A primeira foi gira, muito Marvel: tinha uma avó com asas, que voava, que se comunicava por telepatia durante o sonho, morava no céu e protegia-o de tudo e de todos. Nenhum amigo tem uma avó assim, portanto, ponto para ele.
Mas ultimamente anda ansioso. Quer falar com ela, quer saber onde está. Acha que não vem cá porque não quer, e não entende que não pode visitá-la. Não entende porque vamos ver a avó Lurdes e a Bel e não podemos ir ter com a avó Mel.
Ontem a coisa atingiu um novo patamar: enquanto víamos um documentário sobre o Tetris, jogo preferido da dona Melânia e que ela dominava como poucos, o Gabriel começou a perguntar sobre o que realmente aconteceu: se o corpo dela começou a estragar-se. Se doeu muito. Se não conseguiu ficar boa. Nunca lhe falei do que aconteceu à minha mãe, pelo que não entendo muito bem de onde veio isto.
Creio que chegou a altura de avó Mel ganhar contornos humanos, que ainda não teve. Ele pede isso, precisa disso, e por mais mal resolvida que eu seja com a morte da minha mãe, não lhe posso negar a avó. Disse-lhe que este fim de semana íamos ver fotografias. "Mas ela não é invisível?" É, filho, mas vamos ver fotos de antes de ela se tornar invisível. "Antes de morrer?" Sim, antes de morrer.
6 comentários:
Para além de tudo o que é importante para ele, irás redescobri-la aos olhos do teu filho. E isso só pode ser bom, mesmo que custe.
E custa.
A gralha escreveu o que eu queria escrever. Vais ver a tua mãe pelos olhos puros do Gabriel. É bom, para os dois.
Que bonita essa busca do Gabriel!
São idades a que eles chegam... são coisas que eles vão desvendando lentamente.
O meu filho já compreende que eu tive uma mãe, e que ela morreu e segundo ele (que não quis desmentir) está no céu.
Há dias perguntou-me se eu, o pai e ele um dia iríamos morrer. Só lhe disse que sim... ao que ele respondeu que tinha medo de morrer...
O meu anda numa fase meio obsessiva com a morte também.
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