terça-feira, 10 de maio de 2011

Na sala de embarque de Heathrow

Na volta de Londres, à espera dum atrasadíssimo voo da Tap para Lisboa. Ao pé de nós, um rapazote de cinco ou seis anos perdido, é abordado por uma senhora que o leva a um segurança. Desaparecem e passam-se um ou dois minutos, ouve-se no altifalante que se encontrou um menino perdido de camisola vermelha que não falava inglês. Pouco depois, vê-se uma tipa da minha idade, baixinha como eu, fato de treino e rabo de cavalo, sem pinga de sangue na cara, a gritar por um nome, de olhos arregalados, num pico de adrenalina. Perguntei-lhe se era um menino de camisola vermelha - apontei para a minha, ela disse que sim com a cabeça e apontei-lhe por onde o menino tinha ido com o segurança. Quando olhei, estavam montes de pessoas a apontar o mesmo caminho, quase formando um corredor para a mulher.

Quando ela apareceu agarrada ao rapazote, a cobri-lo de beijos e a ralhar-lhe numa língua esquisita e a dar-lhe tautaus nervosos ao mesmo tempo, tive de sair de perto do Hugo para chorar sossegada.

E choro até hoje, quando me lembro.

4 comentários:

sofia disse...

é uma daquelas coisas que não queremos nem imaginar
deve ser avassalador, olhar para o lado e não estarem lá...
é por isso que eu me passo sempre que ela puxa pela mão a tentar soltar-se

Ana disse...

São, sem dúvida, situações marcantes.
Tinha eu 7 anos qd vivi algo parecido que me deixou marcas durante mto tempo. Andava às compras num centro comercial com os meus pais e irmã recém-nascida qd começo a ouvir uns gritos de pânico. À minha frente uma mulher gravidíssima, com um grande barrigão, subia e descia umas escadas rolantes a uma velocidade vertiginosa, muito pouco compatível com o seu estado, enquanto gritava pelo nome da filha.
Todas as pessoas à sua volta se mobilizaram para encontrar a menina. A cena desesperante arrastou-se ainda alguns minutos, que me pareceram horas, até que o meu pai encontrou a menina, q devia ter uns três anos e que brincava feliz da vida num carrossel. A mãe desfez-se em lágrimas..e eu também..
Durante muito tempo ficava transtornada qd a minha mãe saía à rua com a minha irmã, sem eu estar por perto. Tive imensos pesadelos. Não podia perder a minha irmã de vista. Lembro-me de estar na escola e me sentir angustiada por não saber onde ela estava.
Enfim, foi algo que me perseguiu durante muito tempo e só os anos ajudaram a acalmar..
Por isso hoje consegui sentir a tua dor..
Toda a atenção do mundo não chega, quando se trata de crianças. E os tempos não estão para brincadeiras.l

Melissa disse...

O que mudou nesse dia foi que agora, quando vejo uma criança pequena isolada, só lhe tiro os olhos de cima quando se aproxima de um adulto conhecido.

Raquel Ribeiro disse...

sufocante, sem duvida!