segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A sopa da Lurdes

É dividida em tupperwares de vários feitios e tamanhos: dois enormes e de igual tamanho para cada um dos filhos, um mais pequeno para o próprio dia, outro assim-assim para congelar, e mais uns tantos em dose individual que não adivinho para onde vão. Estão todos ali em cima da bancada da cozinha: uns altos, outros baixos, parecendo assim uma Manhattanzinha de tupperwares.

Antes de começarmos a comer sopa, a Lurdes pede para esperar, pois vai deixar a sopa ao senhor Álvaro - um vizinho velhote cuja mulher, já acamada, foi para um lar há alguns meses.

A minha sogra é a gnoma da divisão da sopa. Não há quantidade de sopa que não se divida um pouco mais, fazendo caber mais um prato. Ninguém, na vida da Lurdes e no que depender desta, fica sem sopa.

E eu adoro-a por isso acima de tudo.

Na noite em que o meu pai e irmão chegaram do Brasil, poucas horas depois do enterro da minha mãe, já quase todos tinham ido dormir, exaustos dos dias anteriores. Mas uma grande e fumegante sopeira cheia de canja brasileira (com muito cheiro verde e vários legumes) os esperava sobre a mesa da casa da tia Ane.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nos caixotes do lixo a transbordar da Mouraria, Alfama e por vezes até da Almirante Reis, não é raro ver-se, ali pelo chão, caixas de Skip de mil novecentos e antigamente, discos de cera, bombril, Pinho Sol e outras coisas que deixaram de existir há uma carrada de anos.

Pergunto-me sempre se a velhota que foi encontrada morta não ia às compras há vinte anos ou se era daquelas malucas que não deitam nada ao lixo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nascidos um para o outro

A melhor pizza que o Hugo já comeu foi a pizza Parma de uma pequena trattoria em Roma chamada La Famiglia. A pizza tinha a massa fina como hóstia, rúcula, parmesão e presunto de Parma em fatias abundantes, fininhas, muito fininhas, cerca de 15 eur.

A melhor pizza que eu já comi foi a de tomate do Stuppendo, reduto brazuca no CascaisVilla, com dois dedos de massa e queijo a escorrer por todos os lados, e o tomate partidinho aos bocados ali por cima, sem frescura de orégãos ou rúcula ou o raio que o parta, 2 eur a fatia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O sono da fuga

É normal, dizem.

Sempre que estou com um volume de trabalho estratosférico, sou acometida por um sono incontrolável, à prova de cafeína, de água fria, de buzinadas. Hoje, às dez da manhã, a pensar em como iria encaixar X no meio de Y e ainda ter os TPC do curso que tenho deixado para segundo plano, o dito cujo bateu. Levantei-me e caí na cama já a dormir. Acordei 40 minutos depois e 40 minutos atrasada.

Ao fim da tarde, recebo um mail do meu pai a pedir-me para resolver não sei quê não sei aonde amanhã impreterivelmente, e, no meio das minhas contas de como ia encaixar Z no meio de Y e X e do TPC, pumbas, lá vem ele outra vez. Mais 20 minutos, agora. Menos mau.

Em períodos de stresse crónico, dá-me para as fomes ansiosas. Em situações de stresse agudo, como esta, dá-me para dorminhocar durante o dia. É o cúmulo da auto-sabotagem. É como se o meu tempo tivesse artrite reumatóide. É um tiro ensonado no próprio pé, que faz ricochete e bate nazzzzzzzzzzzz

Papai também tem.

Máxima para a vida nº 2

Às vezes, cheira a cocó porque temos cocó debaixo do nariz. E, às vezes, cheira a cocó porque há mesmo cocó à nossa frente, e aos lados, e atrás.
Há que pedir a Deus discernimento para os distinguir.

(Aqui entraria uma imagem alusiva).

domingo, 20 de novembro de 2011

E o tempo levou

Eu e o Hugo começámos a namorar no começo de 2002. Desde então, deixámos de usar:

- discmen;
- máquinas fotográficas de rolo;
- mapas de estrada;
- disquetes (já nem me lembro de como se escreve);
- VHS (esta teimei um pouco, mas o Hugo lembrou-me de que fui com ele comprar o seu primeiro leitor de DVD, e é verdade).

Não me lembro de nada que tenha deixado de usar entre 1992 e 2002. Até cassetes eu usei até mais tarde.
E estou curiosa sobre o que terá ficado para trás ao chegarmos a 2022.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

cenas que me trazem lágrimas quase aos olhos*

Alecrim alecrim aos molhos
por causa de ti
choram os meus olhos

Quando eu já for velhinho
Acabado de morrer
Olha bem para os meus olhos
Sem vida hão de te ver

Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo

Não foram poemas nem rosas
Que colheste no meu colo
Foram cardos, foram prosas
Arrancadas do meu solo

Acho que tem de se nascer fora e gostar muito de cá para entender o que esses versinhos fazem ao meu coração. É que eles só funcionam em português de portugal - e são tremenda, dramaticamente tugas.

* não é quase me trazem, é mesmo quase aos olhos. Não choro, mas fico com o ugh. Ugh.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dia de Ação de Graças

Querido Deus, agradeço por tudo, mas por favor dai-me uma capacidade de concentração superior à de uma chimpanzé jovem.

Por favor.

Já amanhã.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uma máxima para a vida

Há problemas na vida que só uma lata de leite condensado resolve.
É mais fácil evitar o problema do que evitar a lata de leite condensado.

domingo, 13 de novembro de 2011

Going local

Já pesquisei: pão, frutas, legumes e carne nas mercearias e talho locais são praticamente do mesmo preço dos do supermercado. Sendo assim, o supermercado fica para mercearias e produtos de higiene - por ora. Talvez passe a comprar azeite e mel no mercado biológico da quinta da Alagoa, mas tenho de ver preços. Peixe é que não vem da peixaria, porque só comemos lombos de pescada congelados, mas verei se há alguma casa de congelados por aqui.

Sempre usámos o videoclube do bairro, passaremos a usar mais. Sempre embirrei com filmes vistos em casa, mas a verdade é que a vida de pais não nos permite ir ao cinema nem metade das vezes que gostamos. Assim, será um hábito a criar.

O ginásio é local, o infantário também, o mecânico também.

Antes de procurar no shopping, procurar lá em baixo no centro (é a única medida que tem de ser implementada de raiz, o resto já está mais ou menos em andamento).

Continuarei a pesquisar mais coisas que poderei fazer/adquirir num raio de 3 km de casa e sem dar dinheiro a grandes grupos, ou pelo menos dando bem menos.

Update: e hoje, ao pequeno almoço, pus-me a pensar que ainda hei-de passar um mês inteiro a fazer compras na mercearia do bairro. É que, com a escolha restrita aos produtos essenciais, sem muita coisa colorida a distrair-nos nas prateleiras, até é provável que passe a gastar menos por mês, mesmo comprando produtos mais caros - e a comer melhor. Amadurecerei a ideia de fazer um test drive em janeiro.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Segundos! (Ou mais um post inspirado pela Gralha)

A minha lista de desejos de Natal (em atualização):




Aproveito para dizer que, por conta da crise, este ano só estamos a receber prendas, não vamos oferecer nenhuma.

Curtíssima sobre textos apócrifos

Prefiro baratas. Prefiro baratas dentro de casa a textos apócrifos.
Sapos, não, mas baratas... Com toda a certeza.


Porque diabo as pessoas precisam de um nome famoso por baixo de poemas/citações/frases da treta que curtem? Qual é the fucking diferença? A frase fica menos pirosa com autor, é isso?

Depois de eu morrer deixando vasta obra para trás, é favor googlar o que eu disse e o que não disse antes de fazerem postalinhos, tá bem? Confirmem com o Hugo, ele há-de saber (e vai morrer depois de mim, com toda a certeza: a família dele chega sempre aos 100 anos).

*A propósito, o tal do "já cometi erros imperdoáveis" é de um senhor chamado Augusto Branco. Tá no Google.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma vez disse aqui, em resposta àqueles desafios "so 2009", que o meu dinossauro seria o culpossauro. O Culpossaurus Rex, aliás, bicho carnívoro comedor de consciências. Não conheço ninguém que sinta culpa com a facilidade que eu sinto. Qualquer coisa que saia do equilíbrio normal das coisas é porque fiz merda. Acho que sou assim por detestar absolutamente o extremo oposto, a tendência que a maioria das pessoas tem para achar que os outros é que estão mal sempre.

Pois bem, era só para comunicar aqui, em direto, que o Culpossaurus Rex morrerá de inanição nos próximos dias.

Sabem porquê?
Porque estou a chegar à conclusão sincera e ponderada de que sou do caraças.

E quem não gostar não é porque tem mau gosto, porque isso seria achar que os outros é que estão mal. Mas também não é comigo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gostei muito

Mulheres de verdade.

Gosto especialmente das cicatrizes de cesariana :)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Epifania provocada pela Gralha

Somos seres aglomeradores. Nada do que experimentamos é rejeitado. Se não desce redondo, desce quadrado, mas desce.

O fantasma* (substituir pelo recalcamento de sua preferência) deve ser incorporado. Se o fantasma (SRSP) não for incorporado, outra coisa será no seu lugar: ansiedade, pânico, dores, úlceras, dermatites, insónia, ganho de peso, perda de peso.
Devemos escolher o que preferimos incorporar.
Devemos perceber o que interfere mais na nossa vida.
Levei muito tempo, mas, depois de os incorporar, vejo que os meus fantasmas são muito mais simpáticos e inofensivos do que a dor que os ignorar durante tanto tempo me causou.

* claro que estou a falar de fantasmas daqueles intensos, dos que nos fazem fugir. Nada de Gasparzinhos.

Visto assim parece estupidamente lógico, não é? Mas acreditem que assimilar para superar é das coisas mais lixadas que existem. Às vezes temos a teoria na ponta da língua e andamos uma vida inteira a fugir dos fantasmas na mesma.