O meu pai adora contar uma particularidade dos perus: se cercarmos um peru com grãos de milho, ele fica lá dentro e não faz mais nada, morre de inanição. Mas se tirarmos um grãozinho, ele lá começa a bicar os outros, libertando-se do círculo maldito e sem fim. Papai acha esta merda fascinante.
Muitas vezes na minha vida, sinto-me como o peru dentro do círculo de milho. Milhões de merdinhas minúsculas e sufocantes que me deixam sem ação, à espera de morrer seca no centro dos meus problemas insolúveis, a dar voltas e voltas e a embriagar-me com a perfeição do círculo formado para me f...., quando bastava que um grãozinho saísse do sítio. Um só, para me mostrar que as merdices minúsculas podem ter um fim. Assim, sentir-me-ia capaz de ir comendo os outros, um a um.
Por favor, grãozinho pioneiro, manifeste-se e quebre a roda. Estou a morrer.
Ainda sobre o meu pai, há cerca de dez minutos:
- Estou com um milhão de micro-cagalhões a chatearem-me, pai.
- Escolha dois, filha.
3 comentários:
O metáfora do peru não conhecia.
Costumo usar o novelo que nos envolve e que para nos libertarmos temos apenas de encontrar a ponta/ o inicio e começar a desenrolar.
vidademulheraos40.blogspot.com.
Ele usa como metáfora, mas parece que é mesmo a sério, Paula :) Um dia que esteja com um peru mansinho por perto, faço a experiência.
Gobble, gobble, já agora :)
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