Ontem o padrinho falava na longevidade deste blog, como não era parecido com nada no resto da minha vida, em que largava tudo pelo caminho. Isto espoletou uma converseta sobre os motivos pelos quais continuava a escrevê-lo, este oásis de continuidade e não-desistência. Consegui reunir algumas características da abordagem-blog.
- A maior: não tem um fim à vista, não é um projeto, não tem um objetivo, não tem sequer uma finalidade: faz parte dos meus dias. É algo natural como, vá, limpar o rabo na casa de banho. Não me angustio com a necessidade de ter de limpar o rabo provavelmente mais centenas de milhares de vezes na vida. É algo que vou fazendo. No dia em que este blog gerar um átomo de cobrança na minha cabeça, vai para o céu dos Projetos que Nunca Chegaram a Ser.
- Não penso no blog a não ser enquanto estou a escrever no blog ou a ler o blog. Mesmo assim, o amor pelo blog é grande. O blog é um dos meus maiores tesouros sem exigir que me consuma por ele.
Bom, falámos disso e muito mais, mas, por causa de outra conversa que tive com outras pessoas ontem à noite - sobre a dificuldade de dormir do Gabriel em bebé -, acabei por analisar também a abordagem-sono do bebé (e várias outras coisas da minha vida, mas esta foi a mais desastrosa).
- Tinha sempre um fim à vista: será aos três meses, aos quatro, aos seis, dá para acelerar o processo, faz isto, faz aquilo... E eu a ficar cada vez mais obcecada, porque não, senhores pais e futuros pais, não controlamos este processo. Eles vão dormir noites completas quando dormirem, por razões as quais não temos acesso. Aceitar o que não se pode mudar é o caminho.
- A privação de sono invadiu de tal forma a nossa vida que julgo que perdemos uma parte da fofice dos primeiros meses; hoje, quando nos lembramos do primeiro ano do Gabriel, lembramo-nos do sono. E isso é triste e injusto, porque ele era lindo, nunca chorava, nunca tinha uma cólica, nunca vazou uma fralda, nunca chorou na creche. Foi o bebé menos trabalhoso que já vi, excetuando, claro, o objeto da minha obsessão: eu queria dormir. O tempo todo. Na altura, papai disse-nos: vocês estão a olhar para isto com os olhos errados.
E estávamos. Eu estava. E olho para muitas coisas na minha vida da mesma forma - como um processo intragável com um fim a atingir. Sacrifício, sacrifício. Sendo que está mais do que provado que, na minha vida, sacrifício não traz recompensa nenhuma, traz desistência e frustração. Não sou abnegada. O que está nas minhas mãos mudar um pouco, portanto, é a abordagem à situação. Dito isto, quero alargar a abordagem-blog a outras situações da minha vida, sendo que a mais urgente é o trabalho, que tem sido extremamente violento.
Tenho sido injusta, em parte, com o meu trabalho. Porque se por um lado há factores que realmente não controlo - e aí é fazer corpo mole como quando se cai dumas escadas ou se é apanhado por uma onda forte -, há motivos pelos quais o escolhi e que têm de voltar a ser desfrutados: a alegria da reação certa na altura certa, aquela frase espirituosa, aqueles a-ha que ocorrem de vez em quando. Eu sou paga para escrever histórias e esqueço-me disto. Podia ser paga para coisas com muito menos piada. E o mais importante: não tem fim à vista. Se tiver sorte, um projeto seguir-se-á ao outro e haverá sempre dores de cabeça. Se continuar a concentrar-me nelas, duro mais três anos nisto.
Portanto, guardadas as devidas proporções e diferenças, abordagem-blog ao trabalho é o que se pretende já. Imediatamente.
Depois, quem sabe, consigo alargá-la a outras coisas na minha vida, olha a alegria que seria.
3 comentários:
Apoiado!
E, em relação ao sono, se for caso disso lá para a frente, esbofeteia-me, sim? :)
Inversamente, acho que tenho de passar a dar uma abordagem vida ao blogue. Olha, começa agora.
Fiquei a pensar no que escreveste desde ontem. Tive de voltar hoje para reler...
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