pareceram horas, até que o meu pai encontrou a menina, q devia ter uns três anos e que brincava feliz da vida num carrossel. A mãe desfez-se em lágrimas..e eu também..
Durante muito tempo ficava transtornada qd a minha mãe saía à rua com a minha irmã, sem eu estar por perto. Tive imensos pesadelos. Não podia perder a minha irmã de vista. Lembro-me de estar na escola e me sentir angustiada por não saber onde ela estava.
Enfim, foi algo que me perseguiu durante muito tempo e só os anos ajudaram a acalmar..
Por isso hoje consegui sentir a tua dor..
Toda a atenção do mundo não chega, quando se trata de crianças. E os tempos não estão para brincadeiras.l
O que mudou nesse dia foi que agora, quando vejo uma criança pequena isolada, só lhe tiro os olhos de cima quando se aproxima de um adulto conhecido.
sufocante, sem duvida!
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