Hoje, ao ver um grupo de bombos a rufar como se quisessem derrubar o céu, sussurrei ao Hugo que entendia porque antigamente mandavam tambores à frente das linhas de combate. "Era para anunciar e assustar o adversário", disse o Hugo. "Sabes que eles apanhavam grandes pielas na noite anterior? Grandes pielas. Sabiam que iam morrer no dia seguinte".
Virei-me com um tremendo nó na garganta. Tive de me afastar um bocado e ter alguma privacidade para desatar o nó e chorar um bocadinhozinho. Não faço a menor ideia de que corda aquele pedaço de sabedoria de bolso do Hugo tinha tocado. Ficara eu com pena de carne para canhão de há cinco séculos? Não fazia sentido nenhum. E não, não tinha bebido.
Cada vez tenho mais momentos assim. Podia relatar uma mão-cheia deles. Pequenas doses de qualquer coisa completamente inusitada que pressionam um botão qualquer cá dentro.
Muito esquisito e levemente constrangedor.
3 comentários:
São essas tuas características, sensibilidade e empatia, que te alimentam a fornalha para escrever.
és fofinha, gralha!
tambores xamãnicos e taças tibetanas. o som percorre o corpo e desfaz os nós, não só os da garganta. se funciona contigo, lança-te de cabeça. sabe bem, faz bem.
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