Esta coisa da paternidade transforma-nos nuns piegas mete nojo.
Apesar dos 10 meses do Gabriel e das pessoas me dizerem coisas do tipo “10 meses, já? O tempo agora passa num instante” a verdade é que sinto no corpo cada hora. Ando sempre com sono, durmo 5 horas por dia, emagreci não sei quantos quilos, às vezes ando com mau aspecto e com a roupa com nódoas de sopa e, nos dias menos inspirados, fico a olhar para a cria sem saber o que fazer com ela.
A minha vida deu uma volta fenomenal e muitos daqueles prazeres que tinha, como por exemplo, enfardar uma garrafa de vinho sozinho ou ficar a ver filmes até às 4 da manha acabaram. Isso é triste. Sinto saudades desses tempos. Sempre fui um gajo de deleites simples, mas prazeres são prazeres e ninguém tem nada a ver com isso. Eu gostava do meu litro de pinga e de me deitar o mais tarde possível.
Claro que agora, com as novas contingências da vida, nem me atrevo a ficar acordado depois da meia-noite porque sei que, aconteça o que acontecer, aquele ser minúsculo, vai despertar para a pândega o mais tardar às oito da manha (se tiver alguma sorte). A partir desse momento começa a espiral de afazeres. Vai querer beijos, colo, comida, fralda sem merda e conversas monossilábicas.
Talvez se nunca o tivesse visto na vida e soubesse o trabalho que me ia dar, nem sequer equacionava a paternidade. Não me metia nisto e pronto. Um dos grandes conselhos que dou a jovens pais é que vai ser muito pior do que estão á espera. De tal forma que, aliás, já disse à Melissa que não estou mesmo nada interessado em repetir a experiência. Pá, quero-me de volta, ter a possibilidade de fazer o que quiser e espero que com o andar dos anos o Gabriel fique mais autónomo e senhor do seu nariz (que é redondo e fofo).
Seja como for isto cansa e rebenta com a paciência dum tipo. Mas apesar de tudo, quando chego à creche e ele se ri para mim, feliz por me ver, é como se um raio de energia me trespassasse a alma e me fizesse ver a verdadeira importância das coisas. Ser pai é uma estopada, uma carga de trabalhos mas é uma maravilha quando nos apercebemos que conseguimos fazer alguém muito feliz por se sentir amado. E o Gabriel é um puto feliz. E o grande culpado sou eu.
Mas, por favor, não me venham com a história do irmão.
18 comentários:
Este post parece ter sido escrito nas crises de larica do Gabriel às 3h.
Esse é um dos motivos que sempre me "travou" na altura de pensar em filhos: o medo de me perder no meio de fraldas, papas e Legos!
Mas teres a capacidade de manter o desejo de uma vida própria ao mesmo tempo que adoras o teu filhote, faz de ti um paizão!
O Gabi tem sorte!
;)
Ana, eu não concebo a maternidade sem descanso. Eu, pelo menos, preciso de despachar o bebé de tempos em tempos para algum lugar, sob pena de ficar existencialista, achando que me perdi (achando não, percebendo mesmo.)
Na verdade, não é tanto um perder de si próprio como é uma reinvenção. Perdes muita coisa, ganhas muita coisa - com sorte, ganhas mais do que perdes.
Cá em casa, perdemos as nossas merdinhas a dois, um copo na praia, idas ao cinema a qualquer hora, ver séries em catadupa, enfim, coisas que faziam de nós o que éramos.
Ganhamos, no entanto, uma vida com macacada, com alegria, com satisfações simples. Há séculos que não dançávamos e cantávamos alto. E saltávamos à maluca. E inventávamos canções.
(Bem, dito assim, parece uma troca má.)
Enfim, se o Hugo tivesse escrito no domingo, com duas noites bem dormidas em cima e cheiinho de saudades do bebé, lerias outra coisa. :))
Adorei ler! porque é o que sinto, perco-me e reinvento-me todos os dias! e o pai diz o mesmo consciente que nada volta a ser o que era! então os copos! ehehehe!beijos
Ao menos ganhaste uma vida mais saudável. O alcool faz mal à saúde! E deitar cedo só faz bem! ;)
Ana:
De facto dá muito trabalho, mas como medida de comparação, o riso dele transpira amor e esse amor que ele sente pelo pai ou pela mãe vale meia dúzia de garrafas de vinho e mais seis noitadas.
Em suma, a melhor forma de definir a paternidade, e isso é um lugar comum, é o que te foi tirado é te dado a dobrar.
Bailarina:
O que eu acho é que o esforço, vá, dum Dakar ao pé do esforço da paternidade é canja.
huguinho, queres fazer parte da minha banda wii? :D
Adoraria, mas o gabriel suga-me o tempo até ao tutano :)
(eu disse-te que ele não fazia figuras. No entando, a minha oferta continua de pé.)
Eu tb concordo com a parte da trabalheira e digo sempre isso a quem está a pensar ser mãe/pai, claro está que houve tb quem me tivesse avisado), mas normalmente não me ligam nenhuma, nós pelo menos íamos há espera do pior e mesmo assim muitas vezes somos surpreendidos!!!
E, também, sinto falta do "dolce fare niente", da inconsequência dos nossos actos e da “desresponsabilidade” (não confundir com irresponsabilidade) que havia na fase pré-filhos; e nós tb somos apologistas de despacharmos o moço para os avós e irmos fazer umas escapadinhas a dois…
Contudo, o amor incondicional que aqueles pequenos seres tem por nós é algo que enche a nossa alma...
Olha... eu ia escrever a mesmíssima coisa lá no blog mas, merda, perdi o timing!! Agora seria plágio...
(devias escrever mais pá! sempre fugíamos das lamechices femininas...)
Parabéns!
LAMECHICES FEMININAS???
Olha que essa agora.
(blog de gaja=lamechice)
Entretanto esqueci-me... é só para avisar que tudo isso piora quando ele for capaz de andar (correr) pela casa e te for acordar ás 7 da matina das mais variadas e dolorosas maneiras além que que nunca mais serás capaz de estar sossegado porque ele vai estar sempre a puxar-te para a brincadeira...
Mas não desanimes.
Perdes-te sim senhor, mas vais-te recuperando a cada ano que passa. Até lá vai-te habituando a sentires-te mais cheio de vez em quando, ou mais vazio quando as coisas complicarem e só sentes vontade de ir buscar quem foste a toda a força.
Mas feitas as contas, andas sempre mais cheio do que vazio. Cheio de amor ;)
Concordo com o Miguel: devias escrever mais, pá!!
;)
Miguel:
Toda a gente diz isso, que quando ele começar a andar vai ser pior. Mas eu espero por poder brincar com ele a coisas mais fixes do que agora. Tenho aquela ideia de que vou voltar a ser criança e a interessar-me por brincadeiras de criança e já ando a "galar" um jogo de bowling do Pocoyo para jogar com ele em casa.
ai conseguiste dizer o que eu sinto, também sinto saudades dos meus prazeres fúteis e sim dá muito mais trabalho do que se imagina e sim nunca mais!
ADOREI cada sílaba deste post!!!!!e na minha modesta opinião não acho que vá ficando pior quando começam a andar,é claro que pelo menos nos primeiros 3 anos têem que andar com dez mil olhos em cima pra evitar tentativas de suicídio involuntárias mas as brincadeiras são mais fixes,tornam-se mais autónomos,comem sozinhos,jogam à bola e quando começam a falar a sério dizem barbaridades tais que não sabemos se havemos de rir ou de chorar,é a loucura no bom sentido:)
p.s.tenho horrores de saudades de me deitar tarde e tarde erguer....
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