Das coisas que mais me lixaram na vida foi achar que estar triste me afastaria das pessoas que gostavam de mim (e das quais comecei a precisar enormemente depois de a minha mãe morrer).
O Hugo veio viver imediatamente comigo depois da morte da mamãe, e a minha prioridade era ter um casamento lindo e feliz. E de ser divertida, engraçada, cheia de interesses e coisas boas para oferecer. Estou a falar do período imediato à perda: duas, três semanas depois. O meu esforço foi todo para trabalhar demais, sair várias vezes, rir-me muito, ser fabulosa e imprescindível.
Nos intervalos, passei a explodir em pânico dentro do carro - que era o "meu" espaço, ou dentro de casas de banho, ou no meio do shopping - desde que estivesse sozinha. Às vezes tudo se tornava demasiado assustador e novo e telefonava ao meu pai - mas era assustador e novo para ele também, e nunca corria bem. Então eu engolia mais uma vez e contava uma piada. Tinha de ser linda e bem resolvida.
E, dois meses depois, tinha ganho 15 quilos. Mais 15 no ano seguinte. Mas nada de tristeza. Nada de chatear ninguém.
Caramba, de onde é que eu tirei essa ideia absurda de que não podia deixar-me cair durante uns tempos? Será que tive as pessoas à minha volta em tão baixa consideração que pensei que me iriam deixar perdida na enormidade do que me tinha acontecido? De onde é que tirei isso tudo? Não faço ideia.
Na verdade, faço ideia, sim: mamãe valorizava a resistência em todos os aspectos e eu simplesmente queria estar à altura, como sempre.
Há uns anos, li uma citação de não sei quem: "A tristeza é a maior aliada contra a depressão". CARAMBA. E não é que é verdade? A tristeza tem uma função, não é perda de tempo. Há por aí um livro que se chama "Todo sofrimento é inútil". Não parei para folhear nem nada, mas agora sei, mais do que todo mundo que conheço, que há sofrimentos que têm de ser vividos. Não vale a pena tomar a aspirina.
Ganhei uma gigantesca honestidade de sentimentos de uns anos para cá. Admito o que sinto - nem que seja só para mim mesma, que isto de contrariar crenças transmitidas pelas mães não é das coisas mais fáceis do mundo. Estou bem resolvida, não estou bem resolvida. Sinto inveja, imito, admiro, não sou cool, deslumbro-me com coisas certas e erradas.
E aceito a tristeza como aquele tipo de amiga inconvenientemente verdadeira, que enche o saco com um monte de verdades não solicitadas.
5 comentários:
Melissinha, quando a minha mãe morreu fui egoísta e fiz o luto à minha maneira, tive e dei-me tempo para fazê-lo! Chorei a bom chorar, quando queria e precisava! Para no fim do choro secar as lágrimas e lembrar que a minha mãe quereria que eu seguisse em frente!
Quando o meu pai morreu, quis fazer tudo de novo, mas não pude, não me deixaram! O trabalho com as suas exigências, a sogra dentro de minhas portas, não podia desatar em prantos! E não quis que o meu pequeno filho me visse assim!
Por isso, engordei 5 kgs em um mês! Ainda hoje não estou resolvida, porque não pude "esgotar" toda a tristeza que sentia e que ainda sinto!
Por isso, quando li este teu elogio compreendi cada linha!
Amen sister!
(e obrigada pela coragem de partilhares isto aqui, nesta montra de perfeições aparentes que é a blogosfera, onde há tanta gente a precisar de um par de estalos para acordar para a vida)
Estarmos tristes, quando temos que estar tristes é tão importante...
Uma das coisas que sinto a maior falta, desde que fui mãe é, muitas vezes, ter que engolir lágrimas para não afligir a criançada. Meter para dentro faz terrivelmente mal à saúde...
Este post também está gourmet.
Tu és das pessoas mais fabulosas, genuínas e honestas que eu já vi.
É um privilégio muito grande poder vir aqui ler-te um bocadinho..
Hehe. Corei.
Obrigada, Joana.
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