Centro comercial um pouco decrépito nos arredores de Lisboa, um sítio de que gosto muito (tem um parque infantil e restaurantes fixes e baratos). No último andar, seja em dia for, seja a que hora, há uma mesa na praça de alimentação ocupada.
- Ex-superobesa, entre os 30 e os 40, provavelmente em pós-bariátrica, muito baixa, com o cabelo com grandes faixas louras. Fato de treino preto, sempre.
- Rapaz entre os 18 e os 25, cabelo rapado e uma cristinha loura, roupa de cores garridas. Problemas de pele, muito vaidoso.
- Rapariga de 18 anos, no máximo, muito magra, poucos dentes, com uma filhinha.
- Rapariga da mesma idade da outra, também com problemas de dentes, também com uma filhinha. Cabelo escorrido.
Na mesa há coca-cola Pingo Doce e alguns tupperwares com comida, sempre. Pratos de plástico. Às vezes, um sai, outro volta. Combinam horas de encontro. Falam imenso, riem-se imenso. Cumprimentam as senhoras da limpeza. Cumprimentam-me a mim. Ali, estão em casa.
Pelas conversas, nunca apanho de onde são, o que fazem. E eles intrigam-me, caramba. Adoraria que alguém os seguisse com uma câmara até às suas casas. Adoraria saber onde vivem, o que fazem quando não estão ali. Adoraria saber os laços que os unem, nunca percebi se são da mesma família ou do mesmo bairro. Queria que alguém apanhasse a camioneta com eles. Que perguntasse pelos pais dos bebés.
Intriga-me, a tal party of six.Adoraria que um documentarista, daqueles que entram mesmo na vida das pessoas, os apanhasse. Eu não sou documentarista nem nunca teria coragem para lhes perguntar nem as horas. Mas queria que alguém visse neles o que eu vejo: um bando de gente feliz com lágrimas, citando o título do livro lá do outro senhor.
Acho que vocês iam gostar deles.
3 comentários:
Gosto tanto de observar essas pessoas assim, felizes com lágrimas!
bom vou ser muito redutora sobre essas pessoas eu sei mas não resisto: "mitra!?"
Sim, mas uns mitras engrqçados!
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